quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sob pressão, BC corta só 0,5 ponto

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) repetiu a dose e reduziu a taxa básica de juros novamente em 0,5 ponto percentual, de 12% para 11,5% ao ano. A decisão foi unânime. Apesar da pressão do Palácio do Planalto por um corte maior, o BC reduziu a taxa dentro da expectativa do mercado financeiro. Antes de viajar para a África, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Alexandre Tombini. Ela teria pedido que se levasse em consideração o agravamento da crise internacional e a desaceleração da atividade no país

Resistindo à pressão

BC limita corte nos juros a 0,5 ponto percentual, mesmo com apelo de Dilma

Gabriela Valente

Mesmo com a pressão da presidente Dilma Rousseff por um corte mais agressivo na taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) repetiu ontem a redução de juros do encontro anterior, a segunda consecutiva, e cortou, por unanimidade, a Taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,5% ao ano. O colegiado seguiu as indicações dadas pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, nas últimas semanas, de que o BC manteria um ajuste moderado nos juros. A decisão foi elogiada por analistas, que apontaram retorno da previsibilidade das ações do BC. A expectativa é de que nova redução ocorra até o fim do ano.

Antes de viajar para a África, Dilma se reuniu com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e Tombini. Ela teria pedido que se considerasse o agravamento da crise internacional e a desaceleração da atividade no país na condução da política monetária.

Em curto comunicado, em contraste com o longo texto explicativo de agosto, o Copom limitou-se a dizer que "entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012".

Depois da surpresa de agosto, Tombini disse que cortes "moderados" da Selic eram compatíveis com a volta da inflação para o centro da meta de 4,5% no fim de 2012: o mesmo texto da nota de ontem.

- O comunicado, desta vez, trouxe a previsibilidade de volta. Foi uma reunião mais sem graça, mas isso não é ruim. Foi muito mais tranquila que a anterior - disse o economista do Santander, Ricardo Denadai.

Analista vê "BC do crescimento"

Às vésperas do Copom, parte do mercado cogitava corte de 0,75 ou de até um ponto percentual, diante de rumores da forte pressão do Palácio do Planalto em favor de cortes maiores.

- Os dados sugerem que a economia desacelera mais rápido do que o previsto, mas a inflação ainda continua resistente (a projeção para o IPCA do próximo ano supera os 5%). A dúvida agora é se esse ciclo de afrouxamento será mais longo do que o esperado, que é de mais dois cortes além do de hoje (ontem) - disse o ex-secretário do Tesouro e economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall.

O banco cortou a previsão de crescimento de 3,3% para 3% neste ano e de 3,7% para 3,3% em 2012. A projeção para o IPCA de 2012 pelo boletim semanal Focus sobe há sete semanas e está em 5,61%. Para 2012, o mercado vê 6,52%, estourando o teto da meta de 6,5%.

Segundo o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas o correto seria um corte menor. Para ele, por mais contraditório que pareça, derrubar a Taxa Selic de uma vez pode fazer os juros futuros subirem: o mercado entenderia que o BC abandonou o controle da inflação. Na verdade, é o que tem acontecido, na visão do economista:

- Esse BC tinha de se chamar "Banco Central do Crescimento" .

Essa opinião não é unânime. O economista da NGO Corretora, Sidnei Nehme, diz que o BC deveria ter sido "contundente" e ter cortado um ponto percentual para fazer frente à crise e reanimar a indústria:

- Precisava ter uma atitude muito forte e não poderia dizer que foi uma posição política: momentos diferentes requerem atitudes diferentes.

Para ele, o corte maior abriria espaço para benefícios fiscais para a indústria, já que diminuiria o gasto com a dívida pública em R$2,872 bilhões em um ano . Esse impulso poderia melhorar a previsão de crescimento, que para ele é de 3% neste ano e pode cair para 2,5%. O efeito dessa queda só será sentido no ano que vem e, mesmo assim, dependendo do quadro da economia em 2012. Na visão de Nehme, será um quadro de recessão na Europa e nos EUA, o que afetará o Brasil.

A aposta do BC, porém, é que o padrão de inflação no país já mudou. E que, com a queda dos preços das commodities, o quadro é mais favorável do que o de alguns meses. Nos últimos 12 meses, a inflação está em 7,31%.

Apesar do corte, empresários e sindicalistas cobraram juros ainda menores. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) defendeu a continuidade dos cortes.

- É preciso intensificar a redução dos juros - disse.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) a decisão do Copom foi acertada e coerente com o agravamento da crise econômica mundial e seus efeitos sobre o Brasil.

O presidente da Força Sindical disse que o Banco Central acertou no remédio mas errou na dose.

- Esperamos agora que o Copom ao menos mantenha esse ritmo de queda.

Colaborou Ronaldo D"Ercole

FONTE: O GLOBO

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