quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Nem tudo é Paz na Pré-campanha de Paes::Vagner Gomes de Souza

As movimentações de pré-campanha no Rio de Janeiro se iniciam com o mito da candidatura imbatível do atual prefeito Eduardo Paes (PMDB). Há alguns indicadores numéricos que reforçariam esse discurso em favor da reeleição do atual mandatário. O Governo Municipal parte de uma base de apoio de 16 partidos políticos que mobilizarão, para além da hegemonia no tempo na TV, quase mil candidatos a vereador mantidos por uma forte “máquina eleitoral”. O Prefeito, segundo o último IBOPE, estaria com 36% de intenções de voto enquanto a soma dos possíveis adversários não chegaria a 30%. Isso reforça a política de consolidação do continuísmo, pois as forças políticas de oposição ficam induzidas ao cálculo de limitar sua atuação na eleição de uma bancada de vereadores.

A cultura política brasileira, ainda mais a carioca, nunca se definiu eleitoralmente antes das duas últimas semanas de campanha. Por isso, Jorge Picciani, o “General” da articulação da campanha do PMDB no Estado do Rio de Janeiro, se adiantou em apontar a fácil vitória eleitoral do Prefeito na Capital já no primeiro turno na entrevista ao Jornal O DIA (08-01-2012). Se a vitória é certa, quais os motivos em buscar cooptar outros partidos da oposição como PPS e PV? Na verdade, estamos em tempos de começo de diversas batalhas políticas por “guerra de posições” que irão se estender ao longo do ano eleitoral.

O “calcanhar de Aquiles” da política governista no Rio de Janeiro está na Zona Oeste carioca que esteve ausente na citada entrevista. Após uma gestão, o PMDB oferece ao eleitor dessa região os velhos quadros políticos do clientelismo local. Contudo, a sociedade carioca passou por uma transformação no sentido oeste que se somou a emergência de uma nova classe média distante das “máquinas” da política carioca. A máquina pública, a máquina assistencialista e a máquina neopetencostal são muito relevantes ainda na região, porém há indicadores que uma diversidade política emerge na região diante dos votos obtidos por Marina Silva a Presidência da República em 2010.

A oposição mais conservadora do DEM-PR é orientada no sentido de reforçar sua presença na Zona Oeste mobilizando segmento do voto evangélico com a possível candidatura a Vice-Prefeitura de Clarissa Garotinho que atua nas vistorias das escolas públicas da Rede Estadual em famosas BLITZ da Educação com contatos com a base eleitoral jovem. O que faz a oposição da chamada velha esquerda? Essa oposição de base sindical nos funcionários públicos está com quadros envelhecidos com uma juventude mais radicalizada. A candidatura do Deputado Marcelo Freixo (PSOL) é maior que a capacidade do seu partido fazer política de alianças que “costure” a moderna classe média e a antiga classe média. O fator Marina Silva – severamente criticada como “eco-capitalista” nas eleições presidenciais pelo PSOL – será decisivo para definir os rumos dessa candidatura que tem potencial eleitoral se houver alianças.

Há uma terceira vertente de oposição que pode dialogar com a nova classe média. Trata-se do pólo eleitoral expresso no PSDB-PV-PPS que caminham para o lançamento de candidaturas próprias. Contudo, há um núcleo comum nesses partidos políticos ao se posicionarem distantes da “máquina pública”. O próprio PPS, reiteradas vezes se posicionou como oposição ao Governo Municipal mesmo diante de ofertas para participação no Secretariado. Essa resistência da prática política seduz um segmento da classe média que valoriza a ética com a coisa pública.

Voltemos ao cenário da Zona Oeste carioca onde cresce o eleitorado de oposição. Muitas unidades universitárias particulares acrescidas da UEZO se formaram nos últimos anos na região. Forma-se um segmento eleitoral de opinião que está em contato com as camadas populares no seu dia a dia. Esse segmento compreende que o transporte público está a serviço dos interesses eleitorais da continuidade. Contudo, ainda não se fez a política de oposição voltada para esse eleitor médio. Um eleitor do “centro democrático” que não tolera o perfil mafioso de suas lideranças políticas está aguardando o momento da campanha. Ainda não se manifestou nas pesquisas. Esse eleitor vai tirar a Paz de Paes.

Membro do Diretório Municipal do PPS-RJ. Mestre em Sociologia pelo CPDA-UFRRJ. Professor da Rede Pública de Ensino. Morador na Zona Oeste carioca.

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