terça-feira, 10 de abril de 2012

Fraco desempenho de Haddad inquieta o PT:: Raymundo Costa

Bate nos nervos do PT a falta de resposta da candidatura Fernando Haddad nas pesquisas de opinião. Por esta época, nas eleições de 2010, a candidata Dilma Rousseff já estava com 30% nas sondagens eleitorais, muito embora tenha entrado na corrida presidencial assim como Haddad entrou agora na eleição para prefeito de São Paulo: desconhecida e sem nunca antes ter participado de uma disputa eleitoral.

São situações diferentes, é claro. Em março de 2010, o ex-presidente Lula já estava há quase dois anos trabalhando ativamente pela candidatura de Dilma. Na realidade, em setembro de 2009 Dilma tinha 15% das intenções de voto, foi a 17% em dezembro e alcançou os 30% em março, segundo pesquisa Ibope.

Outra preocupação do PT é a falta de garra do candidato, o que Dilma demonstrou ter de sobra nos debates da sucessão presidencial. À época, os tucanos contavam que José Serra, mais experiente, daria um baile nos debates, o que não ocorreu. As manifestações de Haddad, nesta pré-campanha, parecem o que efetivamente são: respostas prontas redigidas por marqueteiros.

Troca de candidato agora seria uma derrota para Lula

É alta a carga de ansiedade no PT, mas tanto no partido quanto no Palácio do Planalto não se cogita até agora substituir o candidato, como se especula entre deputados e senadores, mesmo se o ex-ministro da Educação continuar patinando nas pesquisas. Na cúpula petista o limite para Haddad se mexer nas pesquisas é junho. Limite no sentido de viabilização eleitoral, nunca de mudança do candidato.

No Palácio do Planalto não se espera que Haddad, até agosto, dê grandes saltos na pesquisa, como aconteceu com Dilma entre setembro de 2009 e março de 2010 (o ano da eleição presidencial). Entre auxiliares próximos da presidente também afirma-se que não há risco de Haddad ser substituído por outro candidato. Os dirigentes petistas não abririam o jogo se Haddad tivesse prazo de prescrição. Mas tudo indica que essa é realmente a posição do PT: a retirada do ex-ministro seria uma "grande" derrota de Lula, num momento pessoal difícil para o ex-presidente da República.

Haddad é uma aposta pessoal de Lula que o PT encampou, apesar de o partido não ter a mesma visão de Lula sobre o poder de fogo do ex-presidente para eleger o prefeito da cidade de São Paulo. Ao contrário das outras grandes capitais, o governo federal é praticamente invisível em São Paulo. As principais universidades, por exemplo, são USP e Unicamp. Não há hospital federal que se sobressaia ao cenário local. Desde 1985, São Paulo nunca elegeu um prefeito alinhado pessoal e partidariamente com o presidente da República.

Há uma "inquietação natural", reconhece a cúpula do PT, e até julho Haddad deve ficar no sereno. O partido perdeu na Justiça Eleitoral o tempo de televisão a que tinha direito neste semestre, inserções e um programa que pretendia usar para tornar mais conhecido o candidato. A ideia é apressar as negociações com os aliados e começar a apresentar boas notícias, para ver se Haddad reage nas pesquisas até junho.

Está em curso uma diligência para apressar o anúncio da aliança com o PSB. Mais que o apoio do partido vale o tempo de televisão que ele pode agregar a Fernando Haddad na propaganda eleitoral. Qualquer 15 segundos é mais importante para o ex-ministro do que o apoio formal de partidos sem peso eleitoral em São Paulo. Eles não significam votos, apenas tempo no horário gratuito para tornar mais conhecido o candidato do partido.

Apesar da ansiedade de parlamentares e militantes, na cúpula há certa tranquilidade porque avalia-se que o candidato do PT terá o desempenho histórico do partido na cidade, em torno dos 30%. Ou seja, seu candidato provavelmente estará no segundo turno, o que já poderá ser considerado uma vitória de Lula. Se Haddad for para o segundo turno contra José Serra e perder, o PT não perde com o antigo, perde com o novo e sai da eleição com uma nova alternativa para as eleições seguintes. A incógnita, nos cálculos do PT, é o candidato do PMDB, Gabriel Chalita.

O; senador Lindbergh Farias (PT-RJ) é uma alternativa real para a disputa do governo do Rio de Janeiro, em 2014. Em princípio, o candidato da aliança PT-PMDB é o vice-governador Luiz Fernando Pezão. A quase dois anos da eleição, Pezão dá sinais de que é candidato de um dígito, tanto que já se fala no PMDB e no Palácio do Planalto em outra opção no campo do governador Sérgio Cabral: José Mariano Beltrame, o secretário de Segurança Pública que carrega no currículo as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Ocorre que há dúvidas sobre a intenção do secretário de seguir carreira política.

Atualmente, o ex-governador Anthony Garotinho lidera as pesquisas de opinião para o governo do Rio de Janeiro, com algo em torno dos 30%. Lindbergh aparece na faixa dos 20% e Pezão, dos 2%. A avaliação no PT é que não há possibilidade de Pezão chegar à frente de Lindbergh em 2014. O PT acha que chegou a hora de ter um candidato competitivo ao governo do Rio, Estado onde o partido perdeu o rumo após a intervenção do diretório nacional, em 1988, para deletar a candidatura do ex-deputado Vladimir Palmeira e apoiar Garotinho na eleição para o governo estadual. Lindbergh, nas eleições municipais, ameaçou sair candidato, mas se engajou na reeleição de Eduardo Paes (PMDB). O prefeito não deve deixar o cargo para concorrer em 2014 - seu projeto é fazer bonito na Olimpíada de 2016 e chegar como candidato franco favorito nas eleições seguintes. O próprio Lindberg acha que Paes "será um foguete em 2018". Sua chance, portanto, seria agora, em 2014.

O ex-presidente da UNE já abriu mão de ser candidato, na eleição passada, a pedido do ex-presidente Lula. Num momento de renovação política do PT nacional, ele trabalha para chegar a 2014 como candidato do próprio Cabral e de Lula, seu padrinho político, que tem compromisso com o candidato de Cabral. Esse candidato, por enquanto, é Pezão.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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