quarta-feira, 14 de março de 2012

Presidente troca líderes, mas não acaba com crise

A tentativa de Dilma de pacificar partidos aliados com a mudança dos líderes no Congresso acabou causando tensão no Legislativo.

Para aliados, a saída de Romero Jucá (PMDB) da liderança no Senado e de Cândido Vaccarezza (PT), na Câmara, põe em risco votações de interesse do governo, pois não melhora a articulação política.

Dilma alimenta tensão no Congresso ao trocar líderes

Mudanças feitas pela presidente para pacificar base aliada criam focos de atrito

Políticos temem que disputas partidárias aumentem riscos para votações de projetos de interesse do governo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff tentou pacificar a base aliada ao Planalto trocando seus líderes no Congresso, mas acabou gerando tensão e incertezas no Legislativo.

Políticos que apoiam a presidente disseram ontem que a troca dos líderes do governo no Senado e na Câmara põe em risco votações de interesse do governo e antecipa o debate sobre a sucessão no comando das duas Casas.

Segundo aliados, a troca não irá resolver a crise iniciada na semana passada com um manifesto da bancada do PMDB na Câmara se não houver mudanças na articulação política do Planalto.

Os congressistas reclamam que Dilma não aceita receber demandas de parlamentares e apontam ineficiências no trabalho das interlocutoras do governo com o Congresso, as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

Ontem, Dilma oficializou a substituição de Romero Jucá (PMDB-RR) por Eduardo Braga (PMDB-AM) na liderança do Senado e de Cândido Vaccarezza (PT-SP) por Arlindo Chinaglia (PT-SP) na Câmara.

Dilma argumentou com a cúpula peemedebista que decidiu trocar seu líder no Senado para conquistar o apoio da ala dissidente do partido, que conta hoje com quase metade dos 18 senadores.

A aliados a presidente disse que condicionou a escolha de Braga à garantia de que ele fará os dissidentes do PMDB votarem com o governo.

O Planalto atribui à divisão na bancada do PMDB a derrota que sofreu na semana passada, quando a indicação de Bernardo Figueiredo para o comando da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) foi vetada.

No caso da troca de líderes na Câmara, a justificativa é que Vaccarezza não estava seguindo orientação do governo. Na discussão do Código Florestal, por exemplo, ele estaria mais afinado com a bancada ruralista.

Em discurso ontem no Senado em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Dilma evitou falar da crise e disse que seu governo é uma "equipe conjunta e coesa".

As mudanças feitas pela presidente foram consideradas, por aliados, de alto risco. No Senado, porque, ao tentar atrair os dissidentes peemedebistas, desagradou o comando do partido.

O maior temor do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e do líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL), é perder o controle diante de um fortalecimento de seu grupo adversário. Braga não esconde o desejo de substituir Sarney.

Já a escolha de Chinaglia é vista por peemedebistas como fator de risco para o cumprimento do acordo de revezamento pelo qual o PT se comprometeu a entregar a presidência da Casa ao PMDB em 2013. Ele, que presidiu a Câmara de 2007 a 2009, indicou recentemente a intenção de concorrer ao cargo, mas ontem disse ter desistido.

Pego de surpresa com a destituição do cargo, Jucá fez críticas a Dilma. "São indicações que não são feitas, ministros que não retornam. O governo, na máquina toda, precisa fazer política."

De todo modo, ele ganhou como compensação a relatoria do Orçamento, com poder para influir na destinação de verbas federais.

Vaccarezza disse não ter ressentimentos, mas que não sabe aonde a presidente "quer chegar" ao dizer que fará rodízio nas lideranças.

O clima ruim, segundo senadores aliados, poderá se refletir nas próximas votações. Eles ameaçam dificultar a aprovação do Fundo de Previdência dos Servidores Públicos e medidas provisórias.

Chinaglia, novo líder na Câmara, já convocou para hoje reunião com os líderes da base para tentar, de imediato, solucionar impasses nas votações do Código Florestal e da Lei Geral da Copa.

Em meio à troca de líderes, a oposição conseguiu aprovar, na Comissão de Educação do Senado, convite para que a ministra Ana de Hollanda (Cultura) fale sobre suposto favorecimento da pasta ao ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).No momento da aprovação, não havia nenhuma liderança governista na comissão.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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