sábado, 17 de setembro de 2011

Opinião do dia – Fernando Gabeira: algo novo

"Algo começou com as manifestações de 7 de Setembro. Como em todos os pontos do globo, elas lançaram mão da internet, instrumento sobre o qual não há controle numa democracia. Por outro lado, as tentativas de controle político dos meios de comunicação tradicionais tendem ao isolamento. É preciso acreditar muito nos aliados para supor que possam erguer a bandeira da censura num ano eleitoral.

Dificilmente o Brasil aceitará pagar pedágio para que o governo faça a máquina funcionar. Ela já é pouco racional. Com os danos da corrupção, torna-se um obstáculo para um salto maior. O Brasil cresceu, os horizontes políticos encolheram. O sopro das ruas pode trazer a inspiração que faltava."

Fernando Gabeira, jornalista. “As vozes que não se calam”. O Estado de S. Paulo, 16/9/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Copa agora tem lei
Consumidor pagará por benefício a montadoras

FOLHA DE S. PAULO
Governo cedeu a lobby, afirmam importadoras
Brasil reconhece governo rebelde líbio após a ONU
STJ anula provas da PF contra a família Sarney

O ESTADO DE S. PAULO
Importadores de carros vão à Justiça para barrar IPI
Dilma defende ‘escolha política’ de ministro
Brasil reconhece novo governo da Líbia
Erradicar analfabetismo sai de plano do governo

CORREIO BRAZILIENSE
Consumidor antecipa compra de carro para fugir da alta de preço
Mais clareza nos consórcios
Verba maior para Saúde e Educação

ESTADO DE MINAS
Metrô de BH, enfim, terá R$ 3,16 bilhões
Presidente elogia obra do Mineirão
Corrida atrás dos carros importados

ZERO HORA (RS)
Estado vai à Justiça contra empresa do Caso dos Pardais
Importadoras de veículos reagem a imposto

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Obras do PAC estão paradas no Cordeiro
Montadoras têm 245 dias para evitar o novo IPI
PDVSA entrega garantia para ser sócia de refinaria

Consumidor pagará por benefício a montadoras

Governo já prevê que alta do IPI sobre carro importado vá parar na OMC

O aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nos carros importados, principalmente asiáticos, vai significar um peso a mais no bolso do consumidor brasileiro. A tributação adicional de 30 pontos percentuais no IPI foi criada anteontem pelo governo para beneficiar montadoras instaladas no país que vinham enfrentando queda nas vendas. O problema é que algumas destas empresas utilizam componentes importados e agora terão que comprar peças aqui. Com isto, o chamado "carro nacional" também deverá ficar mais caro. O governo já se prepara para uma possível contestação do novo IPI na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A conta ficou para o consumidor

BARREIRA AOS ESTRANGEIROS

Imposto maior diminui a concorrência e há risco de alta generalizada nos preços de carros

Ronaldo D"Ercole, Lino Rodrigues e Henrique Gomes Batista

A alta do IPI para os carros importados e a exigência de nível mínimo de 65% de nacionalização de componentes, para evitar a aplicação das alíquotas maiores, devem levar a um aumento de preços dos carros também fabricados aqui, com a diminuição da concorrência. A advertência é do sócio tributarista da consultoria Ernst & Young, Sergio Fontenelle. Ele afirma que muitas empresas que hoje só montam carros no Brasil, caso das montadoras francesas e coreanas, ou que trazem alguns de seus modelos da Argentina, mas usam muitos componentes importados da matriz, como as japonesas Nissan e Toyota, terão de comprar mais autopeças no mercado local para escapar da taxação maior do IPI. Essa corrida pressionará os preços dos componentes, que serão repassados para o consumidor.

- A demanda por autopeças tende a aumentar muito e os fabricantes não terão como suprir esse crescimento. de imediato - diz, completando. - O que vai acontecer é um repasse dessa alta dos preços das autopeças ao consumidor, como sempre acontece.

O Ministério da Fazenda calculou que os preços podem subir de 25% a 28% no preço dos importados. Mas alguns analistas acreditam que as importadoras podem cortar margem.

Opções serão reduzidas à metade

O consumidor ainda verá suas opções de compra reduzidas. Para Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive, na faixa dos R$35 mil, o número de ofertas, levando em conta modelos e versões, poderá cair de 45 para 25.

Projetos de expansão de fábricas de autopeças, observa Fontenelle, levam entre seis meses a um ano para serem concluídos. Antes disso, portanto, as empresas não terão como aliviar as pressões da demanda maior.

Questionado sobre esse provável efeito da alta do IPI sobre os importados nos preços dos modelos nacionais, Rogélio Golfarb, vice-presidente da Anfavea, concordou que deverá ocorrer aumento da procura por autopeças, mas em sua opinião esse movimento não será brusco.

- O que vai ter é um gradual aumento da demanda por autopeças, isso vai acontecer, mas não do dia para a noite - disse Golfarb, lembrando que 19 montadoras disputam o mercado interno e que, por isso, a competição pelo consumidor continuará alta. - Não acredito que vai faltar peças.

Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, entidade que reúne as revendas autorizadas de veículos, vê concorrência menor também:

- A indústria não pode se aproveitar da medida para aumentar preços e recompor margens. Se fizer isso, vamos pôr a boca no trombone. O consumidor não pode perder.

Golfarb, da Anfavea, reconheceu que a medida beneficia as montadoras já instaladas no país, mas rechaçou tratar-se de uma ação "protecionista". E culpa as distorções hoje existentes à "guerra cambial" a que se refere o ministro Mantega.

- Acho que preservamos os acordos que fizemos (Mercosul e México). E essa fórmula (alta do IPI com nível mínimo de nacionalização) apareceu como uma maneira de lidar com questões no contexto que vivemos. O que o governo tenta fazer é que prevaleça a produção interna - disse.

Ao preservar os acordos, o governo reduziu o alcance do aumento da tributação. Levando em consideração o número de carros importados este ano, somente 24% dos 531 mil carros importados sofrerão com o aumento das alíquotas. Dos 531 mil veículos importados entre janeiro e agosto deste ano, cerca de 401,7 mil unidades (76% do total) foram trazidas pelas montadoras instaladas aqui e que estão fora do alcance das medidas por acordos automotivos com Mercosul e México. Portanto, somente 129.281 carros trazidos ao país no período estariam sujeitos às novas alíquotas salgadas, de até 35%, caso as novas regras estivessem valendo.

O alvo das medidas negociadas pela Anfavea, associação que reúne as montadoras com fábricas no Brasil, e o Ministério da Fazenda foi principalmente as marcas asiáticas, especialmente as chinesas, que crescem aceleradamente. No ano, aumentou 474% a venda de carros chineses aqui.

- O mercado interno desacelerou e cresceu muito as importações, principalmente de carros chineses - afirmou o vice-presidente da Anfavea, Rogélio Golfarb, ao comentar as paradas na produção este mês, para ajustar estoques.

Nas revendedoras de importados no Rio imperava a apreensão. Em algumas, houve um aumento no número dos consumidores que queriam adquirir as últimas unidades "com preço antigo". Em outras, vendas não eram fechadas à espera de definições sobre preços e quantidade de veículos ainda faturados na alíquota antiga do tributo.

- Não fechamos nenhum negócio novo, ficamos em compasso de espera. Apenas honramos negociações que já estavam em andamento - conta o vendedor Marco Aurélio de Azevedo Canetti.

Esse é o caso do médico Pedro Paulo Vanzillotta, que está interessado em comprar um Hyundai IX35 para sua esposa. Ontem ele foi à concessionária da marca em Botafogo e disse que estava um pouco preocupado com o impacto da medida nos preços:

- Estou vendo o veículo, mas posso antecipar a decisão da compra se sentir que os preços podem aumentar muito - disse.

sim a professora Cléa Moreira de Oliveira e sua filha Cibele Guedes comemoravam a compra do veículo zero quilômetro de sete lugares:

- Fiquei feliz que assinei tudo na quinta, antes do aumento do IPI.

FONTE: O GLOBO

MG: Justiça manda parar greve

Desembargador considera que paralisação de professores é "abusiva" e determina volta às aulas na segunda-feira, sob pena de multa diária

Sandra Kiefer

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais determinou a suspensão da greve de 101 dias dos professores da rede estadual de ensino coordenada pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG). Com despacho concedido em 24 horas, o desembargador Roney Oliveira, relator do processo, considerou o movimento grevista abusivo e determinou o retorno imediato dos grevistas à sala de aula, sob pena do pagamento de multa progressiva diária cobrada do sindicato. Os valores estabelecidos vão de R$ 20 mil pelo primeiro dia de continuidade da paralisação, a contar da próxima segunda-feira, a R$ 30 mil pelo segundo dia, R$ 40 mil pelo terceiro dia e assim por diante, podendo atingir o teto de R$ 600 mil.

Em sua decisão, Roney Oliveira considerou que "a extensa duração do movimento grevista traz grave prejuízo aos alunos da rede pública, às voltas com a iminente e possível perda do ano letivo, o que tipifica o movimento como abusivo." O desembargador acatou argumentos do Ministério Público estadual de que a paralisação continuada das aulas prejudicaria as crianças e adolescentes, nesse caso os alunos das escolas estaduais, no atendimento ao direito básico à educação.

"A continuidade ad aeternum do movimento configura óbice intransponível ao exercício do direito à educação", escreveu o magistrado. "Ainda que a greve seja um direito fundamental, não pode ser exercida de forma abusiva", diz outro trecho da liminar. O desembargador afirmou ainda, no despacho, que espera que os professores retomem as atividades "porque esse retorno imediato acalenta, para os alunos, a esperança de que o ano letivo não se esvaia".

Apesar da decisão judicial que determina a volta imediata à sala de aula, sob pena de pagamento de multa diária, a diretoria do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) anunciou que não suspenderá a greve. "Ao contrário, vamos recorrer da decisão na segunda-feira", disse a coordenadora-geral do sindicato, Beatriz Cerqueira. Segundo ela, essa é a posição unilateral da direção do sindicato e a opinião dos professores será ouvida em assembleia, marcada para terça-feira, às 13 horas, na Assembleia Legislativa. "A posição do sindicato é essa, mas pode ser que a categoria queira recuar", admitiu.

Segundo a secretária de Estado da Educação, Ana Lúcia Gazzola, o governo de Minas já prepara um calendário de reposição das aulas, considerando que os professores não vão descumprir ordem judicial. "Na minha opinião, ordem da Justiça a gente cumpre primeiro e depois até discute os termos, se for o caso", comentou. Segundo a Secretaria de Educação, antes mesmo de sair a decisão judicial, 10 das 45 escolas totalmente paradas retomaram as aulas ontem e as parcialmente paradas caíram de de 773 para 768. Além disso, mais 720 professores teriam voltado ao trabalho. A assessoria de comunicação do TJMG informou que o desembargador, num segundo momento, analisará o mérito da ação e a legalidade do movimento.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Em julgamento, greve do Maracanã é considerada abusiva

Rio - Após 16 dias de paralisação, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) declarou, nesta sexta-feira, abusiva a greve dos operários que atuam na reforma do Maracanã. Com a decisão, os trabalhadores que não retornarem às atividades na segunda-feira podem ser demitidos por justa causa. Também nesta sexta, funcionários que modernizam o Mineirão, em Belo Horizonte, retomaram greve, apesar da visita da presidenta Dilma Rousseff ao estádio, a mil dias da Copa no Brasil.

No Rio, o Consórcio Maracanã, formado pelas empresas Delta, Odebrecht e Andrade Gutierrez, afirmou que descontará do salário dos operários os dias não trabalhados. Apesar disso, os funcionários só vão decidir pelo fim da paralisação em assembleia, às 7h de segunda, em frente ao estádio, e afirmam que exigirão salário integral.

O TRT considerou, entre outras coisas, que já estava em vigor um acordo coletivo entre trabalhadores e consórcio após uma primeira paralisação, em agosto, no qual o Consórcio concedeu aumento da cesta básica de R$ 110 para R$ 160, plano de saúde e abono dos três dias de greve.

Dessa vez, em greve desde o dia 1º, os operários alegavam, entre outras queixas, que a empresa servia comida estragada. Antes do julgamento, 150 operários fizeram manifestação na porta do TRT. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção Pesada do Rio, Nilson Duarte, afirmou que apoia a volta ao trabalho e tentará negociação: “Só não vamos admitir desconto no contracheque”. O consórcio diz que atuará com base no julgamento do TRT.

A mil dias da Copa de 2014

A mil dias da Copa de 2014, a presidenta Dilma Rousseff e o ministro do Esporte, Orlando Silva, visitaram ontem o Mineirão, em Belo Horizonte. A reforma do estádio para o Mundial também passou ontem por paralisação de operários. Mas o governador mineiro, Antonio Anastasia, disse que as obras estão “rigorosamente no prazo”. Ao lado de Pelé, embaixador honorário da Copa, Dilma lembrou que ambos são mineiros e que Pelé é especialista em mil, já que fez 1.280 gols na carreira.

FONTE: O DIA

Em greve, funcionários dos Correios fazem manifestação no Centro do Rio

Rio de Janeiro, RJ - Na tarde de ontem, sexta-feira (16), funcionários da Empresa de Correios e Telégrafos, que estão em greve nacional há três dias, realizaram uma passeata no Rio de Janeiro e depois de caminharem da Candelária, pela Avenida Rio Branco, fizeram uma manifestação nas escadarias da Câmara Municipal.

O evento contou com um caixão onde “estava” Ernane Coelho, diretor financeiro do órgão, que foi transladado por um “carro funerário”. O movimento que já deixou de entregar mais de 28 milhões de correspondências reivindica um piso salarial de R$ 1.635, além de aumento em benefícios. Atualmente, o piso salarial dos profissionais é R$ 806.

Lula não obtém consenso sobre reforma política

Marcelle Ribeiro

SÃO PAULO. Em reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líderes do PT, do PDT, do PSB e do PCdoB concordaram ontem em votar a favor do relatório do deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) que propõe uma reforma política com um sistema de votação para deputados batizado de proporcional misto, que deve ser levado a votação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara até o fim do mês. Porém, isso não significa que eles chegaram a um consenso sobre o assunto, como pretendia Lula. O acordo foi feito apenas para viabilizar a discussão do projeto no plenário da Casa.

O sistema proporcional misto de Fontana prevê uma eleição para deputado em que o eleitor tem direito a dois votos: um para a lista do partido e outro para o candidato que preferir. Os quatro partidos concordaram que querem o sistema proporcional, mas ainda não há consenso sobre o voto em lista.

- Um ponto de consenso foi a defesa do voto proporcional, seja qual for o sistema de votação: se vai ter a lista partidária, como nós defendemos, ou se outro sistema - disse o presidente do PT, Rui Falcão.

Segundo Falcão, a decisão definitiva será tomada no futuro.

- No relatório do deputado Fontana, os quatro partidos votarão no sistema proporcional misto, mas querem analisar, mais para a frente, quando (o projeto) for para plenário, se esse é realmente o sistema de voto mais indicado.

De acordo com o presidente do PSB, Eduardo Campos, os quatro partidos concordaram na rejeição ao sistema majoritário (chamado de distritão), em que seriam eleitos os candidatos a deputado mais votados, sem o quociente eleitoral em vigor hoje. Esse modelo, que é usado atualmente nas eleições para a Presidência, governos estaduais e Senado, tem sido defendido pelo PMDB. As quatro legendas reunidas ontem também rejeitaram a possibilidade de apoio ao sistema distrital, em que estados e cidades são divididos por distritos, e cada candidato pode disputar em apenas uma área.

O presidente do PSB admitiu que seu o partido está rachado sobre a criação de um possível voto em lista.

- Temos um conjunto expressivo que defende a lista, e outro que defende o proporcional. Eu defendo o consenso - disse Eduardo Campos.

Segundo o presidente do PT, Rui Falcão, houve consenso dos quatro partidos sobre o financiamento público exclusivo de campanha.

- Essa é a melhor maneira de combater a corrupção, que começa no sistema eleitoral e depois vai para outros setores - disse Falcão.

Os líderes de PT, PSB, PDT e PCdoB também concordaram com a redução do mandato de senador para quatro anos a partir de 2018, com a diminuição da idade mínima para candidatos ao Senado (de 35 para 30 anos) e para a Câmara (de 21 para 18 anos), e com a existência de apenas um suplente de senador.

Durante a reunião, Falcão ligou para o vice-presidente Michel Temer, presidente licenciado do PMDB, para marcar uma conversa sobre a reforma.

Ficou agendada para 4 de outubro uma reunião dos líderes dos partidos com representantes da sociedade civil.

FONTE: O GLOBO

Grupo vaia Lula e Haddad

Tatiana Farah

SANTO ANDRÉ (SP). O ex-presidente Lula perdeu a paciência ontem com jovens do movimento estudantil, que vaiaram o ministro da Educação, Fernando Haddad, seu candidato à prefeitura de São Paulo pelo PT. Com cartazes e faixas reivindicando 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, cerca de 20 estudantes gritaram palavras de ordem e vaiaram os políticos presentes ao aniversário de cinco anos da Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André. Lula era um dos homenageados pela reitoria e teve de ouvir alguns jovens gritando "é tudo mentira" a cada feito de sua gestão narrado por ele.

- Gritar é bom, mas ter responsabilidade é muito melhor - disse ele, que afirmou: - Se tem uma coisa que aprendi a respeitar é o direito de as pessoas reivindicarem, porque, se não fosse assim, eu não seria presidente da República.

Outro grupo de 30 estudantes, numa plateia de 500 pessoas, carregava cartazes de apoio à greve de professores e acabou levando bronca do ex-presidente:

- Se eu tivesse medo de greve, eu não teria feito as maiores e as melhores do país.

Sobre o percentual para educação, Lula usou como exemplo a história de um filho que briga com a mãe porque quer R$10 para sair à noite e a mãe não tem o dinheiro. A comparação irritou os estudantes:

- A mãe pode não ter dinheiro, mas hoje o governo tem - disse Rafael Nascimento, de 18 anos, da Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (Anel).

Chamados por Haddad de estudante do PSOL e PSTU, os jovens disseram que não vaiaram a pessoa de Lula, mas "as políticas de hoje" e se disseram contrários ao ministro da Educação:

O ex-presidente defendeu Haddad e disse:

- Precisamos caminhar para ter 10% do PIB na Educação e ter uma parte do pré-sal (para o setor). Mas essas coisas não acontecem porque o cidadão se sente no direito de gritar. Essas coisas são construídas.

FONTE: O GLOBO

No tribunal:: Merval Pereira

O que se temia está prestes a acontecer: a disputa pelos royalties do petróleo caminha para ser decidida na Justiça, com ambos os lados se armando de pareceres. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) contratou o jurista Célio Borja, ex-membro do Supremo Tribunal Federal, para defender os interesses do Estado do Rio. E o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) considera que a proposta dos estados produtores de aumentar o pagamento das participações especiais por parte das petroleiras fere os contratos já existentes e ameaça também entrar na Justiça, como anunciara o presidente da Petrobras.

O jurista Célio Borja deve entregar seu parecer na próxima semana, mas sua conclusão já está feita: o governo não só tem que manter a divisão dos royalties que está em vigor nos campos já licitados pelo sistema de concessão como tem que manter o mesmo critério nos campos do pré-sal, a serem licitados pelo novo sistema de partilha.

Para Célio Borja, a Constituição distinguiu, em relação à exploração do petróleo e do gás natural, estados produtores e não produtores, e fez isso de maneira tal que a participação e a compensação financeira asseguradas aos estados produtores são "uma cláusula pétrea, porque partilha bens entre os entes federados, o que é da essência do regime federativo que nós adotamos".

Segundo o jurista, quando a Constituição adota, entre muitos regimes federativos, um em especial, que permite que os bens públicos possam ser repartidos entre os entes federados, "essa partilha, como a da competência, por exemplo, é inalterável por norma constitucional posterior".

Indo mais adiante, Célio Borja levanta a tese que a violação dessa partilha "é na verdade uma guerra entre estados membros da União". E, adverte, "é um postulado da própria Federação, qualquer que seja o regime, de qualquer país do mundo, que a Constituição estabelece uma paz perpétua entre os estados, mediante à proibição a todos de fazerem guerra".

O exemplo claro disso, lembra, é a matéria tributária, "quando a Constituição proíbe os Estados de concederem isenções. O Supremo já decidiu, sempre fundado na premissa de que isso constituiria guerra tributária".

A mesma coisa aconteceria, diz Borja, se a maioria dos Estados, no Congresso, mediante lei, atentasse contra a partilha que a Constituição fez. "As decisões do Supremo sempre insistem nisso, que a desobediência a essas limitações importa em guerra fiscal".

Célio Borja diz ainda que no caso do pré-sal, estão fazendo uma distinção entre o petróleo e o gás colhidos nessa nova área de exploração que a Constituição não faz.

A Constituição estabelece que o direito dos estados é aferido pelo produto da exploração, e não diz que é do pré-sal ou fora do pré-sal, ressalta Célio Borja. "Se porventura a lei vier a fazer uma distinção entre o que se produz no pré-sal e o que se produz em outras áreas, para reduzir a participação de estados e municípios produtores, ela está violando a Constituição", garante o jurista.

Já o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Bicombustíveis (IBP), José Carlos de Luca, entende como "um grave equívoco" a proposta dos estados produtores de alterar a participação especial.

Na interpretação dos representantes das petroleiras, embora a lei que regulamentou as participações especiais diga que um decreto definirá as regras, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), quando fez a divulgação do edital das áreas que estava licitando, disse explicitamente que as participações governamentais seriam pagas conforme o montante definido no decreto 2.705 de 1998.

"Isso é parte integrante do contrato, quando as empresas participaram do leilão e assumiram esse compromisso de custos, se comprometeram com base nesse decreto".

Alterá-lo muda as regras do jogo, e quebra os contratos. "Seria lamentável se o governo optasse por ir por esse caminho", diz ele.

Jorge Camargo, consultor da norueguesa Statoil e conselheiro do IBP, diz que na Noruega há um regime diferente do daqui, e acontecem frequentemente mudanças, que são legais.

"Mudanças de legislação acontecem em diversos países, mas o Brasil optou por um modelo que lhe dá uma estabilidade maior, justamente por definir como vai ser a regra do jogo no momento em que você assina o contrato", alega.

A maneira de calcular essa participação, diz ele, é justamente o que permite, quando aumenta muito o preço do petróleo, quando há condições econômicas especiais, que o país também receba esses benefícios. A fórmula foi criada "para capturar para o país hospedeiro os benefícios de uma mudança das condições", comenta Jorge Camargo, dizendo que o Brasil tem um modelo "que permite isso sem mudar a legislação, o que é uma grande vantagem para o investidor de longo prazo".

Para ele, qualquer mudança terá que ser feita para contratos futuros, "porque os existentes já têm as condições muito bem amarradas nos contratos, o que dá uma segurança grande ao investidor".

Em sua opinião, o Brasil tem as vantagens do modelo contratual estável e uma sucessão de governos que, até agora, honraram esses contratos, e "isso é uma conquista do país, que seria lamentável se mudasse agora".

Segundo o presidente do IBP, José Carlos de Luca, a fórmula da participação especial captura o preço médio atual do barril de petróleo e faz com que o país ganhe mais se o preço do barril aumenta.

Ele mostra dados dos anos 2002 e 2010 para exemplificar: no ano de 2002, se pagou de participação especial R$2,51 bilhões e, em 2010, o montante passou para R$11,7 bilhões. O diferencial dá 450% de aumento, enquanto o preço médio do barril aumentou 190% e a produção diária cresceu 40%, comenta de Luca, alegando que "a fórmula da distribuição das participações especiais faz com que as petroleiras paguem mais quando o preço do barril sobe".

FONTE: O GLOBO

Fernando Rodrigues: Eles são quase iguais

Uma discussão quase bizantina tomou conta do mundinho da micropolítica em Brasília. Lula faria como Dilma e demitiria tantos ministros no início de seu primeiro mandato?

Para os dilmistas (eles existem cada vez em maior número), nem pensar. Lula passaria a mão na cabeça dos ministros encrencados e tudo ficaria por isso mesmo. Para os lulistas (ainda hegemônicos no PT), essa é uma falsa questão e quem a propõe só pretende semear a cizânia em solo alheio.

Os lulistas estão mais próximos da realidade. Até porque é impossível comparar o início do mandato de Lula com o de Dilma.

Lula foi eleito por uma aliança partidária raquítica. Em 2003, não havia nenhum ministro do PMDB flanando pela Esplanada com sua folha corrida exposta. Dilma chegou ao Planalto nas costas de dez legendas -a maior coalizão formal a eleger um presidente da República pós-ditadura. Ao montar sua equipe, a primeira mulher a ocupar o Planalto optou por ceder várias cadeiras a uma turma desqualificada que agora começa a cair.

Ontem, a presidente disse que escolhas políticas não "desmerecem nenhum governo". Mais ou menos. Se os indicados são Pedros Novais, desmerecem sim. Qualquer observador político com o Q.I. equivalente ao de um Forrest Gump saberia em dezembro passado que o então nomeado ministro do Turismo não poderia assumir o cargo em janeiro. Mas Dilma não teve presciência -ou coragem- para abortar o problema.

Para voltar à discussão do início, não há como saber qual teria sido o comportamento de Lula se em 2003 tivesse uma penca de Pedros Novais sob seu comando. Tampouco Dilma pode se vangloriar dos cinco ministros já ejetados neste ano. Quem os nomeou sem o devido cuidado foi a presidente. E todos só perderam a cadeira depois que a mídia -sobretudo a Folha- fez investigações independentes.

FOLHA DE S. PAULO

Tucano sem medo de ser feliz :: Fernando de Barros e Silva

A presidente, segundo Geraldo Alckmin, tem grande "espírito republicano"; o governador, segundo Dilma Rousseff, é um "parceiro excepcional". A aproximação e a troca de gentilezas entre a petista e o tucano causa surpresa e incomoda parceiros dos dois lados.

Em termos objetivos, a parceria se materializou na unificação do programa social do Estado com o Bolsa Família, em investimentos conjuntos na hidrovia Tietê-Paraná e na liberação de R$ 1,7 bilhão do governo federal para o Rodoanel. Até novembro, a presidente deve voltar pela terceira vez a São Paulo para anunciar nova dobradinha no programa Minha Casa, Minha Vida.

Entre seus respectivos staffs, consta que Dilma e Alckmin têm feito elogios recíprocos. A despeito das diferenças ideológicas, hoje esmaecidas pela convergência da política ao centro, um parece reconhecer no outro, com satisfação, a sua própria vocação administrativista.

Ainda falta muito para 2014, mas esse Alckmin que faz a corte para a presidente age como quem é candidato à reeleição no Estado. E Dilma também se fortalece entre o leitorado paulista simpático aos tucanos.

Com sua atitude, Alckmin ainda esvazia o governismo de Sérgio Cabral e a vocação governista do próprio Aécio, que não está acostumado a fazer oposição e não sabe muito como se comportar no Senado.

O mineiro vive um mau momento. Amargou primeiro o episódio da carteira vencida e do bafômetro -que se recusou a assoprar.
Semanas depois, caiu do cavalo. São imagens que metaforizam, de forma cruel, uma atuação parlamentar decepcionante à luz daquilo que a oposição espera da sua promessa.

Pior do que Aécio avariado só mesmo José Serra, que dá a impressão de não ter entendido ainda o que lhe passou em outubro de 2010.

Entre o oposicionismo estéril de Serra e a inanição oposicionista de Aécio, Alckmin desponta, sem medo de ser feliz ao lado de Dilma. Mas ainda é um político regional, cria e cara da província de São Paulo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Política sem política :: Marco Antonio Villa

Na História do Brasil republicano, Dilma Rousseff é a presidente que mais exonerou ministros em menos de um ano de governo. Mas, curiosamente, não identificou nada de anormal na sua administração. Como se as demissões por graves acusações de corrupção fossem algo absolutamente rotineiro. E ocorressem em qualquer país democrático. Todas as demissões seguiram um mesmo ritual: começaram por denúncias publicadas na imprensa e, semanas (ou meses) depois, quando não havia mais nenhuma condição de manter o ministro no cargo, este pedia para sair.

Na ópera-bufa da política nacional, isso passou a fazer parte do figurino. O fecho do processo se repete: é necessário também emitir alguma crítica genérica sobre a corrupção, sem identificar o destinatário. Na hora da posse do novo ministro, deve ser elogiado o antecessor (o elogio será mais extenso e efusivo dependendo de quão poderoso for o padrinho político do ministro). Semanas depois as acusações desaparecem em meio a um novo escândalo.

O Brasil foi, ao longo do tempo, esgarçando os princípios morais e éticos. Em 1954 chamou-se "mar de lama" a um conjunto de pequenas mazelas que envolviam a ação de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas. Hoje Gregório seria considerado um iniciante, até um ingênuo. A corrupção permeia todas as esferas do poder e conta com o silêncio complacente do Judiciário.

Em meio a esta turbulência, a oposição não sabe bem o que fazer. Está paralisada. Na base governamental temos alguns senadores que manifestam - ainda que timidamente - algum tipo de independência, como os peemedebistas Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon. Vivem uma constante crise de identidade. Sentem-se envergonhados como membros de um partido marcadamente fisiológico, mas não assumem claramente uma posição oposicionista. Nesse contorcionismo perdem espaço e são usados pelo governo, como na tentativa de criar uma frente suprapartidária para dar apoio à presidente no combate à corrupção, que serviu para desviar as atenções da proposta de CPI. O mais estranho é que a presidente não só não pediu apoio, como não fez nenhum movimento de simpatia. Deixou, literalmente, os senadores com a vassoura na mão.

Do lado propriamente oposicionista, continua a triste batalha dostoievskiana. O ódio entre os seus principais líderes deixaria enrubescido o patriarca da família Karamazov. A disputa interna fratricida paralisa qualquer ação. Não há projetos partidários. É uma espécie de cada um por si. E todos se acham espertos. Atualmente, a maior das espertezas é buscar apoio do governo para ampliar o seu poder na oposição. Algo no terreno do fantástico e fadado, obviamente, ao fracasso. Contudo, durante algumas semanas, dá ao líder oposicionista uma aura de sagacidade.

Enquanto isso, o País assiste a espetáculos dantescos de malversação dos recursos públicos, à permanência da inépcia governamental e ao agravamento homeopático dos efeitos internos da crise internacional. Em qualquer país democrático seria um terreno fértil para a oposição. Mas não no Brasil. Aqui, o velho discurso reacionário de que fazer oposição é ser contra o País ainda é dominante. A oposição tem medo de ser oposição. Foge do confronto como o diabo da cruz. Deve sentir vergonha por ter recebido a confiança de 44 milhões de eleitores na última eleição presidencial.

Vivemos num ambiente despolitizado. E isso é adequado ao projeto petista de permanecer décadas no poder. Logo vai completar a primeira. E o partido já está fazendo de tudo (e sabemos o que significa esse "de tudo") para tornar esse plano viável. A figura do ex-presidente Lula é central para cimentar as alianças políticas e empresariais. Afinal, todos sabem que sem Lula o projeto cai por terra. Somente ele consegue dar coerência a uma base política tão heterodoxa, que vai de Paulo Maluf ao MST. Mas para isso, muito mais que o discurso, é indispensável manter uma taxa de crescimento que permita concessões aos mais variados setores sociais, conforme o seu poder de barganha. E aí é que mora o grande desafio do governo, e não na tímida oposição.

São evidentes as diferenças e a qualidade da ação entre governo e oposição. Basta observar os movimentos dos dois últimos ex-presidentes. Lula sabe muito bem o que quer. Não para de articular um só minuto. E não perde oportunidade para atacar a oposição. Do lado da oposição, Fernando Henrique Cardoso parece que vive em outro mundo. Confundiu um elogio meramente protocolar da presidente Dilma com uma revisão ideológica do seu governo por parte dos petistas (que em momento algum foi realizada). Extasiado, não parou de elogiar a presidente e os "esforços" para combater a corrupção. Ou seja, um está atuando ativamente no presente para impor a qualquer preço o seu projeto, o outro está preocupado com o futuro, de como ficará o seu retrato na História.

Nesse ritmo, Lula vai coroando de êxito o seu projeto. Espera vencer as eleições municipais, especialmente em São Paulo. Com o triunfo deverá estabelecer um arco de alianças ainda mais amplo que o atual. É o primeiro passo concreto para retornar à Presidência em 2014 e permanecer, pelo menos, mais oito anos no poder. Caberá a Dilma continuar despachando como uma espécie de presidente interina, aguardando o retorno do titular.

E a oposição? Ah, esta lembra o Visconde Reinaldo, personagem de O Primo Basílio. Quando falava de Lisboa, sempre aguardava um terremoto, como o de 1755, que destruiu a cidade. Como não faz política, a oposição, espera também um terremoto: é a crise internacional. Mas, assim como o hábito não faz o monge, a crise, por si só, não fará ressurgir a oposição.

Historiador, é professor da Universidade Federal de São Carlos

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mais um puxadinho:: Celso Ming

O governo Dilma improvisou na quinta-feira decisões de política de comércio exterior, destinadas a proteger a indústria nacional de veículos da concorrência do produto proveniente do exterior.

As vendas de veículos importados por empresas sem fábricas no País foram 104,1% superiores às de agosto do ano anterior. O governo "ficou assustado", como admitiu o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e decidiu fazer qualquer coisa. A medida-chave foi a elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 30 pontos porcentuais que, no entanto, não prevalecerá nos casos em que forem respeitados índices de conteúdo nacional (peças e partes fabricadas no Brasil ou no Mercosul) e de investimentos em tecnologia. Na prática, os preços dos carros importados, especialmente chineses e coreanos, subirão cerca de 28%.

Além de casuística, a decisão tomada em nome dos interesses do setor produtivo nacional e da criação interna de empregos é protecionista e, em princípio, contraria as regras de comércio exterior consagradas nos tratados internacionais. Talvez porque espere reação da Organização Mundial do Comércio (OMC), o governo brasileiro se definiu pelo caráter transitório das novas disposições. Vigorarão somente até dezembro de 2012 - período curto, que parece desestimular a interposição de recursos contra a decisão do governo em Genebra, onde está a sede da OMC.

Essa transitoriedade é, ao mesmo tempo, limitadora da eficácia dessa decisão. Se o objetivo é garantir mais conteúdo nacional e mais investimentos do veículo produzido em território brasileiro, pressupõe-se que as montadoras desenquadradas (e, aparentemente, são quase uma dezena delas no Brasil) precisem de um prazo mais esticado para planejar, contratar e incorporar peças nacionais.

Se a questão de fundo fosse de concorrência desleal do produto vindo do exterior, a ação adequada seria a abertura de processos antidumping ou, simplesmente, de embargo administrativo pelas autoridades aduaneiras. E, se fosse a necessidade de criar mais empregos, então outros setores, especialmente o de serviços, deveriam merecer mais atenção.

A questão de fundo é o reconhecimento de que a indústria instalada aqui no Brasil, seja lá qual for a origem do seu capital, trabalha em condições adversas tanto de custos como de produtividade. São a excessiva carga tributária, os elevados encargos sociais e trabalhistas, os juros mais altos do mundo, a infraestrutura precária ou inexistente, o excesso de burocracia, a corrupção, a Justiça lenta... e por aí vai. E isso não vale apenas para a indústria de veículos; vale para toda a cadeia produtiva do Brasil.

Em vez de trabalhar decididamente para diminuir o custo Brasil, colocar em marcha reformas de base e ampliar o mercado externo para o setor produtivo, o governo federal optou por remendos de duvidosa eficácia que, de quebra, criam insegurança jurídica, por serem claramente contestáveis na Justiça.

Enfim, essa é a "cultura do puxadinho" estendida para a política industrial do Brasil.

CONFIRA

Curto prazo por longo prazo

Na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) voltará a definir que os juros básicos (Fed funds) permanecerão em torno de zero por cento ao ano. Até aí, nada de novo. É o nível dos juros já garantido até "meados de 2013", anúncio feito na última reunião do Fed, em 9 de agosto. O que o mercado espera de novo é alguma indicação de que o Fed colocará em marcha a chamada Operação Twist. Trata-se da troca de títulos de curto prazo da carteira do Fed por títulos de mais longo prazo. Como das outras vezes, a situação mudará pouco. Mas o mercado terá dois ou três dias de euforia.

Desova

O presidente da Apollo Global Management (firma de private equity), Leon Black, acredita que não sobrará opção aos bancos europeus senão se desfazerem de cerca de US$ 2,1 trilhões de dólares em ativos (títulos, aplicações e participações acionárias) para adequar suas necessidades de capital. É o que apontou ontem a agência de notícias Bloomberg.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Enfim, a sinceridade:: Míriam Leitão

O governo optou pelo protecionismo. No final das contas, há um mérito nisso: há mais sinceridade nesta política do que em qualquer outra que os governos Lula e Dilma tenham adotado na área econômica. Eles realmente acreditam em mercados fechados, em protecionismo, barreiras ao comércio, controle de preços. Até que enfim, a sinceridade.

Metas de inflação, Lei de Responsabilidade Fiscal, autonomia do Banco Central, agências reguladoras independentes, incentivo à competição, comércio internacional livre, câmbio flutuante, tudo isso é estrangeiro às crenças do partido do governo e dos seus mais notórios economistas. Eles sempre defenderam nos seus programas: controle do Estado, subsídio a empresas nacionais, proteção até para as empresas estrangeiras, especialmente se forem montadoras de veículos.

A elevação do IPI do carro importado em espantosos 30 pontos percentuais é apenas mais um passo. O governo está, desde a segunda administração Lula, saindo à francesa dos compromissos assumidos na Carta aos Brasileiros. Aumentou fortemente a estatização da economia, enfraqueceu as agências, manipulou o superávit primário do ano passado, ameaça a credibilidade do Banco Central e quer relativizar as metas de inflação. Fechar as portas aos carros importados por outras montadoras que não as instaladas no país é apenas uma das medidas.

A política foi formatada sob medida para as montadoras instaladas no Brasil que sempre tiveram muita influência e poder de persuasão sobre eles. De tudo do setor que entra no Brasil 75% são importados pelas próprias montadoras. E de onde vêm? Principalmente da Argentina. Dos US$10,9 bilhões importados dos argentinos de janeiro a agosto, US$2,7 bilhões foram de automóveis de passeio. De veículos de carga, outros US$890 milhões. A Argentina é a principal origem dos carros importados e eles são das próprias montadoras aqui instaladas. Fica fora da barreira porque a medida de proteção não se aplica a quem tenha 65% de conteúdo nacional "ou regional". O segundo lugar está com a Coreia, com US$1,5 bilhão. O terceiro é o México, com US$1,03 bilhão, que também é importação das montadoras, e está dentro de um regime próprio. A China que é apresentada como grande ameaça é o sexto na lista, depois de Alemanha e Japão, com apenas US$267 milhões.

Essa nova etapa da chamada política industrial pode bater com os burros n"água por falta de cálculo. Ontem já havia dúvida sobre como calcular os 65% de conteúdo nacional-regional. Da mesma forma que não deu certo o que foi anunciado no Brasil Maior, que era a redução do IPI das montadoras locais até 2016 desde que elas cumprissem conteúdo nacional e exigência de inovação.

O total dos carros comercializados no país por importadoras que não têm fábrica no Brasil aumentou recentemente, mas é menos de 7% do mercado. Não está criando risco de "destruir" a indústria nacional, cuja qual, a propósito, é toda estrangeira. O ministro Guido Mantega disse que o Brasil está sofrendo "assédio". A competição ajuda quando empurra as produtoras locais para menores preços e melhor qualidade dos carros. A competição é necessária nesse setor, que é concentrado. Normalmente, quem vende muito aqui acaba instalando fábrica. Foi assim que vieram para o Brasil as montadoras mais recentes. Com a abertura, elas venderam e ganharam mercado. Num segundo momento, abriram fábricas.

O problema com as antigas montadoras que dominam o mercado brasileiro há décadas é que elas se acostumaram com a reserva de mercado que foi muito boa para elas enquanto durou. O país derrubou as tarifas, mas não muito. Elas ainda são altas. Na época que o Brasil era só delas, eram feitos aqui apenas modelos velhos. Nunca foi hábito, em mais de 60 anos de indústria automobilística no Brasil, o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Tanto que elas estão agora recebendo incentivo para investir em P&D 0,5% do seu faturamento. É um espanto que não investissem isso há muito mais tempo.

Os fabricantes de caminhões adiaram ao máximo o cumprimento de normas ambientais que já seguem há anos em seus países. Só agora está sendo exigido no Brasil o motor com menor emissão de gases de efeito estufa.

O importante é entender a lógica dos fatos. Cada agravamento da crise externa é aproveitado como pretexto para adoção de mais uma das medidas do velho ideário dos economistas do governo. Assim jorraram subsídios para grandes empresas, concedidos através de endividamento público. O Estado se endivida para emprestar a juros mais baixos para os grandes grupos empresariais. Quando nem isso é bom o suficiente, o Estado vira sócio em aventuras cada vez mais perigosas. Tudo em nome de uma interpretação ultrapassada de nacionalismo.

Houve um momento da apresentação em que um ministro mais entusiasta dessa volta ao passado disse que será exigido que as empresas não subam os preços apesar de estar reduzindo a competição do produto importado. "Vamos controlar os preços", ameaçou. Eles realmente acreditam que isso é possível. Eles não falam por mal. Eles acreditam em políticas adotadas no passado. São uns saudosistas.

FONTE: O GLOBO

Lá Vem o Patto! :: Urbano Patto

“Um espectro ronda a Europa — o espectro do comunismo” com esta frase se abria um dos mais conhecidos textos da história política da humanidade: O Manifesto Comunista escrito por Karl Marx e Frederich Engels no longínquo ano de 1848.

Parece que agora o que os ilustres revolucionários de outrora vaticinaram nos primórdios do capitalismo está se concretizando com a China (supostamente comunista) se propondo a comprar os títulos da dívida pública da Itália e da Grécia e de outros países europeus, desde que lhe reconheçam como economia de mercado.

É muito significativo que, até o momento ninguém condicionou ou ao menos criticou, muito menos os possíveis receptores deste apoio, o sistema político dos doadores solicitando a realização de eleições livres, a implantação pluralidade partidária e a garantia de plena liberdade de imprensa, enfim, a que assumam a democracia como forma de governo.

Mais irônico ainda é que o dirigente máximo da Itália, que poderá vir a ser a porta de entrada do espectro chinês, é o tal do Berlusconi, talvez o personagem mais representativo na Europa de hoje do “Homo capitalistus” globalizado e liberal, o magnata da comunicação, o empresário voluntarioso e audacioso, o boquirroto autoglorificante, o playboy conqistador.

Irá a Europa reconhecer a China como economia de mercado? O Brasil já o fez sob o governo Lula. O sim ou o não vem ao caso agora, o que conta é o paradoxo e o non sense em pleno andamento que desnuda a confusão de valores de nossa época.

Só para lembrar o Manifesto Comunista terminava assim: Os proletários nada têm a perder senão os seus grilhões. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos!”

No mundo de hoje, por prudência, é melhor não perder ou descuidar dos grilhões, eles poderão ainda ter algum valor de troca para recomprar títulos de dívida pública de alguma democracia européia dos comunistas chineses.

Urbano Patto, Arquiteto Urbanista e Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista -PPS- do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com.

PR usa Garotinho para tentar reaver cargos

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto já identificou uma ação coordenada do PR e do deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) que tem irritado muito a presidente Dilma Rousseff. Como forma de pressionar o governo para retomar cargos federais e, com isso, voltar oficialmente à base aliada, o PR tem usado Garotinho para derrubar sessões de interesse do Planalto no Congresso.

Com o argumento de que protesta contra a demora na votação do projeto que anistia os bombeiros do Rio de Janeiro - punidos na última rebelião da categoria -, Garotinho tem trabalhado para dificultar sessões de interesse do governo, segundo interlocutores da presidente Dilma.

No Planalto, essa atitude de Garotinho já é classificada de "chantagem política". O PR foi devidamente avisado que não será dessa forma que vai se reaproximar do governo.

- O Garotinho não quer resolver a questão dos bombeiros. Na verdade ele está usando essa bandeira como desculpa para fazer chantagem política - criticou um emissário do núcleo do governo.

De acordo com relatos, em conversa telefônica com Garotinho, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, garantiu agilizar a votação da anistia aos bombeiros. Disse que o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), já tinha iniciado as negociações e lembrou que foi o PSDB que resistiu a fechar esse acordo. Mesmo assim, Garotinho não aceitou negociar.

- Queremos fazer uma reaproximação com o PR de forma tranquila, mas não dessa maneira - ressaltou um integrante do governo.

Para o Planalto, essa posição de Garotinho foi explicitada na última quinta-feira. Depois de saber que o deputado iria obstruir uma sessão do Congresso, Ideli telefonou para ele sugerindo votar no plenário da Câmara, já na próxima semana, projeto semelhante sobre a anistia aos bombeiros que já tinha sido aprovado no Senado. Mas Garotinho não aceitou a proposta e pediu verificação de quorum, o que inviabilizou a sessão.

FONTE:: O GLOBO

Ansiedade ronda o PSD

Às vésperas da semana decisiva para a sigla, Ministério Público pressiona o TSE a autorizar investigação e DEM apresenta vídeo com suposta compra de apoio em troca de cestas básicas.

Diego Abreu

A próxima semana será decisiva para o futuro do Partido Social Democrático (PSD). A expectativa da legenda idealizada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM), é que a ministra Nancy Andrighi, relatora do pedido de registro da sigla, conclua seu voto e leve o processo para análise em plenário já na quinta-feira ou, no máximo, na última semana do mês. De outro lado, o Ministério Público Eleitoral (MPE) pressiona a ministra a autorizar diligências para apurar as suspeitas sobre fraudes na coleta de assinaturas de apoio à criação do partido.

Em parecer assinado pela vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, o MPE recomenda ao TSE que indefira o registro definitivo da nova legenda, caso as supostas irregularidades apontadas no processo de criação não sejam sanadas. O advogado do PSD, Admar Gonzaga, contou ao Correio que protocolou ontem, no tribunal, uma série de documentos que, segundo ele, comprovam toda a regularidade do processo de instituição da sigla. "Eu já tenho todos os documentos que ela (Sandra Cureau) requisitou e juntei muito mais que o necessário, segundo a legislação. Agora, creio que é só levar o caso a plenário e julgar", afirmou Gonzaga.

Apesar da pressão do Ministério Público e de partidos contrários à criação do PSD, o advogado diz não ter dúvidas de que a legenda conseguirá o registro em tempo hábil de disputar as eleições municipais de 2012. A data-limite para a aprovação do estatuto do partido é 7 de outubro, um ano antes do pleito.

Denúncia

A cerca de 20 dias desse prazo, o DEM voltou a apontar sua artilharia contra o PSD. Ontem, o partido presidido pelo senador José Agripino Maia (RN) enviou ao TSE vídeos que podem comprometer as pretensões da nova agremiação. O material mostra eleitores de Tocantins afirmando que assinaram a lista de apoio à criação do partido em troca de cestas básicas.

Para o líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto (BA), o fato é "gravíssimo". "Quem assiste às imagens fica assustado. Recebemos esse vídeo e não podíamos deixar de dar conhecimento à Justiça. Depois de tantas denúncias de assinaturas falsas, duplicidade de assinaturas, mortos assinando, agora aparece a compra de apoio com cestas básicas. Exigimos que o TSE seja rigoroso", afirmou o parlamentar.

O advogado do PSD, por sua vez, ironizou os vídeos. Segundo ele, o material é uma forma do DEM de tentar "tapear" o TSE. "É uma das coisas mais fraudadas que já vi. As pessoas são conduzidas a responder. Isso é a prova cabal de aonde vai a ousadia para tentar tapear o tribunal", criticou Admar Gonzaga.

Já em relação às denúncias de falsificação de assinaturas, o advogado foi enfático ao afirmar que o PSD defende as investigações, mas não no âmbito eleitoral. "Essas denúncias de fraude nas assinaturas devem ser investigadas e os responsáveis enquadrados com o rigor da lei, porque estamos seguros de que isso não partiu do PSD. Porém, a apuração não deve ser feita nesse processo (de registro do PSD no TSE), mas no âmbito da Polícia Federal."

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Pauta contra a crise

Com a crise instaurada em diversos partidos da base aliada, os líderes partidários decidiram tentar aprovar em 45 dias um calendário de projetos considerados positivos para a Casa. Além da regulamentação da Emenda 29, que prevê o percentual mínimo de recursos para a saúde, os deputados tentarão criar a Comissão da Verdade, na quarta-feira.

O esforço deve ser concentrado especialmente na primeira quinzena de outubro, quando a pauta não estará trancada por medidas provisórias nem contaminada pela discussão do Orçamento de 2012. Estão na lista de votações para o período a PEC da Música, que prevê insenção tributária para a produção de CDs, DVDs e mídias digitais produzidos no Brasil e o projeto de reorganização do do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), afirmou que o acordo contou com o apoio da oposição. "Estamos dando continuidade ao acordo que nós firmamos de ter uma agenda positiva para o país durante estes próximos 45 dias aqui na Câmara dos Deputados", disse Maia.

A maioria dos temas tem apelo popular e pode melhorar a imagem da Casa, que ainda sofre com a visão de ser pouco produtiva", ponderou Maia. "A ideia é não ficar no embate governo e oposição e buscar matérias que tenham nuances suprapartidárias e que agradam toda a sociedade", explicou o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP).

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Cinco deputados do PMDB assinaram CPI da Corrupção

O vice-líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), minimizou o apoio dos dissidentes à investigação

Andre Jubé Vianna

BRASÍLIA - Cinco deputados do PMDB assinaram o requerimento de abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar os escândalos de corrupção no governo da presidente Dilma Rousseff. As adesões são dos deputados Nelson Bornier (RJ), Raul Henry (PE), Valdir Colatto (SC), André Zacharow (PR) e Almeida Lima (SE). As assinaturas deles aparecem no Blog da CPI da Corrupção (cpidacorrupcao.blogspot.com) criado pela oposição para estimular a sociedade civil a pressionar os parlamentares a apoiarem a investigação.

O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), não liberou a bancada para assinar o requerimento de CPI e vem trabalhando, nos bastidores, para tentar retirar as assinaturas. O vice-líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), minimizou o apoio dos dissidentes à investigação. "São apenas cinco", justificou.

Cunha disse ainda que os peemedebistas que assinaram a CPI são ligados ao PSDB. Bornier, da bancada fluminense, pediu votos para José Serra na campanha presidencial do ano passado. Segundo Cunha, a mesma explicação aplica-se a Raul Henry e Valdir Colatto. Henry será candidato à Prefeitura de Recife no ano que vem com apoio do PSDB, DEM e PPS.

O deputado Almeida Lima está de mudança para a oposição, anunciou que vai para o PPS. E Zacharow teve o nome envolvido nas investigações de desvios no Ministério do Turismo. O paranaense favoreceu com emendas, relativas ao Plano Nacional do Turismo, a Sociedade Evangélica Beneficente, entidade que ele presidiu.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Serra e Fontana discutem proposta pela web

Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula o PT em torno de uma proposta de reforma política, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) usa a internet para criticar o projeto apresentado na Câmara pelo deputado Henrique Fontana (PT-RS), que, entre outras medidas, prevê a criação de um fundo único para doações de campanha.

Em texto publicado anteontem em seu blog (www.joseserra. com.br), o tucano afirma que "um dos aspectos mais instigantes da proposta do deputado é que em vez de propor um financiamento público exclusivo – que é o que o PT diz defender, quando fala sobre o assunto – ele abre uma brecha para que empresas privadas doem ao fundo, mas conforme critérios que garantem que todo recurso privado destinado às eleições seja canalizado prioritariamente para os maiores partidos – no caso, PT e PMDB".

No projeto do deputado, 80% dos recursos depositados no fundo pelo governo e por doadores privados (empresas e pessoas físicas) seriam distribuídos aos partidos conforme os votos recebidos pelas siglas nas últimas eleições.

A discussão virtual entre Serra e Fontana – relator da Comissão Especial da Reforma Política – se estende desde o fim de agosto, quando o tucano publicou as primeiras críticas. Intitulado Reforma política: relator do PT quer trocar o ruim pelo pior, o texto acusa o anteprojeto de Fontana de ser "delirante" por "prever doações do setor privado a um fundo de campanha, sem qualquer direcionamento partidário ou a candidatos". Serra chama a proposta de "casuística" e "antidemocrática". A afirma que ela favorecerá o PT e o PMDB e é de difícil compreensão pelo eleitor.

Fontana rebateu Serra por seu site. Defendeu a proposta e acusou o tucano de "criticar sem apontar caminhos": "Não nos surpreende que a regra que veda as doações diretas dos financiadores de campanha aos partidos ou candidatos cause algum desconforto àqueles que contam com o apoio dos grandes doadores".

Na réplica de anteontem, Serra reiterou as críticas e defendeu o voto distrital misto. "Estou convicto, há muito tempo, de que o voto distrital seria o melhor remédio para os problemas do nosso sistema", afirmou. "É um modelo simples, transparente e muito menos custoso."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Personalidades apoiam movimento de combate à corrupção no governo federal

EU APOIO - Frente suprapartidária contra a corrupção

RIO - A sociedade civil começa a se mobilizar para dar apoio e respaldo a ações de combate à corrupção. Senadores de diversos partidos lançaram a Frente Suprapartidária Contra a Corrupção e a Impunidade e convocaram a população para participar. Uma empresária já organiza no Facebook um ato contra a corrupção no Rio , que começa a se espalhar pelo Brasil e foi notícia até no jornal espanhol "El País" . O GLOBO publica diariamente o depoimento de uma personalidade sobre a importância do movimento e da mobilização da sociedade.

Cacá Diegues, cineasta

"A corrupção é uma coisa que já acontece no Brasil há muitos séculos. Desde o descobrimento, na verdade, quando Pero Vaz de Caminha, na carta que enviou à Corte, pedia emprego para o genro, num exemplo claro de tráfico de influência. Depois, se formos ler as pregações do Padre Antônio Vieira, vamos ver denúncias de histórias fantásticas de corrupção. Na verdade, este problema é resultado do paternalismo do Estado. A ideia de que o Estado pertence a quem está no poder e acha que pode fazer o que bem entender com o dinheiro é fruto deste paternalismo.

Hoje, pela primeira vez eu vejo a corrupção, que sempre foi tratada como tema de oposição, se transformar numa causa nacional, independente de partidos. A corrupção agora se tornou uma causa nacional assim como foi a escravidão no final do século XIX. Deixou de ser uma queda de braço entre partidos e o governo está no centro desta discussão. Eu vejo todo este movimento anticorrupção como uma boa notícia. Não digo que vá resolver o problema da sociedade brasileira, mas o certo é que a sociedade não aguenta mais este problema. E esta mobilização é um indício de que vem coisa boa por aí. "

Eduardo Dussek, cantor

"A corrupção é a maior prova da ignorância, ela é contagiosa. É absurdo achar que roubando você está construindo uma vida maravilhosa. Enquanto isso, você mata gente no Nordeste, mata gente nas estradas... A corrupção é destruição, é guerra. Por isso é que eu acho que deveria haver uma regulamentação na profissão de político. Para você ser médico ou engenheiro, tem que ter diploma, não é? Então, por que os políticos não são exigidos em termos de saber, de técnica? Tem que acabar com essa mania de botar qualquer pessoa no poder só porque ela tem carisma. A maior parte dos políticos, eu não contrataria para nada."

Paulo Miklos, músico

"Eu fiquei bastante esperançoso com a grande manifestação do Sete de Setembro, em que quase 25 mil pessoas saíram às ruas. Só a sociedade mobilizada, só um movimento muito grande pode mudar algumas práticas, como o nosso jeitinho. As pessoas podem mudar o curso das coisas. E, agora, as datas comemorativas do país estão servindo para isso, para que o nosso país realmente mude. Vem aí também o 15 de novembro, e podem surgir outros protestos.

Mas ainda temos um longo caminho, temos que fazer muitas coisas, como uma reforma política eficiente. Estamos esbarrando sempre nas mesmas pessoas. Parece que a alternância de poder já não adianta, que não há tanta mudança. Sempre há a exigência de negociação com as mesmas pessoas, quer dizer, parece que a política fica refém das mesmas pessoas. Mas vejo com muita esperança essas manifestações, que podem começar a mudar as coisas".

Dicró, cantor e compositor

"A corrupção, do meu ponto de vista, começa lá em Brasília. Exemplo: agora, o governo está querendo voltar com o CPMF para dar mais dinheiro para a Saúde. Antes, já disseram que roubavam tudo. Vão continuar a roubar agora. Mas isso é bom para os velhinhos, que vão recuperar a audição, a visão e vão ficar atentos para que não exista nenhum problema ou desvio de dinheiro".

Marcelo Madureira, humorista

"Dou a maior força para este movimento porque a corrupção é, antes de tudo, antieconômica. Por exemplo: uma ponte que é para custar 100, custa 150, e por aí vai. O certo é que a corrupção no Brasil já foi longe demais. A corrupção é uma via de mão dupla. Não existe corrupção sem corruptor. O corrupto tem que ser mancomunado com o corruptor. O empresário, os grandes empreiteiros, desses ninguém fala. A corrupção está em contradição com a democracia, com a economia, com o bom senso e os bons costumes. Não existe ninguém que seja a favor destes corruptos.

Infelizmente, a Justiça só serve aos poderosos. Só o pobre vai preso, e as pessoas praticam estes atos de corrupção porque têm certeza da impunidade. Só existe democracia de verdade quando existe justiça de verdade. E quando você botar na cadeia tanto o corrupto quanto o corruptor, você vai lavrar um tempo importante. Em qualquer lugar do mundo tem corrupção. A diferença no Brasil é que a corrupção corre solta e não acontece nada. É uma responsabilidade nossa, do cidadão, de lutarmos contra este tipo de delito, porque este delito prejudica a sociedade como um todo. Quanto em dinheiro o país perde com a corrupção? É importante que as pessoas de bem deste país estejam juntas nesta luta, que é uma luta dura. Mas se a gente não lutar, não tem chance nenhuma de ganhar. Eu sugiro começarmos a luta invadindo a ilha de Curupu, do Sarney, para conquistarmos um pedaço do território inimigo. Vai ser uma boa briga!".

Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan

"Nós apoiamos porque a corrupção está incrustada no poder público brasileiro. E nós pagamos uma quantidade gigantesca de impostos. Ninguém aguenta mais não ter serviços proporcionais aos impostos recolhidos. Nós sabemos que grande parte dessa dificuldade que o Estado tem de prover os serviços públicos são em função da corrupção, do dreno de recursos que acontece na administração pública. Nós temos que dar um basta nisso. Nós temos que conclamar todos os brasileiros a se manifestarem a favor da moralidade pública.

Nós temos que chamar a sociedade, as instituições, os jovens para mostrar que isso que acontece não é mais possível, isso não é razoável, isso é um câncer que está matando a todos e está matando principalmente a esperança da juventude".

Marco Antonio Villa, historiador

"Eu fiquei impressionado com as manifestações organizadas no Sete de Setembro. Especialmente em Brasília, onde muitas pessoas foram às ruas. Eu sempre fico irritado quando ouço de alguns, e é pensamento corrente, que a corrupção está no DNA do brasileiro. Outro discurso de que não gosto é o seguinte: se a economia vai bem, então está tudo certo, ninguém se mobiliza. Esses discursos que não tem nada a ver e essas manifestações mostram que as pessoas estão indignadas. A grande dificuldade é encontrar um meio para que sociedade possa demostrar toda essa insatisfação. Nós somos uma sociedade invertebrada, difícil de canalizar algumas insatisfações.

O desafio, agora, é a continuidade. Como manter essas manifestações e pressionar? Aquela tese de que não estão nem aí, é tudo bobagem, lero-lero. Tenta-se até justificar a despreocupação com a carta de (Pero Vaz) Caminha, e associam também a corrupção a uma herança ibérica, mas não é assim. Pode ser que esse movimento inaugure uma nova forma de fazer política. Há um cansaço em relação às formas tradicionais. Os sindicatos e movimentos sociais, por exemplo, são todos beneficiados e atrelados ao governo".

Carlinhos de Jesus, coreógrafo

"A população tem que se organizar, sim. Tem que se juntar para dar um basta na corrupção. Na época do impeachment, a sociedade não se organizou, pintou os rostos e foi às ruas? É importante estar atento e lutar contra esse mal. Às vezes, acho que a sociedade não tem noção da força que tem. Com os impostos absurdos que pagamos, não é possível que aconteça o que acontece. Temos que entender que o dinheiro do contribuinte não pode ser usado da maneira que é. Pagamos e não há o mínimo respeito com a população. A população tem que se organizar e dar um basta. Isso é válido. O Brasil é conhecido em todo o mundo pelo esporte, pela música e pela corrupção. É desagradável. Não adianta nada o Neymar fazer gol, dançarmos e acontecer tudo que acontece com o nosso dinheiro".

Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

"O movimento tem a maior importância porque sem a mobilização popular nós não vamos ter uma modificação essencial nesse quadro a que assistimos, de ataque ao dinheiro público e de práticas fraudulentas na administração pública. A presença da ABI ao lado da OAB e da CNBB tem em vista procurar alastrar esse movimento para sensibilizar a opinião pública, que pode ter uma participação decisiva nessa questão.

É através dessa mobilização que vamos modificar essa leniência e essa contemplação com a corrupção que grassa na administração pública em todos os níveis e em todos os escalões da federação".

Mário Moscatelli, biólogo

"É um compromisso apoiar os movimentos contra a corrupção. Ano que vem tem eleição e é uma oportunidade que o eleitor tem de fazer uma faxina em nível municipal. Do jeito que está, não dá mais. Se o mau gerenciamento do dinheiro público, a corrupção e a impunidade não forem resolvidos, esse país vai afundar. Os políticos têm que sentir medo da população. O mesmo medo que a gente sente quando vai ser atendido em um hospital público e quando vai andar de ônibus à noite. Com a união do povo, esses caras vão perceber que as coisas podem mudar. A sociedade vai começar a pressionar, e o instinto de sobrevivência deles vai falar mais alto. Assim, vão ter que parar de roubar".

Alexandre Coutinho Pagliarini, Professor de Relações Internacionais e especialista do Instituto Millenium

"Eu apoio totalmente os movimentos sociais, na rede, nas ruas, e rejeito qualquer forma de censura à mídia. Eu atribuo a corrupção a quatro fatores: ausência de disciplinas sobre democracia, Direitos Humanos e fundamentos do Direito no ensino básico e fundamental; falta de investimento do governo em todos os níveis de ensino, o que originou uma opinião pública inconsciente de seus direitos e deveres, e falta de democracia durante longos períodos. Se você olhar para os 500 anos de história do Brasil, há períodos ínfimos democráticos. Mas, não acredito que Dilma esteja fazendo uma faxina. Tudo o que está ocorrendo é por força da mídia".

Gustavo Borges, ex-nadador e medalhista olímpico

"Não há como vermos a corrupção no nosso país e não sentirmos indignação. Seria uma falta de ética da nossa parte não se indignar. Vivemos em um país com um potencial gigantesco e temos os nossos valores, como respeito e confiança, abalados. Temos que viver aquilo que acreditamos. É o 'faça fora de casa o que você faz dentro'. Acredito, sim, que todas essas mobilizações podem trazer mudanças, desde que a população se envolva. Se isso acontecer, a gente consegue mudar as coisas".

Carlos Lessa, economista

"Toda e qualquer mobilização da sociedade é bem vinda, terá êxito se traduzir uma percepção latente no corpo social. No Brasil, a corrupção é histórica e faz parte da realidade corrente, reflete uma democratização insuficiente e uma cidadania com pouca musculatura.

Mudam os tempos e os termos, mas a corrupção foi 'naturalizada'. A sonegação de impostos, a propina para apagar a multa de trânsito, a obtenção de um falso atestado médico para justificar falta ao trabalho ou à sala de aula, etc. são manifestações consideradas"naturais" e justificáveis pelo brasileiro comum. É positivo denunciar a macrocorrupção, desde que haja combate ao corrompido e ao corruptor. Há uma complacência com a microcorrupção, que deveria ser combatida ao nível de escola primária.

É preciso separar o joio do trigo. A Fiesp acha que o problema brasileiro é "excesso" de carga tributária e poderio burocrático. Isso tem grãos de verdade, mas não anulam a cultura antidemocrática e pouco praticante de cidadania. As decisões das agências reguladoras não são transparentes, nem explicitadas. Em muitos aspectos os temas regulados pelas agências são hoje áreas de desrespeito sistêmico aos "direitos" do cidadão. Talvez a Fiesp pense o Estado soberano como uma agência neoliberal de governança".

Nalbert Bitencourt, ex-jogador de vôlei e comentarista

"Esses movimentos de combate à corrupção estão crescendo, são muito importantes e têm o meu apoio. Antes, as pessoas só reclamavam e não tomavam atitude. Essa vigilância da sociedade ajuda a pressionar os corruptos. A Dilma entrou forte nessa guerra. Mas a gente sabe que não é fácil. Nós temos que lutar para que a impunidade, que é o grande problema, deixe de existir. Os políticos corruptos se sentem muito à vontade pelo fato de não acontecer nada, não serem punidos. Essa absolvição da Jaqueline Roriz, por exemplo, foi um absurdo, algo inacreditável".

Mauricio de Sousa, desenhista

"O movimento popular sempre vai dar em algum resultado, mesmo que seja pequeno, vai dar. Aos poucos, essas mobilizações vão se transformando em uma bola de neve. Eu não gosto muito do termo 'faxina' porque envolve motivações políticas. A gente não sabe muito bem o que está por trás disso. Eu prefiro o termo 'movimentos popular', que acontece a partir da conscientização que está se espalhando no nosso país, graças ao trabalho da imprensa, que, espero, não tenha nenhum tipo de bloqueio. O que importa, na verdade, é a nossa faxina, conduzida pelo povo, pelos agentes sociais. Nessa, sim, eu acredito".

Luiz Alfredo Garcia-Roza, escritor

"Eu sou favorável a qualquer campanha contra a corrupção. Acredito que elas podem, sim, trazer efeitos para o nosso país. Espero, sinceramente, que essas mobilizações, esses atos que estão sendo organizados pela sociedade, tanto na internet quanto nas ruas, tragam mudanças concretas. É uma oportunidade até para elas pegarem carona em mobilizações que estão acontecendo atualmente em outros países".

Sérgio Besserman, economista

"Corrupção não é só crime e desperdício de recursos públicos. Ela degrada os negócios, as instituições e é um obstáculo à democracia brasileira. Eu acredito em dois caminhos transformadores para reduzir a corrupção: transparência - que significa cada um dos três poderes disponibilizarem todas as informações para os cidadãos -, liberdade de imprensa; e participação popular fazendo força política em busca da ética.

Os primeiros meses do governo Dilma demostraram que existe uma força majoritária na sociedade brasileira que quer a mudança do padrão de direção política no país. Eu apoio a aglutinação de todas as forças políticas que querem transformar o modo pelo qual o poder público é exercido no país".

Nelson Motta, produtor musical, jornalista, compositor e escritor

"Essa faxina da Dilma foi pontual e quem levantou isso foi a imprensa. Mas, a sociedade está começando a reagir. Temos no momento um ambiente favorável a essa reação. A opinião pública é quem de fato está derrubando ministros, pressionando, conquistando aquilo que antes parecia inatingível, como a Lei da Ficha Limpa. Um dos temas favoritos da minha coluna é a corrupção, que corrói a sociedade e os agentes públicos. A corrupção tem muitas faces, uma delas é essa dos políticos roubarem para os seus partidos. Desviar dinheiro público para o partido é roubar duas vezes. É pior do que roubar para si, porque corrompe o processo eleitoral".

Fábio Konder Comparato, jurista e professor emérito da Faculdade de Direito da USP

"A corrupção dos agentes públicos é um mal endêmico no Brasil e existe desde o início da colonização, abrangendo indistintamente todos os órgãos do Estado. Charles Darwin, quando passou pelo nosso país, observou: "Não importa o tamanho das acusações que possam existir contra um homem de posses, é seguro que em pouco tempo ele estará livre. Todos aqui podem ser subornados."

Trata-se, na verdade, de uma prática entranhada na mentalidade coletiva e que permeia os costumes ou modos de comportamento de todas as classes sociais. Sou, no entanto, bastante idoso para perceber que a situação começa a mudar. Hoje, ao contrário do que parece, a corrupção não aumentou em relação ao passado. O que aumentou é o número de pessoas que manifestam indiferença ou complacência para com ela.

Entendo que a atual presidente da República tem seguido, com coragem e determinação, no rumo certo: a intransigência com qualquer prática de corrupção no Poder Executivo, mesmo quando contamina ministros de Estado.

Não basta, porém, apoiar a presidente, como os meios de comunicação de massa, acertadamente, vem fazendo. Como a mentalidade coletiva não muda rapidamente, é indispensável montar uma política pública de longo prazo para combater a corrupção, comportando instituições adequadas e uma ampla campanha de educação cívica.

Dentre as instituições adequadas para lutar contra a corrupção, entendo que devemos criar instrumentos novos de atuação popular, como ouvidorias do povo, em todas as unidades da federação, e a instituição de ações populares, ou seja, ações judiciais propostas por qualquer cidadão em nome do povo".

Zeca Borges, superintendente do Disque-Denúncia

"Hoje a sociedade tem instrumentos não só para se mobilizar, como para interagir. Não basta conscientizar a população, é preciso viabilizar instrumentos para ações, e o cidadão precisa usá-los, deixando de ser mero espectador. O efetivo combate à corrupção, tanto na área privada como no setor público, se dá pelo processo dos envolvidos. Não bastam exonerações. O importante é registrar e abrir inquéritos. Não se trata de vingança, é uma questão de pragmatismo.

As mídias sociais são válidas nessa luta. O disque-denúncia tem mais de 55 mil seguidores no Twitter, através do qual informamos aos cidadãos sobre locais de risco de assaltos, mapas de cracolândia... e os seguidores, por sua vez, interagem, enviando fotos, vídeos, informações, denunciando. Eu apoio a atuação da Dilma, ela está no caminho certo de não tolerar essas ações corruptas. A presidente está atraindo uma confiança muito grande, que acaba dando mais desenvoltura para outros agentes sociais nessa luta".

Tia Surica, integrante da Velha Guarda da Portela

"Eu apoio essa faxina que a Dilma está fazendo, que está mais do que certa. O país não aguenta mais tanta corrupção. A tendência dessa mobilização da sociedade é dar certo porque estamos todos cansados de tanta corrupção. Se todos entrarem de cabeça nessas manifestações que estão sendo organizadas, os efeitos vão surgir".

Renato Sorriso, gari passista

"Toda corrupção que acontece no Brasil e no mundo é por falta de educação familiar. Os corruptos são pessoas ambiciosas, que só pensam nelas mesmas, não pensam em dividir, só querem tirar proveito. Quem tem isso dentro de si não consegue enxergar um horizonte de honestidade. Vejo o movimento das pessoas que agora se unem para combater a corrupção como uma ação muito positiva. A população tem, sim, que ir para as ruas contra as pessoas desonestas e contra a política suja. Tem que lutar para garantir seus direitos sociais: educação, saúde, emprego. A Dilma está certíssima em fazer essa faxina, só que ela já era pra ter sido feita há muito tempo, antes de isso tudo acontecer. A limpeza tem que ser feita. É como dentro de casa. Se não limpar, a sujeira acumula".

Marcelo Adnet, apresentador e humorista

"A corrupção é o que o Brasil tem de pior. É um crime, mais do que um roubo, é um desfalque. Você, cidadão, parte do princípio que está sendo roubado. Você paga imposto, trabalha e vê que está sendo enganado. A corrupção é uma falha entre o Estado e o cidadão. A gente aprende desde cedo que o 'jeitinho' é a saída pra tudo. Desde pequenos, nos ensinam que o Estado é o nosso inimigo, que nos rouba. E acham que a forma de lutar contra isso é apenas burlando. Eu sou 100% favorável a essa faxina no governo. E isso de termos uma mulher no comando é muito legal porque a mulher é menos tolerante com esse conceito do 'jeitinho'. A Dilma é uma mulher forte, séria, independente, a gente está vendo que ela não é a sombra do Lula. Ela priorizou a faxina em vez da manutenção da base. Mas, claro, ela não governa sozinha.

O Brasil está avançando, as coisas estão melhorando, mas não podemos esquecer que quem é muito pobre, continua muito pobre. O país não é só a classe média. Não acho que a juventude esteja mais mobilizada. Ela está mais virtualizada. Por estarmos muito nesse mundo virtual, vemos nele um meio de levantar movimentos. Isso é muito positivo, mas a internet foi quem mudou muita coisa, falta a gente mudar. Então, essa mobilização é muito boa, mas ainda é muito pouco. O brasileiro ainda é muito passivo, debate pouco, não tem o hábito de criticar, questionar".

Rodrigo Baggio, presidente e fundador do Comitê para Democratização da Informática

"Dou força e apoio total à presidente Dilma, para que ela amplie essa faxina. Cada brasileiro tem que se manifestar. A gente tem que dar o basta através desses atos que estão sendo organizados e utilizar as mídias sociais para mobilizar o Brasil. O sonho do brasileiro é acabar com a corrupção. Mas a ética tem que partir de cada um. Tem uma frase do Gandhi que diz 'seja você a transformação que você quer ver no mundo'. A educação pelo exemplo é o que vai mudar o país. É o avô dando exemplo para o neto, o pai dando exemplo para o filho. E todos precisam usar as mídias, ir aos eventos, criar e reproduzir no Brasil, de forma organizada e sem violência, o fenômeno de mobilização em rede que aconteceu em outros países, como Chile, Espanha... Eu estarei no ato na Cinelândia, em setembro, e em outros que forem criados".

Cláudio Assis, cineasta

"A corrupção no Brasil é uma questão cultural, que vem desde os tempos do Império, não dos nossos índios, mas de quem nos colonizou. Infelizmente, ela é uma coisa que não acaba nunca. Sempre vai ter isso. É claro que é sempre muito bom que surja um movimento contra isso. Eu apoio qualquer movimento contra a corrupção e é bom que ele cresça, que as pessoas se mobilizem, porque a sociedade tem sido muito passiva em relação a essas práticas que parecem que estão na genética do brasileiro. Infelizmente. O pior é que se fala em faxina ética, se faz limpeza, mas uns corruptos se vão e outros chegam."

Marly da Silva Motta, historiadora e pesquisadora do CPDoc da FGV

"Movimento de combate à corrupção não é inédito no Brasil. No segundo governo Vargas existiu uma frente contra o roubo e a corrupção. Mas o debate político, nessa época, tinha um componente ideológico forte, diferente de hoje. Essa questão cresce porque tem apelo popular. E a sociedade tem que apoiar a "faxina", mas o Brasil não tem tradição de ir às ruas pedir punição para corruptores. Claro que pode ser a primeira vez.

Agora, o que tem diferente hoje é que antes esses movimentos ocorriam durante graves crises políticas (por ex, no governo Vargas, com JK e até na época do Collor) e agora não são para derrubar a Dilma. Então, os movimentos podem estabelecer novos padrões. A corrupção não está sendo vista como arma para derrubar presidente. Agora, instituições como AGU e CGU podem se mobilizar e aí a corrupção será tratada no lugar certo. Esse combate deve passar pelas instituições que o Estado possui. Mas espero que tudo não seja só panaceia, e sim um processo duradouro.

Sobre a Dilma, ninguém duvida que ela possa tomar a iniciativa (pra continuar com o movimento), o eleitorado já esperava uma atitude mais durona. Ela faz acreditar que o processo pode avançar."

Roberto DaMatta, antropólogo

"Um dos problemas de se acreditar no brasileiro é que aqui se governa com os amigos. Como você separa projetos que interessam à população de outros projetos que são muito mais de interesse de grupos, lobistas, pessoas incrustadas nos ministérios? Esse é o grande problema. O que o Senado está fazendo é muito bom. Representa um pouco da indignação diante do fato de que o Brasil melhora, mas não consegue mudar em relação às falcatruas. Entra governo de direita, sai governo de direta, entra governo de centro, sai governo de centro, entra Lula, sai Lula, entra Dilma e continua tudo a mesma coisa. E a coisa vai ficando cada vez pior. E os tribunais? As pessoas falaram que houve abuso no uso de algemas nos presos (na Operação Voucher, da Polícia Federal). Sim, e aí? Essas pessoas são criminosas ou não? Vão ser julgadas ou não?"

FONTE: O GLOBO