terça-feira, 4 de outubro de 2011

'Não vemos uma mudança na política macroeconômica'

Analista da 2ª maior agência do mercado diz que, até agora, governo se mostra comprometido em manter a inflação na meta

Leandro Modé

A agência de classificação de risco de crédito Moody"s realiza hoje, em São Paulo, sua 13.ª Conferência Anual para América Latina. Como não poderia deixar de ser, o tema principal será a crise global e seus efeitos sobre as economias da região. Ninguém melhor dentro da empresa para falar sobre o assunto do que o analista sênior para rating (nota) soberano (de países), Mauro Leos.

O mexicano é responsável direto pelas notas de Brasil, México e Uruguai, além de supervisionar todos os outros países da região. Em junho, antes da piora da crise na Europa, a Moody"s mudou para positiva a perspectiva para a nota do Brasil. Na prática, significa que, até o fim de 2012, a agência pode melhorar a nota brasileira.

Em entrevista ao Estado, concedida ontem no escritório da Moody"s na capital paulista, Leos mostrou-se otimista com a capacidade de o Brasil e de a América Latina em geral reagirem à piora do cenário internacional. A seguir, os principais trechos da conversa.

A Moody"s tem perspectiva positiva para o rating do Brasil. Mas aqui há uma percepção cada vez maior de uma mudança na política econômica, sobretudo na definição do juro. Vocês concordam que há uma mudança em curso?

Não vemos uma mudança na política macroeconômica. O que vemos é um ajuste, uma adequação a uma mudança no entorno externo. Para nós, o que mais se alterou para a América Latina, não só para o Brasil, é a incerteza sobre o cenário econômico-financeiro do mundo. Há alto risco de um crescimento mais baixo das economias avançadas.

Há um ajuste, então?

Entendemos as razões para esse ajuste e não acreditamos que esteja modificando os objetivos finais de política. No caso particular do Banco Central do Brasil, parece que o objetivo continua a ser a manutenção da inflação dentro da meta, apesar da redução do juro na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Por isso, mantemos a perspectiva positiva para a nota do governo brasileiro.

Se os srs. notarem alguma mudança do governo no que se refere à inflação, pode haver alteração na perspectiva do rating?

As variações dos índices de inflação no Brasil não são tão importantes a ponto de provocar uma alteração na perspectiva para o rating.

Ou seja, a inflação se torna um tema importante se ficar muito longe dos intervalos da meta?

No caso brasileiro, a inflação seria relevante se ficasse claro que o retorno para o intervalo da meta seria pouco provável. Seria preocupante se as autoridades não demonstrassem interesse ou condições para fazê-la voltar para o intervalo da meta. Mas estamos falando de índices dentro da meta. O próprio mercado, segundo pesquisa do BC, prevê inflação dento da meta em 2012 (5,53%, ante teto de 6,5%).

A avaliação mais pessimista do mundo pode mudar as expectativas para a nota do País?

O Brasil, como outros países da América Latina, tem colchões para lidar com os possíveis choques de fora. Se compararmos a situação de agora com a de 2008, há mais reservas, a liquidez dos bancos é mais elevada e, até agora, não há sinais de problemas como aqueles que empresas tiveram com derivativos.

Qual o maior risco para o Brasil hoje?

A pergunta mais importante é saber como vai ficar a atividade econômica. Pode haver uma desaceleração maior que a esperada pelo mercado. Por quê? Porque as estimativas do Orçamento de 2012 embutem um crescimento superior àquele que deve ocorrer. Será uma oportunidade de ver a capacidade - e a vontade - do governo de ajustar as contas públicas. Ficará claro o grau de compromisso do governo com a meta de superávit primário. O risco seria o governo não ter a capacidade e a vontade de fazer isso.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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