sexta-feira, 13 de abril de 2012

Clima de CPI:: Eliane Cantanhêde

A capa da Folha de ontem confirma o clima de CPI.

Na manchete, "Gravação da PF indica pagamento de propina no DF", sobre suposto envolvimento do governo petista com o esquema Cachoeira, aquele que está em todas.

Logo abaixo, em "Câmara convoca Ideli para explicar compra de lanchas" e "Governo paulista suspende compras da PM sob suspeita". Ao lado, em "Roseana usa jato de empresário para viagem oficial aos EUA".

É uma avalanche (ou cachoeira) de desvios, favorecimentos, negócios escusos, ligações perigosas entre público e privado. A sensação do leitor/eleitor é a de que o mundo está de cabeça para baixo, enquanto o Congresso usa a CPI do Cachoeira como manobra política, sem o propósito real de investigar e punir.

A pergunta que não quer calar é: a quem interessa a CPI? Ao Planalto? Aos governistas? À oposição? A nenhum deles, só a nós, jornalistas, e a você, eleitor, leitor, ouvinte e telespectador, que carrega uma robusta carga tributária nas costas.

O PMDB quer uma CPI para assistir de camarote -ou melhor, na presidência da comissão- o desespero do PT e da oposição. Já caíram na rede e nas gravações um governo do PT (o do DF) e um do PSDB (Goiás), um senador do DEM e deputados de diferentes siglas.

É como se Cachoeira tivesse concluído, em algum momento da vida, que tudo se compra, todos têm um preço. E saiu por aí comprando empresas, negócios, jogos, governos, parlamentares, promotores, assessores de vários níveis, agentes da polícia e da Receita. Almas e consciências. Fora o que ainda não se sabe...

Ainda bem que, acima desse submundo, há um mundo real em que o Brasil avança. As grávidas de fetos anencéfalos não serão mais submetidas à escolha entre uma tortura medieval de nove meses e a fogueira penal. E a lei seca está voltando.

A CPI aproximaria esses dois mundos, melhorando a realidade. Mas... a quem interessa mesmo?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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