quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O poder (relativo) das mídias sociais

Carlos Eduardo Lins da Silva

A revista Time escolheu o manifestante como personagem de 2011, em virtude da grande repercussão que tiveram centenas de protestos políticos em vários países no decorrer do ano.

Quando em dezembro de 2010 começaram a pipocar pelo mundo árabe expressões de descontentamento com regimes ditatoriais de países que o compõem, foram muitos os comentaristas que se apressaram a atribuir as (aparentemente) bem sucedidas revoltas à utilização das chamadas mídias sociais e prever que o resultado delas seria o florescimento de democracias ao estilo ocidental em todas ou na maioria daquelas nações.

Como agora se pode ver, nem mesmo chegou a ocorrer efetiva troca de regime em muitos desses lugares – como o Egito, por exemplo, onde o ditador Osni Mubarak foi deposto e preso, mas o poder continua sendo exercido pelos militares que o sustentavam.

E, como também se vê no Egito, o resultado de eleições (quando aconteceram) mostra a ainda enorme força de grupos religiosos do islamismo fundamentalista, que dificilmente, caso assumam o controle político, permitirão que nada nem de leve parecido com democracia ocidental se estabeleça na sua sociedade.

Ordem de grandeza

O fato é que as tais revoluções do Facebook, a exemplo do que também se verificou nos muitos movimentos “occupy”, contra injustiças sociais, em dezenas de cidades pelo mundo afora, constituíram a legítima e significativa expressão política de uma parcela muito limitada da população – de jovens intelectualizados de classes médias altas em todas essas nações.

Quando a situação política – e principalmente a econômica – era avaliada como muito ruim por setores mais abrangentes da sociedade, essa insatisfação dos usuários do Facebook se aliou às de outros grupos sociais, com meios de comunicação preferenciais diversos (em muitos casos o milenar boca-a-boca), e foi suficiente para de fato derrubar regimes, como na Tunísia ou na Líbia, sem nenhuma garantia de que os sucessores serão muito melhores ou mesmo diferentes do que os que se foram.

Em países em que política e economicamente a maioria da população se sentia razoavelmente satisfeita, a revolução das mídias sociais se limitou a algumas centenas de manifestantes, embora observadores entusiastas da supostamente grande capacidade de arregimentação social das novas mídias achassem que ela se alastraria pelo mundo.
No Ocidente, os protestos de 2011 na Espanha (mesmo antes de começar o “Occupy Wall Street”) foram bem mais expressivos que os dos Estados Unidos, e os deste país muito superiores aos de Canadá e Brasil, por exemplo, numa hierarquia em que a ordem de grandeza das manifestações é diretamente proporcional à da gravidade dos problemas econômicos e sociais em cada uma dessas nações.

Velocidade e vigor

De modo análogo, diversos países árabes, embora suas sociedades estejam submetidas a governos quase tão despóticos e intolerantes como eram os de Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen um ano atrás, passaram quase incólumes de grandes manifestações de descontentamento (Kuwait, Qatar, Emirados), muito provavelmente porque as condições sociais e econômicas ali não estavam tão ruins como naqueles outros países.

O efeito de mimetismo pelas mídias sociais, que foi tão prognosticado, não aconteceu. É evidente que Facebook, smartphones, Twitter e tecnologias do gênero podem dar velocidade e vigor a movimentos sociais. Mas eles não determinam seu sucesso ou grau de representatividade coletiva.

FONTE: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

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