segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Getulio Vargas Neto se filia ao PPS no Rio e busca inspiração no avô

Neto do ex-presidente pode se candidatar a vereador ou a prefeito em 2012

Juliana Castro

RIO - Era um dia de céu nublado e tempo chuvoso quando Getulio Dornelles Vargas Neto entrou pelos corredores do Museu da República, abrigado no Palácio do Catete, Zona Sul do Rio, onde seu avô viveu os últimos momentos antes de sair da vida para entrar na História. O neto, um ex-pedetista, não esconde a admiração pelo avô-presidente, assim como não oculta que busca nele a inspiração para fazer bonito em seu retorno à política, agora no PPS.

Aos 55 anos, ele diz estar mais maduro para voltar ao mundo partidário e ao Rio, cidade em que nasceu e onde a família “fez história”, segundo suas palavras. Da mesma forma como foi levado pelo pai, Manuel Vargas - o Maneco, um dos cinco filhos de Getulio -, para Porto Alegre aos 13 anos, é ele quem hoje traz a mulher e os dois filhos, de 10 e 14 anos, para viver na capital fluminense. Formado em administração, vai comandar à distância sua fazenda e os negócios na área de agropecuária, enquanto faz uma nova investida na política.

Fundador do PDT, Getulio conheceu o gosto amargo da derrota na eleição para deputado estadual em 1986. Nunca mais tentou um cargo público. Abandonou o partido quando Leonel Brizola aceitou ser vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 1998, mas agora já se sente recuperado das desilusões.

Para vereador não teria muito problema, embora não seja muito a minha praia. Eu me vejo muito mais Executivo que Legislativo

Com a ideia fixa de voltar ao estado natal, concretizada há dois meses, o neto do ex-presidente quis retomar a atividade partidária para dar continuidade ao legado de “doutor Getulio”, como gosta de se referir ao avô que ele não conheceu. Antes de optar pelo PPS, manteve conversas com o PDT e o PTB de Roberto Jefferson, mas desistiu:

- São partidos que estão muito comprometidos - diz Getulio, que abandonou Porto Alegre, mas não o sotaque gaúcho adquirido ao longo de mais de 40 anos.

O novo filiado do PPS pode ser candidato à sucessão de Eduardo Paes, inspirado no pai, que foi prefeito de Porto Alegre em 1955. Disputaria com o deputado federal Stepan Nercessian a indicação do partido. Getulio desconversa sobre a possibilidade, mas deixa escapar:

- Para vereador não teria muito problema, embora não seja muito a minha praia. Eu me vejo muito mais no Executivo que no Legislativo. Mas quem disse que tem que ser agora? Por que não posso ficar três anos visitando o estado inteiro e sair candidato a governador?

Com o cenário indefinido, o presidente do PPS, Roberto Freire (SP), se limita apenas a analisar a aquisição do novo quadro, sem deixar de lado os afagos:

- Para o partido é uma honra ter uma pessoa com essa história, mesmo que não seja diretamente feita por ele. Não é uma filiação qualquer.

Jamais vou me desvincular do meu avô. Se eu acertar, não fiz mais que minha obrigação. Se eu errar, é o neto do Getulio Vargas quem está errando

Tão logo fez seu primeiro encontro com Freire, Getulio tomou a decisão de oficializar sua filiação. Em pouco tempo lá estava à espera de Raulino Oliveira, do diretório estadual, no Tribunal Regional do Rio (TRE-RJ) para agilizar os trâmites:

- Fiquei na porta esperando chegar o Getulio Vargas Neto e me aparece um sujeito baixo, de calça jeans, camisa, tênis e de mochila nas costas – diz Raulino, exaltando a simplicidade do novo colega de partido.

E é justamente numa receita simples que o neto do “pai dos pobres” vai apostar: pretende usar o vínculo familiar com o presidente nacionalista nas futuras campanhas.

- Jamais vou me desvincular do meu avô. E nem quero. Mas se eu acertar, não fiz mais que minha obrigação. Se eu errar, é o neto do Getulio Vargas quem está errando – afirma.

Além da baixa estatura em comum – Getulio jura que tem “em torno de 1,65m” –, o neto aponta outras semelhanças com o avô, como “o mesmo espírito democrático e a mesma simplicidade”. E reconhece que o ex-presidente “está bem mais acima” no sentido político.

Sem querer analisar erros e acertos dos governos getulistas, o mais novo político da praça repete como um mantra os elogios ao avô. Não lida bem com críticas ao ex-presidente, desde os tempos da adolescência. Rebateu professores e não aceitou bem quando teve de aprender nos livros didáticos histórias que ouvia na sala de casa. Dessa época, ficou apenas uma certeza que dura até hoje e que vai perdurar na aventura política.

- Não é fácil ser neto de Getulio Vargas – diz.

FONTE: O GLOBO

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