terça-feira, 15 de novembro de 2011

Dono de ONGs diz que conhece Lupi e que providenciou avião, mas não pagou

"Queria dizer claramente que o ministro está equivocado ou sem memória"

Jailton de Carvalho e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O empresário Adair Meira, dono de três ONGs financiadas pelo Ministério do Trabalho, contestou ontem as declarações do ministro Carlos Lupi de que os dois não se conheciam. Em tom de desafio, o empresário sustenta que tem "elementos suficientes" para fazer o ministro refrescar a memória. Meira confirmou que "providenciou" o avião que, segundo a revista "Veja", foi usado por Lupi para fazer visitas ao Maranhão em dezembro de 2009. Em depoimento na Câmara, na quinta-feira passada, Lupi negou qualquer vínculo com Meira.

- Queria contestar essa história do ministro. Eu queria dizer claramente que o ministro está equivocado ou está sem memória. Acho que essas palavras bastam por enquanto: ele está equivocado ou sem memória - disse Meira, ao GLOBO.

O dono das ONGs Fundação Pró-Cerrado, Renaspi e Cepros disse que Lupi não poderia, em hipótese alguma, ignorá-lo, como fez na Câmara. Questionado sobre as supostas relações com Meira, Lupi negou qualquer proximidade com o empresário. E até deu a entender que nem sabia qual era o nome dele.

- Não tenho nenhuma relação com... como é o nome?... seu Adair. Posso ter e devo ter encontrado ele (sic) em algum lançamento de convênio. Não sei onde ele mora. Nunca andei em aeronave pessoal dele nem de ninguém - disse Lupi, na Câmara.

Para Meira, a realidade não é bem assim.

- Não quero dizer que o ministro está faltando com a verdade. Mas tenho elemento suficiente para ele lembrar. Ele não pode fazer daquele jeito que ele simplesmente não conhece, como se tivesse algo a temer - disse o empresário.

A Controladoria Geral da União investiga supostas irregularidades das ONGs de Meira com recursos do Ministério do Trabalho. Em um dos casos, aponta falta de comprovação de despesas de R$5 milhões.

Meira disse que ajudou a viabilizar o fretamento do avião usado no Maranhão, mas que não pagou a conta do serviço:

- Eu providenciei (o avião). Fiz o contato porque aquela companhia é de Goiânia.

O empresário não respondeu, no entanto, se viajou no mesmo avião, conforme informou a "Veja". Meira disse que se certificaria sobre o conteúdo de declarações do ex-secretário Ezequiel Nascimento e, em seguida, responderia à questão. Mas o empresário confirmou participação na festa de divulgação dos programas do ministério no Maranhão, organizada pela equipe de Lupi.

- Eu estava num daqueles eventos - disse.

Ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho, Ezequiel Nascimento continua em silêncio. Ele está sendo ameaçado e foi pressionado nos últimos dias para mudar sua versão e desmentir o relato de que Lupi viajou num avião emprestado por Meira.

Nas palavras de dirigentes do PDT, Ezequiel entrou na lista negra da cúpula do partido. Mas, em desabafo com interlocutores, mandou avisar que não voltaria atrás no depoimento dado à "Veja". Procurado ontem pelo GLOBO, o ex-secretário do Ministério do Trabalho não retornou. Mas, para alguns integrantes do PDT, disse que não mudaria o relato:

- Eu não vou desmentir. Não estava bêbado. Não estava drogado. Não volto atrás. Posso não falar mais, mas se desmentir agora fico desmoralizado - desabafou Ezequiel para um interlocutor.

Ele contou que precisou desligar o telefone no domingo, para não receber mais pressão de pedetistas. Por esses relatos, está amedrontado com a pressão que sofre desde sábado, quando foi publicada a notícia de que Lupi teria usado, em viagem oficial ao Maranhão, um avião alugado por Meira. Atualmente, Ezequiel está lotado em cargo comissionado na assessoria técnica da liderança do PDT na Câmara.

Emissários de Lupi teriam pedido para Ezequiel desmentir que o ministro estivesse nos voos do avião alugado por Adair Meira na visita feita a nove municípios do interior do Maranhão, em dezembro de 2009. Ontem, Ezequiel contou detalhes para esse interlocutor. Pela sua versão, o ex-governador Jackson Lago (PDT-MA) tentava recuperar espaço político, depois de perder o mandato pela Justiça Eleitoral. E, para ajudar Lago, Lupi marcou uma viagem que incluiria agenda oficial e política em vários municípios.

Como o PDT regional havia alugado uma aeronave Sêneca sem pressurização, rejeitada por Lupi, o ministro teria mandado Ezequiel arrumar um avião mais moderno com Meira. O empresário não apenas cedeu o avião como o acompanhou em todo o trajeto no Maranhão, para se aproximar do ministro e com isso, tentar conseguir convênios no futuro. Ao GLOBO, o deputado Weverton Rocha (PDT-MA) disse que Lupi e o ex-governador Jackson Lago utilizaram o avião Sêneca, enquanto Ezequiel chegou à cidade maranhense de Grajaú no avião King-Air, emprestado por Meira.

O Ministério do Trabalho não comentou as declarações de Adair Meira.

FONTE: O GLOBO

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