terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Guerrilhas comerciais pelo mundo:: Vinicius Torres Freire

Brasil vai adotar pequenas medidas de proteção comercial, como aliás quase todo mundo está fazendo

O Brasil pretende cobrar um imposto de importação extra sobre o quilo de roupa ou de tecidos feito na China e/ou redondezas, disse o ministro Guido Mantega à Folha. Pode ser que proteções parecidas ou de outra espécie sejam baixadas para limitar a entrada de importados em outros setores da indústria.

O objetivo dessas medidas seria, em geral, conter exportações chinesas subfaturadas, produtos vendidos abaixo do preço do seu mercado de origem (quando não até abaixo do custo). É protecionismo?

Desde 2009, mais ou menos, o governo brasileiro vem adotando medidas que acabam por proteger um pouco mais os produtos brasileiros de concorrências desleais, de moedas desvalorizadas demais (como a chinesa) e do fato de o real ter ficado forte demais, o que encarece os produtos nacionais. No mais das vezes, o governo baixa um imposto ou dá um subsídio disfarçado. Faz-se isso no mundo inteiro, aliás.

Vale sempre lembrar que os produtos brasileiros muita vez são caros demais porque há impostos demais, custos de transporte e energia horríveis etc., o de sempre. Não se esqueça também que as empresas brasileiras têm pouco apreço por inovação e conhecimento.

Mas continuemos: o que o governo faz é protecionismo? Uhm. O fato é que os chineses aprontam, e não é apenas o Brasil quem diz. É fato também que os chineses trabalham muito, ganham pouco, poupam e investem muito -talvez até demais.

Isto posto, apesar de todas as suas vantagens "fundamentais", os chineses ainda subfaturam exportações, pirateiam, subsidiam e manipulam o câmbio. No aniversário de quinto ano da crise econômica mundial, essa guerrilha comercial vai piorar, e não só na China.

Ao contrário do que se temia em 2008, o cataclismo financeiro e recessivo (no mundo rico) não suscitou uma onda protecionista, como nos anos 1930. Agora há a OMC (Organização Mundial do Comércio).

Apesar de todas as suas muitas falhas, a OMC evita ousadias protecionistas maiores (mais é driblada em várias das menores). Além do mais, a interdependência das economias nacionais é maior. Grandes múltis se opõem a protecionismos, quando é do interesse delas.

Porém, o clima está ruim. A taxa de juro zero nos EUA ajudou a provocar valorização de moedas "periféricas" como a nossa. China e complexo asiático estão procurando onde desovar suas exportações em 2012, ano de nova recessão na Europa e crescimento baixo nos EUA.

Há escaramuças diversas. Em 2009, Barack Obama aumentou brutalmente o imposto de importação de pneus chineses (ninharia, perto do comércio sino-americano). A China reclamou e foi à OMC. Não levou. Agora, elevou tarifas sobre carros de luxo americanos. Ninharia também. Mas os países estão se bicando mais, em comércio, câmbio, finanças e regulação.

Os britânicos se estranharam com a União Europeia ao tentar fazer uma defesa canhestra do seu mercado financeiro de normas e taxações europeias. Alemanha e França querem criar a "eurozona dentro da eurozona", "só para quem pode". Na OMC, onde morreram as grandes negociações, países ricos querem fazer acordos plurilaterais em vez de acordos gerais de abertura de comércio de bens e, em especial, serviços. A amargura cresce.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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