sexta-feira, 20 de abril de 2012

PT dividido entre Lula e o Planalto

Indefinição na escolha do relator da CPI expõe divergência entre o ex-presidente e Dilma

Paulo de Tarso Lyra

A indefinição no PT quanto à escolha do relator para a CPI mista que investigará os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira é mais um capítulo das divergências explícitas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Palácio do Planalto. Lula apoia a indicação do ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP). A presidente Dilma Rousseff discorda, temendo que as mágoas do petista por ter sido afastado do cargo de líder tragam novas dores de cabeça ao Executivo.

O PT não teve dúvidas, ao longo de todo esse episódio de instalação da CPI, sobre de que lado ficaria: os petistas sempre escolheram Lula. "Não se iluda, o PT sempre vai escolher o Lula nos instantes em que ele discordar da presidente", confirmou ao Correio um petista de destaque nos quadros partidários.

A própria criação da CPI colocou Dilma e Lula em flancos distintos. O ex-presidente quer a investigação mais ampla e emitiu sinais objetivos de seu desejo ao PT e aos demais partidos da base. Dilma, ao contrário, não queria ver o Congresso parado, nem sobressaltos em sua gestão. Não se mobilizou para evitar a criação da CPI, amarrada pelo discurso ético que a elevou a um patamar de 77% de aprovação popular, mas também não vê o clima de caça às bruxas com bons olhos.

A exemplo do ex-presidente, Dilma também deixou sinais claros de insatisfação. Um deles foi com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, que divulgou um vídeo defendendo a instalação da CPI como uma maneira de "desmontar a farsa do mensalão", nas palavras ditas por ele mesmo. Dilma exasperou-se.

Votações

Dois dias depois, viajou até São Paulo para conversar com Lula na sede da Presidência da República na capital paulista. A presidente está mais preocupada com medidas econômicas, ajustes no câmbio e nos juros e na aprovação de matérias no Congresso, como a Lei Geral da Copa, o fim da guerra fiscal nos portos e a regulamentação da cobrança do ICMS no comércio eletrônico.

Para que seu governo não fique paralisado, foi além. Proibiu os ministros de seu governo de contribuírem com qualquer coisa para a CPI. O veto não foi à toa. Os ministros petistas participaram de uma reunião com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, nos dias em que Dilma estava nos Estados Unidos. Na ocasião, Falcão disse que o partido pensava em coletar assinaturas para criar uma CPI e investigar os negócios de Carlinhos Cachoeira. "Ninguém falou nada contra. Agora dizem que foi um erro o vídeo divulgado pelo Rui? Estranho, não?", provocou um integrante do diretório nacional.

No meio do fogo cruzado, os dois líderes do PT — senador Walter Pinheiro (BA) e deputado Jilmar Tatto (SP) — alegam que não existem razões para colocar os dois principais expoentes do partido em polos opostos. "Não é uma CPI contra o governo, é contra o crime organizado que tentava atuar no Executivo", diz Tatto. "A CPI surgiu a partir das conversas entre Cachoeira e o senador Demóstenes (sem partido-GO). Não quer me dizer que Lula sabia que isso aconteceria?", completou Pinheiro.

Encontros políticos

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está cada vez mais empenhado em retomar as suas atividades políticas. Depois de participar no último fim de semana de um ato público ao lado dos candidatos do PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, Lula deve ir ao Paraná conversar com o neopedetista Gustavo Fruet, que vai concorrer à prefeitura de Curitiba. O PT paranaense fechou apoio a Fruet, mas Lula quer ouvir dele uma disposição para rever as críticas ao mensalão. Durante a CPI dos Correios, Fruet, então no PSDB, era uma das vozes mais contundentes da oposição. Ontem, o ex-presidente recebeu a visita do ex-presidente da Nigéria Olusegun Obasanjo, no Instituto Lula. (PTL)

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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