quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Em grampo, Agnelo chama de "meu mestre" delator de suborno

Delator e "mestre" de Agnelo

Gravações mostram governador do DF prometendo ajuda a PM que acusou Orlando Silva

Jailton de Carvalho

Gravações da Polícia Civil mostram que o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), prometeu ajudar o policial militar João Dias Ferreira, pivô da queda do ex-ministro Orlando Silva (PCdoB), a preparar a defesa no processo em que é acusado de desviar dinheiro do Ministério do Esporte. Os diálogos, divulgados ontem pelo "DF TV", da TV Globo, mostram intimidade entre o governador e João Dias. Numa das conversas, gravadas com autorização judicial, Agnelo chama o policial de "meu mestre!".

Em outro trecho, Ana Paula, mulher de João Dias, pede a Agnelo que contrate advogados para defender o policial, que acabara de ser preso por conta das acusações de desvios de dinheiro do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte. Os diálogos foram gravados entre fevereiro e março de 2010. Ex-ministro do Esporte, Agnelo era na época diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Acossado pelas investigações, o policial recorreu a Agnelo, que, meses depois, seria eleito governador do Distrito Federal.

Numa das conversas, João Dias pede a Agnelo que oriente o professor Roldão Lima a ajudá-lo. Professor de uma escola em Sobradinho, Roldão poderia fornecer fichas de alunos para João Dias preencher o cadastro de crianças matriculadas no Segundo Tempo.

- Vou estar encontrando agora, daqui a uns cinco minutos, o professor Roldão, e aquele assunto que a gente tratou, não sei se o senhor se lembra, ano passado... - diz João Dias.

- Lembro - responde Agnelo.

O policial vai direto ao assunto:

- Eu queria o seguinte: colocar o senhor na linha com ele. Falar só um "bom dia" mesmo.

O governador aceita a sugestão:

- Vou dar um toque nele só para reforçar ele (sic) - diz.

Em outra conversa, já na companhia de Roldão, João Dias liga novamente para Agnelo.

- Meu mestre! - responde Agnelo, referindo-se a João Dias.

Para Agnelo, fita não é prova suficiente

Na investigação, a Polícia Civil documentou um encontro em que Roldão entrega uma pasta a João Dias. Semanas depois, João Dias e mais quatro pessoas, todas acusadas de desviar dinheiro do Segundo Tempo, foram presas na Operação Shaolin, da Polícia Civil. Após a prisão, Ana Paula pediu ajuda a Agnelo:

- A Polícia Civil está fazendo mandado de busca e apreensão aqui em casa e tá levando o João Dias preso. Então ele pediu que eu fizesse um contato com o senhor para que o senhor, se possível, já viabilizasse os advogados para poder ajudar - diz Ana Paula, em mensagem deixada no telefone do governador.

Em outra gravação, após uma troca informal de cumprimentos, João Dias passa o telefone para que Agnelo fale com o professor:

- Tô almoçando com um grande amigo aqui. Deixa eu passar pra ele aqui - diz o policial.

Agnelo fala então com Roldão:

- Vou combinar, falar com o João, para ir tomar um café contigo. Viu?

- Será uma satisfação. E vamos conversar, porque tem muita coisa aí que a gente precisa conversar - responde Roldão.

Agnelo disse ontem que a fita não é suficiente para incriminá-lo:

- Mostre alguma coisa de eu pedindo alguma ilegalidade!

A deputada distrital Celina Leão (PSD) disse que o teor dos diálogos reforçará o movimento pela criação da CPI do Segundo Tempo, na Câmara Legislativa. Ela informou que já tem cinco das oito assinaturas necessárias para pedir a CPI. Ao longo da tarde, porém, 19 dos 25 deputados distritais assinaram nota de apoio a Agnelo.

FONTE: O GLOBO

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