segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mais R$ 40 bi para bancos públicos

O governo prepara uma capitalização de R$ 40 bilhões nos bancos públicos para aumentar a oferta de crédito e aquecer a economia. Só o BNDES vai receber R$ 25 bilhões. Serão destinados recursos ainda para Caixa, BB e Banco do Nordeste

Governo quer injetar R$40 bi em bancos públicos

Ideia da capitalização é dar condições para que instituições ampliem concessão de crédito e ajudem a turbinar economia

Geralda Doca, Martha Beck

BRASÍLIA. A equipe econômica já prepara uma nova capitalização dos bancos públicos, que pode chegar a R$40 bilhões, para que eles abasteçam a economia com crédito. O temor dos técnicos é que a desaceleração da atividade e o agravamento da turbulência global provoquem, em 2012, um quadro semelhante ao de 2008, quando a oferta de recursos secou no país. Naquele momento, foram justamente os bancos públicos que supriram o espaço deixado pelas instituições privadas e ajudaram a turbinar a economia.

A injeção de recursos - que pode ser um mix entre dinheiro do Tesouro Nacional, lançamento de ações e captações externas - será necessária pois as instituições federais estão num ritmo acelerado de expansão das suas carteiras e caminham rapidamente para os limites de segurança, o chamado índice de Basileia. O índice define que para cada R$100 emprestados, o banco precisa de reserva própria de ao menos R$11.

Outro fator de pressão é que o Banco Central vai colocar em consulta pública este mês regras de controle mais duras para os bancos, que vão exigir um esforço maior de capitalização para que as instituições fiquem enquadradas. Com a mudança, que entra em vigor em janeiro, os bancos não poderão mais considerar bens intangíveis, como marca ou créditos tributários, no cálculo de seu capital próprio.

A situação é mais crítica hoje na Caixa, mas também afeta o Banco do Brasil. Segundo técnicos, mantidos os parâmetros atuais, os dois bancos precisarão de pelo menos R$15 bilhões, valor semelhante às capitalizações realizadas em 2009 e 2010. Numa proporção menor, o Banco do Nordeste, que já recebeu cerca de R$1 bilhão, também poderá necessitar de novos aportes. O BNDES, por sua vez, deverá receber R$25 bilhões.

Depois de ter elevado sua carteira de crédito em 40% entre setembro de 2010 e setembro deste ano, a Caixa viu seu índice de Basileia cair de 17,04% para 13,45%, percentual próximo aos 11% exigidos. Para 2012, a meta da instituição é crescer entre 30% e 35%. No BB, o crédito subiu 20% no terceiro trimestre, e o índice se manteve em 14%.

Levantamento da USP revela que a situação da Caixa e do BB já é preocupante, quando se compara a proporção do patrimônio líquido em relação às operações de crédito, que são de 9% e de 15%, respectivamente. A média dos maiores bancos privados (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e HSBC) está em 22%.

Para o professor Alberto Matias, se quiser repetir a estratégia de 2008, o governo terá mesmo que fazer novos aportes. Ele lembra que a própria crise externa, com problemas nas matrizes dos bancos privados, vai aumentar a pressão sobre os bancos públicos. Os técnicos da equipe econômica também reconhecem a necessidade de aportes.

- Já contamos com essa possibilidade (capitalização). No caso da Caixa, o valor não é tão alto. No BB, a conta é dividida com os acionistas - disse um técnico.

Segundo o vice-presidente de Novos Negócios de Varejo do BB, Paulo Rogério Caffarelli, com a entrada do Banco Postal em janeiro (parceria com Correios), a ideia é atuar forte para oferecer crédito a oito milhões de consumidores das classes C, D e E, que já são clientes, mas pegam financiamentos na concorrência. Ao todo, o plano é pôr na praça R$52 bilhões, com aumento de limite para cheque especial, CDC, imóveis, veículos e desconto em folha:

- Com base no comportamento dos clientes, estamos expandindo o crédito de forma expressiva e consciente.

Segundo o presidente do BNB, Jurandir Santiago, com novas empresas no Nordeste, cresceu a demanda por financiamentos de infraestrutura, e o Fundo Constitucional, com R$10 bilhões, é insuficiente. Para ter fonte de recursos, o BNB quer captar no exterior entre R$500 milhões e R$600 milhões. Sobre aporte do Tesouro, Santiago disse:

- Essa porta está aberta.

Desde a última crise, o banco que mais recebeu do Tesouro foi o BNDES. Foram R$100 bilhões em 2009 e R$80 bilhões em 2010. Isso sem contar com R$30 bilhões para ajudar na capitalização da Petrobras. Este ano, o governo capitalizou o BNDES em R$30 bilhões, com autorização para que o total do ano ficasse em R$55 bilhões. A diferença deve ser repassada em breve.

No caso da Caixa, foram feitas duas capitalizações desde 2009, que somaram R$8,2 bilhões. Já o BB captou recursos por meio de uma oferta pública de ações, que ficou em R$9,7 bilhões.

FONTE: O GLOBO

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