segunda-feira, 9 de abril de 2012

Laboratório eleitoral:: José Roberto de Toledo

Hábitos online antecipam o que acontece no mundo real? Além de oráculo, a internet é também pitonisa do comportamento humano? Tem resposta para tudo e ainda prevê o futuro? Cientistas acham que sim -e estão tentando provar. Alguns conseguiram associar as altas e baixas das ações na Bolsa de Valores ao ritmo do Twitter, outros demonstraram que as buscas no Google preveem surtos de doenças antes dos epidemiologistas.

Não é mágica, é vício. O comportamento humano segue padrões coletivos. São rotinas compartilhadas por milhares, às vezes por milhões de pessoas. De tão grandes ou esparsas são difíceis de identificar a olho nu. O que os cientistas têm feito é compilar bilhões de dados dispersos pelos internautas e tentar dar sentido a eles.

Quando alguém está doente e tem acesso à internet, há uma chance de pesquisar sintomas na web para fazer seu autodiagnóstico e, eventualmente, seu autotratamento. É por isso que anualmente se repete um pico de buscas pela palavra "gripe" no Google -sempre de abril e maio, entre os brasileiros. Mas quando há uma epidemia (real ou virtual) as pesquisas explodem, como em 2009, diante do pânico provocado pela gripe suína.

Será que isso se aplica à política?

O eleitor tem hábitos repetitivos como qualquer internauta. O Google Trends -uma ferramenta que mede o volume de buscas por palavras ou expressões no Google- mostra que, ao contrário dos políticos profissionais, os comuns mortais não se ocupam meses a fio com quem será o novo prefeito, tampouco pensam com antecedência em quem votarão para vereador. O eleitor médio só se preocupa com a eleição por um curto período de tempo.

Se as pesquisas no Google são um termômetro do interesse do público, pode-se dizer que as eleições municipais começam a despertar o eleitor a partir da segunda metade de junho, quando as buscas pela palavra "prefeito" na internet começam lentamente a superar a média dos meses anteriores. Isso coincide com o período das convenções partidárias para oficializar as candidaturas.

O interesse entra em uma curva ascendente, mas pouco inclinada, durante o mês de julho. Em agosto, a curiosidade se acelera após o horário eleitoral começar, até que há um salto abrupto na segunda quinzena de setembro, quando triplicam as buscas. O auge ocorre nos dias imediatamente anteriores e posteriores à eleição.

Essa curva é muito semelhante ao histórico de pesquisas de intenção de voto e reforça a ideia de que a corrida eleitoral é uma prova de 100 metros: a maioria dos eleitores escolhe seu candidato apenas na reta final. Apesar disso, a história revela padrões de votação que se repetem. Se não dá para prever o nome do eleito, é possível ao menos projetar o comportamento geral do eleitor antes mesmo de ele saber em quem vai votar.
Como todo hábito, a decisão do voto pelo eleitor funciona como um looping de três fases. É deflagrada por uma deixa: no Brasil, o início do horário eleitoral no rádio e na TV. Transforma-se num processo: a conversa com amigos e familiares para se informar sobre quem são os candidatos e avaliar suas chances. E termina com a expectativa de uma recompensa: eleger seu candidato ou derrotar o candidato do qual se gosta menos.

A disputa em São Paulo será um raro laboratório eleitoral. As duas principais forças partidárias experimentarão fórmulas opostas para tirar proveito dos hábitos eleitorais do paulistano. O PT de Lula testa os limites do petismo ao lançar um desconhecido. O PSDB de Geraldo Alckmin aposta em mais do mesmo. Fernando Haddad é o experimento. José Serra é o grupo de controle.

Se Haddad chegar ao segundo turno, o PT provará que o hábito de um em cada três paulistanos de votar em candidatos do partido é forte o suficiente para viabilizar qualquer um. Provará também que a corrida eleitoral só começa de fato quando o eleitor assiste às primeiras propagandas de candidatos na TV ou ouve os spots de rádio. Porque será o único jeito de o desconhecido petista se tornar conhecido da maioria.

Se Haddad não só chegar ao segundo turno, mas também for eleito, ficará provado que foi a soma da rejeição individual de Marta Suplicy à rejeição ao PT que fez a ex-prefeita perder as duas últimas tentativas de voltar à Prefeitura de São Paulo.

Porém, se Haddad for o primeiro petista a não chegar a um segundo turno paulistano, aí será preciso rever a hipótese de que o eleitorado é tão previsível assim. Não será o primeiro tropeço da ciência do comportamento. Os cientistas espanhóis que tentaram prever o mercado financeiro pelos humores do Twitter conseguiram apenas perder menos do que a maioria. Não ganharam um euro sequer.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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