sábado, 16 de julho de 2011

Opinião – Roberto Freire: a esquerda e a corrupção

Tão importante quanto o desmonte da "sofisticada quadrilha" que, a partir da Casa Civil, então sob o comando de José Dirceu, elaborou e executou "um plano criminoso voltado para a compra de votos dentro do Congresso Nacional" foi a revelação do modus operandi dos governos do PT, desde as prefeituras, passando por governos estaduais, até a conquista da presidência da República. A prática impressionou o procurador-geral, para quem o mensalão do governo Lula foi "a mais grave agressão aos valores democráticos que se possa conceber". Gurgel se referia à distribuição de dinheiro em troca de apoio político ao governo na era lulista.

A esquerda brasileira teve seus problemas. Havia aqueles que acreditavam no socialismo real, capitaneado pela então União Soviética; os que só se guiavam pelo socialismo albanês, os que se baseavam em modelos os mais diversos. Eram visões diferentes no campo ideológico. Com o PT no governo, a esquerda foi levada a um terreno no qual jamais havia pisado aqui no Brasil, que é o da corrupção.

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS. Libelo indelével. Brasil Econômico,15/7/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

Dilma afasta outro diretor do Dnit e fará faxina ampla
Lula nas asas de dirigente do PR
Migrantes voltam para casa
O primeiro teste para Olimpíadas do Rio
Obras de 2016 nas mãos da Justiça

FOLHA DE S, PAULO

Novas suspeitas derrubam mais 2 dos TransportesO ESTADO DE S. PAULO
Governo decide assumir riscos no trem-bala
Cadeias paulistas recebem 37 novos presos por dia
Juiz aceita denúncia contra TAM e Anac por acidente
Desvio de R$ 150 mi pagou até silicone no Piauí, diz PF

ESTADO DE MINAS

Minas lança pacote para áreas pobres
Bafômetro pela metade
Substituto no Dnit também perde o cargo
Mineiro volta para casa

CORREIO BRAZILIENSE

Só falta Pagot
Entorno sem lei
Comprar carne no açougue sai até 77% mais barato

ZERO HORA (RS)

Imigrantes gaúchos são os que mais voltam à terra natal
Dilma ordena limpa nos Transportes
Loteamento de cargos para o TCE gera polêmica

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Justiça proíbe cobrança de taxa da Marinha
Substituto de Pagot no Dnit também é afastado

Dilma afasta outro diretor do Dnit e fará faxina ampla

Substituto de Pagot perde o cargo por denúncias envolvendo sua mulher

Uma nova denúncia provocou a queda de mais um indicado do PR no Ministério dos Transportes e levou a presidente Dilma a determinar uma mudança geral nos cargos da pasta e de estatais ligadas a ela. Ontem, foi afastado temporariamente José Henrique Sadok de Sá dos cargos de diretor-executivo e diretor-geral interino, após a acusação de que a construtora da mulher dele tinha contratos de R$ 18 milhões com o Dnit. A faxina que a presidente Dilma vai fazer no ministério - e que incluirá também a Valec, que cuida de ferrovias - será gradual, para evitar o agravamento da crise. O diretor-geral afastado do Dnit, Luiz Antônio Pagot, não vai ficar no cargo quando voltar das férias.

"Faxina" será ampla, mas gradual

Substituto de Pagot, outro diretor do Dnit é afastado e leva Dilma a planejar mudança geral

Gerson Camarotti, Regina Alvarez e Maria Lima

A presidente Dilma Rousseff decidiu fazer mudança total nos cargos de diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o Dnit. Ontem, ela determinou o afastamento temporário de José Henrique Sadok de Sá dos cargos de diretor-executivo e diretor-geral interino, após novas denúncias contra o órgão. Agora, já são três os cargos de diretoria vagos no Dnit, sendo que dois dos principais dirigentes foram afastados no rastro das denúncias de corrupção. Para não paralisar o órgão e evitar nova crise, as mudanças serão graduais e ocorrerão durante todo o segundo semestre.

Dilma também decidiu mudar o comando da Valec (estatal que cuida de ferrovias), que já teve seu presidente afastado. Ontem, ela se reuniu duas vezes com o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, para discutir a crise no setor e tentar resolver o impasse no Dnit. A expectativa era que seria anunciado ainda ontem o novo diretor interino do órgão, mas a decisão foi adiada.

O início das mudanças foi precipitado pela notícia de que a construtora Araújo, da mulher de Sadok, Ana Paula Batista Araújo, realizou, entre 2006 e 2011, contratos de R$18 milhões para obras em rodovias do Dnit, principalmente em Roraima, terra do diretor, segundo "O Estado de S. Paulo".

- Diante desses fatos, não tinha outra atitude a tomar - disse Passos, determinando investigação interna.

Sadok: licitações foram "legítimas"

Sadok acumulava os dois principais cargos de comando do Dnit no lugar de Luiz Antonio Pagot, de férias após Dilma ter determinado seu afastamento. Procurado, Sadok não atendeu ontem os pedidos de entrevista, mas já dissera que não tem influência nos contratos fechados pela empresa da mulher e que a construtora participa "de licitações legítimas" do governo de Roraima.

Já sob a mira de setores da oposição, que argumentam que ele esteve à frente das decisões dos Transportes nos últimos anos, Passos disse que Dilma o escolheu para fazer mudanças:

- Ela está confiante de que eu possa promover modificações substanciais de gestão e fazer o programa de investimentos, o PAC, ser tocado de forma competente e ritmo vigoroso. E conduzir o ministério nos melhores padrões de ética e moralidade. Significa rever práticas administrativas, trocar pessoas onde necessário e aprimorar o planejamento setorial.

Desde o início da semana, Dilma já se decidira a trocar todos os cargos do Dnit e encarregou o novo ministro das mudanças. Passos foi nomeado após a situação do ex-ministro Alfredo Nascimento ficar insustentável.

- A ordem da presidente em relação ao Dnit e à Valec é muito clara. Ela quer sanear esses órgãos. Não vai ter contemplação. Se necessário, não vai ficar pedra sobre pedra - disse um interlocutor com acesso a Dilma.

Dilma avalia que seria incoerente substituir só Pagot, já que as decisões do órgão são colegiadas, e já há consenso também pela saída do diretor de Infraestrutura Rodoviária, Hideraldo Caron, filiado ao PT gaúcho.

- Não dá para manter o Caron e tirar o Pagot. As decisões são colegiadas. Depois do que o próprio Pagot falou no Congresso, o futuro dos dois está associado. Se o Caron ficar, pode ter nova crise - disse esse auxiliar.

Pagot deve sair na volta das férias, dando tempo a Dilma para escolher o substituto, que precisa ser sabatinado pelo Senado. Mas Dilma pode ter dificuldade na Casa, sobretudo com o PR. Em conversas com parlamentares ontem, o senador Blairo Maggi (PR-MT) mostrou-se irritado com as afirmações de que Dilma exonerará Pagot, seu afilhado político. Blairo tem ameaçado se declarar independente do governo. O ex-líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), mostrou a preocupação:

- Isso está parecendo um dominó colocado enfileirado.

Questionada sobre a mudança total no Dnit, Ideli Salvatti (Relações Institucionais) foi cautelosa:

- É um processo lento. Não dá para substituir toda a diretoria de uma vez, senão o Dnit não pode deliberar, fica paralisado. Não é mudança fácil.

FONTE: O GLOBO

Lula nas asas de dirigente do PR

Enquanto a presidente Dilma enfrenta o PR por causa dos escândalos nos Transportes, o ex-presidente Lula voou de Goiânia - onde participou do congresso da UNE - para SP num jato do presidente do PR em Goiás, Sandro Mabel.

Lula pega carona em avião de dirigente do PR

Em meio às agruras que Dilma vive com partido aliado, ex-presidente viaja em jato do deputado Sandro Mabel

Demétrio Weber

GOIÂNIA. Enquanto a presidente Dilma Rousseff enfrenta problemas com o PR, partido apontado como centro de um esquema de corrupção no Ministério dos Transportes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pegou carona no início da noite de anteontem, de Goiânia para São Paulo, num avião King Air do deputado federal Sandro Mabel, presidente do PR em Goiás.

Lula foi à capital goiana participar do congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), e depois visitou Aparecida de Goiânia. Nessa cidade, viu casas populares do programa Minha Casa, Minha Vida - em conjunto que será batizado com o seu nome - e encontrou-se com Mabel. O petista chegou a fazer um brincadeira, afirmando que iria também à fábrica do parlamentar, dono da empresa Biscoitos Mabel.

- Vou dar uma passada lá e comer um biscoito - disse Lula.

O ex-presidente foi para Goiânia num voo comercial e retornaria para São Paulo também em avião de carreira. A assessoria de Lula confirmou ontem a carona e informou que o petista estava atrasado e receoso de perder o horário do avião, marcado para o fim da tarde de quinta-feira. Mabel, então, ofereceu seu avião.

Na comitiva de Lula, além de um assessor de imprensa e de alguns seguranças, estava também Luiz Dulci, ex-ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência na sua gestão. Dulci trabalha com o ex-presidente no Instituto Cidadania, que será batizado de Instituto Lula.

Antes de comentar que gostaria de comer biscoitos da fábrica de Mabel, Lula, no seu discurso, esqueceu de citar o nome do parlamentar do PR entre as autoridades presentes. Mabel notou que seu nome ficou de fora e levantou o braço. Lula, então, fez a menção. No seu Twitter, Mabel registrou o encontro com Lula: "Acabo de chegar na prefeitura de Aparecida de Goiânia juntamente com nosso querido ex-presidente Lula".

Mabel teve seu nome envolvido no mensalão. Ele foi acusado pela ex-deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) de lhe oferecer R$1 milhão e mais R$30 mil por mês para trocar seu partido pelo PL, legenda que Mabel integrava à época e que virou o PR. Por unanimidade, Mabel foi absolvido pelo Conselho de Ética.

FONTE: O GLOBO

Charge: Dilma e os desvios

FONTE:Aroeira/O Dia

Nas capitais, PT e PMDB vão mal

Aliança que levou Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto no ano passado passa por turbulências na defiinição das chapas para a disputa pelas prefeituras. Em algumas cidades, há acordo. Em outras, divisão

Tiago Pariz e Alana Rizzo

O PT e o PMDB estão construindo estratégias diferentes para as eleições municipais do ano que vem. Enquanto os peemedebistas querem usar a corrida para peitar o partido aliado, os petistas estão dispostos a fazer algumas concessões a fim de repetir a aliança que levou à vitória da presidente Dilma Rousseff em 2010. Mas o cenário, até agora, é mais de problemas e desunião do que de acertos. Nos maiores eleitorados país, apenas no Rio de Janeiro a conversa é mais fluida, com tendência ao acerto (veja quadro).

O presidente do PMDB, Valdir Raupp, trabalha com a ideia de lançar candidaturas próprias em pelo menos 24 das 26 capitais — com exceção de Brasília, onde não há prefeitura —, dependendo do cenário ainda nebuloso em Goiânia e em Porto Alegre.

A ordem do PT, no entanto, é ter uma aliança preferencial com os peemedebistas. A exceção é a principal cidade do país.

Em São Paulo, o PMDB pretende lançar o deputado Gabriel Chalita como candidato e aposta que, depois de quase 20 anos, volta a ter um nome competitivo na corrida pela prefeitura paulistana. Donos do maior tempo de televisão, os peemedebistas se consolidaram nos últimos pleitos como apoiadores, e não como cabeças de chapa.

Os petistas já iniciaram as discussões para escolher quem disputará a corrida eleitoral. No próximo mês, haverá sabatina dos pré-candidatos. Hoje, são seis: os deputados Ricardo Berzoini, Jilmar Tatto, Arlindo Chinaglia e Carlos Zaratini, a senadora Marta Suplicy e o ministro da Educação, Fernando Haddad. Os dois últimos aparecem na dianteira.

Marta é o nome com maior percentual nas pesquisas internas do partido, mas ela não tem o apoio do principal cabo eleitoral do PT. "O companheiro Haddad é o mais adequado e está na disputa interna", afirmou ontem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em campanha aberta pelo ministro. O cenário em São Paulo, no entanto, ainda é incerto enquanto não se souber quem é o candidato do PSDB. Os petistas avaliam que o ex-governador José Serra (PSDB) será empurrado para a disputa municipal por ser a única maneira de ele se manter no cenário político.

Em Curitiba e em Salvador, os dois partidos também devem se manter em desacordo. O ex-deputado Gustavo Fruet, que deixou os tucanos e está de malas prontas para o PDT, pode receber o apoio do PT para fazer frente ao PMDB de Roberto Requião e ao PSDB, do governador Beto Richa.

Na capital do Rio Grande do Sul, há uma pequena hipótese de PT e PMDB estarem juntos: caso ambos decidam apoiar Manuela D"Ávila (PCdoB).

Mas os petistas podem lançar candidato próprio e também apoiar o atual prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT). Os peemedebistas ainda avaliam lançar o ex-deputado da sigla Ibsen Pinheiro.

No Rio de Janeiro, o quadro é de união. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) é o candidato à reeleição e o PT aceita apoiá-lo desde que seja parceiro da chapa com a vice. Mas alguns petistas insuflam o senador Lindbergh Farias a se lançar na eleição para ganhar mais cacife as fim de disputar o governo do estado em 2014.

A avaliação é que, se o PT apoiar Paes, perderá a chance de entrar na corrida estadual com chances, por ser grande a possibilidade de Eduardo Paes ser o candidato à sucessão do governador Sérgio Cabral (PMDB).

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Oposição vai mirar no novo ministro e sustentar que Pagot mentiu ao depor

PSDB pedirá novas investigações ao MPF sobre denúncias contra Sadok

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Com mais um diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) sob suspeita e afastado, a oposição decidiu mirar a artilharia no novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Para o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), as novas denúncias complicam a situação do ministro, além de comprovarem que Luiz Antonio Pagot, diretor-geral do Dnit em férias, mentiu em seus depoimentos no Senado e na Câmara, agravando a crise.

Preocupados com a situação, alguns governistas defendem reformulação total do Dnit e substituição de toda a diretoria, para evitar novos problemas para a presidente Dilma Rousseff.

Mesmo com o Congresso esvaziado, a liderança do PSDB pedirá novas investigações ao Ministério Público Federal, semana que vem, sobre duas denúncias publicadas ontem contra o Dnit: o suposto favorecimento, com contratos para obras em rodovias, da Construtora Araújo Ltda., de propriedade da mulher de José Henrique Sadok de Sá, afastado dos cargos de diretor executivo e diretor-geral interino do Dnit em meio às suspeitas; e para apurar a verdadeira função de Frederico Augusto de Oliveira Dias, identificado por Pagot como um simples "boy" ou "estafeta" do órgão, mas que foi indicado por Valdemar Costa Neto para o cargo de assessor de confiança do diretor-geral do Dnit.

- As denúncias são mais indícios da existência de engenhoso esquema de desvio de recursos nos Transportes que parece não ter fim. A cada dia a situação fica mais grave. O Dnit é a caixa-preta da operação. Fica cada vez mais difícil crer que o atual ministro, até dias atrás secretário?executivo do ministério, não tinha conhecimento do que havia - disse Duarte Nogueira.

O PSDB planeja sugerir à Comissão Representativa do Congresso, de plantão no recesso, que convide Frederico Dias a prestar esclarecimentos sobre a reportagem publicada ontem pelo jornal "Folha de S.Paulo" que mostra que, na prática, ele atuava como assessor da diretoria geral em reuniões, apesar de nunca ter sido nomeado pelo governo e de não ser concursado.

O PPS também pretende solicitar informações dos Transportes sobre as denúncias contra a Construtora Araújo Ltda.

O partido entrará, na terça-feira, com uma Proposta de Fiscalização e Controle (PFC) - documento que pede ao Tribunal de Contas da União para realizar auditoria - em todos os convênios firmados pelo Dnit no período em que Sadok era diretor de Obras em Roraima.

Entre os governistas a perplexidade com a onda de irregularidade no Dnit não é menor.

- Sem entrar no mérito das denúncias ou querer antecipar a culpa de qualquer pessoa, acredito que essa seja uma boa oportunidade para se rever a estrutura do Dnit e promover reformulação total no órgão, revendo tamanho e limitando seus poderes de ação - defendeu o senador Walter Pinheiro (PT-BA).

Para o deputado Luciano de Castro (PR-RR), o governo acertou ao determinar o afastamento de Sadok para apuração das denúncias, mas também não crê que a crise nos Transportes será debelada sem o afastamento dos demais diretores do Dnit.

- Pelo andar da carruagem, parece que todos serão afastados. Estão dizendo que vem mais coisa por ai. A dúvida, por enquanto, é saber quem será a próxima vítima - observou.

Procurados, Sadok e Pagot não responderam.

FONTE: O GLOBO

Oposição pede que haja investigação profunda

Para líderes da oposição no Congresso, o afastamento de mais dois integrantes do Ministério dos Transportes reforça a necessidade de uma investigação profunda" na pasta.

Os deputados prometeram se mobilizar mesmo durante o recesso parlamentar para ouvir os envolvidos no caso. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), vai protocolar requerimento convidando Frederico Augusto de Oliveira a dar esclarecimentos na Comissão Representativa do Congresso.

Já o PPS quer ouvir o diretor-executivo do Dnit, José Henrique Sadok de Sá, e sua mulher. O deputado Moreira Mendes (RO) também defendeu uma CPI para apurar as denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes. No Senado, Alvaro Dias (PSDB-PR) diz que até agora já coletou 23 assinaturas para o pedido de abertura de uma CPI do Dnit. Ele espera chegar às 27 assinaturas necessárias em agosto.

Já o vice-presidente Michel Temer disse considerar naturais os problemas da presidente Dilma Rousseff com os aliados:

– No Brasil, esses pequenos acidentes de natureza política são mais ou menos normais. Não devem nos pressionar. Até porque eles passam muito rapidamente e são superados muito rapidamente.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Obsessão:: Merval Pereira

Como se sabe, temos no Brasil dois grandes especialistas em imprensa: o ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu. Os dois dedicam-se, desde os primeiros meses do primeiro mandato do petista na Presidência da República, a tentar aprovar legislações que controlem a informação, uma tendência que vem se alastrando por toda a América Latina.

O movimento de contenção da liberdade de imprensa está presente em diversos países, como Venezuela, Argentina, Bolívia e Equador, onde TVs, rádios e jornais vão sendo fechados sob os mais variados pretextos, e muitos outros são ameaçados com diversas formas de pressão, seja financeira, seja por meio de medidas judiciais.

No início do governo, tivemos que lutar contra a criação de várias agências oficiais. A Agência Nacional de Cinema e Audiovisual daria poderes para o governo interferir na programação da televisão e direcionar o financiamento de filmes e de toda a produção cultural para temas que estivessem em sintonia com as metas sociais do governo.

O Conselho Nacional de Jornalismo teria a finalidade de controlar o exercício da profissão e poderes para punir, até mesmo com a cassação do registro profissional, os jornalistas que infringissem normas de conduta que seriam definidas pelo próprio conselho.

Os mesmos grupos políticos continuam empenhados em aprovar novos tipos de cerceamento à liberdade de imprensa no país, sob o pretexto de exercer um "controle social" sobre os meios de comunicação, sendo que o Partido dos Trabalhadores decidiu que uma das prioridades é o que chamam, paradoxalmente, de "democratização da comunicação".

A presidente Dilma, ao assumir o governo, relegou a um plano secundário um projeto que objetivava controlar a informação, sob o pretexto de regulamentação dos novos meios eletrônicos.

Nossos dois "especialistas" voltaram às suas obsessões nos últimos dias. Lula motivado pelas críticas ao apoio oficial ao Congresso da UNE, onde foi o grande homenageado. E José Dirceu incentivado pelo escândalo na imprensa inglesa que provocou o fechamento do jornal "News of the World", além da demissão de vários dirigentes do conglomerado de informações do magnata Rupert Murdoch, uma espécie de "cidadão Kane" pós-moderno.

Insistindo nos seus equívocos, Lula tentou pela enésima vez menosprezar o peso dos jornais tradicionais que chamaram a reunião da UNE de chapa-branca. E declarou-se "invocado" por considerar que a imprensa não larga do seu pé.

A pretexto de consolar o presidente da UNE, Augusto Chagas, o ex-presidente garantiu a ele que os grandes jornais do Rio e de São Paulo não têm alcance nacional e não chegariam, segundo o ex-presidente, à Baixada Fluminense ou ao ABC paulista. "Eles não perceberam que as coisas estão mudando no Brasil. O povo não quer mais intermediário entre eles e a informação. O povo está se informando de muitas formas. Muitas formas. E não apenas naqueles (meios) que habitualmente achavam que formavam", argumentou o ex-presidente, revelando sua peculiar postura ética, além de ignorância em relação à circulação das informações nas novas mídias.

Se a notícia não chega a todo o país, e muito menos ao interior, então não é preciso se preocupar, ensina Lula. O fato em si não tem a menor importância, desde que a grande massa de cidadãos permaneça na ignorância deles. Esquece-se o presidente que, da mesma maneira que a internet e as novas mídias sociais permitem que as informações circulem mais largamente, com versões de várias fontes, elas também levam as reportagens da grande imprensa aos recantos mais longínquos do país.

Estudo recente demonstra que as reportagens da grande imprensa são replicadas no Facebook, no Twitter e em outras mídias sociais, amplificando sua repercussão.

O ex-presidente também se esqueceu que, no Brasil, a circulação dos jornais vem crescendo, especialmente a dos chamados "jornais populares", o que leva as questões nacionais a esse público que Lula pretende controlar sozinho, sem a interferência de outros agentes.

Além do mais, os blogs mais acessados são justamente os que se ligam aos principais jornais do país, cujas marcas e tradição lhes dão os meios para apuração das notícias e a credibilidade que muitas vezes faltam a blogs personalistas.

Não é à toa que a presidente Dilma Rousseff vem demitindo ministros e assessores do primeiro escalão com base em denúncias da chamada "grande imprensa". E, se considerasse mesmo desimportantes os grandes jornais, Lula não perderia seu tempo com eles.

Não há dúvida de que, com o surgimento das novas tecnologia, os jornais perderam a hegemonia da informação, mas continuam sendo fatores fundamentais para cidadania.

O jornalista espanhol José Luis Cebrian, diretor do "El País", talvez o jornal mais influente hoje da Europa, considera que os jornais perderam a centralidade da formação da opinião pública, mas continuam sendo um "contrapoder", com uma enorme influência, embora menor do que anteriormente à chegada das mídias sociais.

Ele relembrou em recentes entrevistas que os jornais continuam sendo importantes para a institucionalização democrática dos países, embora precisem se adaptar à nova realidade tecnológica.

Já o escândalo das escutas ilegais do jornal britânico "News of the World" fez com que o ex-ministro José Dirceu recuperasse o fôlego, depois de ter sido reafirmado pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel como o "chefe da quadrilha" do mensalão, e voltasse à carga em seu blog na campanha pela "regulação da mídia", nova maneira de denominar sua permanente tentativa de controlar a informação.

A gravidade do que aconteceu no "News of the World", com escutas ilegais e chantagens, liga perigosamente a prática de crimes comuns ao jornalismo, o que é inaceitável e põe em risco a própria essência da liberdade de expressão. O jornalismo, instrumento da democracia, não pode se transformar em atividade criminosa.

O interessante é que nem mesmo na Grã-Bretanha, epicentro dessa grave crise do jornalismo, está em discussão uma legislação oficial para controlar meios de comunicação.

São grandes as críticas à atuação da Press Complaints Commission (comissão de queixas sobre a imprensa), órgão formado pelos próprios jornais para se autorregular, e há um amplo debate sobre a revisão de seus critérios para reconquistar a confiança do público britânico.

Mas até agora não apareceu nenhum Dirceu para defender o controle governamental da imprensa.

FONTE: O GLOBO

Dilma e 2012 :: Fernando Rodrigues

O Brasil elege no ano que vem cerca de 5.500 prefeitos e 60 mil vereadores. Os principais partidos já articulam a montagem de suas alianças nos 81 municípios de maior relevância -soma de 26 capitais e das 55 cidades com mais de 200 mil eleitores. Esse "G81" abriga 37% dos votos do país.

É raro encontrar um deputado ou senador alheio ao assunto. Os prefeitos e os vereadores eleitos em 2012 serão os cabos eleitorais dos congressistas na disputa de 2014. E também dos candidatos a governador e a presidente da República.

Por essa razão, chama a atenção Dilma Rousseff ainda não ter comissionado um de seus assessores para preparar um mapa eleitoral de 2012. Sobretudo com as principais alianças em gestação.

Nessa mesma época em governos anteriores, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva conversavam a pleno vapor com seus aliados políticos.

Tome-se o caso da cidade de São Paulo. O PT tem candidatos a prefeito -por enquanto, Marta Suplicy ou Fernando Haddad. O PMDB também tem seus nomes -Gabriel Chalita ou Paulo Skaf.

Não será o fim do mundo se os dois maiores aliados de Dilma seguirem rumos diferentes na disputa paulistana. Mas em política é necessário estabelecer regras de convivência. Quando PT e PMDB se tornam adversários em municípios grandes, é prudente a aliança nacional construir um cordão sanitário e evitar que o clima local transborde para Brasília e acabe contaminando os entendimentos sobre 2014. Não há sinais no Planalto de uma ação assim em curso.

Hoje é dia 16 de julho. O prazo para filiações partidárias dos candidatos de 2012 termina em setembro. Há pouco tempo para aplainar o terreno nas 81 principais cidades brasileiras. A complexidade aumenta numa aliança ampla como a de Dilma, com mais de dez partidos. Só ela poderá arbitrar e ser a fiadora de tantos acordos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Sonhatismos:: Marcelo Rubens Paiva

O pragmatismo considera que uma ideia é útil e necessária se tiver efeitos práticos e funcionais.

Charles Peirce, o terror dos estudantes de Comunicação, um dos pais da semiótica, junto com William James, foi quem dissecou: o significado de qualquer conceito é a soma de todas as consequências possíveis.

"O método pragmatista é de terminar discussões metafísicas, que de outro modo seriam intermináveis. O mundo é um ou muitos? Livre ou destinado? Material ou espiritual?", perguntava James, antevendo a náusea causada pelos existencialistas, que sangraram o sentido de essência e existência, tornando dolorida a vida de todos nós.

"Não é hora de ser pragmático, é hora de ser sonhático e de agir pelos nossos sonhos", disse Marina Silva, 20 milhões de votos na última eleição, ao anunciar a desfiliação ao PV.

"Estamos procurando metabolizar uma nova forma de fazer política. Não há ainda uma fórmula. As pessoas estão na expectativa, mas também estou. Não deve ser criada a ilusão da velha liderança."

Parece Lula no verão de 1980 no Colégio Sion, procurando angariar simpatia dos movimentos sociais e reunificar as esquerdas para o projeto utópico de um partido puro, fiel a seu programa, livre dos vícios da política partidária anterior.

Marina lembrou que, ao se candidatar em 2010, depois de largar o PT, pensava na criação de "um grande movimento", e que deveríamos "reinventar o futuro".

Confirmou que a experiência no PV serviu para sentir que o sistema político brasileiro está "empedernido" e sem capacidade de renovação.

O sistema partidário petrificado é fruto de uma esperteza do general Golbery do Couto e Silva, o mentor da ditadura brasileira, que ao ver ameaçada a liderança do partido governista, Arena, num sistema bipartidário artificial, extinguiu os dois partidos de então e liberou o registro de novos.

O resultado é que, segundo o TSE, têm registro os manjados PMDB, PSDB, PTB e seu racha PDT, o PT, fundado no Colégio Sion, e seus rachas PSOL e PSTU, o DEM e o PP, o PCB e seus rachas PCdoB e PPS, PSB, PCO e PV.

Também tem registro: PTC (Partido Trabalhista Cristão), PSC (Partido Social Cristão), PMN (Partido da Mobilização Nacional), PRP (Partido Republicano Progressista), PTdoB (Partido Trabalhista do Brasil), PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), PHS (Partido Humanista da Solidariedade), PSDC (Partido Social Democrata Cristão), PTN (Partido Trabalhista Nacional), PSL (Partido Social Liberal), PRB (Partido Republicano Brasileiro), PSD (Partido Social Democrático).

E o que agora não sai das páginas policiais, o PR (Partido da República).

Suas causas se dividem em trabalhismo centrismo, participativo e populista, conservadorismo liberal, democracia cristã, sincretismo, liberalismo social, humanismo, trotskismo, comunismo marxista-leninista, socialismo, ambientalismo e "distributismo" (PHS), filosofia econômica defendida por pensadores católicos, que prega que os meios de produção devem ser amplamente distribuídos.

São os termos que regem seus programas. Sem contar os que seguem salmos evangélicos e cristãos.

Escândalos políticos e a propaganda eleitoral gratuita captada por um zapping casual dão pistas de quem faz parte da base aliada, reparte o bolo, sorri nas fotos, administra correios, aeroportos, portos, estradas, agências reguladoras, serviços essenciais.

Sim, era o PR que tomava conta do Dnit, órgão fundamental para o crescimento do País e a manutenção das nossas estradas e vidas. Desvios de verbas foram detectados. O ministro dos Transportes, exonerado.

Continua na mão do PR, ainda, a fatia bilionária do bolo, para o bem da governabilidade.

"O ideal que move as pessoas para melhorar o mundo em que vivem, e onde no futuro outros irão viver, deve estar na popa e não na proa, a nos impulsionar para o futuro", defende Marina.

Mas o que todos se perguntam é se será Alice Braga ou Dira Paes a escolhida para interpretá-la no filme de Sandra Werneck (já fizeram testes), e se ela se filiará a outro partido.

Há os com registro em TREs estaduais, que aguardam o do TSE, como o Partido da Transformação Social (PTS), Partido Ecológico Nacional (PEN), Partido Federalista (PF), Partido Humanista do Brasil (PHB), Partido Pátria Livre (PPL).

Existem os em processo de legalização: Conservadores (CONS) e seu racha, o Partido Conservador (P-CON), Libertários (Liber), Movimento Negação da Negação (MNN), Partido Autonomista (Auto), Partido da Organização Parlamentar (POP), Partido da Mulher Brasileira (PMB), Partido da Real Democracia (PRD), Partido de Representação da Vontade Popular (PRVP), Partido do Esporte (PE), Partido do Terceiro Setor (P3S), Partido Geral do Trabalho (PGT) e outro racha, o Partido Geral dos Trabalhadores do Brasil (PGTdoB), Partido Livre (Livre), Partido Nacional do Consumidor (PNC), Partido Nacionalista Brasileiro (PNB), Partido Nacionalista Democrático (PND), Partido Novo (Novo), Partido Socialista Estudantil (PSE), Partido Verde Amarelo (PVA) e a velha conhecida União Democrática Nacional (UDN).

Sem contar as agremiações sem registro, algumas já famosas, como a União Democrática Ruralista (UDR), a Liga Estratégica Revolucionária (LER-QI), que aparentemente defende a luta armada, com grande penetração no meio estudantil, e o Partido Pirata do Brasil (PPB), o legítimo que, espera-se, não rache ou tenha cópias - movimento pertencente ao PPInternational, forte nos países escandinavos e atuando em mais de 50 países.

Há ideais históricos, bem fundamentados, assim como há muita malandragem.

Na farofa ideológica, talvez se entenda por que os aeroportos estão caóticos, muitos morrem nas estradas, a saúde e educação são precárias, e os altos impostos não implicam bons serviços.

Contam-se nos dedos as obras de infraestrutura em andamento.

Abrir um partido pode ser um negócio. Mais lucrativo e talvez menos burocrático do que abrir uma empresa. Sua agenda: empregar o maior número de aliados, com carteirinha ou não.

Pertencer à base governista é como ser da elite de uma federação comercial. Os lucros giram entre 10% a 50% do orçamento afanado dos cofres públicos.

Diferentes correntes ideológicas sugam do mesmo bolo.

Há décadas que se tenta uma reforma política, já que a atual não é nada pragmática (funcional).

Impossível, se são os próprios interessados que devem conduzi-la. Mas não custa ter sonhatismos eventuais.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Eles não podem:: Míriam Leitão

Se você é um sobrevivente das crises dos anos 80 e 90, pense no que seria impensável naquela época: que os Estados Unidos entrassem numa corrida contra o tempo para evitar o calote da dívida. Seria visto como improvável o que aconteceu ontem: o presidente alertar para o risco de o mercado exigir juros maiores por desconfiarem do Tesouro, e a China mandar os Estados Unidos terem juízo.

Naquelas décadas, crises sacudiram países latino-americanos e asiáticos. O norte continuou sendo os Estados Unidos. Seria impensável que a maior economia do mundo estivesse vivendo os dias que está vivendo: esta semana, o presidente Barack Obama fez dois pronunciamentos, seguidos de entrevistas, na Casa Branca, com repórteres fazendo perguntas que nos pareceria delírio naquele tempo em que eles tinham o monopólio da força.

No dia 16 de maio, os Estados Unidos atingiram o limite do endividamento permitido. Depois disso, passaram a gastar os recursos extraordinários que vão acabar no dia 2 de agosto. É urgente, imprescindível e dramático que eles cheguem a um acordo. O cenário político polarizado pelo clima eleitoral antecipado tem impedido que republicanos e democratas concordem com um plano de ajuste fiscal que permita a aprovação de um novo teto para a dívida.

Obama começa a admitir a possibilidade de um plano B, que está sendo negociado por alguns moderados de cada lado, com uma mudança de procedimento de votação no Congresso ou uma nova permissão provisória de elevação da dívida. Mesmo assim, disse que continuará sendo ambicioso e negociando um amplo acordo de ajuste fiscal que inclua corte de gastos e aumentos de arrecadação.

Os republicanos dizem que não aceitam aumento de impostos. Parece justo. Mas o que está realmente em jogo? Os democratas querem cortar os benefícios da indústria de petróleo, dos jatos executivos e do etanol de milho. Os republicanos pedem cortes nos gastos de assistência médica, o Medicare. Por trás do discurso anti-impostos, está a defesa dos interesses dos muito ricos e um ataque a uma das plataformas políticas de Obama.

As agências de risco assistem a tudo perplexas. Seus manuais estabelecem que, diante de uma situação como essa, o país teria que ser rebaixado. A Standard&Poor"s e a Moody"s colocaram leves sinais negativos. A Fitch nem isso, porque acredita que tecnicamente é um "risco de evento". Sendo assim, quando acontecer, não haverá uma pequena descida, mas sim uma queda dramática. Os Estados Unidos são há 70 anos a melhor nota de risco, referência a partir da qual as outras dívidas são classificadas. Seus títulos são classificados como o mais seguro dos papéis, AAA. Hoje, o país balança no abismo do conflito político. Se no dia 2 os Estados Unidos não tiverem um acordo e não pagarem títulos vencendo, as agências teriam que derrubar a classificação para D: o pior dos riscos.

É por isso que as agências, bancos e analistas dizem que não vão considerar essa hipótese porque "eles não seriam tão loucos". E se forem? Parafraseando James Carville, marqueteiro político de Bill Clinton, pode-se dizer para os avaliadores de risco econômico: "É a política, estúpidos".

Os republicanos têm pouca chance de vencer a eleição de 2012. Mesmo com a crise econômica, o alto desemprego, o presidente Barack Obama é o mais provável vencedor da eleição. Os republicanos se dividiram, com uma ala de extrema direita. Alguns deles podem sim estar pensando no quanto pior melhor.

A hipótese parece absurda, mas quem avalia risco tem que pensar nela. A estridente ala conservadora dos republicanos pode querer jogar os Estados Unidos - e o mundo - na pior crise financeira de que se tem notícia. Esperemos que, como pediu a China, os Estados Unidos tenham juízo neste fim de semana, em que as negociações continuarão, e cheguem ao acordo de corte de gastos, aumento de receitas, eliminação de isenções fiscais.

Se o impensável acontecer, todos os fundos de pensão, que são os maiores investidores do mundo, teriam que sair dos títulos americanos, porque eles são obrigados por lei, estatuto ou regulação a só aplicar em papéis seguros. As empresas e bancos americanos também seriam rebaixados. A China seria afetada porque é o maior detentor individual de dívida americana. O Brasil é o quarto. É uma espiral negativa em escala mundial.

Por isso, é mais fácil acreditar que eles não serão loucos a esse ponto e neste fim de semana vão chegar num acordo. Esse conflito político não é inédito. Aconteceu em 1995, quando o líder dos republicanos era o extremado Newt Gringrich e o presidente era Bill Clinton. Mas o impasse não chegou tão longe. Depois disso, Clinton fez um ajuste orçamentário ajudado pela onda de crescimento. Agora, duas crises e duas guerras depois, a situação fiscal americana se deteriorou extremamente. Na entrevista de ontem, um jornalista perguntou se Obama estava otimista com a possibilidade de um acordo. "Eu sou otimista, não lembra da minha campanha?" Parece que agora o bordão deve mudar. Em vez de : "Sim, nós podemos", está na hora de fazer os republicanos dizerem: "Não, não podemos".

FONTE: O GLOBO

Beirando a loucura:: Paul Krugman

Partido Republicano enlouqueceu após processo de décadas, e não sofre nenhuma pressão para demonstrar racionalidade

Não há muitos aspectos positivos a destacar na chance de um calote da dívida dos EUA. Mas assistir a tantas pessoas que estavam em estado de negação farejando a loucura no ar encerra algo de alívio cômico de humor negro.

Vários comentaristas parecem chocados com o grau de insensatez dos republicanos. "O Partido Republicano enlouqueceu?", eles indagam. Sim, enlouqueceu. Mas não é algo que tenha acontecido a partir do nada, é o ponto culminante de um processo que vem se desenrolando há décadas.

Qualquer pessoa que se espante com o extremismo e a irresponsabilidade exibidos agora ou não vem prestando atenção, ou vem fazendo vista grossa de propósito.

E àqueles que agora se angustiam com a saúde mental de um de nossos dois partidos políticos principais: pessoas como você têm responsabilidade pelo estado em que esse partido está.

O presidente Obama se dispõe a assinar um pacto para a redução do deficit que consiste em cortes de gastos, incluindo cortes draconianos em programas sociais fundamentais, como a elevação na idade mínima que dá direito ao Medicare. São concessões extraordinárias.

Mesmo assim, os republicanos estão dizendo "não", e ameaçam impor um calote dos EUA e criar uma crise econômica, a não ser que consigam um acordo unilateral.

Se um republicano tivesse conseguido arrancar o tipo de concessões sobre o Medicare e a Previdência Social que Obama oferece, isso teria sido uma vitória conservadora.

Mas, quando essas concessões vêm acompanhadas de aumentos pequenos na receita e partem de um democrata, as propostas viram planos inaceitáveis para afogar a economia americana em impostos.

Para além disso, a teoria econômica vodu tomou conta do Partido Republicano. O vodu "supply-side" -segundo o qual as reduções de impostos se pagam e/ou que qualquer elevação nos impostos levaria ao colapso econômico- tem força dentro do Partido Republicano desde que Ronald Reagan aderiu ao conceito da curva de Laffer.

Antes, contudo, o vodu era contido. O próprio Reagan promulgou aumentos importantes de impostos, contrabalançando cortes iniciais.

Até mesmo a administração de George W. Bush evitou afirmações extravagantes sobre a magia das reduções de impostos, pelo medo de que isso levantaria dúvidas quanto à seriedade da administração.

Recentemente, contudo, a contenção voou pelos ares -na realidade, foi expulsa do partido. No ano passado, Mitch McConnell, líder da minoria no Senado, afirmou que os cortes de impostos feitos por Bush haviam levado a um aumento da receita -o que contrariava completamente as evidências-, declarando que essa era "a visão de praticamente todos os republicanos".

E é verdade: mesmo Mitt Romney, visto por muitos como o mais sensato dos candidatos à Presidência em 2012, endossou a ideia de que reduções nos impostos podem de fato reduzir o deficit.

Isso me conduz novamente aos que só agora encaram de frente a insensatez do Partido Republicano, que não tem enfrentado nenhuma pressão para que demonstre responsabilidade ou racionalidade -e, dito e feito, ele endoidou. Se você está surpreso, significa que você foi parte do problema.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O que pensa a mídia - Editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www.politicademocratica.com.br/editoriais.html

Ação do MP pode afetar obras de 2014 e 2016

Órgão pede à Justiça anulação do PEU das Vargens, que fixou normas urbanísticas mais flexíveis para a região

Luiz Ernesto Magalhães

O procurador-geral de Justiça do estado, Cláudio Lopes, entrou ontem no Tribunal de Justiça do Rio com a primeira ação que pode interferir no andamento das obras para as Olimpíadas de 2016. Ela também atinge projetos da Copa do Mundo de 2014. Na ação, ele pede a anulação da lei complementar 104/99, que criou regras mais liberais para construções na região das Vargens (Vargem Grande, Vargem Pequena, Camorim e Recreio).

Na área que é alvo da ação do MP contra o chamado PEU das Vargens, ficam os terrenos da futura Vila Olímpica e o centro olímpico de imprensa. Inclui o terreno onde a CBF constrói o Centro de Treinamento da Seleção Brasileira, recentemente disputado com posseiros que invadiram o local. O MP pede ainda que a aplicação da lei seja suspensa por liminar até que a ação por inconstitucionalidade seja julgada. Caso a Justiça acate um dos pedidos, passariam a valer as regras anteriores à lei 104/99. Aí começam os problemas. Pelas normas anteriores, o centro olímpico de mídia e a área de treinamento da CBF ficam em terrenos que, até 2009, eram considerados "zonas cinzas", por não terem regras urbanísticas definidas.

A lei atual também estabeleceu regras mais liberais em terrenos vizinhos da futura Vila Olímpica, em contrapartida ao uso do espaço pelos atletas em 2016. Além disso, incentivos fiscais aprovados no ano passado, para a rede hoteleira se instalar na região até as Olimpíadas, também se basearam no PEU das Vargens.

A ação é um desdobramento de uma representação feita por sete vereadores de oposição à comissão especial do MP que acompanha os projetos da Copa e das Olimpíadas. Com base em laudos de especialistas, o MP defende na ação que o projeto tramitou irregularmente na Câmara dos Vereadores.

- Constatamos um erro formal na elaboração da lei, em que não foi observada a exigência de realização de audiência pública - diz Lopes.

Lei foi aprovada sem estudos ambientais e urbanísticos

Na ação, são apontadas ainda outras falhas. Faltaram, por exemplo, estudos que indicassem os impactos sobre o meio ambiente e a infraestrutura urbana da área. Também considera um equívoco a permissão para construções em terrenos alagadiços sem previsão de estudos de impacto ambiental.

- Podemos estar perto de um impasse para as Olimpíadas e a Copa. A solução para resolver a questão sem depender da Justiça é fácil. Basta que a prefeitura apresente um novo projeto que cumpra os ritos legais, incluindo audiências públicas - disse o vereador Paulo Pinheiro (PPS).

A prefeitura não se manifestou, alegando não ter sido notificada. A construtora Carvalho Hosken, proprietária da área da Vila, informou que pretende manter a parceria. Ninguém da CBF foi encontrado.

FONTE: O GLOBO

Combater a inflação com taxa cambial é um erro

A presidente Dilma Rousseff alertou a equipe econômica sobre os inconvenientes de adotar, neste momento, medidas para alterar a política cambial, que tem hoje um papel essencial na contenção da inflação, pela via das importações. Parece-nos que isso oferece oportunidade para uma análise mais pormenorizada do tema.

O essencial é que os estímulos à importação estão provocando uma desindustrialização que terá efeito prolongado e altamente negativo na economia. O recuo da participação dos produtos manufaturados na pauta das exportações diminui a demanda doméstica, assim como as receitas do governo, que, de outro modo, poderiam aumentar sem necessidade de aumentar a alíquota dos impostos, pois são bens com maior valor agregado. Mas o maior inconveniente é que esse processo elimina os estímulos à inovação, que permitiriam presença mais importante do País nos mercados, criando bases para uma exportação mais sustentável. Um país cuja produção fica estagnada não tem motivação para investir e inovar: torna-se dependente.

Com uma taxa cambial irreal, o governo se obriga a subsidiar algumas das suas empresas, aumentando o déficit público. Por outro lado, com a elevação do preço das commodities, de que é grande produtor, o País não está se dando conta da fragilidade das receitas obtidas em divisas, uma vez que se trata de bens sujeitos a violentas variações de preços externos.

Pode-se argumentar que a supervalorização da moeda nacional possibilita a grande vantagem de assumir dívidas externas a um custo excepcionalmente baixo. Mas ocorre que esse estímulo ao endividamento externo excessivo está na origem de todos os graves problemas que muitos países enfrentam agora, sem falar que uma eventual mudança da taxa cambial pode levar o País ao "default".

Além disso, uma taxa cambial excessivamente valorizada leva o Brasil a ser classificado entre os mais caros do mundo, e isso inibe o desenvolvimento do turismo, que, por sua vez, é fonte de importante demanda de mão de obra de serviços e de favorecimento ao comércio.

Caberia avaliar a contribuição dada pela importação ao controle da inflação: é grande no caso dos preços de automóveis (que podemos fabricar a custo menor, com taxa cambial real), de artigos de residência e de informática. Mas, em compensação, os bens de alimentação que produzimos têm de acompanhar os preços internacionais de uma moeda supervalorizada.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Brasil aposta que crise se resolve, mas está alerta

Consequências seriam tão imprevisíveis que equipe econômica acredita em acordo

Fabio Graner e Célia Froufe

BRASÍLIA - O governo brasileiro observa com atenção o impasse em torno das negociações no Congresso dos Estados Unidos sobre o aumento do limite de endividamento do país. Mas aposta que o pragmatismo vai prevalecer, tornando baixo o risco de um calote na dívida da maior economia mundial. A equipe econômica avalia que a situação carrega riscos tão graves e de consequências tão imprevisíveis que necessariamente será resolvida pelos políticos americanos até o prazo previsto, no início de agosto.

Há um reconhecimento de que, ainda que muito pouco provável, um calote americano seria um problema difícil de antever os impactos sobre o resto do mundo. Essa situação atingiria a confiança no dólar como moeda de reserva global e tenderia a provocar um colapso nas linhas de crédito bancário. Em um ambiente de crise na Europa, o quadro ficaria ainda pior. "É difícil que o pragmatismo americano tenha acabado de repente", disse uma fonte da área econômica.

Apesar de esperar a superação do impasse, o governo reconhece que a situação americana, junto com a crise europeia, tem imposto volatilidade aos mercados. E essa volatilidade pode aumentar no caso de se efetivar um rebaixamento da classificação de risco americana pelas agências de rating, mesmo sem o calote. Mas uma fonte do governo ressalta que o Brasil tem boas defesas para enfrentar essa situação, mesmo que as reservas internacionais percam algum valor.

Atualmente, essa espécie de poupança está em US$ 339,7 bilhões. O relatório mais recente, ainda de 2009, indicava que 82% do colchão de divisas estavam alocados em dólar (títulos do Tesouro dos EUA e outros ativos). Em junho, o Tesouro dos EUA informou que em abril deste ano o Brasil detinha US$ 206,9 bilhões em títulos americanos.

Entendimento. No mercado, o cenário básico também é de que republicanos e democratas vão chegar a um entendimento. "A nossa visão, como banco, é que haverá um acordo de último minuto", disse Tony Volpon, chefe de pesquisa para mercados emergentes da Nomura Securities. Falando pessoalmente, porém, ele admite riscos de o acordo não sair, por conta da variedade de visões no Congresso americano sobre os rumos do ajuste fiscal.

Christopher Garman, diretor do Eurasia Group, considera baixa a probabilidade de não haver entendimento nos EUA sobre a questão da dívida. "Estamos assistindo a um grau de nervosismo maior porque estamos na reta final e faz parte do processo político que os dois lados elevem a retórica para depois conseguirem um acordo. Dificilmente, não teremos um acordo."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Tiroteio: Roberto Freire

"Como Lula pouco governou, não sente falta de governar. Mas do microfone para atacar a mídia, tem síndrome de abstinência."

DO DEPUTADO FEDERAL ROBERTO FREIRE (PPS-SP), sobre o discurso do ex-presidente no Congresso da UNE, em que chamou de "babacas" jornalistas que apontaram fragilidade política em sua sucessora, Dilma Rousseff.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO/PAINEL


Paulinho da Viola e Beatriz Faria - Noel Rosa