domingo, 3 de abril de 2011

Reflexão do dia – Aécio Neves

"O PT tem visão diferente da nossa. Nós achamos que um partido político tem de estar a serviço de um país. O PT acha que o país tem de estar a serviço de um partido.

O PT acha que o correto é colocar o país a serviço de um partido político. Essa notícia, reiterada hoje, de que a presidente da República criará mais um ministério para acomodar um dirigente partidário que não foi eleito, que não teve votos, para estar no Senado da República, é um escárnio para com a população brasileira.

São os feudos, entrega-se um ministério para o partido tal, outro para o partido tal, para que se tenha votos no Congresso.

Vamos mostrar que se existe uma herança maldita, ela está aí hoje com o aumento desenfreado dos gastos correntes no ano passado, acima do que cresceu a própria economia e, hoje, o país paga um preço com a contenção de investimentos, principalmente.

Senador Aécio Neves, ontem em Belo Horizonte.

Esquerda, política e cultura :: Luiz Sérgio Henriques

Não é de bom alvitre aceitar pelo valor de face o que um indivíduo ou mesmo toda uma época pensam de si mesmos. Feita a ressalva, consideremos juízos recentes da presidente da República sobre o legado recebido do seu antecessor. Segundo Dilma Rousseff, só levando em conta quatro orientações básicas se entenderia o País redesenhado a partir de 2003: manutenção do crescimento com estabilidade, redirecionamento social do gasto público, expansão do mercado interno e, last but not least, nova inscrição do País na ordem global, na qual, pela primeira vez, ele se moveria autonomamente em busca de alianças no sul do planeta.

Se o mundo fosse um mecanismo automático, tal conjunto de circunstâncias felizes haveria de acontecer em paralelo com uma efervescência cultural semelhante à de outros momentos de inflexão historicamente incontroversos.

Assim, retomando o raciocínio de outro prócer petista, os anos 1930 trouxeram não só a modernidade industrial, ainda que sob forma autoritária, mas também obras do porte das de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Caio Prado Júnior. Depois, o período áureo do nacional-desenvolvimentismo, particularmente com JK, seria contemporâneo dos teóricos do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), dos sociólogos da USP, da arquitetura de Niemeyer e da música de Tom Jobim. E nesta primeira década do século 21 não haveria nada comparável, em termos de reflexão sobre o Brasil, aos dois momentos decisivos mencionados.

O argumento tem fôlego, mas tem também pelo menos uma forma torta de tentar ser aceito por muitos, até pelos adversários, e se tornar mais ou menos consensual. A forma torta consistiria, obviamente, em se valer de recursos do Estado, em especial de seus órgãos de cultura, para uma experiência in vitro de animação intelectual em torno dos dois governos Lula e deste que lhe sucede. Mas, como também é óbvio, nada impede que instâncias como fundações partidárias ou encarregadas de preservar o legado de ex-presidentes promovam a tentativa legítima de influenciar os rumos da cultura e preparar, da forma que acharem melhor, suas novas florações.

Política e cultura ou, mais especificamente, esquerda e cultura - eis um tema extremamente rico em nosso país, no qual, a partir da década de 1920, um Partido Comunista, quase sempre tragicamente ilegal, exerceu gravitação maior ou menor, temporária ou mais constante, sobre gente como os citados Caio Prado e Niemeyer, como Drummond e Oswald de Andrade, Graciliano e Portinari, Jorge Amado e Ferreira Gullar.

Essa fatal clandestinidade, nos seus momentos ruins, significou espírito de seita e consequente empobrecimento político e cultural, mas, nas horas mais distendidas, ao menos fazia entrever abertura e mútua fecundação. E, o que me parece mais importante, acenava para uma espécie de reconciliação não conservadora com a cultura nacional e, em outro plano, com a ideia decisiva da democracia política.

Valha como signo daquela primeira reconciliação a profunda relação entre Astrojildo Pereira, um dos pais fundadores do PCB, em 1922, e o velho Machado de Assis, suposto autor elitista. Os céticos podem dizer que se trata de um belo exemplo anacrônico, mas cabe opor a esse ceticismo o último e esplêndido romance de Moacyr Scliar, Eu vos Abraço, Milhões, no qual aquela relação é um dos motivos centrais. E como signo da adesão democrática, a árdua defesa do caminho pacífico de resistência ao regime militar, em certo momento uma decisão solitária na esquerda, ainda não suficientemente compreendida em todo o seu largo alcance, muito além daquela conjuntura.

É num sentido próximo a esse, acredito, que o sociólogo Luiz Werneck Vianna interpretou a vitória de Lula em 2002 como uma espécie de absolvição da História brasileira. Narrativas da nossa História como sucessão de desgraças ou de arranjos pelo alto estavam entranhadas em parte da melhor tradição intelectual, e não só de esquerda, e também na ideologia do partido que então assumia o poder. Contudo, segundo o sociólogo, não podia ser inteiramente desventurado um país que, só 14 anos depois da promulgação de sua Carta mais democrática, permitia que um líder de origem sindical, figura central de um Partido dos Trabalhadores, alcançasse a condição de dirigente máximo de uma nova fase do seu trajeto histórico.

Esse fato de enorme significação demandava, e ainda demanda, uma revisão de fundo por parte do novo sujeito à frente do País por um período que, já agora, se estenderá por, no mínimo, 12 anos. Terminou definitivamente o tempo das bravatas, como, para ir à raiz do problema, o leguleio obreirista por ocasião da assinatura da Carta de 1988. Não faz sentido, como a crise de 2005 se encarregou de demonstrar, promover o uso distorcido das instituições, primeiro entre todas o Parlamento, cuja centralidade está assegurada em todas as modernas democracias. E chegou o tempo, também, de inventariar e arquivar as variadas formas de "patriotismo de partido", que vê rupturas imaginárias a partir do próprio surgimento, exagerando-as retoricamente até o ponto da caricatura: "Nunca antes neste país"...

Sociedade "ocidental" que somos, de vocação aberta e plural, nenhum ator conseguiria moldá-la a seu arbítrio. Na sua projeção externa, o País está fadado a impregnar a defesa dos seus interesses com a consigna fundamental dos direitos humanos, atuando em mais do que prováveis situações de colapso de autoritarismos de direita ou de esquerda. E, internamente, o desafio é combinar, de modo permanente, o programa social com o método da democracia. Quanto mais profunda a convicção do ator, mais coerente a sua ação - e mais produtivo o impacto sobre modos de fazer cultura, que por ora nem sequer pressentimos. Porque, no fundo, não importa a virtù do ator, o espírito sopra onde quer.

Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das obras de Gramsci em português

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Serra na luta :: Merval Pereira

O ex-governador de São Paulo José Serra pode se orgulhar de ter conseguido, mesmo depois da segunda derrota para a Presidência da República, continuar no centro das discussões políticas do país, mesmo que seja um consenso nos meios políticos que são mínimas as suas chances de conseguir concorrer pela terceira vez à presidência, como é seu desejo.

A mais recente lenda urbana coloca Serra como o grande articulador por trás da criação do PSD, o novo partido que o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, um serrista assumido, está organizando.

É verdade que, pela legislação eleitoral, Serra, que está sem mandato, pode entrar no novo partido a qualquer momento, o que excita a imaginação dos políticos.

Todos se espantam com a desenvoltura do prefeito paulistano, que está demonstrando uma capacidade de aglutinação política que não se esperava dele, e por isso procura nos bastidores a verdadeira força que o impulsiona.

Mas a verdade parece ser que Serra não tem nada a ver com o PSD, e que Kassab apenas está aproveitando uma circunstância criada pela legislação eleitoral para viabilizar seu projeto político pessoal.

Como a fidelidade partidária só permite que se troque de partido por razões específicas, como mudanças programáticas, a única maneira de sair de um partido onde se esteja desconfortável por qualquer motivo é criar uma nova legenda.

Kassab estava se sentindo constrangido no Democratas pela atuação do grupo do ex-prefeito do Rio Cesar Maia cujo filho, o deputado federal Rodrigo Maia, presidia o partido.

Entre as disputas de poder de grupos históricos no partido, como a dos herdeiros de Antonio Carlos Magalhães contra o grupo do ex-senador Jorge Bornhausen, e também da divisão entre apoiadores de José Serra e do senador Aécio Neves com vistas à disputa presidencial de 2014, o DEM debateu-se em crises internas que não foram superadas a contento.

A saída foi tentar organizar um novo partido, aproveitando que políticos de diversas tendências, por motivos diversos, ansiavam por uma chance de mudar de legenda.

Essa chamada "janela de transferência", período em que seria permitida a troca de partidos sem punições pela lei eleitoral, chegou a ser negociada nas preliminares da reforma política, como uma maneira de reorganizar o sistema partidário.

Como a idéia não foi à frente, especialmente por que a oposição suspeitava de que ela seria uma manobra palaciana que se destinava a esvaziá-la, Kassab passou a articular um novo partido que ficou conhecido como "a janela do Kassab".

Mas sem contar com o apoio de seu "padrinho" José Serra, que, na véspera da decisão oficial do prefeito paulistano de deixar o DEM, passou a madrugada conversando com ele na tentativa de demovê-lo da decisão.

O DEM continua achando que a manobra tem por trás o Palácio do Planalto.

Na semana passada, já consumada a saída, Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foram à casa do senador Agripino Maia, novo presidente do DEM, para conversar sobre a montagem do diretório de São Paulo, que interessa diretamente ao PSDB paulista.

A disputa da prefeitura na sucessão de Kassab está em discussão, pois é um dos cargos mais importantes do país, que está em poder da coligação PSDB-DEM desde a eleição de Serra, em 2004.

Maia comunicou aos dois que o deputado federal Rodrigo Garcia, eleito com mais de 220 mil votos, ficando entre os 10 mais votados de São Paulo, pretende ser candidato à prefeitura e terá o apoio do DEM.

Garcia sempre fez "dobradinhas" com Kassab, que disputava para deputado federal, e Garcia, para estadual, e mesmo assim permaneceu no partido.

Dois dias depois dessa conversa, o governador Geraldo Alckmin lançou a candidatura de Serra à Prefeitura de São Paulo em uma solenidade pública, na presença do ex-governador, que vinha dizendo a todos que não estava em seus planos se candidatar novamente à prefeitura, cargo que ocupou por um período antes de se candidatar ao governo de São Paulo.

A atitude de Alckmin, e sobretudo a de Serra, que não negou a possibilidade nem se mostrou incomodado com a sugestão pública, leva a que se pense que Serra pelo menos aceitou deixar o tema ser debatido, no partido e em público.

O PSDB está com dificuldades na composição de seu diretório municipal paulista, e na hora em que Alckmin lança um candidato que nenhum tucano pode ficar contra, abafa as discussões, inibe as divergências no partido. Além de colocar como "cenoura" para o partido uma expectativa real de manutenção de poder.

A candidatura de Serra também obrigaria o novo partido de Kassab a apoiá-lo, e isso o prefeito não discute.

Se a candidatura de Serra não se confirmar, para sucedê-lo, Kassab joga principalmente com dois nomes: Eduardo Jorge, do PV, e Guilherme Afif Domingues, vice-governador de Alckmin que o seguirá para o novo partido.

O PT, se não tiver Serra na disputa, deve concorrer com a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy ou com o ministro Aloizio Mercadante. Caso contrário, colocará um segundo time em campo, provavelmente do grupo do deputado federal Jilmar Tatto.

O ex-governador José Serra, portanto, continua sendo o peão no PSDB paulista, ao mesmo tempo em que tenta manter sua posição de candidato preferencial do partido à Presidência da República.

O mais provável é que acabe fazendo parte de um conselho de líderes do PSDB nacional, presidido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A questão é saber se, definida a impossibilidade de ser mais uma vez candidato a presidente da República, o que parece no momento o mais provável, Serra quererá encerrar sua carreira política como prefeito de São Paulo, o terceiro maior orçamento do país, ou como senador em Brasília.

FONTE: O GLOBO

Sobrevivência na selva:: Dora Kramer

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia, está mais ou menos na situação descrita por Paulo Vanzolini na voz de Noite Ilustrada nos idos dos anos 60: reconhece a queda, mas não desanima.

Assim que conseguir reorganizar o partido em São Paulo, cuja estrutura de comando foi dissolvida para que não reste sombra da influência do prefeito Gilberto Kassab, o senador vai deflagrar uma operação de sobrevivência na selva, na tentativa de levar o partido a sacudir a poeira e dar a volta por cima.

Certeza absoluta de que será bem-sucedido ninguém tem, nem ele. O baque foi forte, admite.
O roteiro estabelecido quando da mudança de nome de PFL para DEM com renovação de lideranças não saiu como o previsto e o escândalo José Roberto Arruda foi fatal: "Cometemos grave erro de comunicação e o que acabou marcando foi a expressão "mensalão do DEM" no lugar do fato de que botamos para fora o Arruda". A decisão de Kassab de sair para criar um novo partido, completou a série de infortúnios.

Mas o tombo, no entender de José Agripino, não foi definitivo.

"Estamos bem longe do desmoronamento de que se fala, mas a crise é real e leva o partido a uma reflexão interna profunda sobre os erros cometidos e as ações necessárias para uma retomada do rumo perdido", diz, sem a menor preocupação de dissimular o litígio com Kassab, a quem atribui a construção da "imagem do destroço".

Duvida de que o prefeito provoque defecções significativas no DEM e duvida mais ainda do sucesso da empreitada com a legenda do PSD. "Quero ver como ele ficará depois que não for mais prefeito. Por enquanto tem a máquina da Prefeitura de São Paulo nas mãos. Em 2013 não terá mais nada."

Faz as contas: "Dos oito deputados federais do DEM em São Paulo ele leva dois; dos oito estaduais conseguiu convencer só um; dos 76 prefeitos, no máximo leva 14. E o que mais no resto do País? Uma chusma de gente movida pelo sopro do Planalto e que está a serviço do PT. Para o barulho que faz, a colheita dele tem sido modesta".

Segundo ele, os sinais de que o plano é atuar como linha auxiliar do governo - "Dilma quer concluir o projeto de Lula de nos eliminar da cena" - faz crescer no DEM um sentimento de autopreservação que, assegura, logo será visível.

Vai trabalhar para segurar as figuras de projeção nacional e nos respectivos Estados enquanto inicia uma campanha de filiação e promove reuniões estaduais, a começar por Santa Catarina, onde o governador Raimundo Colombo está vai não vai (Agripino aposta que não vai) para o PSD.

Na ausência de instrumentos de poder, a saída, na opinião do presidente do DEM, forçosamente terá de ser a aposta na conquista do público sensível à defesa da redução de impostos, do Estado de tamanho compatível com a qualidade do serviço prestado, parcerias público-privadas nos investimentos e preservação do meio ambiente com desenvolvimento.

"Não é possível que o partido que impediu a renovação da CPMF, impondo a maior de todas as derrotas do governo Lula, não tenha o que dizer nem saiba como atuar."

Lua de mel. Natural e nada surpreendente que a presidente Dilma Rousseff apresente índices altos de aprovação nas pesquisas divulgadas recentemente.

Por quatro motivos: carrega o legado da popularidade de Lula, que a elegeu; nesse período nada aconteceu que pudesse justificar perdas na avaliação; na comparação com Lula tem agradado à parcela da sociedade que não gostava do estilo dele; tem sido poupada pela oposição, que anda sem rumo, sem unidade e sem discurso.

O desafio dela de agora em diante é conseguir corresponder às expectativas.

Temporão 2012. Afastada a hipótese de fusão com o PSD de Kassab, o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão examina com carinho a proposta de concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSB.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Fim de uma era:: Eliane Cantanhêde

Um quarto de século depois da morte morrida do regime de 1964, o governo conseguiu exorcizar mais um fantasma: as cerimônias e "ordens do dia" em que comandantes militares faziam a apologia do golpe, prolongando a agonia e constrangendo o poder civil.

O 31 de março de 2011 passou quase suavemente e ninguém soube, ninguém viu, ninguém deu bola.

Sem frisson nos quartéis, tensão no Planalto, atenção da mídia. Muito menos crises como a que derrubou o primeiro ministro da Defesa do governo Lula. Foi-se o tempo.

Nelson Jobim vetou atos alusivos à data nas três Forças, o comandante do Exército repassou a ordem, a tropa bateu continência. E o general Augusto Heleno arquivou sua palestra sobre "a Contrarrevolução que salvou o Brasil".

Ficou aborrecido? Pode até ser, mas declarou: "Sou militar, respeito a disciplina e a hierarquia. O superior determinou, eu cumpri".

Heleno foi comandando no Haiti e na Amazônia, sempre defendendo suas ideias. Uma das mais polêmicas foi quanto à questão da segurança nacional na Raposa/Serra do Sol. Falou na dupla condição de militar e de expert em Amazônia. Causou mal-estar, mas foi ouvido.

Ele completa 12 anos de generalato junto com o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), José Elito, e ambos passaram para a reserva do Exército no dia 29 de março. Elito fica no cargo, que não é cativo de oficial da ativa, mas Heleno tem 45 dias a partir de então para costurar o pijama.

Não pense que vá se contentar em dormir o sono dos justos ou se integrar a esses clubes militares que fazem festinhas e entopem a internet com textos fora de tom e de época nos 31 de março. Heleno tem mais o que fazer -e o que dizer.

Em 2011, o Brasil vira mais uma página da sua história. Só falta a Comissão da Verdade, aberta a todos os lados para clarear o passado e mirar o futuro. Com a palavra e o voto, o Congresso Nacional.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Um pouquinho menos não dói:: Clóvis Rossi

Os tempos de inflação alucinada legaram uma teoria que o mundo político toma como palavra de Deus: sempre que a inflação dispara, a popularidade do governante despenca.

Mesmo Luiz Inácio Lula da Silva, que, na oposição, se beneficiava da teoria, quando coincidia com a realidade, passou a ser adepto incondicional dela ao chegar ao governo. Tanto que, logo após assumir, topou elevar os juros de 25% para 26,5% porque Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, lhe disse que a inflação dispara sempre que chega a dois dígitos.

Teoria tão científica quanto o jogo de búzios, mas quem é louco de desafiar os espíritos?

Não é que o Banco Central do pós-Meirelles bancou o desafio, ao jogar apenas para 2012 a obtenção da meta de 4,5% de inflação? Parece, mas só parece, que o BC está adotando outra teoria que os políticos às vezes acariciam, a de que às vezes é bom aceitar um pouquinho mais de inflação em troca de um pouquinho mais de crescimento (ou um pouquinho menos de desaceleração do crescimento).

Na verdade, o BC de Alexandre Tombini faz o contrário dos búzios de Meirelles: não acredita que a inflação vá disparar só porque há alguma pressão sobre os preços.

Por isso, contraria o mercado que cobra mais sangue, na forma de juros mais altos. Que os riscos existem, é evidente. Mas ninguém, nem o BC nem seus críticos, podem ter certezas sobre o futuro, ainda mais em um país em que é difícil ter certezas até sobre o passado.

Entre os críticos, haverá certamente gente honestamente preocupada com uma eventual disparada dos preços.

Mas com certeza há também gente triste porque a contenção nos juros reduz a transferência de renda de todos nós, contribuintes, para a minoria de rentistas que detêm títulos do governo e exige a maior remuneração para eles.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Hora do debate:: Alberto Dines

A crise econômica mundial começou em 2008 nos EUA com a explosão da bolha imobiliária, o vendaval que sacode o mundo árabe sopra cada vez mais forte desde janeiro e, embora suas causas estejam longe de serem identificadas, os seus efeitos serão implacáveis. Mais recente, a tríplice catástrofe japonesa aparentemente não se ajusta aos dois processos históricos em curso - é resultado de um acidente da Natureza - mas o seu sequenciamento fatalmente se acrescentará às duas irrupções.

O mundo jamais enfrentou um conjunto de emergências deste porte porque jamais esteve tão amarrado e interdependente. Deixamos a esfera dos particularismos arrastados para um panelão único. Qualquer solução destinada a contornar, minorar ou remediar alguma das tribulações singulares terá que ser examinada no contexto das demais.

O acidente nuclear no Japão contém uma ameaça concreta de contaminação radioativa e, ao mesmo tempo, dá um violento safanão nos projetos energéticos do mundo inteiro. Isso não significa um embargo à proliferação das centrais nucleares, significa que o custo do planejamento, instalação e monitoramento das novas usinas será consideravelmente maior e neutralizará algumas das suas vantagens diante de fontes não renováveis (como o gás) e renováveis (eólica, solar, etc.)

O sismo no mundo árabe, já fechou uma das torneiras dos combustíveis fósseis (a Líbia), ronda os fabulosos recursos da península arábica, afeta o fornecimento de derivados de petróleo para a Europa, EUA, China, mas principalmente aumenta o sufoco social e político que está acionando os levantes no Oriente Próximo e Médio.

Não é o fim dos tempos, apocalipse ou era das trevas. Ao contrário: estamos diante da possibilidade de dar continuidade ao Iluminismo desde que entendamos seu sentido e derivados: fim do dogmatismo, ilustração, esclarecimento, Cerca de dois séculos depois, agora instrumentados pelo fabuloso ferramental para a difusão do conhecimento, estamos aptos a democratizar os questionamentos - debater.

Nossa experiência nesta matéria é pequena, os colonizadores nos mantiveram ao longo de trezentos anos completamente cegos e surdos graças à censura religiosa. A emancipação política foi discutida abertamente durante um brevíssimo período (quatorze anos, 1808-1822), sem condições de incluir aquela que seria sua complementação natural: a abolição da escravidão.

A República nos presenteou com três ditaduras e décadas de censura e, nos intervalos de normalidade, o debate não era propriamente um debate, mas um enfretamento em torno de egos, fulanos, preconceitos. Agora, graças a uma feliz conjunção de fatores e pressionados pela trepidação internacional, temos a rara oportunidade de debater ideias.

A primeira relaciona-se com o modelo energético que assumiu a primazia global. Fomos abençoados com recursos que nos permitem combinar todas as matrizes e, justamente por isso, impõe-se a obrigação de administrar esta abundância. Sem um debate amplo, impossível.

Estamos diante de um novo surto inflacionário e o receituário só contempla ações imediatas com vistas aos índices mensais ou trimestrais. Ninguém lembra que a inflação tem horror à poupança. O consumismo conspícuo - aqui ou em Miami - não iguala, só agrava as disparidades sociais. Discutimos a Ficha Limpa com o mesmo ânimo adotado para discutir o futebol - o juiz roubou.

Uma sociedade sem partidos, movida por interesses e ambições pessoais, mesmo montada em cima de minas de ouro só conseguirá tornar-se efetivamente rica quando souber o que aconteceu, o que está acontecendo e o que pode acontecer.

» Alberto Dines é jornalista

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Novos dilemas:: Míriam Leitão

Há vários dilemas na política econômica, hoje. Alguns parecem antigos, mas são filmes refeitos com tecnologia atualizada e novos contextos. A inflação de hoje tem outro patamar daquela que, nos anos 1970, começou sua disparada, mas a ideia de que é possível conviver com mais inflação é a mesma. Os déficits público e externo parecem mais aceitáveis, mas ameaçam como antes.

O Brasil e o mundo são diferentes e mais complexos. No ano de 1977, o economista Dionísio Dias Carneiro escreveu e organizou o livro de ensaios "Dilemas da Política Econômica". O Brasil vivera o período de ajuste e reformas nos anos 60; depois, o milagre econômico, do começo dos anos 70; e estava sendo atingido por choques externos. Agora, um grupo de 38 economistas escreveu 28 artigos para o livro "Novos Dilemas da Política Econômica", uma homenagem ao Dionísio, morto no ano passado. No prefácio, Luiz Roberto Cunha explica por que a homenagem é feita com as tentativas de decifrar os problemas da economia: Dionísio foi "uma inteligência brilhante e independente", ajudou a modernizar o ensino e a pesquisa econômica no Brasil. Na orelha, o ex-diretor do Banco Central Eduardo Loyo conta que por 17 anos sempre houve um ex-aluno do Dionísio na diretoria do Banco Central. Ele influenciou sem ir para o governo, mas preparando quem foi.

O livro foi organizado por economistas de gerações diferentes: Edmar Bacha e Monica Baumgarten de Bolle. Conversei com os dois no programa da Globonews sobre alguns dos vários tópicos que os economistas tratam no livro que será lançado amanhã na Casa das Garças.

O mundo está tão cheio de mudanças que há até um "guia para os perplexos", escrito pelo economista americano Albert Fishlow. Há perplexidades até no livro, como o artigo em que John Williamson faz uma proposta bem heterodoxa: a de que o Banco Central tenha também uma meta de câmbio. Ele foi quem organizou o que ficou conhecido como "Consenso de Washington".

Um motivo para estar perplexo, segundo Fishlow, é a drástica mudança na situação fiscal americana em uma década: na campanha eleitoral que levou George Bush à presidência, em 2000, a discussão entre ele e o candidato democrata Al Gore era sobre o que fazer com o superávit orçamentário. Hoje, a economia americana tem um déficit de 10% do PIB.

- Isso é um problemão. Mas há outros, como a crise do mundo árabe, a questão atômica que aparece após o tsunami no Japão, mostrando que a busca por energia limpa tem mais um complicador. O mundo está num momento muito difícil - acrescenta Bacha.

Monica lembra que as mudanças após a crise de 2008 trazem velhos dilemas:

- É difícil escapar da ideia de que o mundo vai ser mais tolerante com a inflação, como tem sido mais tolerante com o déficit público.

Aí moram grandes perigos. Um deles, o de achar que comparado ao resto do mundo o déficit brasileiro não é grande ou que se todo mundo aceita mais inflação para preservar algum crescimento, por que não o Brasil? A crise criou o álibi perfeito para que o Brasil repita erros perigosos.

Há também velhos mistérios na economia brasileira, e um deles é por que os juros são tão altos no país? Bacha afirmou que tomar medidas de contenção de crédito por razões de prudência está correto, mas achar que elas são ferramenta contra a inflação, como o Banco Central tem insinuado, está errado.

Outro problema no crédito é o que Monica e Bacha chamam de "eficiência na alocação de recursos", ou seja, será que os financiamentos estão indo da forma certa para os setores certos?

- No meu artigo, dou uma série de sugestões sobre como reduzir os juros no Brasil. Em parte, isso se liga à ideia da nossa presidenta de que se tem que atacar a inflação pelo lado da oferta. Isso é um equivoco, se significar preservar os investimentos subsidiados do governo e os empréstimos subsidiados do BNDES. Os bancos públicos beneficiam setores menos produtivos em vez de alocar os recursos da economia para os setores que têm mais capacidade de produção - diz Bacha.

Além disso, explica, os créditos subsidiados dos bancos públicos são 30% do total dos financiamentos e não são atingidos pela política monetária do Banco Central. A Selic tem que ser mais alta porque ela atinge apenas 70% dos créditos.

Quando se compara o mundo em que Dionísio olhou para preparar seu livro e o de agora, nesse novo conjunto de ensaios, há diferenças e semelhanças notáveis.

- No contexto mundial, quando se comparam os dois momentos, naquela época o Brasil tinha menos margem de manobra. Hoje, tem um leque maior de escolhas, mas o contexto mundial está mais confuso. O risco é a opção por preservar o crescimento em detrimento do combate à inflação. Não é diferente do que já fizemos no passado. O que é preciso é buscar uma trajetória de inflação mais baixa, mesmo que isso signifique crescimento mais baixo, porque levará a juros mais baixos no futuro - diz Monica.

Para Bacha, os dilemas são mais fáceis de enfrentar se houver vontade:

- Estamos saindo de anos de muita facilidade. O mundo cresceu forte, as reformas feitas no Brasil aumentaram a produtividade. Houve então exagero em gastos e em crédito do setor publico no fim do governo Lula. A economia está superaquecida e precisa de ajustes.

Dionísio foi, segundo Bacha, o esteio do Departamento da PUC-Rio que virou centro de pensamento para soluções dos dilemas dos anos 1980 e 1990. Monica acha que aprendeu com seu "mentor" que a economia não é uma caixinha separada, está ligada ao que se passa em outros campos. É um livro para pensar. Como Dionísio gostava.

FONTE: O GLOBO

Em terras de Macunaíma:: Ferreira Gullar

Como todos sabem, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, eleito pelo DEM, decidiu de uma hora para outra fundar um novo partido que apoiará o governo de Dilma Rousseff, do PT, inimigo figadal dos democratas.

Kassab ganhou expressão na vida política de São Paulo graças a José Serra, do PSDB, o adversário político número 1 do PT. Como se vê, a nova performance do prefeito paulistano, aparentemente, não guarda nenhuma coerência com coisa alguma que o eleitorado pensava que ele fosse.

Não obstante, tudo isso está sendo feito como a coisa mais natural do mundo. Por que ele está deixando seu partido, ninguém sabe, mas o fato de criar um outro partido para si tem explicação: ele, assim, não perderá o mandato que, conforme decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), não pertence ao eleito, mas ao partido.

E você, como eu, perguntará: se o mandato pertence ao partido, Kassab, pela lógica, ao deixá-lo, perderia o mandato, não? Isso é o que você pensa! O mesmo STF, que decidiu que pertencem aos partidos os mandatos de seus integrantes, admite que, se o eleito deixar o partido para fundar outro, não o perde.

Diante disso, Kassab decidiu fundar um novo partido e seu mandato está salvo. Simples assim.

Eu não sou ninguém para questionar uma decisão do STF. Não obstante, data vênia, não consigo calar minha perplexidade: se o mandato é do partido, significa que o eleitor, ao votar em Kassab, o fez por ser ele do DEM, isto é, de determinado partido. Mas, se ao deixar o DEM, para fundar outro partido, levará o mandato consigo, então o mandato é dele, Kassab? Ou levará o que não lhe pertence? Nesse caso, para não dizer que é roubo, digamos que seja apropriação indébita. Mas com o aval do Supremo?

Devo estar equivocado, não pode ser considerado roubo o que se faz dentro da lei. Seria, na pior das hipóteses, um roubo legal (nos dois sentidos).

Uma coisa temos que admitir: o Brasil é único no mundo. Só mesmo em terras de Macunaíma, um político de projeção nacional, prefeito da maior cidade do país, resolve criar um partido apenas para aproveitar a brecha que a Justiça lhe oferece, ou seja, por puro oportunismo político. Esperteza feita às claras, como se criar um partido fosse a mesma coisa que trocar de camisa.

E vai ver que é. Eu é que estou fora de moda, sem ter ainda me dado conta de que partido político não tem nada a ver com sonho de como deveria ser a sociedade, mobilização da opinião pública para promover mudanças importantes que venham torná-la melhor e mais justa.

Nada disso. Estou por fora. Não é à toa que, no Brasil, há dezenas de partidos, sem conteúdo ideológico, sem nenhum programa ou projeto que justifique sua existência.

Partido político, hoje em dia, existe apenas para cumprir uma exigência da lei eleitoral. Como a maioria deles não tem eleitores, sobrevive como siglas de aluguel, juntando-se a outros partidos, em coligações que são mais um modo de enganar o eleitor desavisado.

Mas não vamos jogar tudo nas costas do Kassab. O partido que ele pretende fundar tem a mesma sigla -PSD- de um dos partidos que Vargas criou, nos anos 1940, para dar aparência democrática ao Estado Novo; o outro foi o PTB.

Aquele era o partido dos patrões; esse, o dos trabalhadores. As duas classes fundamentais da sociedade estavam neles representadas, harmoniosamente, sem luta de classes, como convinha ao regime.

Os generais de 64 fizeram coisa parecida, criando a Arena, governista, e o MDB, oposicionista. Tudo bem comportado, claro, para não atrapalhar o sonho do Brasil grande. Mas eis que jovens políticos, que sonhavam com uma sociedade melhor, fundaram dois partidos de verdade: o PT, que reunia a esquerda radical, e o PSDB, de linha social-democrata. Essas foram as duas forças que, findo o regime militar, passaram a disputar o poder.

Em 1994, o PSDB chegou à Presidência com FHC e, em 2002, o PT venceu as eleições com Lula, apropriando-se do programa do adversário e imprimindo-lhe um cunho tipicamente populista. Cumpriram seu papel e se esvaziaram. Chegou a vez dos Kassab e companhia.

Conheço Maria Bethânia há 45 anos. É um exemplo de talento e integridade profissional.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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Relatório da PF confirma mensalão no governo Lula

Documento divulgado pela revista 'Época' mostra que fundo com participação do BB foi um dos principais financiadores do esquema de Marcos Valério

BRASÍLIA - Relatório final da Polícia Federal confirma a existência do mensalão no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de seis anos de investigação, a PF concluiu que o Fundo Visanet, com participação do Banco do Brasil, foi uma das principais fontes de financiamento do esquema montado pelo publicitário Marcos Valério. Com 332 páginas, o documento da PF, divulgado pela revista "Época", joga por terra a pretensão do ex-presidente Lula de provar que o mensalão nunca existiu e que seria uma farsa montada pela oposição.

O relatório da PF demonstra que, dos cerca de R$ 350 milhões recebidos do governo Lula pelas empresas de Valério, os recursos que mais se destinaram aos pagamentos políticos tinham como origem o fundo Visanet. As investigações da PF confirmaram que o segurança Freud Godoy, que trabalhou com Lula nas campanhas presidenciais de 1998 e 2002, recebeu R$ 98,5 mil do esquema do valerioduto, conforme revelou o Estado, em setembro de 2006. A novidade é que Freud contou à PF que se tratava de pagamento dos serviços de segurança prestados a Lula na campanha de 2002 e durante a transição para a Presidência - estabelecendo uma ligação próxima de Lula com o mensalão. No depoimento, Freud narrou que o dinheiro serviu para cobrir parte dos R$ 115 mil que lhe eram devidos pelo PT.

O relatório da PF apontou o envolvimento no esquema do mensalão, direta ou indiretamente, de políticos como o hoje ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, do PT. Rastreando as contas do valerioduto, os investigadores comprovaram que Rodrigo Barroso Fernandes, tesoureiro da campanha de Pimentel à prefeitura de Belo Horizonte, em 2004, recebeu um cheque de R$ 247 mil de uma das contas da SMP&B no Banco Rural. As investigações confirmaram também a participação de mais sete deputados federais, entre eles Jaqueline Roriz (PMN-DF), Lincoln Portela (PR- MG) e Benedita da Silva (PT-RJ), dois ex-senadores e o ex-ministro tucano Pimenta da Veiga.

Segundo a revista "Época", a PF também confirmou que o banqueiro Daniel Dantas tentou mesmo garantir o apoio do governo petista por intermédio de dinheiro enviado às empresas de Marcos Valério. Dantas teria recebido um pedido de ajuda financeira no valor de US$ 50 milhões depois de se reunir com o então ministro da Casa Civil José Dirceu. Pouco antes de o mensalão vir a público, uma das empresas controladas por Dantas fechou contratos com Valério, apenas para que houvesse um modo legal de depositar o dinheiro. De acordo com o relatório da PF, houve tempo suficiente para que R$ 3,6 milhões fossem repassados ao publicitário.

Veja a reportagem na integra. Clique o link abaixo

Para oposição, documento desmonta tese de Lula

Karla Mendes

Integrantes da oposição disseram ontem que o relatório final da Polícia Federal prova de vez a existência do mensalão e joga por terra a tese de que o esquema de corrupção denunciado na CPI era uma "farsa".

"Diante de um relatório contundente como esse, o PT não vai ter como contestar mais, a título histórico, a existência do mensalão. E o ex-presidente Lula, que mostrou o desejo de desmontar essa história, não vai conseguir desmentir o mais grave escândalo de corrupção que ocorreu no coração do governo dele", afirmou o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), que era sub-relator da CPI dos Correios.

O deputado está otimista com a perspectiva de que, a partir desse relatório, o Supremo Tribunal Federal (STF) não deixará o episódio "passar em branco" e apurará a responsabilidade de cada um dos envolvidos no esquema.

"O mensalão aconteceu. Foi mais do que demonstrado. O PT só reconheceu que era caixa 2, mas não levaram uma pessoa sequer na CPI para demonstrar isso", ressaltou o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O parlamentar, que era relator da CPI, destacou que a tese do PT nunca se sustentou. "Não era período eleitoral. Estava longe disso. E, se era caixa 2, era só levar o relatório de pagamentos."

"Nexo". Para representantes da bancada governista, o documento não altera a versão petista. "Não tem fato novo. O relatório apenas mostra a atuação das empresas de Marcos Valério e fazem um nexo que não tem nexo", disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Ele sustentou que houve apenas um erro confesso: o caixa 2. "O que eu posso dizer é que não houve transferência de dinheiro público, muito menos a acusação do procurador de formação de quadrilha."

André Vargas, secretário de comunicação do PT, amenizou a divulgação, dizendo que é apenas uma investigação e ainda tem de passar pelo crivo do Judiciário. "O mensalão é tese da oposição, que a mídia e a Polícia Federal compraram. O Judiciário é que vai dar a última palavra", argumentou. Ele descaracterizou as acusações de que o volume de dinheiro envolvido no esquema visava a pagar parlamentares para votar favoravelmente às matérias de interesse do governo no Congresso.

"Qual a influência que o José Dirceu exerceu? Houve um empréstimo que ele tinha feito no BMG. O dinheiro foi para quitar dívidas eleitorais. Como é que ele ia pagar R$ 50 mil para o presidente da Câmara votar a favor do governo?", questionou Vargas, referindo-se ao então presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP).

Vicentinho. O deputado Vicentinho (PT-SP) se defendeu das acusações de envolvimento no esquema de corrupção - que teria ocorrido por meio de Nélio José Batista Costa, produtor de sua campanha para a Prefeitura de São Bernardo do Campo, que recebeu R$ 17 mil da Estratégia Marketing, empresa de Marcos Valério, em 5 de agosto de 2004, de acordo com o relatório da PF.

"A empresa que fez a minha campanha era do Marcos Valério mesmo. Mas isso foi em 2004, antes do mensalão. A minha pergunta é: o que eu tenho a ver com isso?"

O deputado argumenta que não conhece Nélio. "Não conheço, nem sei desse pagamento. Na campanha, trabalha muita, gente", justificou. "Se esse Nélio era funcionário e a empresa pagou por isso, não vejo onde está o problema. Não sou corrupto."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma descumpre promessas mas distende o clima e ganha apoios

Presidente dedica esforços a corrigir herança de Lula: inflação alta e gastos sem controle

Eleita na onda da popularidade de Lula, a presidente Dilma Rousseff chegará aos cem dias de governo com o desafio de resolver dois problemas da herança de seu antecessor: inflação em alta e gastos excessivos. Para isso, já descumpriu promessas de campanha, como a de não privatizar e não fazer ajuste fiscal - em fevereiro, anunciou corte de R$ 50 bi no Orçamento. Dilma mudou o estilo no Planalto, com um perfil mais técnico de administrar, mas ainda repete erros como o de lotear cargos entre aliados. Mostrou força na negociação do salário mínimo e ampliou apoios no Congresso, além de distender o clima com a oposição, como se viu nos dois encontros que já teve com o ex-presidente Fernando Henrique. Na política externa, até agora, a guinada foi ainda mais visível.

Campanha vai ficando para trás, nos erros e nos acertos
Dilma descumpre promessas, mas tenta resolver problemas deixados por Lula

Diana Fernandes e Gerson Camarotti

Ocapital político ainda intacto, a folgada maioria parlamentar e um estilo firme na condução da máquina deram à presidente Dilma Rousseff, nesses primeiros cem dias a serem completados no próximo domingo, a segurança para tentar fazer um governo diferente, com marca própria. Mas não muito diferente. Repetiu vícios de seus antecessores no Palácio do Planalto ao fazer nomeações de políticos para cargos técnicos e passou por cima de promessas feitas no calor da campanha eleitoral, como a de que não faria um ajuste fiscal. Por outro lado, surpreendeu ao promover a distensão política e ampliar apoios no Congresso, ao mesmo tempo em que enfrentou e desmontou lobbies de parlamentares e sindicalistas, como o do salário mínimo maior.

Na economia, mesmo com o fantasma da inflação rondando e o dólar ainda derretendo, o clima geral é de confiança, com as restrições de praxe. Há avaliação positiva de que a presidente, nesses primeiros três meses de governo, deu provas de que se concentra em resolver problemas que se agravaram na reta final do governo Lula e que ajudaram na sua eleição: para reduzir gastos públicos elevados e conter a inflação, fez um corte forte no Orçamento, de R$50 bilhões.

Na política externa, fez gestos e ações que indicam correção de rumo, especialmente no que diz respeito aos direitos humanos e ao Irã, aproximando-se mais dos Estados Unidos. No campo social, ainda não lançou seu grandioso programa de erradicação da miséria - meta que ela própria já admitiu que terá dificuldade para cumprir até 2014 -, mas promoveu medidas setoriais.

Estilo mais discreto tem ajudado

Seu comportamento mais discreto e o perfil técnico, passando longe dos palanques que o antecessor tanto adorava, respaldam o discurso da oposição no início de governo, que tem sido favorável, com poucas ressalvas. Sinais visíveis desta distensão foram os dois encontros que teve com o ex-presidente Fernando Henrique depois de eleita, um deles no almoço para o presidente americano, Barack Obama. Para analistas políticos, contradições entre as promessas de campanha e a prática do governo são frequentes entre os mandatários brasileiros.

- Na campanha, ela não disse que faria concessão nos aeroportos, não queria levar o carimbo de privatista. Também negou ajuste fiscal. Agora, o corte atinge até concursos públicos, medida que era atribuída, na campanha eleitoral, ao tucano José Serra. O discurso de campanha é bem diferente do exercício de governo - diz o cientista político David Fleischer, da UnB. - Nesses primeiros cem dias, Dilma leva vantagem em relação aos antecessores. Fazer uma comparação com o início do governo Lula é desleal. A situação econômica agora é muito mais tranquila. Além disso, Dilma tem uma base governista bem mais ampla, contra uma oposição menor e desorganizada. O grande desafio será lidar com os aliados, inclusive PT e PMDB.

Para o PT, apesar das insatisfações de setores do partido que ainda brigam por cargos no segundo escalão, o balanço é positivo. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), diz que a presidente correspondeu à expectativa gerencial e surpreendeu no lado político ao mostrar "jogo de cintura". Ele rebate críticas às medidas negadas na campanha e adotadas agora, como o ajuste fiscal vigoroso.

- O que o governo fez foi uma consolidação fiscal. Os ajustes tradicionais são aqueles em que passam uma régua linear. O nosso tem cortes, mas ao mesmo tempo a ampliação do Bolsa Família. O cancelamento de concursos, por exemplo, é uma medida temporária - defende o petista.

A oposição reconhece diferenças positivas no governo Dilma em relação à gestão de Lula, mas também aponta falhas. O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), ressalta que a boa avaliação de Dilma é consequência da mudança de postura em relação ao discurso de campanha.

- Neste primeiro momento, Dilma age com objetivo de conquistar eleitores que não votaram nela: esse movimento ocorre com mudanças na política externa, no controle de despesas e gastos, e na defesa da imprensa livre. Tenta corrigir os pontos vulneráveis da campanha e do governo Lula - diz Guerra, pondo em dúvida medidas do governo para conter a inflação.

A crítica à condução da política econômica também é reforçada pelo presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN):

- Os primeiros meses foram de acertos e desacertos. Fica claro que a gastança do período eleitoral recrudesceu a inflação, os cortes orçamentários aconteceram, inclusive no investimento, e a tabela do Imposto de Renda foi corrigida num modesto 4,5%, só obtido à custa de novo aumento da carga tributária.

Aliados de Dilma minimizam. O governador Jaques Wagner (PT-BA), por exemplo, destaca a determinação dela de adotar medidas responsáveis, ainda que impopulares, como o salário mínimo de R$545, e não de R$560. E considera as diferenças pontuais em relação ao ex-presidente Lula:

- Nesse início, Dilma colheu mais pontos positivos que negativos. A dúvida que havia tem virado certeza: ela mostra capacidade gerencial e política. De fato, existem questões pontuais em que há diferença quanto ao governo Lula, mas isso mostra que Dilma tem personalidade própria. As diferenças ficam claras, até porque Lula veio do mundo do palanque, enquanto Dilma veio do mundo da gestão.

FONTE: O GLOBO

São tantos ministros que 6 nunca foram recebidos

Dos seis que não tiveram audiência, quatro são do PMDB; já dos nove mais assíduos, sete são petistas

Luiza Damé

BRASÍLIA. Em três meses de governo, seis dos 37 ministros não tiveram audiência individual com a presidente Dilma Rousseff, segundo levantamento feito pelo GLOBO na agenda publicada na página da Presidência da República na internet. São eles: Jorge Hage (CGU), Pedro Novais (Turismo), Mário Negromonte (Cidades), Garibaldi Alves Filho (Previdência), Wagner Rossi (Agricultura) e Moreira Franco (Assuntos Estratégicos). Nesse grupo, quatro são filiados ao PMDB. Negromonte é do PP, e Hage não tem partido. A frequência em audiências com a presidente pode ser sinal de prestígio - do próprio ministro ou da pasta.

Na outra ponta, dos mais frequentes, estão ministros que tiveram mais de duas audiências por mês com a presidente. O seleto grupo é integrado por Guido Mantega (Fazenda), Antonio Palocci (Casa Civil), Antônio Patriota (Relações Exteriores), Edison Lobão (Minas e Energia), Fernando Haddad (Educação), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Miriam Belchior (Planejamento) e Alexandre Padilha (Saúde). Coincidência ou não, sete deste grupo de nove ministros são petistas.

Os chamados ministros da casa ou palacianos têm uma peculiaridade: a presidente costuma chamá-los ao gabinete, inclusive para almoçar, sem que isso seja registrado na agenda. Além de Palocci, estão nessa condição os ministros Luiz Sérgio (Relações Institucionais) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral).

Já o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), José Elito Siqueira, e a ministra da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Helena Chagas, entram na agenda da presidente nos despachos internos da manhã.

FONTE: O GLOBO

Gasto público no trimestre contraria discurso de Dilma

Foram R$ 13,2 bi a mais em gastos em relação a 2010. Já os investimentos tiveram queda de R$ 300 mi

Encerrado o primeiro trimestre do mandato de Dilma Rousseff, o retrato das contas públicas contraria seu discurso na campanha. Gastos com investimentos caíram. As despesas com salários, custeio da máquina pública e da rotina do governo subiram. Com pessoal e custeio, o governo gastou R$ 10 bilhões a mais no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período de 2010. Incluindo gastos com juros, a soma chega a R$ 13,2 bilhões. Já em investimentos, a redução foi de pouco mais de R$ 300 milhões. Os dados foram lançados no Sistema Integrado de Administração Financeira e pesquisados pela ONG Contas Abertas. O governo, entretanto, discorda: "Nós estamos cortando o custeio administrativo, não estamos cortando os investimentos", disse Dilma em março, na Bahia, em inauguração de obra do PAC.

Apenas 0,1% do PAC foi pago no primeiro trimestre

Dos R$ 40,1 bilhões de gastos autorizados por lei para este ano, apenas R$ 54,4 milhões foi pago no primeiro trimestre

Marta Salomon

Pressionados por uma conta bilionária herdada do ano eleitoral, os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não foram poupados pelo ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff.

Dos R$ 40,1 bilhões de gastos autorizados por lei para este ano, apenas 0,1% (R$ 54,4 milhões) foi pago no primeiro trimestre.

No mesmo período, foram pagos R$ 5,4 bilhões de contas pendentes deixadas por obras e serviços contratados durante o governo Lula, parte deles ainda quando Dilma Rousseff comandava o PAC, na condição de ministra-chefe da Casa Civil.

Levantamento. A liderança do PSDB, oposição ao governo, fez um levantamento do ritmo de execução das obras do PAC desde o início do programa, em 2007. Considerou os pagamentos feitos no ano e as contas pendentes deixadas naquele mesmo período para avaliar o desempenho do programa em cada ano.

Em 2009, ano da série em que o ritmo do PAC teria sido mais acelerado, segundo os critérios usados pelo levantamento, os gastos atingiram 75,5% do valor autorizado pela lei orçamentária. Isso significa que o PAC, cujos projetos levam o carimbo de prioridade no governo, nunca tirou do papel todos os gastos autorizados por lei.

O ano eleitoral de 2010 poderá ultrapassar o desempenho obtido em 2009 assim que o governo acabar de quitar as obras e serviços contratados no ano passado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Oposição amarga período de crise

Silvia Amorim

SÃO PAULO. A promessa do PSDB e do DEM de construir uma oposição forte, uma agenda propositiva para o país e uma ação fiscalizadora do governo está restrita, até agora, ao plano do discurso. Enquanto a presidente Dilma Rousseff completa os primeiros cem dias do seu governo com uma alta aprovação, a oposição amarga no período um desempenho marcado por crises internas e falta de unidade. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), anunciado como o principal líder oposicionista, manteve-se distante da linha de frente dos debates políticos.

Na discussão sobre o reajuste do salário mínimo no Congresso, o primeiro teste da oposição neste ano, ficou clara a fragilidade e a dificuldade de articulação entre os dois principais partidos oposicionistas.

PSDB e DEM, já em desvantagem numérica em relação à base governista, não conseguiram construir um discurso único e marcharam separadamente. O PSDB defendeu a proposta de R$600 para o mínimo, e o DEM, de R$560. Venceu o governo com R$545.

Tendo Dilma o apoio de cerca de 80% da Câmara e 75% do Senado, a derrota da oposição era mais do que esperada. O relevante do episódio foi a exposição da falta de unidade da oposição.

A relação entre PSDB e DEM não é das melhores desde a eleição presidencial. Os desentendimentos foram tantos que ainda deixam sequelas.

Crises internas também contribuíram para a performance oposicionista. E, nesse quesito, o DEM superou os tucanos.

O próprio líder do DEM na Câmara, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), admitiu que a disputa de forças internas e a decisão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de criar um novo partido, o PSD, levando quadros da antiga legenda, desestabilizaram a condução dos trabalhos no Congresso.

- Tivemos que dedicar tempo e energia para evitar que esse golpe na oposição, que é o PSD, tivesse resultados mais consistentes. Isso desviou um pouco o foco neste começo, mas tenho a confiança que, superando isso, o DEM e o PSDB reúnam condições para o enfrentamento político com o governo - disse ACM Neto.

Disputa interna por comando racha PSDB

No PSDB, a briga de forças seguiu mais silenciosa e tem como pano de fundo a escolha do presidente nacional da sigla. O atual dirigente, deputado Sérgio Guerra (PE), está no páreo. Serra, embora não tenha se colocado oficialmente na disputa, estaria trabalhando nos bastidores para ocupar o cargo.

A discrição de Aécio vem sendo vista por parlamentares tucanos como uma estratégia que não deve mudar tão cedo. Alguns dizem que subir à tribuna e contestar o governo como uma prática rotineira não é perfil do mineiro, mais conhecido por sua atuação nos bastidores políticos.

Para o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Claúdio Gonçalves Couto, a oposição mostrou-se "esfacelada".

- A oposição se saiu mal neste início de governo. Está sem discurso capaz de contrastar com o governo neste momento. Temos de um lado um governo que vem tendo uma presidente com boa avaliação no início do mandato e, de outro, uma oposição esfacelada - avaliou Couto.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR) faz uma avaliação mais otimista.

- Esses primeiros meses serviram para que tivéssemos a exata noção do tamanho das limitações - disse Dias.

FONTE: O GLOBO

Guerra cobra fim de racha interno no PSDB

Christiane Samarco

O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), abriu a reunião com os oito governadores tucanos hoje, em Belo Horizonte, com um alerta: "Não podemos disputar a eleição presidencial daqui a quatro anos com o partido debilitado como está". Candidato único à sua própria reeleição, Guerra aproveitou a reunião dos comandantes do PSDB nos Estados para cobrar o fim do racha interno que, a seu ver, imobiliza a legenda. "Chamo a atenção dos governadores porque precisamos de mobilidade do partido que, neste momento, infelizmente, está sem unidade".

À despeito da boa avaliação obtida pela presidente Dilma Rousseff na pesquisa CNI/Ibope desta semana, com 73% de aprovação pessoal, o presidente do PSDB disse que daria nota mediana ao governo. "Um glorioso 5". Ele destacou que a presidente tem adotado um discurso que agrada a oposição, por ter "subscrito capítulos" do discurso do adversário tucano José Serra, no que se refere à política externa e à preocupação com a gestão. "Mas uma coisa são palavras e outra é a ação", destacou, desfiando um rosário de críticas ao governo que "promoveu cortes orçamentários sem fixar prioridades, aumentou seu poder de arbítrio para controlar o Congresso e opera com um ministério muito fraco". Tanto é assim, completou, que a inflação "está voltando como Serra disse na campanha".

Outro sinal claro de que a boa performance da presidente Dilma neste início de governo não intimidará o tucanato foi dado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), que ficou fora da reunião, mas participou do almoço com os governadores. Ele já chegou ao encontro dizendo que não se intimida com essas primeiras avaliações e elevou o tom das críticas ao governo. Antecipou, assim, a linha do primeiro grande discurso de oposição ao governo que fará da tribuna do Senado na quarta-feira, para "dar uma sinalização às bases tucanas, unificando o discurso, e potencializar o que ficou acertado com os governadores",

Lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve a responsabilidade de manter a política macroeconômica do governo anterior, o que foi fundamental para que seu governo obtivesse avanço, e que a presidente Dilma vai na mesma direção. Em seguida, observou que do ponto de vista estrutural não houve avanço nenhum na administração atual. "Como se pode falar em gestão de qualidade com 40 ministérios, onde a composição do governo segue a mesma e perversa lógica da ocupação compartimentada dos aliados, dos feudos partidários para que se tenha os votos no Congresso"?, indagou Aécio. Ele entende que a concepção e a máquina do PT não permitem que se faça uma gestão profissional, porque o partido promove o aparelhamento da estrutura pública. E lembrou que a expectativa de que com a nova presidente o governo seria mais enxuto caiu por terra, quando em vez de reduzir os 37 ministérios, ela criou mais dois.

E também citou o risco inflacionário que o PSDB, a partir do governo Itamar Franco, "domou com muito vigor". A seu ver, a ameaça da inflação retorna agora como um fantasma a pairar sobre o Brasil, diante do aumento abusivo dos gastos públicos.

Antes de a reunião começar, o presidente do PSDB deixou clara, em entrevista, sua convicção de que o partido só se fortalecerá se conseguir montar uma executiva nacional unitária e com força política real para administrar os problemas nos Estados, Indagado sobre a avaliação predominante entre os mineiros de que sua reeleição seria o primeiro passo para a candidatura Aécio Neves a presidente em 2014, Guerra disse que o mandato da próxima direção tem que ser dedicado à reestruturação do partido e, para não deixar dúvida de seu empenho pela unidade, enfatizou que "não há PSDB sem que o Serra esteja junto".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Aécio sobe o tom das críticas da oposição

Senador mineiro afirma em encontro de governadores do PSDB, em BH, que chegou o momento de o partido agir com firmeza

Juliana Cipriani

O senador Aécio Neves (PSDB) chegou ao encontro dos oito governadores tucanos ontem, em Belo Horizonte, disposto a acabar com o estilo light do partido de fazer oposição e elevou o tom das críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Um dos principais nomes cotados para concorrer à sucessão presidencial em 2014, o mineiro disse que chegou a hora de o partido agir com firmeza e mostrar contradições entre o “Brasil apresentado cor de rosa na campanha” e o “Brasil real”. O senador começou falando da criação de mais um ministério pela presidente petista, o que chamou de “escárnio” com a população brasileira e prometeu um pronunciamento contundente para a próxima semana.

O projeto de criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, com status de ministério, foi enviado na quinta-feira ao Legislativo. As articulações seriam para que o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) ficasse no comando da pasta. Com isso, o presidente nacional do PT, ex-deputado José Eduardo Dutra, assumiria uma vaga no Senado, como primeiro suplente da chapa. “O PT acha que o correto é colocar o país a serviço de um partido político. Essa notícia, reiterada hoje, de que a presidente da República criará mais um ministério para acomodar um dirigente partidário que não foi eleito, que não teve votos, para estar no Senado da República, é um escárnio para com a população brasileira”, afirmou.

Segundo o tucano, a presidente Dilma teve a oportunidade de modificar a estrutura do Estado, mas, em vez de diminuir o número de ministérios, os aumentou. “São os feudos, entrega-se um ministério para o partido tal, outro para o partido tal, para que se tenha votos no Congresso”, comentou.

O tucano aproveitou para devolver à presidente a tão falada “herança maldita” que os petistas reclamavam ter recebido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Aécio antecipou que falará, no Senado, do papel da oposição com os governos Itamar Franco (PPS) e Fernando Henrique na modernização econômica do país. “Vamos mostrar que se existe uma herança maldita, ela está aí hoje com o aumento desenfreado dos gastos correntes no ano passado, acima do que cresceu a própria economia e, hoje, o país paga um preço com a contenção de investimentos principalmente”, disse.

POSIÇÃO DE DESTAQUE

No segundo encontro dos governadores do partido, em que o partido admitiu ter problemas de comunicação com o eleitor, Aécio se colocou como a voz da oposição. O ex-governador José Serra, do PSDB paulista, não participou do encontro. Coube também ao presidente da legenda, deputado Sérgio Guerra, criticar a atuação da petista nos primeiros meses de governo. Mesmo tendo, segundo ele, acertado em algumas políticas, ele criticou a composição do ministério da presidente Dilma, que considera “fraco”.

Outra crítica do dirigente foi à atuação da presidente na votação do novo salário mínimo que, para ele, foi na base do “rolo compressor”. “Ela não conversou nem conosco, nem com os sindicatos, nem com as forças sociais, que inclusive a apoiaram. Definiu o padrão dela e fixou por cima de pau e pedra, como se diz por aí”, afirmou. A volta da inflação também entrará na artilharia dos oposicionistas para combater mais incisivamente a gestão petista.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Governadores apoiam conselho

REUNIÃO DO PSDB

Grupo aprova moção de apoio à criação de colegiado que dividirá responsabilidades e poderes dentro da legenda. Principais líderes do partido vão integrar a estrutura

Juliana Cipriani

A criação de um conselho político para descentralizar as decisões do PSDB tem o apoio dos oito governadores tucanos. Na segunda reunião do grupo, realizada ontem, em Belo Horizonte, eles apresentaram como consensual a proposta para a direção nacional da legenda e indicaram a composição do futuro colegiado, que servirá para incluir os líderes da legenda nas principais definições políticas. Se confirmado, o conselhão também abrigará o candidato derrotado ao Palácio do Planalto, ex-governador José Serra, atendendo a pressões da ala paulista do partido.

Os governadores Antonio Anastasia (Minas Gerais), Anchieta Júnior (Roraima), Beto Richa (Paraná), Geraldo Alckmin (São Paulo), Marconi Perillo (Goiás), Simão Jatene (Pará), Siqueira Campos (Tocatins) e Teotônio Vilela Filho (Alagoas) tiveram reuniões durante todo o dia. Perillo foi escalado para falar sobre a decisão de apoiar o conselho. “Ele vai colaborar com a direção nacional do partido. Será de assessoramento e ele pode, quando solicitado, colaborar com a formulação de ideias e políticas”, explicou.

Perillo garantiu, no entanto, que o conselho não vai “trombar” com o comando partidário. Pela proposta apresentada, estarão nele os oito governadores, o senador Aécio Neves, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, o presidente do Instituto Teotônio Vilela, o ex-governador José Serra e um representante da Câmara dos Deputados. “O conselho não vai disputar espaço com a direção, que já tem suas prerrogativas”, afirmou o governador.

O presidente do partido, deputado Sérgio Guerra, no entanto, disse que o desejo é que esse futuro órgão funcione. “Pelas pessoas que o irão compor, ele terá a capacidade de tomar decisões orientadoras da Executiva. O partido sempre vai considerar bem-vinda e nada disso prejudica, apenas ajuda o partido”, afirmou.

UNIÃO

Na primeira fase da reunião, os tucanos trataram das falhas de comunicação do partido. O PSDB entende que, depois das derrotas consecutivas para o PT, deve unificar o discurso no país e procurar firmar marcas da legenda. Um dos principais focos é a área social. Sérgio Guerra disse que vai usar a propaganda partidária do PSDB para definir um discurso para a oposição.

Articulando sua recondução ao cargo, que tem votação prevista para maio, o presidente do partido disse que o partido precisa ser um só em todos os estados. “Essa direção terá de quebrar estruturas que impedem o partido de se abrir e crescer”, disse, emendando que não seria delicado dizer a quem se referia a declaração. O dirigente deu nota cinco aos primeiros meses de governo da presidente Dilma e disse que é “muito cedo” para medir a popularidade da gestão petista, como fez pesquisa divulgada na sexta-feira.

Guerra elogiou a discrição da nova presidente, comparando com o excesso de palavras que atribuiu ao ex-presidente Lula, e afirmou que ela tem acertado em algumas políticas, como na área dos direitos humanos.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Prévias têm espaço na pauta

REUNIÃO DO PSDB

Alice Maciel

Governadores e líderes do PSDB discutiram ontem, durante reunião a portas fechadas no Hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte, as possibilidades de prévias no partido para a escolha do candidato à Presidência da República em 2014. O governador de Minas, Antonio Anastasia, disse ser a favor das prévias, que considera “uma opção mais democrática”. Ele ressaltou que a realização de prévias está no programa do partido. “Já tínhamos conversado isso aqui no estado alguns anos atrás e houve um entendimento de que não era o momento adequado. Ainda está muito cedo para discutirmos as eleições presidenciais de 2014”, ponderou.

Já o presidente nacional da legenda, deputado federal Sérgio Guerra (PE), foi enfático ao dizer que o partido quer as prévias e deve aprofundar a ideia. Ele lembrou que este é um assunto antigo na legenda e que já houve aprovação entre os integrantes. “O Tasso Jereissati desdobrou esta discussão, o Aécio Neves também defendeu as prévias e hoje muita gente defende. Temos que começar a dar fundamento a ela”, ressaltou. Guerra disse que o partido, neste momento, precisa fazer um trabalho de recadastramento de filiação. “Para que a gente tenha filiados de fato, que possam votar em uma decisão de prévias”. No ano passado, as prévias surgiram como possibilidade para evitar um racha no partido, já que José Serra e Aécio Neves disputavam internamente a candidatura à Presidência.

O PSDB, segundo Guerra, não foi atingido pela criação do partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o PSD. “Alguns outros foram”, observou. O tucano disse que não foi a favor da criação da legenda que, para ele, está reunindo os descontentes e desconectados do Brasil. “Isso não é construção da democracia. Os partidos que o país precisa não são assim”. Guerra considera que o PSD tem conteúdo contrário à reforma política. “Evidentemente que companheiros e aliados nossos têm sofrido uma drenagem com a criação do PSD. Acho que as pessoas saem de um campo para o outro da oposição usando uma janela”.

FONTE: ESTADO DE MINAS

PT quer país "a serviço" do partido, diz Aécio

Tucano adota tom duro ao atacar governo em encontro de governadores

Senador planeja discurso no plenário na quarta-feira para demarcar território como líder da oposição

Vera Magalhães

BELO HORIZONTE - Antecipando o tom que deve usar em pronunciamento no Senado na quarta-feira, Aécio Neves (PSDB-MG) acusou a presidente Dilma Rousseff de cometer um "escárnio contra a população brasileira" ao criar o Ministério da Micro e Pequena Empresa.

"O PT tem visão diferente da nossa. Nós achamos que um partido político tem de estar a serviço de um país. O PT acha que o país tem de estar a serviço de um partido", disse ao chegar para reunião com os oito governadores do PSDB, em Belo Horizonte.

Com o discurso de quarta-feira, Aécio pretende traçar a linha de atuação do PSDB na oposição a Dilma e marcar território como pré-candidato à sua sucessão.

A Folha teve acesso ao que ele chama de três "pilares" da fala: o resgate da herança do governo Fernando Henrique Cardoso, a exploração das "contradições do PT no governo" e os caminhos de seu partido para o futuro.

Aécio fará a defesa das privatizações, exaltará o combate à inflação e dirá que o PSDB estabilizou a economia e permitiu o crescimento registrado no governo Lula.

Como "contradições" do PT, ele pretende mostrar a diferença entre a situação atual -de corte de gastos e risco inflacionário- e o "Brasil cor de rosa" apresentado por Lula e Dilma na campanha eleitoral do ano passado.

Por fim, ele pretende apontar temas que devem concentrar a atuação do PSDB, como a defesa da "desestatização do setor privado", numa crítica ao que chama de interferência indevida do governo em empresas privadas, como a Vale.

Ontem o mineiro investiu nesse novo tom. "Essa notícia de que a presidente da República criará mais um ministério para acomodar um dirigente que não teve votos para o Senado da República é um escárnio", disse Aécio.

Ele se referia à possibilidade de o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) assumir a nova pasta, abrindo espaço para que o presidente do PT, José Eduardo Dutra, que é seu suplente, fique com a cadeira no Senado.

Os oito governadores do PSDB aprovaram em Belo Horizonte uma moção de apoio à criação de um Conselho Político para dividir o poder com a direção do partido, conforme a Folha antecipou na edição de ontem.

O Conselho deverá ser formado por 14 membros, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-governador de São Paulo José Serra, Aécio e todos os governadores do partido.

Os tucanos evitaram dizer quem comandará a nova instância, mas a tendência é que Fernando Henrique seja indicado para presidir o órgão.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO