sexta-feira, 4 de novembro de 2011

No DF, Agnelo afasta cúpula da polícia

O governador do DF, Agnelo Queiroz, exonerou 43 delegados e sete diretores, após vazamento do grampo feito pela polícia em que ele chama de "mestre" o delator de irregularidades no Ministério do Esporte

Crise se agrava no DF

Agnelo exonera diretores e delegados após vazamento de gravações de conversas com delator

Roberto Maltchik

Após o vazamento de gravações feitas em 2010 pela Polícia Civil do Distrito Federal, que comprovam a ligação do governador Agnelo Queiroz com o PM João Dias Ferreira, 43 delegados-chefes e sete diretores da corporação foram exonerados. As demissões dos cargos de confiança, publicadas ontem, seguem-se à troca do comando da Polícia Civil, chefiada pela delegada Mailine Alvarenga. Na última terça-feira, o "DF-TV", da Rede Globo, divulgou conversas entre o governador e o delator do suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte. Nelas, Agnelo chama João Dias de "meu mestre".

O governo negou que as substituições tenham ocorrido em represália à divulgação dos diálogos. Segundo Agnelo, foram a "reafirmação de um comando em um momento de movimento grevista". Agentes civis estão em greve no DF desde o dia 27 de outubro.

A exoneração dos delegados em postos de chefia agravou ainda mais a crise entre o governo e a Polícia Civil. Os delegados, que querem aumento de 13%, também decidiram aderir à paralisação até a próxima quinta-feira. Um integrante do governo Agnelo admitiu que houve erro político e que a decisão de exonerar os delegados-chefes acirrou ainda mais os ânimos na Segurança do Distrito Federal. O presidente do Sindicato dos Delegados, Benito Tiezzi, disse que está "rezando" para que a troca não tenha relação com a revelação das gravações.

- Ninguém no governo falou conosco sobre os motivos das exonerações. Nunca houve exonerações em massa de postos de chefia durante uma gestão. Isso só acontece quando troca o governo. Estou rezando para que isso não tenha relação com a revelação das gravações (do governador com João Dias). Juro que estou rezando, porque seria muito ruim - afirmou Tiezzi.

Ato de agentes em frente ao Planalto

Nas gravações, feitas entre março e abril de 2010 e apresentadas pelo "DF/TV", João Dias pede ajuda a Agnelo para se defender do processo judicial aberto com o objetivo de investigar os desvios de recursos do Programa Segundo Tempo, criado quando o atual governador era ministro do Esporte. À época da conversa, a União já tinha aberto processo administrativo para requerer do PM a devolução de R$3,5 milhões. Agnelo era candidato ao governo do Distrito Federal e ocupava um cargo na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com intimidade, Agnelo chama João Dias de "meu mestre" e se dispõe a ajudar o grupo acusado de desviar dinheiro público.

Como no caso dos agentes, só 30% da categoria farão o atendimento ao público nos próximos dias. Ontem, os agentes chegaram a parar o trânsito em frente ao Palácio do Planalto, sob o argumento de que cabe à presidente Dilma Rousseff assinar o reajuste da categoria. A assessoria do governador, por meio de nota, sustentou que a greve foi o estopim para a troca da diretora e das funções de confiança, e disse que alguns delegados exonerados serão "reconfirmados" em outras funções de chefia.

"A mudança na corporação é no sentido de superar uma série de movimentos grevistas, como o de agora. Não pode ser interpretada como retaliação, pelo contrário, é um gesto até para preservar a ex-diretora Mailine Alvarenga. Não existe demissão em massa na Polícia Civil do Distrito Federal, tanto que hoje (ontem) já foram nomeados 24 delegados. É natural que ocorram algumas reacomodações", informou a assessoria do governador.

Sobre o vazamento de informações, a assessoria reafirmou que, "apesar de todo o esforço e compromisso da delegada Mailine, há grupos contaminados por forças políticas do passado, esses pequenos grupos ainda insistem em cometer desmandos, transformando o que deveriam ser investigações em fatos políticos, criando artificialmente denúncias".

FONTE: O GLOBO

Nenhum comentário: