quinta-feira, 17 de novembro de 2011

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna: conjuntura

Os partidos ou se deixam enredar nas malhas do governo por cálculo eleitoral e pelas conveniências das suas necessidades de reprodução política, ou aderem a ele sem apresentar a justificação de princípios que informem suas linhas de ação, caso até daqueles que se declaram vinculados a uma orientação doutrinária definida. Sob esse registro, o que vale é manter e expandir sua influência eleitoral, fora de propósito considerações em torno de uma ética de convicção.

Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio. Conjuntura, modernização e moderno. O Estado de S. Paulo,16/11/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Violência mata mais homens jovens; mulheres chefiam lares
Lupi já perde apoio de aliados no PDT
Sem a barba
Óleo: PF vai investigar vazamento
Dilma intervém, e decisão de royalties fica para 2012

FOLHA DE S. PAULO
PDT abandona Lupi para manter trabalho
Relacionamento com lobista foi normal, diz Agnelo
Taxa de filhos por mulher cai abaixo de dois, revela Censo
PF investiga negligência de petroleira no RJ

O ESTADO DE S. PAULO
PDT já fala na saída de Lupi e avalia nomes para seu lugar
Um novo Lula
IBGE projeta queda da população
Petrobras reduz nível de investimento
Vazamento na Bacia de Campos é visto do espaço

VALOR ECONÔMICO
Revisão deve garantir PIB acima de 3%
Um outro Lula
Desaquecimento já alcança as rodovias
Argentina corta quase US$ 1 bi em subsídios

CORREIO BRAZILIENSE
Conta outra, Lupi
Censo 2010: Um retrato de desigualdades e progresso
Um novo Lula

ESTADO DE MINAS
Minas é o Brasil (para o bem e para o mal)
Lupi: Dilma cobra explicações sobre uso de avião de ONG

ZERO HORA (RS)
Gaúchas chefiam 39% das famílias
Lupi perde sustentação até no PDT

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Fiat vai começar a seleção de pessoal
Lula de nova aparência
Menos gente

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www.politicademocratica.com.br/editoriais.html

PDT já fala na saída de Lupi e avalia nomes para seu lugar

Dez dias depois de estourar o escândalo envolvendo Carlos Lupi em irregularidades, o PDT sinalizou ontem o abandono do ministro do Trabalho. Correligionários que antes eram partidários de Lupi passaram a defender abertamente sua saída. Uma reunião da Executiva Nacional do PDT e das bancadas da Câmara e do Senado marcada para hoje deverá selar a futuro do ministro. "Como amigo do Lupi, eu sofro muito vendo ele sofrer. É muito doloroso. Como amigo, preferia que ele saísse. Mas isso é uma decisão que o PDT vai tomar de forma institucional", disse o presidente interino do PDT, André Figueiredo (CE). Sintomas do acelerado processo de desgaste político do ministro foram detectados ainda ontem, com o surgimento de nomes para seu lugar, como os pedetistas Osmar Dias (PR) e Miro Teixeira (RJ)

Versão de Lupi para voo é implodida pelo próprio PDT, que pede entrega do cargo

Diretório maranhense da sigla nega ter pago aluguel de avião em que ministro viajou com dono de ONG; Dilma pede provas materiais e aguarda ida de Lupi ao Senado

Aline Louise, Eugenia Lopes, Tania Monteiro, Denise Madueño e Christiane Samarco

BRASÍLIA - Desmentido quatro vezes pelos fatos – e ontem por seu próprio partido, o PDT –, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, não apresentou à presidente Dilma Rousseff provas materiais sobre o custo e pagamento do voo ao lado de um empresário dono de ONG que mantém convênios com a pasta que comanda e começou a ser abandonado por correligionários. O presidente interino do PDT, André Figueiredo (CE), aconselhou o ministro a deixar o cargo.

O Planalto aguarda novas versões que o ministro apresentará hoje, em depoimento ao Congresso, para avaliar quando ele será substituído.

Uma das versões de Lupi foi implodida nesta quarta-feira, 16, pelo próprio PDT. O ministro dissera que o voo com o empresário Adair Meira, da ONG Pró-Cerrado, com negócios suspeitos com o Trabalho, fora pago pelo PDT do Maranhão. Mas o orçamento da viagem do ministro não está na prestação de contas do PDT maranhense. O presidente estadual da partido, Igor Lago, negou que o diretório regional tivesse dinheiro em caixa para bancar o aluguel de aeronave e disse que o partido quer apenas "ajudar a esclarecer todos os fatos".

Com a prestação de contas do partido em mãos, Igor Lago afirmou que o PDT maranhense não tem responsabilidade pelo aluguel de qualquer aeronave para deslocamento do ministro no Maranhão.

"Ontem (terça-feira, 15) mesmo recebi a declaração de contas, que está registrada no Tribunal (de Contas do Estado). Não consta nada sobre transporte aéreo, o diretório regional não arcou com esta despesa", disse.

E emendou: "O PDT não tem condições financeiras para arcar com os custos de uma viagem dessas. Portanto, PDT não pagou os voos utilizados pelo ministro".

"Atrás da nota". A presidente Dilma Rousseff, em encontro com o ministro na manhã de ontem, exigiu que ele apresentasse "provas materiais" do pagamento do voo providenciado pelo empresário dono de ONG com negócios milionários e suspeitos com o Ministério do Trabalho.

Apesar do desmentido do próprio PDT, o ministro saiu do Planalto anunciando que "ia atrás da nota", se referindo à nota fiscal de pagamento do voo, que agora teria de ser do PDT nacional e não mais do regional, como afirmara antes, já que o PDT regional desmentiu que tivesse arcado com a despesa como anunciara Lupi, anteriormente.

A ida do ministro ao Senado hoje, onde terá de se explicar e justificar por que mentiu na Câmara sobre o voo e as relações com a ONG, é considerada o teste final para Lupi.

Saída. Dez dias depois de estourar o escândalo envolvendo Lupi em irregularidades, a direção do PDT sinalizou oficialmente ontem o abandono do ministro. Integrantes da legenda passaram a defender abertamente a saída de Lupi da pasta. Uma reunião da Executiva Nacional do PDT e das bancadas da Câmara e do Senado marcada para hoje deverá selar o futuro do ministro.

"Como amigo do Lupi, eu sofro muito vendo ele sofrer. É muito doloroso. Como amigo, preferia que ele saísse. Mas isso é uma decisão que o PDT vai tomar de forma institucional", disse o presidente interino do PDT, André Figueiredo (CE). "O partido confia plenamente no ministro Lupi. A única coisa que questionamos é a oportunidade de ele continuar no ministério. É uma questão de discutir a oportunidade", continuou Figueiredo.

Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi vai contar hoje, durante seu depoimento à Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, quem pagou o avião que usou na viagem ao Maranhão, em 2009, arranjado pelo dono na ONG Pró-Cerrado, Adair Meira. A entidade é beneficiada com contratos de R$ 13,9 milhões com a pasta comandada por Lupi. O deputado Weverton Rocha (MA), que estava na viagem com o ministro, não havia apresentado as notas com o pagamento do avião até o início da noite ontem.

Nomes cotados. Sintomas do acelerado processo de decomposição política do ministro foram detectados ainda ontem, com o surgimento de nomes para sucede-lo, como os pedetistas Osmar Dias (PR) ou o deputado federal Miro Teixeira (RJ).

Ao constatar a falta de apoio do partido, o próprio Lupi cancelou às pressas reunião do diretório, que estava prevista para acontecer neste sábado.

"Quando se passa muito tempo com o partido sendo noticiado de forma negativa, cresce a insatisfação", observou Figueiredo. "Surgiram novos fatos. Ele (Lupi) precisa dar explicações ao partido", disse o deputado Brizola Neto (RJ).

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PDT abandona Lupi para manter trabalho

O PDT abandonou a defesa do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e cobrará explicações dele sobre as denúncias de irregularidades em reunião da Executiva partidária hoje, dia que também deve ser ouvido no Senado. A cúpula do partido acredita que é melhor entregá-lo e indicar outro nome a perder a pasta para o PT numa reforma ministerial em 2012.

PDT abandona Lupi e luta para preservar ministério

Partido busca substituto para não perder o controle da pasta para o PT

Planalto avisa que ministro do Trabalho não poderá continuar no cargo se ficar sem apoio do seu partido

Andréia Sadi, Catia Seabra e Valdo Cruz

BRASÍLIA - O PDT abandonou ontem a defesa do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e se mobilizou para evitar que o controle da pasta seja transferido para o PT na reforma ministerial prevista para o ano que vem.

Líderes do PDT concluíram que é melhor entregar a cabeça do ministro agora do que lutar para mantê-lo no cargo e depois perder o ministério na reforma planejada pela presidente Dilma Rousseff.

Acusado de cometer irregularidades em convênios com ONGs, Lupi voltará a se explicar hoje em público, durante audiência convocada pelo Senado, e numa reunião da executiva do seu partido.

Na avaliação do Palácio do Planalto, o ministro ficará sem condições de permanecer no cargo se perder o apoio do seu partido.

Os líderes do PDT sabem que Dilma estuda a possibilidade de tirar do partido o controle do Ministério do Trabalho na reforma que planeja fazer no primeiro escalão.

Mas eles acreditam que poderão evitar isso se Lupi sair agora e o partido indicar outro nome para a vaga, forçando a presidente a nomear para o posto um ministro que será poupado depois.

TÁTICA DO PC DO B

A estratégia seria repetir o que ocorreu no Ministério do Esporte. Dilma estava decidida a retirar a pasta do PC do B, mas ao trocar Orlando Silva por Aldo Rebelo indicou que o atual ministro irá sobreviver à reforma.

Segundo a Folha apurou, Dilma prefere que Lupi resista. "Ela disse: "Se você quer ficar, não vou falar de demissão contigo"", contou o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, ao reproduzir relato do ministro.

Paulinho disse a Lupi que ele está perdendo apoio na bancada por causa das dificuldades que tem encontrado para explicar sua viagem num avião com o empresário Adair Meira, dono de uma ONG que tem convênios com o Ministério do Trabalho.

O presidente em exercício do PDT, deputado André Figueiredo (CE), passou a defender a saída de Lupi. "Como amigo, preferia que ele saísse", disse. "Mas isso é uma decisão que o PDT vai tomar de forma institucional".

Ontem, Lupi se reuniu com a presidente logo cedo para discutir sua situação. Logo após o encontro, o ministro chamou Figueiredo e Paulinho para uma conversa.

TENSÃO

O clima do encontro ficou tenso quando Figueiredo recomendou a Lupi que se afastasse do cargo, mas ele rejeitou a proposta. A discussão foi contornada com a chegada de Paulinho ao gabinete do ministro. "O André quer que eu saia e diz que é para o meu bem", relatou Lupi mais tarde a aliados.

Dois integrantes da bancada do PDT que haviam defendido enfaticamente o ministro ontem mudaram de tom. "Ele está morrendo pela boca", disse Félix Mendonça (BA). "Se tem documentos, que apresente. Se não tem, deslizou", afirmou Paulo Rubem Santiago (PE).

Lupi disse numa audiência na Câmara dos Deputados na semana passada que não conhecia Meira e atribuiu ao PDT a responsabilidade pelo voo, mas nos últimos dias a divulgação de imagens que mostram o ministro descendo do avião e na companhia de Meira lançaram novas dúvidas sobre ele.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Trabalho assinou convênios após viagem de Lupi

Parcerias de R$5 milhões com ONG de Adair Meira foram fechadas 18 dias após visita do ministro ao Maranhão

Francisco Leali

BRASÍLIA. O Ministério do Trabalho assinou quatro convênios com a organização não governamental (ONG) Pró-Cerrado, do empresário Adair Meira, duas semanas depois de o ministro Carlos Lupi visitar o interior do Maranhão no avião King Air providenciado pelo dirigente da entidade. Os convênios assinados nos dias 30 e 31 de dezembro de 2009 previam a liberação de R$5,1 milhões. A viagem para o Maranhão foi nos dias 11, 12 e 13 daquele mês.

Segundo a Controladoria Geral da União (CGU), desse montante já foram liberados até hoje R$2,3 milhões. Em nota divulgada no último sábado, a assessoria de Lupi sustentou que o ministro não usou avião providenciado por Meira e afirmou que, na época, o empresário não tinha negócios com a pasta.

CGU: irregularidades na execução de convênio

Os convênios, no entanto, foram assinados logo após a viagem em que o ministro visitou cidades maranhenses a bordo do avião King Air prefixo PT-ONJ. Adair admitiu que foi ele quem "providenciou" o avião, mas sustenta que não pagou a conta do fretamento da aeronave.

Todos os quatro convênios foram assinados pela Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, dirigida na época por Ezequiel Nascimento, que também participou da viagem ao Maranhão. Ezequiel tem sido pressionado pelo ministério para voltar atrás e negar a informação de que Adair forneceu o avião para Lupi.

Antes disso, o Ministério do Trabalho havia firmado um convênio com a entidade em 24 de dezembro 2007 no valor de R$2,3 milhões. Desse montante, a entidade recebeu R$682,6 mil.

Relatório da CGU sustenta que houve irregularidades na execução desse convênio firmado para "promover o empreendedorismo juvenil" em Goiás. Entre as falhas encontradas pelos auditores da coordenadoria estavam a inadequação dos locais escolhidos para os cursos e o registro de fornecimento de lanche para os matriculados em data anterior ao curso - ou seja, pode não ter sido fornecido lanche algum. Adair Meira contesta as conclusões da CGU e garante que sua ONG presta serviços de qualidade.

Para Lupi, transparência na escolha das ONGs

Quando prestou depoimento na quinta-feira passada na Câmara dos Deputados, Lupi alegou que não conhecia Adair Meira e sustentou que as entidades conveniadas com sua pasta eram escolhidas por processo transparente. Lupi tentou demonstrar que sequer sabia o nome de Adair.

- Eu não tenho relação nenhuma, absolutamente nenhuma, com o... como é mesmo o nome dele?, seu Adair - comentou o ministro, durante o depoimento.

FONTE: O GLOBO

Oposição vai levar ministro ao Congresso

Base aliada apoia o convite; Lupi depõe hoje no Senado e também terá que ir à Câmara

BRASÍLIA. A oposição garantiu ontem, com aval de boa parte da base aliada, a aprovação de dois convites para que o ministro Carlos Lupi preste novos esclarecimentos às duas Casas do Congresso. Está marcado para hoje de manhã seu depoimento na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Na Câmara, ele foi convocado para falar na Comissão de Fiscalização e Controle, em audiência não marcada.

Também na Câmara, a oposição aprovou convite ao ex-secretario do Ministério do Trabalho Ezequiel Nascimento. Foi ele quem disse que Lupi viajou em avião providenciado pelo empresário Adair Meira, diretor de três ONGs beneficiadas depois por convênios com o ministério. Já a convocação de Adair foi barrada pelos governistas.

Em outra frente, os líderes do PSDB na Câmara e no Senado protocolaram na Procuradoria Geral da República nova representação contra Lupi, pedindo investigação por crime de responsabilidade, porque ele teria mentido ao depor na Câmara, semana passada, quando disse que mal conhecia Adair.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse, porém, que caberá ao Congresso apurar suposto crime de responsabilidade cometido por Lupi.

- Pela notícia que tive, é algo que se dirige ao Congresso, pelo fato de, eventualmente, ele não ter dito a verdade - afirmou Gurgel

O convite a Lupi foi apoiado por parlamentares governistas.

- A vinda do ministro Lupi é inadiável por conta do acúmulo de denúncias - afirmou a senadora Ana Amélia (PP-RS), autora do convite.

Na votação da convocação de Lupi na Câmara, os governistas fizeram corpo mole e não derrubaram o pedido, como em outras vezes. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse esperar que Lupi se explique sobre as controvérsias a respeito de suas viagens.

FONTE: O GLOBO

Feriadão com mais denúncias contra Lupi: demissão ou alto desgaste para Dilma:: Jarbas de Holanda

1) A aposta do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e a expectativa do Palácio do Planalto de que o recesso político do feriadão e eventos importantes como a prisão do traficante Nem e a ocupação da Rocinha amorteceriam o escândalo de mais um ministro envolvido em atos de desvio de recursos federais, assim propiciando a ele uma sobrevida para articular a manutenção no cargo e à presidente Dilma Rousseff tempo para preparar sua substituição apenas na reforma ministerial prevista para o início de 2012, essa aposta e essa expectativa foram inteiramente contrariadas e elas, sim, esvaziadas pelo impacto de novas revelações da mídia de sexta-feira até ontem, que ampliaram o leque de irregularidades praticadas. Ademais de evidenciarem a falsidade de declaração formal do ministro feita na semana passada na Câmara dos Deputados. Declaração usada como peça-chave do propósito de desqualificar as denúncias que estaria sofrendo do “denuncismo da imprensa”.

2) Seguem-se título e abertura de reportagem de capa da Folha de S. Paulo, de ontem. “Ministro ajudou aliado a criar Sindicatos-fantasmas”. “O ministro Carlos Lupi concedeu registro a sete sindicatos patronais no Amapá para representar setores da indústria que, segundo o próprio governo local, não existem no Estado. Os certificados saíram a pedido do deputado Bala Rocha (PDT-AP), dirigente do partido de Lupi, que afirma ter se valido da proximidade partidária com o ministro. Nenhum dos presidentes desses sindicatos é industrial. São motoristas de uma cooperativa de veículos controlada por um aliado de Rocha. Os sindicatos têm registros em endereços nos quais não há nenhuma estrutura montada”. “O reconhecimento do ministério daria aos sete sindicatos força para disputar o controle da Federação das Indústrias do Amapá, que tem orçamento superior a R$ 10 milhões e controla verbas do Sistema S (Sesi e Senai)”.

3) Também ontem, o Estado de S. Paulo – desdobrando reportagem da Veja – publicou entrevista do empresário-argueiro Adair Meira, que desmentiu a referida declaração do ministro. Títulos e trechos das duas matérias. Do Estadão – “Dono de ONG é mais um a desmentir Lupi ao confirmar voo com ministro”; “A confirmação desmente declaração dada pelo ministro à Câmara dos Deputados de que não conhecia o dono da (ONG) Pró-Cerrado, nem voara com ele: ‘Nunca andei em jatinho de Adair, nem o conheço. Não tenho nenhuma relação com ele’. ‘O ministro está confuso em dar essa declaração’, afirmou Adair ao Estado, de modo categórico”; Subtítulo da reportagem: “Empresário ongueiro Adair Meira afirma que ministro do Trabalho voou ao seu lado em um avião particular durante visita ao Maranhão em 2009; declaração agrava ainda mais situação do presidente-licenciado do PDT, ameaçado de ser demitido”. Chamada e trechos da reportagem da Veja, com a primeira entrevista de Adair Meira: “O ministro Carlos Lupi mentiu ao Congresso. Ele disse que mal conhece Adair Meira, o dono da Fundação Pró- Cerrado, Adair Meira, e que nunca viajou em aeronave cedida pelo empresário”; “...Meses depois de ele (Adair) prestar esse favor ao ministro, suas ONGs foram escolhidas para executar os convênios de qualificação de mão-de-obra do ministério no Maranhão”.

4) A humildade do pedido de desculpas de Carlos Lupi à presidente Dilma no dia seguinte às afirmações de que “só uma bala, e bem pesada”, poderia afastá-lo do cargo, e de que seguirá nele mesmo após a reforma ministerial, feitas em ato de apoio da maioria dos deputados do PDT promovido por ele na quinta-feira passada, parece ter sido eficaz para a contenção do aborrecimento dela com a bravata do ministro, o que evitou uma demissão imediata. Até porque isso favorecia o objetivo da presidente de não ter de render-se, mais uma vez, ao peso de denúncias sobre escândalos no governo. E também, provavelmente, para evitar a renovação de atritos na base governista na fase de decisões finais do Congresso a respeito da renovação da DRU – Desvinculação das Receitas da União, a única grande prioridade legislativa do Executivo este ano. Mas a nova e mais grave complicação do ministro do Trabalho, com a evidência da falsidade da declaração
na Câmara sobre o relacionamento com o dono da ONG Pró-Cerrado e a aeronave utilizada em viagem pelo Maranhão (que foi mesmo o King Air arranjado pelo empresário, como a TV mostrou ontem), pode ter forçado a presidente Dilma a demiti-lo bem mais rapidamente do que planejava. E fortaleceu o empenho da
oposição (e de parte das bancadas do próprio PDT) de mobilizar o Congresso para apuração do novo escândalo. Com o argumento destacado ontem pelo líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, de que “a mentira oficial é crime de responsabilidade”.

Jarbas de Holanda é jornalista

Fica mais difícil descolar presidente de malfeitos :: Raymundo Costa

BRASÍLIA - A eventual queda do sétimo ministro do governo Dilma Rousseff deixa a cada dia mais difícil "descolar" a presidente dos "malfeitos" praticados pelos auxiliares. Todos os que caíram - ou estão por sair - são seus contemporâneos do governo passado, quando ela exercia o efetivo comando da administração federal a partir da Casa Civil da Presidência da República

No caso do Carlos Lupi, a situação é mais grave porque o Palácio do Planalto reconhece que desde sempre sabia das denúncias. Algumas das acusações que podem derrubar o ministro do Trabalho são de 2009. É desse ano a viagem do ministro no avião de um dono de ONGs que fizeram convênios com o ministério.

A sobrevida de Lupi contrasta com a imagem de uma presidente "durona" que faz e acontece e está tão à vontade no Planalto quanto estava no Ministério de Minas e Energia e na Casa Civil. Costumam reverberar em Brasília as famosas "broncas" em ministros apanhados desprevenidos, em algum assunto, nas audiências com a presidente.

A justificativa de que o passado é passado (os ministros exonerados são todos oriundos do governo Lula) agrava, em vez de amenizar a responsabilidade da governante. Afinal, quem manda nos ministros: Dilma, Lula ou os partidos da base aliada que os indicaram? Com 26 deputados, a bancada do PDT na Câmara ameaçou deixar a base, se Lupi fosse defenestrado. Lupi ficou.

Ficou como tem ficado desde o início do governo Dilma, uma concessão ao PDT, na chefia de um ministério desidratado de funções. Lupi esteve à margem das negociações das greves recentes nos setores público e privado, por exemplo, que foram conduzidas no gabinete de Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência).

Até agora Dilma conseguiu manter sua imagem "descolada" das irregularidades atribuídas a seis dos sete ministros que deixaram o governo, em seis meses. A exceção - ressaltada pela presidente em entrevista - foi Nelson Jobim, o ex-ministro da Defesa, o que só confirmou a regra das outras execuções.

A sucessão de crises em decorrência da queda em série de ministros é que torna real o risco de a imagem da presidente da República vir a ser contaminada.

Em 2005 a corrupção (o mensalão) pôs à prova a popularidade do ex-presidente Lula e ela balançou: em setembro daquele ano de crescimento em alta e inflação em baixa o número de eleitores que consideravam o governo ruim ou péssimo (32%) superou o dos que o avaliavam como ótimo ou bom (29%).

Desde então Lula recuperou-se e nenhum dos escândalos que se seguiram "pegaram" num presidente curtido numa das piores crises políticas desde a redemocratização, superada apenas pelo impeachment de Fernando Collor de Mello.

Lula deixou o governo com 83% de aprovação; Dilma tem mais de 70% de aprovação, mas é desconhecido seu grau de tolerância às crises.

Ninguém duvida da honra da presidente. O que está à prova é sua decantada excelência administrativa. Se as denúncias são conhecidas e antigas, se o Ministério do Trabalho estava sendo monitorado pelo Palácio do Planalto desde o início do governo, por que deixar a situação se deteriorar até o limite de crise?

Uma recente reportagem do jornal espanhol "El País" reflete com exatidão as expectativas em relação a Dilma Rousseff nas eleições de 2010. A maioria pensava e dizia que ela não passava de uma criação do antecessor, uma gestora simples que precisaria da tutela de seu menor e antecessor para se manter no Poder.

O "El País" destaca que em dez meses de governo Dilma conseguiu o que então parecia impossível: ninguém, dentro ou fora do país, tem a menor dúvida de quem manda no Brasil. Desde a posse, essa é a imagem que a presidente e seus marqueteiros empenham-se em gravar na opinião pública.

Dilma, sem dúvida, imprimiu sua feição pessoal ao governo. Os ministros temem suas cobranças, como deixa claro a ridícula declaração de amor do ministro Lupi feita na Câmara.

O PT, que desconfiava de seu passado pedetista e julgava que poderia mantê-la sob tutela, rendeu-se à sua autoridade. O partido tem saudades do jeito informal de Lula governar, mas afinou nas vezes em que testou os limites de Dilma.

As sucessivas crises no ministério podem jogar esse esforço por terra, no momento em que a presidente se prepara para reformar a equipe, no início de 2012. Há na praça mais de uma versão para a aparente relutância da presidente da República.

A que mais seduz auxiliares próximo da presidente e o PT é a que diz que "chegou a hora de dar um basta na mídia", como se jornais, revistas e televisão não se limitassem a reproduzir investigações - muitas delas feitas sob a chancela do Palácio do Planalto - em curso no governo.

No entorno de Dilma acredita-se que a presidente libertou o gênio da garrafa, na demissão do primeiro ministro à primeira denúncia, e agora tem de voltar a aprisioná-lo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Os mais pobres só ficam com 1,3% da renda

Enquanto os mais ricos abocanham 42,8%. Emprego com carteira tem forte avanço e chega a 65,2% dos trabalhadores

Fabiana Ribeiro e Henrique Gomes Batista

Apesar do forte aumento do emprego formal - que passou de 54,8% da população em 2000 para 65,2% no ano passado-, na fotografia revelada pelo Censo 2010 a concentração ainda aparece como a grande mazela da sociedade brasileira. Na divisão do bolo, os 10% dos domicílios do país com os rendimentos mais elevados são donos de 42,8% do total dos ganhos. Na outra ponta, apenas 1,3% dos ganhos pertencem a 10% dos que possuem os menores rendimentos. Na média, o rendimento do topo da pirâmide social brasileira é de R$9.501, mais de 3.000% acima da média do rendimento dos mais pobres, que estava em R$295.

- O nível de concentração dos rendimentos no Brasil é elevado, especialmente quando se observam as diferenças entre as regiões - comentou Vandeli Guerra, consultora do IBGE.

O abismo entre ricos e pobres fica mais evidente no Norte e no Nordeste - o que levou o índice de Gini (quanto mais perto de um, mais desigual) da distribuição do rendimento mensal nos domicílios a ficar em 0,536, segundo o Censo.

A família de Paula Fernanda Pereira engrossa as estatísticas. Mãe de oitos filhos (dois morreram), Paula vive com seu marido desempregado e quatro crianças numa favela de Recife. Também sem trabalho, o sustento sai dos R$134 do Bolsa Família:

- Como está desempregado, meu marido vai pegar caranguejo. É uma vida muito dura. Parentes nos ajudam e, ainda assim, a família toda não faz todas as refeições todos os dias.

Distância entre os rendimentos é o que também se observa entre as áreas urbana e rural do país, acrescentou Vandeli. De acordo com o Censo, o rendimento médio mensal na área urbana é R$1.294 - 2,5 vezes o que ganha, em média, no campo (R$596). E em todas as regiões, o Índice de Gini da distribuição do rendimento mensal das pessoas com rendimento ficou em 0,526. Nas grande regiões, o mais baixo ficou no Sul (0,481), e o mais alto, no Centro-Oeste (0,544).

Metade da população tem ganhos de R$375 por mês - valor abaixo do salário mínimo de 2010 (R$510). Entre os municípios mais populosos (acima de 500 mil), a mediana de rendimento se aproximou do valor do salário mínimo e a média é de R$991 - cerca de duas vezes superior à média observada nas cidades com até 100 mil moradores.

O Plano Brasil Sem Miséria é direcionado aos brasileiros que vivem em lares cuja renda familiar é de até R$70 por pessoa. Para o Censo, há 16,2 milhões de brasileiros nesta situação.

- Os dados mostram que o Brasil sem Miséria aponta na direção correta, já que segue uma lógica de estratégias interligadas territorialmente. Agora, isso não quer dizer que o Brasil sem Miséria seja isento de críticas, mas o foco que ele confere aos mais pobres entre os pobres é a chave para que o Brasil chegue aos "excluídos do Censo" - avalia Flavio Comin, consultor do Pnud.

Emprego com carteira cresce em todo o país

Os resultados da amostra do Censo - questionário mais completo, aplicado a 6,2 milhões de domicílios - indicam um forte crescimento do emprego no país. O percentual de trabalhadores empregados passou de 66,6%, no ano 2000, para 68,2% em 2010. Na outra via, o percentual de pessoas sem remuneração caiu de 4% para 1,8%. O IBGE aponta que o crescimento de trabalhadores com carteira assinada - 65,2% do total do país em 2010, contra 8,3% de funcionários públicos e 26,5% de trabalhadores sem carteira -, foi superior a 10 pontos percentuais em praticamente todas as regiões do país. No Sul, por exemplo, 73,4% dos trabalhadores têm carteira de trabalho, enquanto 19,2% são informais.

FONTE: O GLOBO

Revisão deve garantir PIB acima de 3%

O governo está empenhado em impedir que a economia cresça menos de 3% neste ano e deve ser auxiliado pela revisão do Produto Interno Bruto de 2010 que o IBGE divulgará em 15 dias. Com a revisão, o avanço de 7,5% deverá subir para 7,7% ou 7,8%, de acordo com avaliações da área econômica, graças ao melhor desempenho da atividade no quarto trimestre de 2010. Com isso, pelo efeito estatístico do carregamento ("carry over"), o PIB de 2011 terá uma expansão maior

Governo conta com revisão do PIB de 2010 para ajudar o crescimento de 2011

João Villaverde

SÃO PAULO - A equipe econômica do governo espera uma ajuda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010 para o crescimento da economia brasileira este ano. Com a ajuda do ano passado, o PIB não seria inferior a 3% neste ano, segundo meta informal e determinação do governo.

O avanço de 7,5% do PIB em 2010 deve ser revisto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 7,7% ou 7,8%, de acordo com avaliações da área econômica. Essa revisão seria decorrente de um melhor desempenho da atividade no quarto trimestre do ano passado. Se essa expectativa for confirmada, a reestimativa vai impulsionar o PIB de 2011 pelo efeito estatístico do "carry over", avaliam os técnicos do governo.

Nos próximos dias, o IBGE divulgará dois dados importantes para o acompanhamento da atividade econômica - o resultado do PIB no terceiro trimestre deste ano (quando historicamente se revisa o PIB do ano anterior) e a revisão das Contas Nacionais dos últimos anos (prevista para hoje, contemplando o PIB de 2004 a 2009)

O PIB de julho a setembro deste ano deve apontar uma variação próxima a zero (entre -0,1% e 0,1%) na comparação com o segundo trimestre, de acordo com projeções do mercado. O governo considera que o resultado será ruim, mas não crê em crescimento negativo. A revisão das Contas Nacionais, por sua vez, é tida como "trunfo" pela equipe econômica, embora as fontes ouvidas esclareçam que o IBGE ainda não concluiu seus cálculos.

Segundo uma fonte, existem indicações de que o resultado do quarto trimestre do ano passado foi mais aquecido do que o avanço de 0,7% divulgado pelo IBGE na comparação com o terceiro trimestre de 2010. Por ser todo concentrado no último trimestre do ano passado, a revisão do PIB produzirá um carry over (ou um "arrasto estatístico", no jargão dos economistas) maior para 2011.

Inicialmente, o carry over legado de 2010 para 2011 foi de 1,3%. Isso significa que o PIB de 2011 cresceria ao menos 1,3% caso registrasse crescimento zero nos quatro trimestres do ano. Esse efeito estatístico ocorre apenas de um trimestre para o outro, e somente influi o resultado de um ano para o outro quando o avanço é observado nos últimos três meses do ano.

Em 2009, quando a economia caiu 0,6% devido ao contágio da crise mundial, o carry over para 2010 foi muito elevado, de 3,6%, porque o quarto trimestre registrou forte aceleração.

Bancos, como o Credit Suisse, e consultorias, como a LCA Consultores e a Quest Investimentos, trabalham com um avanço do PIB de 2,8% a 2,9% para este ano. O mercado como um todo está com um avanço médio de 3,16%, segundo o mais recente Boletim Focus, colhido pelo Banco Central.

Para Fábio Ramos, economista da Quest Investimentos, a possível revisão do PIB de 2010, concentrado no resultado do quarto trimestre, influi no carry-over para 2011, mas não no resultado do ano. Para Ramos, o carry over para 2011 chegaria a 1,7%, caso se confirmasse uma alta do PIB de 2010 entre 7,7% e 7,8%, concentrada num avanço do quarto trimestre - que, por seu turno, passaria do crescimento de 0,7% registrado originalmente na comparação com o segundo trimestre, para uma alta de 1%.

"Mas este efeito seria dissipado estatisticamente ao longo do ano, uma vez que o resultado do PIB é a comparação da atividade, pelo lado da oferta, de um ano contra o outro", diz Ramos, "então se a base (2010) aumenta, o numerador (2011) fica menor".

FONTE: VALOR ECONÔMICO

País cresce de 2,5% a 3% em 2011, diz Fiesp

O presidente da federação, Paulo Skaf, afirmou ontem que esse enfraquecimento da economia "não tem nada a ver com crise europeia" e foi provocado pela alta dos juros de janeiro a julho.

Ontem, a Fiesp também divulgou que a indústria paulista cortou 18 mil vagas de trabalho em outubro.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O Decálogo da Crise Europeia:: José Serra

A solução da crise européia está nas mãos da Alemanha. Em seguida, dez tópicos breves sobre o assunto.

1. A crise econômica é grave, afetando o terceiro PIB e o segundo centro financeiro do mundo. Com exceção de pequenos países como a Grécia, essa crise não foi provocada por gastança desenfreada dos diferentes governos. Mesmo a Itália, com uma relação dívida/ PIB muito alta, tinha um déficit fiscal moderado; a Espanha, um endividamento público baixo.

2. A crise é de confiança. Hoje, traduz-se no aumento vertiginoso do prêmio de risco de grandes países da Eurolândia (Itália, Espanha e, mesmo, França), ou seja, dos juros exigidos para refinanciar as dívidas públicas dos governos. Aquele aumento, por sua vez, põe em risco a capacidade desses governos de honrar suas dívidas, num círculo vicioso, uma profecia que se autorrealiza.

3. Esse círculo vicioso se acentua pela terapia que a União Europeia vem adotando, a fim de manter ou recuperar a confiança do mercado financeiro: corte de gastos públicos e aumento de impostos. Mas isso acaba aumentando a desconfiança, pois o efeito colateral da terapia é jogar o crescimento econômico presente e o previsto para baixo e, junto, as receitas correntes dos governos, agravando a capacidade atual e prevista de honrarem suas dívidas.

4. A bola de neve da desconfiança foi deflagrada pela Grécia, cuja economia equivale a menos de 3% do PIB europeu. Não parece desproporcional? O problema é que há vinte anos foi implantada uma moeda comum, o euro, como se a Europa fosse uma país federativo, à semelhança dos Estados Unidos ou do Brasil. Mas não era e não é. Não há livre mobilidade da força de trabalho. Não há seguridade social unificada. Não há política fiscal unificada. Não há um Tesouro Europeu. Não há um banco central para todas as horas, exceto para fixar juros que valem para todos os países, independentemente da sua situação econômico-financeira. Banco esse que é tutelado pela Alemanha e, em menor medida, pela França. (Tratei deste tema nos artigos Decifra-me ou te devoro e O Brasil e a crise: estresse, não catástrofe)

5. Acabar com a moeda única hoje desencadearia hiperinflação para uns e deflação violenta para outros (começando pela Alemanha) e representaria um golpe mortal para a integração econômica européia, com todas as implicações políticas que isso traria. Por outro lado, salvar o euro exige um aprofundamento dramático da união européia, sem que, para isso, estejam dadas, hoje, as condições políticas e sociais necessárias.

6. Uma terceira hipótese seria o caminho do banho-maria. Mas a histeria financeira e as inquietações sociais inviabilizam esse tratamento. Não parece haver muita chance de “ganhar tempo”, exceto na direção gradual àquele aprofundamento. O preço é não oferecer a segurança que todos desejariam a médio e longo prazos.

7. Acreditem os leitores: já está tudo diagnosticado, as opções de políticas econômicas são conhecidas. A ponta do barbante a ser puxada é a emissão de dívida europeia, do conjunto dos países, baseada em eurotítulos. Como fez o Tesouro Brasileiro nos anos 90 (governo FHC), quando absorveu as dívidas dos estados e emitiu títulos federais como suporte. Ou o Federal Reserve norteamericano em relação às dívidas impagáveis da Califórnia.

8. Quem resiste a isso? De cara, a Alemanha, além de três ou quatro países menores, cujas dívidas públicas ficariam um pouco mais caras. Mas não seria absurdo, diante dos prejuízos que eles mesmos terão se o euro naufragar. Lembre-se que dois terços das exportações da Alemanha vão para a União Europeia, que, diante do naugrágio, viraria, só para começar, uma verdadeira zona de hostilidades comerciais.

9. Como contrapartida, seria necessário estabelecer regras fiscais muito mais abrangentes e rígidas para todos os países. E ampliar a competência da própria União Europeia para acompanhar a situação fiscal de cada país. A inépcia no caso da Grécia foi emblemática: basta lembrar que, no processo orçamentário desse país, inexistia o requisito do “empenho” das verbas, dificultando ao máximo o controle dos gastos. Isso só foi descoberto pelo FMI há uns dois anos. No entanto, a Grécia foi incorporada ao euro no começo dos anos noventa.

10. É difícil prever o que vai acontecer. Como dizia Winston Churchill, “um político precisa ter a capacidade de prever o que vai acontecer amanhã, na semana que vem, no mês que vem e no ano que vem. E ter a capacidade, depois, de explicar por que não aconteceu”. O caso dos economistas é, evidentemente pior, pois suas previsões afetam o dinheiro no bolso de todos, principalmente dos que neles creem.

José Serra, ex-prefeito e ex-governador de S. Paulo

FONTE: JOSÉ SERRA

Casuarina - Minha filosofia

UPP Social na prática:: Merval Pereira

Recebi do economista Ricardo Henriques, presidente do Instituto Pereira Passos, responsável pela implementação do programa UPP Social, uma mensagem com informações sobre o andamento dos trabalhos, que ganharam relevância ainda maior depois da ocupação da Rocinha. O tema tem sido constante aqui, e considero importante difundir tais informações.

"Prezado Merval,

Nestes dias intensos de trabalho dedicados à Rocinha, ao Vidigal e à Chácara do Céu, foi um prazer ver suas colunas, ontem e hoje (terça e quarta), dedicadas à consolidação da pacificação e à agenda da UPP Social. De fato, o desdobramento das ações integradas para o desenvolvimento urbano, social e econômico das áreas pacificadas é tarefa imediata à implantação das UPPs e é estimulante perceber esta convicção cristalizando-se no debate público, assim como vem acontecendo também na atuação coordenada da prefeitura e dos governos estadual e federal.

Por conta disso, sinto-me no dever de esclarecer ou ampliar informações sobre os aspectos levantados na coluna de hoje (ontem), a partir dos comentários dos professores Saulo Rocha e Nelson Paes Leme.

Conhecendo a minha trajetória na gestão pública, você sabe que sempre baseei meu trabalho em três preceitos fundamentais: o uso de diagnósticos qualificados, insumos essenciais para o bom planejamento de políticas; o esforço persistente de articulação entre os atores públicos e privados; e o sentido claro de resultados para a efetividade das políticas.

Como teria de ser, dada a complexidade do desafio e a diversidade das demandas envolvidas, a estratégia da UPP Social se apoia justamente sobre esses pilares. O programa, conduzido desde o início deste ano pela prefeitura, conta hoje com equipes de gestores locais em todas as áreas pacificadas da cidade, uma rede de gestão formada por todas as secretarias e órgãos do município e toda a expertise e bases de dados do Instituto Pereira Passos (IPP) sobre a cidade em geral e suas comunidades em particular.

A este universo de informações, que faz do IPP reconhecidamente a principal referência de conhecimento sobre a cidade, vimos agregando uma série de outros dados específicos sobre as comunidades com UPPs. As equipes locais do programa atuam cotidianamente no aprofundamento de informações sobre aspectos diversos de cada área (infraestrutura e serviços urbanos, saúde, educação, assistência social etc.) e estão neste momento dedicadas à produção de mapas que identificarão as microáreas mais críticas de cada comunidade.

Esse esforço permitirá a focalização das ações públicas para as localidades mais necessitadas, como mostrou reportagem do GLOBO no último domingo. Em paralelo, a rede de gestão da prefeitura mapeou equipamentos e investimentos públicos já existentes nas áreas pacificadas, de modo a refinar a identificação de lacunas e prioridades. Todos esses levantamentos são processados pelo IPP, que os associa a dados e estudos já existentes, formando assim a base sólida para que possamos avançar com qualidade e consequência na integração social, econômica e urbana dessas áreas à cidade.

Neste universo, a pesquisa realizada em dez das áreas pacificadas pelo Iets, com apoio e parceria da Firjan, constitui naturalmente uma das fontes, somando-se de forma valiosa à base descrita acima. Não é a única, mas não nos parece um problema que tenha sido realizada por meio de atores privados e da sociedade civil, mas antes um sinal a mais da vitalidade do processo coletivo em curso na cidade, considerando a visão positiva que temos sobre a colaboração dos agentes privados e sociais com o poder público neste sentido.

Essa mesma cooperação, envolvendo também organizações e moradores das comunidades, vem se traduzindo em inúmeras ações importantes. Para dialogar com o tema levantado pelo professor Saulo Rocha, do reconhecimento de logradouros e a outorga de endereços para permitir serviços postais nas comunidades, há hoje trabalho conjunto entre as secretarias municipais de Urbanismo e de Conservação, IPP, Light e Correios voltado a realizar essas ações, com processos já em curso no Santa Marta, no Cantagalo/Pavão-Pavãozinho e no Borel, entre outras.

A Light é hoje também exemplo de transição gradual para a formalidade, outro tema levantado na coluna, com um ciclo que combina a formalização com a qualificação das redes de energia, o incentivo ao consumo eficiente e o cadastramento dos moradores elegíveis para a tarifa social, além de projetos inovadores como o "Light Recicla", associando a coleta de resíduos recicláveis à concessão de descontos nas contas de luz. Em todas essas frentes, é vasta também a colaboração com órgãos diversos da prefeitura. Esforços similares, pautados por estratégias de transição consistente, vêm sendo realizados nas temáticas da promoção de eventos, regularização de negócios e da coleta de lixo e limpeza urbana.

Nesta última, o modelo de nova logística articulado com a participação e conscientização comunitária, já implantado com sucesso no Borel e no Complexo do Alemão, está sendo agora estendido pela Secretaria de Conservação e pela Comlurb a todas as áreas.

No tema do empreendedorismo, o projeto Empresa Bacana, realizado pelo IPP e pela Secretaria Municipal de Trabalho e Emprego, em conjunto com o Sebrae, já formalizou, desde agosto de 2010, 1.486 empreendimentos nas comunidades com UPPs e se volta agora a apoiar o fortalecimento desses negócios no cotidiano. A Firjan, por meio do Sesi Cidadania e outros programas diversos, tem multiplicado as oportunidades de formação e inserção profissional. (...)

Os exemplos poderiam estender-se, mas não é o caso de uma visão exaustiva. (...) As informações reunidas ajudam a visualizar tanto a extensão da tarefa que ainda temos por vencer, quanto a vitalidade ampla da disposição neste sentido existente hoje na cidade. Seguimos trabalhando na superação da primeira, estimulados pela consciência da segunda".

FONTE: O GLOBO

Roncos da reação:: Dora Kramer

Dias atrás foi noticiado que na reforma do ministério do início do ano a presidente Dilma Rousseff pretenderia fundir algumas estruturas de modo a reduzir a profusão de pastas, hoje perto de 40, maior até que a tão criticada quantidade de partidos, contidos na modesta cifra - pela comparação - de 29 legendas.

Estaria pensando, por exemplo, na junção dos ministérios encarregados de assuntos relativos a "minorias". Dilma também estaria cogitando da possibilidade de incorporar a Pesca à Agricultura, e assim por diante, numa lógica muito lógica.

Mesmo sendo ainda uma possibilidade, não uma realidade, denota disposição da presidente de reformar de verdade na reforma.

Mas eis que surge o PT para reclamar, dizendo que as pastas que estariam na mira da presidente para ser extintas representam "conquistas" dos movimentos sociais e por isso devem ser mantidas.

Alguns outros partidos têm feito declarações de apoio ao enxugamento, mas é de se ver se as sustentariam caso a redução os deixasse de fora da Esplanada.

É citado o PT porque foi quem gritou "alto lá" e também já havia se manifestado contrariamente a providências saneadoras.

Em agosto, quando ainda ganhava força a "faxina", não havia ficado muito claro que a presidente apenas reagia a denúncias da imprensa e os ministros demitidos eram quatro, os petistas se queixaram alegando que o "estilo" de Dilma acabaria provocando comparações negativas em relação ao governo Lula.

Temiam que a gestão do ex-presidente ficasse carimbada como "corrupta" (como se a eventual complacência da sucessora pudesse levar a conclusão oposta) e defendiam a necessidade de defender o "legado" de Lula, argumentando que as demissões poderiam desorganizar a base aliada no Congresso.

Houve um até - não qualquer um, o líder do governo no Senado, José Pimentel - que enxergou na atitude mais rigorosa do governo um caminho aberto para o passado: "A gente nunca pode esquecer que nos anos de chumbo esmagaram os políticos e as instituições. O presidente Getúlio (Vargas) teve de dar um tiro no peito", disse em discurso em tom dramático.

A expressão "roncos da reação" aplicava-se antigamente aos arreganhos do governo autoritário contra os anseios de retomada democrática.

Mal comparando, agora ocorre o mesmo quando resistem a mudanças aqueles cujo projeto é fazer do Estado um mero instrumento de seus interesses políticos.

Dilma Rousseff tem diante de si um dilema: ou os atende e deixa tudo como está ou se escora em sua crescente aceitação popular e usa o imenso poderio presidencial para o único objetivo que faz sentido: consertar o que vai mal para impedir que a democracia representativa no Brasil ultrapasse a fronteira do fundo do poço.

O mau combate. O deputado cassado e réu do processo do mensalão José Dirceu critica o caráter moralista dos movimentos de combate à corrupção.

Como não sugere outra forma (talvez amoral) de luta, fica a impressão de que para ele o ideal seria que o País aceitasse incorporar a corrupção à paisagem ou, quem sabe, defender a descriminalização desse tipo de "malfeito".

Na atual conjuntura em que vicejam rebeldes sem causa, não faltariam adeptos ao mau combate.

O que, aliás, já se nota nas manifestações ironicamente agressivas a respeito do baixo comparecimento aos atos de protesto anticorrupção.

Nada a acrescentar. Carlos Lupi foi chamado ontem ao Palácio do Planalto para se explicar à presidente Dilma Rousseff e convidado hoje a fazer o mesmo no Senado.

Diante do volume de denúncias, do constrangimento e até revolta de parte do PDT e das fotos comprovando a mentira sobre a viagem em companhia de dono de ONG acusada de desviar dinheiro de convênio, francamente, não há mais nada que o (ainda) ministro possa explicar.

Se há algo de que Lupi e seus antecessores nos recentes escândalos não podem reclamar é da falta de espaço para o amplíssimo exercício da defesa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Por um fio :: Eliane Cantanhêde

BRASÍLIA - Você conhece algum ministro ou governador que tenha caído por usar avião de empresário que mantenha interesse em sua pasta/governo? Não, não é mesmo, governador Sérgio Cabral?

Apesar disso, o ministro Carlos Lupi, do Trabalho, vai tentar reduzir o estrago atribuindo sua queda a uma viagem ao Maranhão num jato do empresário Adair Meira, da Fundação Pró-Cerrado, responsável por ONGs que têm convênios com o Trabalho. E vai, como sempre e como todos, botar a culpa na imprensa.

Lupi, porém, está por dias, ou por horas, ou por um fio, por suspeitas de desvios de dinheiro público, por falar demais e por mentir.

Em depoimento no Congresso, o ministro disse que não viajara no tal jatinho nem conhecia Adair Meira. Pois não é que apareceu até foto do ministro descendo do avião? E que Adair Meira contou que ele próprio estava a bordo com o ministro?

O pior é o que veio antes e depois da viagem de Lupi com Meira. Antes, a Controladoria-Geral da República já tinha alertado o Trabalho para mais de dez irregularidades num convênio de R$ 2,3 milhões com a Pró-Cerrado. Depois, o ministério assinou novos convênios com a fundação, num total de R$ 11,6 milhões.

Sem falar na história esquisitona dos sete sindicatos patronais do Amapá, inclusive da indústria naval. Indústria naval no Amapá?!

Assim, realmente fica difícil para Dilma manter o ministro e o sangue frio (logo ela!), como gostaria, até a reforma ministerial do início de 2012. Vai terminar seu ano de estreia com um número recorde e cabalístico de quedas de ministros: sete.

Lupi é candidatíssimo a ser o sétimo a cair, o sexto por suspeitas de corrupção. O principal foi Antonio Palocci, que abriu a fila e deu o Prêmio Esso de Jornalismo aos repórteres da Folha Andreza Matais, José Ernesto Credendio e Catia Seabra. Eles fizeram um trabalho irretocável, motivo de orgulho para a categoria.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Quedas em série:: Míriam Leitão

A crise europeia já derrubou os governos de Portugal, Itália, Espanha, Irlanda, dois primeiros-ministros gregos, pode influenciar na eleição francesa e já provocou derrotas políticas de Angela Merkel, da Alemanha. Os governos técnicos da Grécia e da Itália não têm varinha de condão. Até sexta-feira, Mario Monti terá que ter a aprovação do Parlamento para o novo governo italiano.

Política e economia andam colados. Não há cor predominante entre vencedores. Se o governo é conservador, ganha a esquerda; se é esquerda, ganha o conservador. O que o eleitor pede é uma nova tentativa do grupo oposto. Em janeiro, caiu o governo de Brian Cowen na Irlanda. Simplesmente entrou em colapso com a renúncia sucessiva de ministros. Em Portugal, renunciou José Sócrates. Na Espanha, o primeiro-ministro José Luiz Zapatero teve que deixar o governo. Na Grécia, caiu primeiro o governo conservador que tinha manipulado dados das contas públicas para esconder déficit e dívida. O governo socialista de George Papandreau apareceu como alternativa salvadora. Teve o mérito de tirar os esqueletos fiscais de dentro do armário e o que se viu foi assustador: dívida de 150% do PIB e déficit acima de 10%. Mas, sem capacidade de resolver o assunto, caiu também. Na Itália, Silvio Berlusconi sobreviveu a todo o tipo de denúncia de comportamento grotesco, mas não à crise que eleva o custo da dívida italiana.

Quando a economia entra em dificuldades desse tamanho, a política vai para a berlinda. Em Portugal, em março, depois de seis anos no governo, o primeiro-ministro José Sócrates renunciou. O gesto foi consequência direta da crise e do fato de que o quarto programa de estabilidade financeira foi recusado pelo Parlamento. Na Espanha, em julho, o presidente do Conselho de Ministros, José Luis Zapatero, socialista, avisou que anteciparia para este 20 de novembro a eleição que encerraria seu período no poder, que começou em 2004. A previsão é que a oposição conservadora ganhará a eleição. O novo governo assumirá no começo do ano, mas os problemas se acumulam no alto desemprego e juros cada vez mais elevados cobrados pelos bancos para rolar a dívida espanhola.

Nos últimos dias caíram os governos de Silvio Berlusconi, na Itália, e George Papandreau, na Grécia. O movimento na Itália, com Mario Monti escolhido para liderar o governo, e na Grécia, com Lucas Papademos, é o mesmo: escolher economistas, técnicos, com ligação com a União Europeia para comandar novos governos. Monti montou um gabinete sem políticos e será também ministro da Fazenda. Papademos ontem conseguiu um forte apoio do Parlamento grego para o seu governo.

É ilusão achar que técnicos resolverão tudo que os políticos não conseguiram. Eles podem ser bem sucedidos mas nenhum governo parlamentar consegue se sustentar só com técnicos, é preciso composição com as forças políticas e, mais importante, convencer a população das medidas a serem tomadas.

A crise é a mais grave já vivida pela Europa desde o fim da Segunda Guerra. Não está restrita a um país, é de todo o bloco, indo além dos que usam o euro como moeda. As medidas serão dolorosas e controversas, o que indica que mais instabilidade política varrerá a Europa antes do fim do problema.

Crises bancárias são agudas, crises fiscais, crônicas. A da Europa é fiscal, o que quer dizer que demorará muito a chegar ao fim. A Europa pode ter anos de baixo crescimento, com desemprego em alta, oscilando entre culpar ora a esquerda, ora a direita, e alimentando o ressentimento contra os imigrantes.

Há quem considere que a culpa é do mercado financeiro. Desregulado, ele é um produtor de crises e tem desestabilizado governos e países com um jogo conhecido: cobra cada vez mais juros para rolar dívida dos governos e os países vão se afundando cada vez mais. Há quem considere que a culpa é dos governos, que gastaram demais, são até hoje perdulários em alguns programas sociais que beneficiam não os pobres, mas a classe média, endividaram-se demais na ilusão de que o euro dera a eles a pedra filosofal da rolagem barata da dívida. As duas críticas têm razão. Os governos gastaram demais e fizeram dívidas insustentáveis; os mercados continuam sendo focos de crise e desestabilização, e os bancos continuam sendo socorridos sem correção dos problemas.

Os governos técnicos de Monti e Papademus darão certo dependendo da capacidade de articular programas tecnicamente sólidos e politicamente aceitáveis. Não são mágicos por serem técnicos. Enfrentarão os mesmos dilemas e impasses que os antecessores. O mundo fica melhor sem Berlusconi no comando da Itália, por motivos que vão do uso abusivo de seus veículos de comunicação até às acusações de sexo pago com menores de idade, mas Monti terá que vencer várias batalhas. A primeira será receber o apoio do Parlamento para o gabinete.

Mas a pergunta ainda não respondida é se o euro sobreviverá à crise. Os líderes da Europa não mostraram que sabem que estão encurralados. Precisam ter uma mapa do caminho para sair da crise numa área que tem um sistema monetário único para países de regimes fiscais diferenciados. Não pensar no cenário de crise foi o pecado inicial dos arquitetos da Zona do Euro.

FONTE: O GLOBO

Quando o vício é privado:: Clóvis Rossi

O diagnóstico da crise na Europa pode estar errado e a cura poderá acabar matando os pacientes

A sabedoria convencional ensina que a crise europeia, a caminho de se transformar em global, é culpa de governos gastadores, que se endividaram demais. Logo a cura só pode vir pela imposição de uma austeridade implacável, imposta pelos que o Nobel de Economia Paul Krugman chama, adequadamente, de "fanáticos da dor".

Vamos imaginar, só para variar, que o diagnóstico esteja errado. É uma tese defendida não por um lunático qualquer, mas por ninguém menos do que um agente de mercado, Richard Koo, economista-chefe do banco de investimento Nomura, em conversa com o jornal espanhol "El País".

Diz ele: "O diagnóstico errado na Europa é pensar que esta é uma crise fiscal. Falso: a crise começou no setor imobiliário norte-americano e se transformou em uma tormenta financeira global. E continua sendo uma crise bancária, que acabou contagiando a economia (o fechamento da torneira do crédito degenerou em desemprego e recessão) e as contas públicas (castigadas pelas ajudas à banca e pelos custos do Estado de Bem-Estar em pleno desabamento econômico)".

Mais: "Contagiou inclusive o edifício institucional europeu, incapaz de mostrar-se decidido em resgates que parecem desenhados mais para salvar os bancos do que para ajudar os países com problemas. As entidades financeiras, em especial as alemãs, estão carregadas de ativos tóxicos e de dívida pública, que caminham para alcançar esse status".

Palpite isolado de um economista, como zilhões de outros que saem todos os dias nos jornais?

Não, John Feffer, codiretor da publicação "Política Externa em Foco", do Instituto para Estudos Políticos, foi ontem na mesma direção em seu blog:

"A crise da dívida, de acordo com análises convencionais, resulta de governos gastadores que mantiveram altos níveis de serviços sociais sem a renda necessária para sustentá-los. Mas a presente crise econômica da Europa é, de muitas maneiras, um desdobramento da crise financeira de 2008, quando bancos europeus investiram, pouco sabiamente, em todos os instrumentos de fantasia que as instituições norte-americanas criaram para mascatear hipotecas arriscadas".

Quando veio a crise e, com ela, o socorro oficial à banca, esta mudou a direção e passou a investir em títulos da dívida dos Estados. Completa Feffer: "Como viciados que veem fechado um mercado de droga, os bancos simplesmente voltaram-se para outro".

Se essas análises estão corretas -e nada indica que não estejam-, a cura, pela austeridade, do vício dos governos de gastar demais nem de longe resolve o problema.

A banca, parte essencial de qualquer mecanismo econômico, para o bem e para o mal, continua intoxicada e "mata" um governo depois do outro, no desespero de mais uma cafungada nos juros obscenos cobrados para rolar a dívida de países europeus.

Corolário político-social para Feffer: "Os ideais sociais que antes animavam o projeto europeu estão se dissipando depressa. O continente se transformou simplesmente em um bom lugar para fazer negócios, particularmente nos serviços financeiros".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Governo pode antecipar novas medidas anticrise

Queda do compulsório, uso de reserva para financiar comércio exterior e desoneração para setores afetados pelo cenário global são alternativas se situação externa piorar

Eva Rodrigues

Diante de um cenário externo que se deteriora a cada dia, o governo brasileiro deu início, em agosto, ao afrouxamento monetário e, na última semana, desmontou boa parte das medidas restritivas ao crédito implementadas no final de 2010.

Ao contrário de 2008, quando demorou para reagir à crise, agora a postura tem sido de se antecipar aos efeitos de um mundo à beira da recessão. Mas qual o próximo passo? Em caso de piora na liquidez global, o governo deve desmontar as exigências relativas a compulsório que fizeram parte do pacote de dezembro do ano passado, usar as reservas ou mesmo fazer uso dos bancos oficiais para injetar liquidez no mercado.

Para o aquecimento da demanda doméstica também está na mira um maior ritmo e alongamento do ciclo de corte nos juros básicos.

No curto prazo, e sem graves problemas de liquidez, o governo deve aguardar os efeitos da retirada das travas ao crédito, que na prática tem o efeito de um corte nos juros - quando todo o pacote de contenção de crédito foi lançado em 2010 o mercado estimou que equivaleria a uma alta entre 0,50 e um ponto percentual na Selic.

Com o desmonte parcial do pacote, a contribuição deve ser menor.

De qualquer maneira, a iniciativa talvez ajude a remover as crescentes expectativas de que os cortes nos juros poderiam vir mais fortes daqui em diante.

O susto com a Itália na semana passada parece ter sido crucial para os novos passos do governo. “É muito complicado arregimentar o montante de dinheiro necessário tendo em vista o tamanho da dívida italiana. E esse cenário externo complexo explica as ações do governo aqui dentro para evitar uma desaceleração mais forte da economia, e aí se enquadram o corte nos juros e as medidas de crédito”, diz o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, que não descarta em situação extrema o uso de bancos oficiais, como o Banco do Brasil e o BNDES, para garantir liquidez ao mercado. “A grande dúvida é se esses movimentos são compatíveis com a convergência da inflação para a meta de 4,5%. Além de acelerar o ritmo e ampliar o ciclo de corte de juros em caso de piora das condições globais, o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, vê como instrumentos à mão do governo o desmonte do aperto nos compulsórios, assim como as reservas, que em 2008 foram usadas para o financiamento do comércio exterior. “Do lado fiscal, o governo tem menos espaço, mas pode escolher setores mais fortemente prejudicados para conceder desonerações”, pondera.

O momento de pouca clareza, explica Padovani, pede atitudes paulatinas conforme a conjuntura de curto prazo. “Num ambiente de muitas incertezas e informações escassas não dá para ser muito arrojado, é melhor caminhar devagar.”

Momento paradoxal

O professor da Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV), Rogério Mori, destaca o momento paradoxal pelo qual passa o Brasil: de um lado, a atividade desaquecida, que encontra a resposta mais direta na baixa produção industrial; e de outro, o mercado de trabalho apertado e com dificuldade até para a contratação de temporários no final do ano, o que mantém pujante o setor de serviços. “É uma situação assimétrica que o Banco Central deve olhar com cuidado.

De todo modo, num cenário de piora externa que se reflita aqui eu não descarto a possibilidade de que o atual ciclo de corte nos juros leve a Selic ao patamar de 8,75%, assim como desonerações setoriais para os segmentos mais afetados pela crise”, avalia.

Se o próximo corte de juros for de 0,50 ponto percentual, os juros básicos da economia voltam para 11%, o que significa o desmonte de toda a alta verificada no primeiro semestre do ano. “O alívio do crédito na semana passada também trará algum estímulo à atividade doméstica e alinha-se a uma política que vem sendo implementada pelo BC de não usar apenas o instrumento de juros”, diz o economista do Santander, Cristiano Souza, que espera como próximos passos do governo o afrouxamento nos compulsórios dos bancos.

PIB BRASILEIRO: 3,5% é a projeção do banco ABC Brasil para o crescimento da economia em 2012.

Crise externa pode trazer viés de baixa à taxa.

TERCEIRO TRIMESTRE: -0,2% é a queda do PIB para o terceiro trimestre esperada pelo Santander.
Para o quarto trimestre, a projeção é de estabilidade.

REGIME DE METAS: Inflação em alta impõe imite aos estímulos econômicos

No momento em que o Banco Central corta juros e melhora as condições de crédito para garantir que a economia volte a acelerar em 2012, um item relevante continua como o grande foco de preocupação nacional: a inflação.

Em 12 meses, a variação de preços medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 6,97%, bem acima do centro da meta do governo, de 4,5%.


É fato que houve desaceleração ante os 7,31% de setembro, mas ninguém no mercado acredita, como prega o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que a inflação vá convergir para a meta em 2012. “O cenário do BC contempla ajustes moderados na Selic, uma ação consistente com o retorno da inflação à meta em 2012”, repetiu Tombini, ontem.

Diante da dificuldade em se equacionar controle de preços e medidas para fomentar o nível de atividade - combate à inflação, como regra, pede medidas contracionistas - há quem fale até mesmo em mudar as metas de inflação.

Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, seria melhor que o Banco Central alterasse a meta para 5,5% em 2012, patamar que seria compatível com um crescimento de 3,5% do PIB. “Para o bem do sistema de metas, o BC deveria deixar claro que não está abandonando o sistema, mas alterando a meta diante do cenário adverso que vivemos no mundo. Seria um movimento claro que acabaria com ruídos desnecessários, sem perda de credibilidade para o BC e sem sacrificar muito a economia”, discorre Leal.

Entretanto, esse é um ponto de vista longe da unanimidade.

O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, vê a convergência da inflação à meta somente em 2013 mas é contra qualquer alteração na meta. O fato de haver um intervalo amplo na meta - de 2,5% a 6,5% - é justamente para acomodar choques.

Já uma nova meta pode ter efeito negativo de reduzir a confiança dos agentes na trajetória de convergência.”

Ao apontar para a inflação de serviços na casa dos 9% em 12 meses e medidas de núcleos (excluem itens mais voláteis) com viés de alta, o economista do Santander, Cristiano Souza, sente algum desconforto para defender o corte nos juros. “As expectativas em relação à inflação não melhoraram e mesmo levando em conta a desaceleração em curso não dá para pensar em convergência da inflação à meta.”

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

O capital entra pelos fundos? :: Vinicius Torres Freire

Aplicações financeiras entram disfarçadas de investimento "produtivo"?

Economista diz que não

A impressionante quantidade de dinheiro que tem entrado no país sob a rubrica de "investimento estrangeiro direto" causa suspeita e controvérsia desde pelo menos meados deste ano.

A querela é do tipo "quando a esmola é muita, o santo desconfia". Desconfia-se de que parte do dinheiro registrado como investimento direto seria na verdade aplicação no mercado financeiro, em ações e, principalmente, em papéis de renda fixa (em juros). Tais operações foram taxadas pelo governo desde 2009 (IOF) e de modo ainda mais salgado no final de 2010.

O Investimento Estrangeiro Direto (IED) é o nome que as estatísticas econômicas dão ao dinheiro que entra num país para comprar, ampliar ou criar empresas. Em outubro passado, o IED equivalia a mais de 3,3% do PIB (entradas acumuladas em 12 meses). Em outubro de 2010 era cerca de 1,4% do PIB.

Nesse mesmo período, o investimento estrangeiro em ações brasileiras e em títulos de renda fixa negociados no país caiu de 2,5% do PIB para o atual 0,7% do PIB.

Suspeita-se de que parte do IED seja apenas aplicação financeira que arrumou uma brecha legal (ou ilegal) para fugir do IOF salgado.

O economista Darwin Dib, da equipe de pesquisa econômica do banco Itaú, discorda. Em relatório do banco para clientes, Dib chama a suspeita de teoria da conspiração.

Os argumentos do economista:

1) A retomada forte do IED no Brasil começou em janeiro de 2010, muito antes do IOF salgado sobre aplicações em ações e em renda fixa;

2) O interesse dos investidores externos pelo mercado de renda fixa e de ações diminuiu não apenas devido ao IOF maior. No final de 2010, o imposto subiu ainda mais para operações em renda fixa, mas não para ações. Porém, a tendência de queda nos dois tipos de investimento foi a mesma (Dib mostra gráficos razoavelmente convincentes para ilustrar a tendência);

3) Parte do IED é composta de "empréstimos intercompanhia" (recursos emprestados por uma múlti para sua filial estrangeira). Houve aumento razoável do dinheiro investido no país por meio dessa rubrica. Aí estaria a chave do "disfarce" de parte do IED em aplicação financeira -uma burla.

Dib argumenta que não é o caso. O aumento da entrada de dinheiro classificado na rubrica "empréstimos intercompanhia" nos últimos 12 meses ocorreu em relação a uma base baixa, deprimida.

Em 2008, explica Dib, houve grande baixa nos empréstimos intercompanhia devido à seca de crédito mundial, dada a explosão da crise financeira nos EUA.

Depois do colapso financeiro de setembro de 2008, os "empréstimos intercompanhia" caíram de 35% do total do IED para 5% em apenas dez meses, segundo os dados de Dib.

Em suma, o aumento desses empréstimos nos últimos 12 meses é a recuperação de um tombo pontual.

4) Para reforçar essa tese, Dib diz ainda que os "empréstimos intercompanhia" passaram a aumentar antes do IOF mais salgado. Mais: tais empréstimos (aqueles com vencimento em até 720 dias) pagam a mesma alíquota de 6% das aplicações em títulos de renda fixa;

5) Outras tentativas de burlar o IOF (por exemplo, por meio de aumento de capital) são ainda mais custosas e perigosas e implausíveis.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Relacionamento com lobista foi normal, diz Agnelo

Relação com lobista foi normal, diz Agnelo

Governador fala que pode provar versão de que os R$ 5.000 depositados em sua conta foram pagamento de empréstimo

Em entrevista à Folha e ao UOL, petista afirma que tem o costume de guardar dinheiro em casa, por segurança

Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), disse ontem ter como provar que emprestou R$ 5.000 com recursos próprios a um lobista do setor farmacêutico.

Segundo o petista, o dinheiro foi dado por ele em espécie e teria saído de sua própria conta ou da de sua mulher. "Isso posso mostrar, não tem problema", declarou.

Apesar da afirmação, Agnelo não se comprometeu a apresentar imediatamente um extrato bancário indicando de onde exatamente saíram os R$ 5.000.

A primeira versão do caso era a de que o valor seria uma propina paga a Agnelo. Depois, o lobista recuou e disse ser apenas a devolução de um empréstimo que havia tomado com o petista.

Na entrevista de ontem, Agnelo revelou ter o costume de manter dinheiro em espécie em sua casa há muito tempo por razão de "segurança".

"Sempre tenho um pouco de recurso em casa. Eu moro em casa, no Lago Sul [bairro nobre de Brasília] e é importante a gente sempre ter um pouco de dinheiro em casa."

A suspeita de pagamento de propina a Agnelo agravou a crise política por que passa o seu governo, mas até hoje o petista não deu provas para sustentar sua versão.

RELAÇÃO

Em entrevista à Folha e ao UOL, Agnelo declarou que conhece o lobista desse episódio, Daniel Almeida Tavares, " há uns 20 anos", de um período em que militaram juntos no PC do B.

Em 25 de janeiro de 2008, Daniel depositou R$ 5.000 em uma conta corrente de Agnelo, à época diretor da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária). Nesse mesmo dia, como revelou a Folha, a Anvisa tomou decisão que favorecia a empresa União Química, empregadora do lobista.

Agnelo relata assim a transação: "O Daniel foi um militante, conheço [Daniel] há uns 20 anos. Ele foi um militante do PC do B. Trabalhou em várias campanhas. (...) Depois ele se transformou numa espécie de um secretário particular de uma indústria farmacêutica. Me pediu, uma vez, que ia para uma cidade, não sei se era Goiânia, alguma cidade, pediu emprestado", diz o governador.

Ele segue o relato: "Emprestei a ele um dinheiro, porque ele precisava em dinheiro. E me pagou depois. Não tem anormalidade. (...) Alguém pode se corromper por R$ 5 mil? Alguém pode se corromper mandando depositar na sua própria conta?".
Indagado sobre sua declaração de que a palavra de um governador valeria como prova de que a operação com o lobista foi legal, Agnelo recuou: "É evidente que eu tenho a minha palavra e ela não vale mais do que a de ninguém".

BRASÍLIA

Sobre sua administração, Agnelo afirmou que passou parte deste ano tentando recompor a administração local. Brasília teve vários escândalos nos últimos anos, inclusive com um de seus governadores preso.

O petista prometeu acabar em 2013 com os apagões de energia na cidade -a tempo de Brasília sediar a Copa das Confederações, que ser´´a promovida pela Fifa.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO