quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Documentário transporta público para o universo mágico de Tom Jobim

Direção. Dora e Nelson: escolha por apenas sons e imagens
'A Música Segundo Tom Jobim' é um documentário musical no sentido mais radical do termo

Luiz Carlos Merten

Desde as primeiras imagens que batem na tela, A Música Segundo Tom Jobim transporta o espectador para um universo mágico. Surgem imagens do Rio, em preto e branco. À esquerda da tela, começa a aparecer um velho avião - da Panair do Brasil. Sem uma palavra, a imagem situa a época, os anos 1950, e o som já é o da trilha do documentário.

A codiretora Dora Jobim conta que embarcou, desde a primeira hora, no conceito proposto por Nelson Pereira dos Santos. O filme é um documentário musical no sentido mais radical do termo. As pessoas - Tom Jobim, Elis Regina, Frank Sinatra, Gal Costa, que é a primeira a aparecer, só cantam. Nenhuma entrevista, nenhum letreiro. Imagens e sons. É a antítese do moderno documentário musical, em que outras pessoas - em geral, os mesmos - dão seus depoimentos sobre os artistas focados. A crítica dessa tendência é feita pelo diretor Victor Lopes em As Aventuras de Agamenon, quando o jornalista Nelson Motta revela-se confuso e pergunta para qual filme está dando depoimento, e sobre quem.

Nelson acha graça da história contada pelo repórter. Todo mundo já entrou para a sessão especial de A Música Segundo Tom Jobim e agora Dora Jobim e ele estão à disposição do repórter no lobby do cinema no Rio. O conceito de Nelson fica expresso por meio de uma frase que só aparece no final. Seria óbvio colocá-la no começo, ela aparece só no fim, depois que o espectador já fez sua parte. Todo filme se constrói no imaginário do público, que precisa reconstituir no inconsciente o que acaba de ver, No caso de A Música Segundo Tom Jobim, mais ainda. A frase é do próprio Tom: "Só a linguagem musical basta".

Nelson Pereira dos Santos conhecia Tom Jobim desde o alvorecer do Cinema Novo. "O Tom fez a trilha de muitos filmes da gente, na época", ele conta. Quem o apresentou foi Cacá Diegues. Anos mais tarde, Nelson fez, na antiga Manchete, um especial de quatro episódios que já se chamava A Música Segundo Tom Jobim. Lá, sim, havia entrevistas com luminares da música popular e da erudita - por exemplo, Radamés Gnatalli -, que Tom entrevistava para contar uma história da música no País.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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