sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

2012 no rescaldo de 2011:: Vinicius Torres Freire

Números recentes indicam que crescimento econômico neste ano e no que vem deve ficar na média de 3%

A batelada de dados econômicos brasileiros desta penúltima semana do ano indica que:

1) Outubro parece ter sido mesmo o fundo do poço. Por ora, não há pistas de que exista um alçapão nesse fundo, com um buraco mais embaixo. Mas o quarto trimestre tem cheiro de estagnação, mais ou menos como o do terceiro. Difícil o PIB deste ano passar de 2,8%;

2) O primeiro trimestre de 2012 será fraquinho ainda. E tenso. O resultado da inflação pode desanuviar ou deteriorar o ambiente. No período, saberemos se o IPCA cairá na medida prevista por governo/BC. Em fevereiro e março também haverá nova oportunidade para os governos europeus fazerem besteira;

3) Se tudo der certo, a economia brasileira estará bem animada lá por setembro. Mas vai ser preciso artifício para fazer o PIB crescer mais do que os 3,5% previstos ontem pelo Banco Central.

Ontem, o IBGE divulgou os números do desemprego de novembro.

No que diz respeito a inflação e crescimento, é relevante o aumento fraco da massa salarial (os salários somados): 2,2% em relação a novembro de 2010. No trimestre final de 2010, a massa crescia a mais de 10%. Na média de janeiro a outubro de 2011, mais de 5%.
Além disso, note-se a convergência da fraqueza dos números do emprego formal nos dados do Caged (registros do Ministério do Trabalho sobre admitidos/demitidos) e na pesquisa do IBGE. Ou seja, as empresas maiores e/ou melhores, as que mais empregam formalmente, estão com as barbas de molho.

O Banco Central estimou nesta semana que o crédito vai crescer 17,5% neste ano e 15% em 2012. Em termos reais, dá quase na mesma. É um aumento forte, ainda. Mas não implica impulso extra para o crescimento. Além do mais, na estimativa do BC está implícita a projeção de que o crescimento do crédito dependerá de mais empréstimos dos bancos públicos (responsáveis pelo grosso do crédito direcionado: BNDES, habitação, agricultura).

De onde viriam os impulsos para contrabalançar a tendência de baixa deste final de ano?

Como dizia relatório de ontem dos economistas do Bradesco: "... a recuperação do PIB vai se dar ao longo dos próximos trimestres, conforme as medidas de estímulo (redução de juros, reversão das medidas macroprudenciais, aumento de investimentos públicos, elevação de desembolsos do BNDES e isenção tributária para alguns setores) surtirem efeito e o ajuste de estoques industriais se completar".

Parte dos estímulos está no forno: baixa de juros e baixa de impostos para a indústria, embora o efeito da tributação menor sobre a indústria seja mais incerto. Os demais, por ora, estão projetados, pois:

1) O governo não especificou se e quando vai anular parte das medidas administrativas de controle de crédito ("macroprudenciais");

2) O governo quer aumentar o investimento, mas depende de ter projetos prontos e receita suficiente (para gastar e fazer superavit);

3) O aumento do crédito do BNDES não depende só do banco, mas ainda da demanda das empresas.

Além disso, há a dúvida sobre o investimento das estatais, maior que o da União. Enfim, vamos ver o governo se mexendo bastante para fazer o PIB aumentar ao menos 4%. O que não soa muito bem.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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