segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Cai o sétimo ministro de Dilma

Desgastado por denúncias de corrupção no Ministério do Trabalho, o ministro Carlos Lupi se antecipou a presidente Dilma - que, pressionada pela Comissão de Ética da Presidência, anunciaria hoje a saída do pedetista da pasta - e entregou ontem o cargo. Ele resistiu por apenas 28 dias, após afirmar que só sairia "abatido a bala". O secretário-executivo Paulo Roberto Pinto assumiu o ministério, pelo menos até a reforma prometida para janeiro. No entanto, não é certa a permanência do PDT no comando da pasta, e Dilma já pensa em fundir a Previdência e o Trabalho e entregá-los ao PMDB. Em nota, Lupi atribuiu sua saída a "perseguição política e pessoal da mídia". E reclamou do que chamou de condenação sumária da Comissão de Ética

Após 28 dias, Lupi joga a toalha

Ministro pede demissão depois de dizer que só sairia "abatido à bala"; secretário-executivo assume

Diana Fernandes, Fábio Fabrini

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, pediu demissão na noite de ontem, desgastado por denúncias de corrupção em sua pasta. Com a decisão, ele se antecipou à presidente Dilma Rousseff, que anunciaria sua saída hoje, pressionada por recomendação da Comissão de Ética da Presidência, que sugeriu, na quarta-feira passada, a exoneração do ministro. O secretário-executivo Paulo Roberto Pinto assumirá o cargo ao menos até a reforma ministerial prometida para janeiro, após a presidente voltar de dez dias de férias, emendadas com o Natal e o réveillon. Não é certa a permanência do PDT no comando da pasta, tampouco o retorno do PT, que o antecedeu no primeiro mandato do ex-presidente Lula.

Lupi, que se agarrou à cadeira de ministro e chegou a declarar que só a deixava "abatido à bala", despediu-se com uma nota, divulgada no site do ministério após reunião de meia hora com a presidente no Palácio da Alvorada. No comunicado, ele atribuiu sua saída à "perseguição política e pessoal da mídia". E à divulgação do parecer da Comissão de Ética, que chamou de condenação sumária, "com base no mesmo noticiário".

"Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o trabalhismo não contagie outros setores do governo", justificou.

Lupi é o sexto ministro de Dilma a tombar este ano por denúncias de irregularidades. Foi um dos mais longevos, ficando 28 dias no cargo desde que O GLOBO e a revista "Veja" publicaram, em 6 de novembro, reportagem sobre irregularidades no Trabalho.

Dilma pretende unir dois ministérios

Em nota, a presidente disse que Lupi apresentou seu pedido de demissão em "caráter irrevogável" e agradeceu "a colaboração, o empenho e a dedicação" do pedetista, acrescentando ter certeza de que "ele continuará dando sua contribuição ao país". Ontem mesmo, o Planalto anunciou o secretário-executivo como interino.

Com a reforma ministerial, uma das ideias da presidente é fundir os ministérios da Previdência e do Trabalho, criando, assim, uma pasta mais robusta para atender o PMDB, maior partido aliado e que se considera pouco favorecido no 1º escalão do governo Dilma. O próprio Planalto reconhece que a representação do partido na Esplanada é menor do que o poder de fogo que ele tem no Congresso.

A ideia da fusão resolveria outro problema: acabaria com a disputa entre PT e PDT, que comandam as principais forças sindicais do país, pelo poder na pasta. Mas não é ainda uma decisão tomada por Dilma.

A expectativa de setores do PDT era de que a presidente Dilma tomasse a iniciativa de demitir Lupi, e eles acreditavam que ela deveria ter feito isso quando a Comissão de Ética recomendou a exoneração. Muitos dirigentes do partido pressionaram para que Lupi saísse e chegaram a sugerir isso. Falaram com ele o presidente da sigla, André Figueiredo, e o secretário-executivo, Manoel Dias, ambos lupistas.

O fato de a presidente ter pedido mais esclarecimentos à Comissão de Ética sobre o processo de Lupi teve o objetivo de ganhar tempo, para não decidir em cima de uma sugestão do grupo. Dilma considera que, se assim o fizesse, ficaria a reboque de um grupo auxiliar da Presidência. Lupi pediu mais tempo à comissão para se explicar, não porque acreditava que teria chance de permanecer no cargo, mas para ganhar fôlego e não sair com a "marca de corrupto", como ele mesmo alegou aos colegas do PDT.

O processo de fritura de Lupi provocou muito desgaste político para todas as partes: a presidente Dilma, o próprio ministro e o PDT, que estava cada vez mais rachado.

Colaborou: Gabriela Valente

FONTE: O GLOBO

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