quinta-feira, 26 de abril de 2012

Lá vem o Patto!::Urbano Patto


O assunto do momento é a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as informações que vazaram da Polícia Federal sobre o relacionamento do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos – dos legislativos, dos executivos e dos judiciários, nos níveis federal, estadual e municipal – e com empresas - empreiteiras de obras públicas e da área farmacêutica. Tudo isso revelando relações promíscuas e de corrupção com os órgãos públicos. Não há nessas relações qualquer preferência político-ideológica, tem parlamentares e mandatários dos mais diversos partidos, DEM, PT, PMDB, PSDB, PPS e das mais variadas regiões, Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, Paraná, etc.

A Polícia Federal rastreou o dinheiro do Cachoeira mundo afora. Não há limite, as águas do Cachoeira correram fluidas, molhando mãos por todo o caminho que percorreram. O que parecia originalmente tratar-se de contravenção penal para operar caça-níqueis e jogo do bicho revela-se uma intrincada e ampla organização criminosa que não conhece restrições para suas atividades.

A Copa do Mundo e as Olimpíadas com o tal Regime Diferenciado de Compras (RDC) e as condições especiais de execução orçamentária das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), todos suavizando o controle dos processos licitatórios e da fiscalização estão se revelando um espaço privilegiado para todo o tipo de maracutaia, conforme se vê hoje nas ações e métodos da empreiteira Delta, simbioticamente ligada ao contraventor Cachoeira.

Fica cada vez mais difícil separar o joio do trigo e chega a ser risível e infantil a tentativa de alguns partidos, governos e/ou políticos de vincular os crimes e desvios a determinada corrente ou somente aos seus adversários. Se há algo que fica claro como água de cachoeira é que a atividade criminosa é que cava seus espaços nas frestas éticas e nas ambições individuais e coletivas das pessoas e instituições.

O que causa maior perplexidade é como os criminosos, corruptos e corruptores, conseguem criar frestas novas com tanta desenvoltura a cada vez que uma delas é descoberta e, se não fechada, pelo menos atrapalhada.

A sequência mais recente, sem falar dos “feitos e esquemas” da ditadura (Itaipu, usinas nucleares, transamazônica, Jari, etc), mostram os escândalos: PC Farias, anões do orçamento, privatizações, sanguessugas da Saúde, mensalão, e agora Cachoeira, cuja característica comum é “trabalhar” a corrupção no atacado, “expandir” suas operações até onde puderem, “arrecadar” o máximo que for possível, “aplicar” e dar segurança “ao lucro” obtido e, ao desandar a operação, deixar os menos precavidos, laranjas e aprendizes de feiticeiros mortos, feridos e sangrando pelo caminho.

É tarefa da recém conquistada Democracia brasileira buscar instrumentos institucionais fortes para diminuir essas oportunidades de renovação constante da marginalidade e isso passa pela punição dos marginais e, principalmente, pela recuperação do dinheiro desviado, pois alguns dos criminosos até se permitem, ou escalam seus reservas, para correr o risco da punição, desde que não seja comprometido o patrimônio amealhado, descontados os custos de defesa já devidamente contabilizados no seu “negócio”.

Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com

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