sábado, 12 de novembro de 2011

Ordem foi de blindagem total

Governo orientou deputados da base a rejeitarem qualquer convocação de ministros

Evandro Éboli

Blindagem total. Essa foi a ordem disparada esta semana pela liderança do governo na Câmara para evitar que a oposição aprovasse na Comissão de Fiscalização e Controle a transferência ao Legislativo da investigação sobre os recentes escândalos nos ministérios do Trabalho e do Esporte, este respingando no governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Na mensagem, a liderança do governo orientou a bancada a chegar na hora certa na comissão. Tudo para garantir que fosse rejeitado um pacote de 23 requerimentos da oposição. Nem todos foram submetidos a votação, mas os que foram acabaram derrubados.

O governo, com ampla maioria na comissão - 14 deputados contra 6 oposicionistas -, blindou seus protegidos. "A liderança do governo informa que haverá reunião deliberativa da Comissão de Fiscalização nesta quarta-feira, 9, às 9:30h. E reitera o pedido para que os deputados da base de apoio do governo se façam presentes à reunião da comissão, no plenário 9", afirma o documento do governo enviado aos deputados de sua base. "O governo solicita que os deputados da base sejam pontuais e que os vice-líderes da comissão estejam presentes na reunião logo no início", diz o texto.

O documento orientador apresenta a lista dos requerimentos de convocação a serem apreciados e, em letras maiúsculas e em vermelho, faz a última recomendação: "O governo orienta pela rejeição dos itens em vermelho".

Agnelo Queiroz foi protegido

O governador Agnelo Queiroz, acusado de receber propina da indústria farmacêutica quando era diretor da Anvisa, escapou de ter que comparecer à comissão graças a essa ação do PT e de aliados.

A polêmica em torno da convocação de Agnelo - de autoria de Onyx Lorenzoni (DEM-RS) - tomou boa parte do tempo da reunião. Os governistas rejeitaram ainda a ida de Fábio Hansen e Charles Rocha - ambos ex-colaboradores de Agnelo e de Orlando Silva no Ministério do Esporte -, também citados como envolvidos nas irregularidades que envolvem ONGs. O pedido era do líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP).

A estratégia da última semana faz parte do trabalho diário de monitorar os assuntos de interesse do governo no Congresso. Toda semana, os deputados da base recebem o documento "orientação da liderança do governo", com recomendações sobre como votar. Os vice-líderes têm poder de pedir verificação de quorum e podem interferir nas votações. A oposição aproveita o cochilo do governo e tenta, logo no início das sessões, inverter a pauta e votar convocações de autoridades.

O presidente da Comissão de Fiscalização, Sérgio Brito (PSD-BA), afirmou que sofre muita pressão do Executivo para não incluir esse tipo de requerimento na pauta, mas disse que precisa cumprir sua função.

- Sou muito criticado pelo governo porque coloco esses requerimentos convocando ministros para serem votados. Sofro uma pressão que você nem imagina. Mas nunca esmoreci - disse Sérgio Brito, que está deixando a presidência da comissão porque mudou de partido. Ele estava no PDT e filiou-se recentemente ao PSD.


O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), diz que a oposição só quer tumultuar:

- A função da oposição é atrapalhar, infelizmente. E radicalizou muito. Encaro com naturalidade a ação do governo de evitar convocações desnecessárias de ministros.

Duarte Nogueira disse que o governo usa o regimento no limite para impedir convocações de ministros.

- O governo tem medo porque sabe que nessas audiências cobramos e exigimos explicações dos ministros. Quase todos os dias aparecem denúncias contra essas pessoas - afirmou o tucano.

FONTE: O GLOBO

Nenhum comentário: