terça-feira, 29 de novembro de 2011

Economistas defendem desvalorização do real para aumentar competitividade

Encontro, que reúne petistas, aborda crise do capitalismo e desenvolvimento

Liana Melo, Bruno Rosa e Letícia Lins

RIO e SÃO GONÇALO DO AMARANTE (RN). Só tem um jeito de tirar a economia brasileira do corner imposto pelo trinômio câmbio sobrevalorizado, inflação além do teto da meta e juros altos. O governo precisa ter coragem e intervir, desvalorizando o real para garantir competitividade internacional aos industrializados brasileiros. A proposta é do ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, que, ao lado da economista Maria da Conceição Tavares e do ex-presidente do BNDES Carlos Lessa, participou ontem do seminário "A crise do capitalismo e o desenvolvimento no Brasil".

O encontro foi a versão petista da reunião realizada pelos tucanos no início do mês para discutir crise global e reuniu líderes de PT, PCdoB, PDT e PSB.

Bresser defendeu um câmbio "flutuante administrado" entre R$2,30 e R$2,40, bem acima do atual R$1,90. Só assim, disse, seria possível elevar a taxa de investimento anual no país para 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, a taxa é de 17%.

- Vivemos o momento ideal para mexer no câmbio - disse, admitindo, porém, que isso pressionaria a inflação para cima e os salários para baixo. - Mas é uma situação rapidamente recuperável, já que a economia vai crescer impulsionada pela maior taxa de crescimento.

Para garantir o sucesso da proposta, Bresser concorda com Lessa que é preciso taxar os importados.

- Com a taxação, teríamos um preço interno e outro externo. Caso contrário, vamos deixar a indústria nacional desprotegida - defende Lessa.

Ainda que apoie a mudança no câmbio, Conceição Tavares acha que não é suficiente.

- Mas não pode ser feito à galega, senão acaba com os salários - disse, defendendo medidas protecionistas contra a invasão de produtos chineses.

- Pode-se fazer por tarifas, subsídios. - afirmou. - É que eles (os chineses) mentem, dizem que vão fazer e não fazem.

Já o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que o papel do Estado não deve se resumir ao controle das taxas de câmbio e de juros: é preciso regulação em várias áreas.

- Questões como a proteção do consumidor, o aumento dos oligopólios, o papel do Estado na oferta de serviços universais, além de questões como regulação das tarifas bancárias e do preço da energia. Qualquer projeto do governo deve ir além e pensar nas outras esferas.

Barbosa também afirmou que o Brasil tem muitos desafios, como a questão tributária e como atender a uma nova classe média, que demanda serviços. Segundo ele, a situação internacional é difícil, mas o Brasil tem boas condições, já que tem recursos para desenvolver seus investimentos e há expectativas de crescimento da classe C.

Dilma: país tem recursos se "crédito secar lá fora"

Em São Gonçalo do Amarante (RN), a presidente Dilma Rousseff também garantiu ontem que o Brasil tem recursos suficientes para financiar a iniciativa privada "quando o crédito secar lá fora". Ela fez o comentário na solenidade de assinatura da primeira concessão de um aeroporto à iniciativa privada. Serão exigidos R$650 milhões, dos quais 20% sairão do Consórcio Inframérica e os outros 80%, do BNDES.

- A gente vê as notícias que acontecem no resto do mundo. Enquanto geramos empregos e estamos lutando para garanti-los, o que acontece em países que antes eram objeto de desejo do Brasil? O aumento desenfreado do desemprego, e, o que é mais grave, entre os mais jovens - disse. - Estamos em um outro momento. Este país, diante de toda essa crise, tem condições de continuar crescendo.

FONTE: O GLOBO

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