quarta-feira, 21 de março de 2012

Chico de Oliveira: “18 de brumário” de Luis Inácio Lula da Silva

Para Francisco de Oliveira, o governo Dilma é a amostra da impossibilidade de manter-se, no longo prazo, o tipo de conciliação ampla dos dois mandatos do governo Lula

“A sociedade brasileira é cada vez mais complexa para que seus interesses contraditórios sejam envelopados numa fórmula carismática”. “As chamadas qualidades da presidente (Dilma) têm sido consumidas no ‘apagar fogo’ de uma coalizão que não tem qualquer identidade programática”. Essas são algumas das ideias que o professor Francisco de Oliveira esboçou ao refletir sobre o primeiro ano do governo Dilma a partir de uma série de questões enviadas a ele pela IHU On-Line. O professor preferiu respondê-las resumidamente, em um bloco único, e enviou por e-mail o texto que segue.

Francisco de Oliveira formou-se em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia da Universidade do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. É professor aposentado do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo – USP.

Confira o comentário.

O governo Dilma é a amostra da impossibilidade de manter-se, no longo prazo, o tipo de conciliação ampla dos dois mandatos do governo Lula. A sociedade brasileira é cada vez mais complexa para que seus interesses contraditórios sejam envelopados numa fórmula carismática. Já as dificuldades da candidatura Haddad estão demonstrando que Lula não é o mago que ele mesmo acredita ser e sua segunda clonagem tem todas as chances de falhar estrondosamente. Daí Dilma ter que demitir, ou aceitar a renúncia de uma quantidade de ministros que, no todo, daria para formar um time de futebol: o time Dilma. E todos não foram por corrupção, como é anunciado. Nelson Jobim não saiu do governo por corrupção, mas porque sua opção de interesses se compatibiliza mais com Serra do que com Lula/Dilma. Daí, Dilma não é propriamente inábil, ou trator, ou faxineira. É que Lula abafou e conciliou numa escala que não dá para manter por muito tempo.

Quanto à política econômica, Dilma mantém o mesmo ritmo, as mesmas opções que, aliás, estão aí desde Fernando Henrique Cardoso. Lula mesmo não mudou nada das orientações neoliberais de FHC; apenas injetou mais dinheiro no BNDES, seguindo assim, as orientações da Economia da Unicamp, da qual Luciano Coutinho é um dos mais representativos: fazer as empresas brasileiras serem internacionais, atuando fortemente para fora, e não para dentro.

Quanto à classe trabalhadora, Lula foi uma espécie de Bonaparte : enquanto exportava a Revolução Francesa na ponta de suas baionetas, Bonaparte arrasou com o ímpeto revolucionário interno da Revolução Francesa, anulando o poder da novel classe trabalhadora francesa. Lula foi um Bonaparte reduzido, ou seu governo foi um “18 de brumário” de Luis Inácio Lula da Silva. A classe trabalhadora, por suas frações organizadas, não apita nada neste governo, como consequência da anulação de seu poder de classe operado por Lula da Silva.

Enquanto isso o Bolsa Família representa exatamente essa anulação: estendendo um pequeno subsídio para a subsistência dos mais pobres, ele anulou o poder reivindicatório das frações organizadas da classe. Na verdade, isso é o que se pode dizer do primeiro ano do governo Dilma. As chamadas qualidades da presidente têm sido consumidas no “apagar fogo” de uma coalizão que não tem qualquer identidade programática, e por isso seu governo pode ser chamado de “governo de combate ao fogo amigo”.

FONTE: IHU –On-Line

Um comentário:

Anônimo disse...

Hoje, Lula é um peso pra Dilma, vista a política pela perspectiva de seus agentes. Em algum momento, vai aparecer o fracasso da frente ampla - estratégia do Dirceu e Lula - e a realidade exigirá uma reorientação do grupo no poder, para continuar no poder. Isso vai exigir uma nova liderança.
O candidato desse grupo será Lula, se ainda sobrevivier a frente ampla. Será Dilma, se uma reorientação se fizer necessária.
Paulo E Freitas