domingo, 15 de abril de 2012

CPI no Rio já destacava 'prestígio' de Cachoeira

Investigação sobre Loterj, por causa do escândalo Waldomiro, mostrou que contraventor tinha "excelentes relações entre os políticos locais"

Wilson Tosta

RIO - O prestígio de que o contraventor Carlinhos Cachoeira desfrutava entre políticos goianos já fora apontado em investigação na Assembleia Legislativa do Rio. A CPI da Loterj, sobre as relações de Cachoeira com o ex-presidente da autarquia Waldomiro Diniz, também ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil sob José Dirceu, já destacava, em seu relatório final, votado em outubro de 2004, a popularidade de Cachoeira na política de Goiás, não se limitando à atuação do acusado em relação ao governo fluminense.

"Em Goiás, Carlos Ramos mora no mais sofisticado edifício de Goiânia, o Excalibur", afirma o relatório. "É vizinho de alguns dos mais importantes empresários do Estado e é considerado um bem-sucedido homem de negócios, com excelentes relações entre os políticos locais."

A descrição confere com o que afirmou, quase oito anos depois, o governador Marconi Perillo (PSDB), em entrevista publicada na última segunda-feira pelo Estado: "Todos os políticos importantes de Goiás tiveram alguma relação com o Cachoeira." A CPI da Loterj, na época, pediu o indiciamento de Cachoeira por extorsão, violação da Lei de Licitações, corrupção ativa, fraude de concorrência pública e compra de voto.

Proximidade do poder, corrupção e arapongagem foram temperos importantes do escândalo de 2004. Ele começou com a divulgação, pela revista Época de 13 de fevereiro daquele ano, de uma gravação em vídeo da conversa entre Waldomiro e Cachoeira. Nela, o então assessor de Dirceu aparecia, provavelmente em junho de 2002 (quando presidia a Loterj), oferecendo ao contraventor a oportunidade de redigir um edital de licitação da autarquia, sobre jogos eletrônicos. O objetivo seria beneficiar o consórcio Combralog, de Cachoeira.

Waldomiro pediu dinheiro para as campanhas de Benedita da Silva (PT) e de Rosinha Garotinho (então no PSB) ao governo. Chegara ao posto na gestão Anthony Garotinho (1999-2002) e fora mantido pela petista (que assumiu em abril de 2002).

Em seu depoimento à CPI, Cachoeira diria que, na conversa que mandara gravar, apenas agira para tentar fazer Waldomiro pensar que seria atendido, mas nada lhe dera, e explicou que a fita fora editada. "Na verdade, ele (Waldomiro Diniz) me fez "n" pedidos, mas nenhum foi atendido, só da boca para fora. Eu queria fazê-lo entender que estaria negociando, mas não repassei nada para o Waldomiro (...) Na época ele fez solicitação para campanha política, está na fita, não foi dado nenhum centavo a ele. O que me lembro é isso, ele pediu um porcentual também."

Já o ex-assessor de Dirceu - que perdeu o cargo na Casa Civil em junho de 2005, no primeiro grande escândalo político da Era Lula - afirmou que Cachoeira o chantageou.
Setor privado. Montada em um cenário político adverso para o PT do governo federal - era dominada pela maioria pró-Rosinha Garotinho, engrossada pelo apoio do PSDB e por partidos nanicos -, a CPI da Loterj listou empresas que seriam controladas por Carlos Cachoeira: Barna Construções, Brasília Armazéns Gerais, Gerplan (que administrava as loterias goianas), Vantagens Net Marketing de Incentivo, Bet-Capital, Vitapan Indústria Farmacêutica, Brazilina Games e Teclogic.

A listagem torna difícil de sustentar eventuais versões sobre o suposto "desconhecimento", em Goiás, em relação à atuação de Cachoeira - que rejeita o rótulo de bicheiro.

Além de Carlos Cachoeira e Waldomiro Diniz, outras 18 pessoas tiveram indiciamentos pedidos pela CPI da Loterj.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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