segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O desafio de um comunista verde

Quem é o economista encarregado de organizar a conferência da ONU que pode juntar até 50 mil ambientalistas na cidade

Sergio Besserman, "O produto da Rio-92 foi muito robusto. Ele abriu as negociações sobre clima, biodiversidade e Agenda 21. A Rio +20 foi convocada sem um mandato tão relevante"

‘Vinte anos depois, existe uma sociedade civil conectada no tema. Participou da Rio-92, quem veio à cidade. Agora, da Nova Zelândia, o cara poderá assistir à conferência.’

‘Sou de esquerda radical. Isso não tem nada a ver com um pensamento estatizante. Tem a ver com abraçar árvores. Eu abraço árvores e observo pássaros.’

Artur Xexéo

Presidente do Grupo de Trabalho da Prefeitura para a Rio +20, o economista Sergio Besserman Vianna, de 54 anos, tem dificuldades em definir suas funções. A pompa do nome do cargo, por exemplo, parece fazê-lo temer que passe a impressão de que é responsável sozinho por toda a estratégia da conferência da Organização das Nações Unidas que, entre os dias 13 e 22 de junho, vai tomar conta da cidade. Talvez por isso, trate logo de dividir seus encargos.

- Junto com o vice-prefeito e secretário do Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz, eu lido com a questão do conteúdo e com as relações com a sociedade - tenta definir.

Imediatamente, cita outras estrelas desta fase preparatória da Rio +20:

- O secretário de Turismo e presidente da Riotur, Antonio Pedro Figueira de Mello, é a cara do evento. O secretário de Conservação, Carlos Roberto Osório, é quem prepara a cidade...

Quando o interlocutor pensa que não falta mais responsável algum pela conferência, Besserman continua aumentando o número de manda-chuvas:

- É um evento do governo federal. O Rio é apenas a cidade-anfitriã. A Rio +20 é do Itamaraty...

Vargas e a causa do nascimento

Com tanta gente envolvida, afinal, o que faz Sergio Besserman na conferência?

- Meu papel é ficar fustigando, articulando...

Se o negócio é fustigar, articular, o prefeito Eduardo Paes encontrou o homem certo. É isso que Sergio Besserman aprendeu a fazer em casa, com os pais, sempre ligados a alguma causa política, e é o que ele vem fazendo na carreira desde que chegou ao Departamento de Economia da PUC, no fim dos anos 1970, e onde ficou até a metade da década de 80, período em que por lá circulavam Pérsio Arida, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha... Fustigava-se e articulava-se muito naquela época na PUC. Foi de lá que Besserman saiu com uma dissertação de mestrado sobre o segundo Governo Vargas, premiada pelo BNDES. Hoje, ele justifica com bom humor o interesse pelo tema.

- Se não fosse o Vargas, talvez eu não tivesse nascido. Quando namorados, minha mãe era uma comunista extremada; e meu pai, um comunista racional. Ela era mais contra o Getulio Vargas do que o próprio Carlos Lacerda. Eles acabaram rompendo o namoro. Com o suicídio de Vargas, o Partido Comunista mudou tudo. Minha mãe ficou mais maleável, eles reataram o namoro, e eu nasci!

O poder de fustigar e articular de Besserman está sendo posto à prova na Rio +20. É um evento grandioso, quase tão grandioso quanto a Rio-92, realizada há 20 anos e que justifica o "+20" da conferência de agora.

- Pelo lado diplomático da ONU, a Rio +20 está um degrau abaixo da Rio-92. Há 20 anos, tivemos uma cúpula de chefes de Estado. Agora, teremos uma conferência das Nações Unidas. Mesmo assim, uma enorme quantidade de chefes de Estado virá, pela importância do tema, desenvolvimento sustentável, e pela memória da Rio-92. Além disso, o mundo ao redor da Rio +20 é muito maior que o que cercava a Rio-92. 

Há 20 anos, tínhamos a ONU no Riocentro e as Organizações Não Governamentais (ONGs) no Aterro. A sociedade civil global ao redor da Rio +20 é mais ampla. Temos ONGs, os maiores movimentos do mundo, redes de empresas, redes de cidades, organizações de jovens... E, 20 anos depois, existe uma sociedade civil conectada no tema. O mundo está conectado. Participou da Rio-92, quem veio à cidade. Agora, da Nova Zelândia, o cara poderá assistir à conferência.

Do vermelho ao verde

A Rio +20 pode ser comparada com a COP 15, a 15ª Conferência das Partes, realizada em Copenhage há pouco mais de dois anos. A comparação assusta, pois a conferência em Copenhage não foi um primor de organização.

- Eles esperavam dez mil pessoas, e apareceram 45 mil. Por falta de acomodação, teve delegado que precisou dormir na Suécia - relata Besserman, para, em seguida, utilizar de novo o bom humor e afastar qualquer preocupação com o fato de algo parecido acontecer no Rio. - Escandinavos resolvem tudo de última hora, sempre acreditam que podem dar um jeitinho. Nós, brasileiros, somos mais organizados.

E adianta alguns números que fazem a conferência no Rio deixar a de Copenhage no chinelo:

- Se tudo der errado, teremos 25 mil credenciados na cidade. Se der certo, teremos 50 mil. Estes serão só os credenciados. Pode multiplicar este número por quatro ou cinco.

A tese premiada de Besserman valeu-lhe um emprego no BNDES, onde fez carreira e se mantém até hoje. Para o trabalho na prefeitura, foi "cedido" pelo banco, situação que também ocorreu na época em que esteve no IBGE, onde organizou o Censo de 2000. Foi durante a Rio-92 que ele começou a se interessar por ambientalismo e que o comunisno herdado dos pais - "sou comunista desde os 12 anos", orgulha-se - começou a desbotar o vermelho e ganhar coloração esverdeada.

- Sou de esquerda radical. Isso não tem nada a ver com um pensamento estatizante. Tem a ver com abraçar árvores. Eu abraço árvores e observo pássaros. Quem vai se ferrar com a crise ambiental não é a natureza. Este é um problema da Humanidade. E é um problema igual para todos? Claro que não. É um problema que se abate sobre os pobres. O vermelho do século XXI é verde.

É este comunista verde quem descreve como funcionará, geograficamente, o evento que terá o Rio como abrigo. A conferência em si acontecerá no Riocentro. Em torno da área, estarão mais três "equipamentos". Na região que a prefeitura sonha em ver conhecida como Parque dos Atletas, mas que a população sempre chamará de Cidade do Rock, ficará uma espécie de feira, com estandes de empresas. Na Arena de Jacarepaguá, serão realizadas as assembleias da sociedade civil. E "se houver demanda por mais espaço", será utilizado o autódromo. Longe do Riocentro, o Vivo Rio e o MAM "estão nas mãos do Itamaraty", para a realização do plenário da Cúpula dos Povos. E o movimento social - as entusiasmadas ONGs de 20 anos atrás - está reivindicando, mais uma vez, o Aterro. O Itamaraty também reservou quatro armazéns do Cais do Porto, mas ainda não há nada programado oficialmente para o local.

Resta saber qual será o resultado de tanta produção.

- O produto da Rio-92 foi muito robusto. Ele abriu as negociações sobre clima, biodiversidade e Agenda 21. A Rio +20 foi convocada sem um mandato tão relevante. É uma conferência para discutir desenvolvimento sustentável, economia verde e governança global. Ah, e também uma avaliação da Rio-92, mas isso foi bastante amortizado. Vinte anos depois, não se fez nada. A inclusão social melhorou. Quanto à questão ambiental, não se fez nada.

Conhecedor de Copacabana

Besserman sabe do que está falando. Nos últimos 20 anos, filiou-se a uma grande diversidade de organizações ambientalistas. É do conselho diretor, no Brasil, da World Wild Fund for Nation (WWF), é dos conselhos da International Conservation e da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), é "o cara da ecologia" da Fundação Roberto Marinho... Seu amor por ambientalismo só encontra rivais em três outras paixões. Uma delas é Copacabana.

- Estudo um monte de coisas. Mas, conhecer de verdade, só conheço Copacabana - diz o morador do Posto Seis.

Outra é a família. Besserman é o mais velho de três irmão. O do meio, Marcos, é médico pediatra, que trabalha com saúde pública. O mais moço era o comediante Bussunda, com quem é muito parecido fisicamente. Casado há 33 anos com Guida, também economista, ele tem dois filhos, André, de 30 anos, jornalista ambiental, e Ana Elisa, de 25, linguista.

- Ana Elisa mora nos Estados Unidos - reclama Besserman. - Tudo culpa do Bush. Ela foi fazer intercâmbio e conheceu na faculdade um rapaz beneficiado por um programa do governo que dava bolsa de estudos para quem passasse quatro anos na Guerra do Iraque. Se não fosse o Bush, não teria guerra, não teria o programa de bolsa de estudos, ela não conheceria o namorado e estaria aqui perto de mim.

A terceira paixão é o futebol. Materialista verde, Sergio Besserman é flamenguista roxo:

- Tenho dois heróis na vida: Zico e Darwin. Nesta ordem.

FONTE: O GLOBO

2 comentários:

Eduardo disse...

Esse devia estar na DN do PPS. Seria uma grande contribuição.

MUDE disse...

Lamentavelmente, nem está filiado ao PPS. Lamentavelmente, esquecem dele...Lamentavelmente, seria um grande candidato mas...