terça-feira, 6 de setembro de 2011

Thomaz Bastos vai defender réu do mensalão

Ex-ministro de Lula aconselha Dilma sobre escolha de ministros do Supremo

Carolina Brígido

BRASÍLIA. O mesmo advogado que aconselha a presidente Dilma Rousseff na escolha do próximo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) assumiu a defesa de um dos réus do processo do mensalão que será julgado pela Corte. Na semana passada, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos enviou petição à Corte requisitando que a ação seja desmembrada, para que o STF julgue apenas quem tem direito a foro especial e mande para a primeira instância da Justiça comum as acusações contra os demais investigados. O pedido foi feito em nome do ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado, hoje membro do conselheiro administrativo da instituição e um dos 38 réus no caso do mensalão.

Semana passada, Bastos almoçou com Dilma para ajudar a decidir quem ocupará a cadeira deixada por Ellen Gracie, aposentada em agosto. Segundo ele mesmo, Dilma não havia batido o martelo. Mas deixou claro que quer uma mulher no cargo. Seja quem for a escolhida, a nova ministra será uma das 11 a participar do julgamento do mensalão, previsto para 2012.

Criminalista de renome, Bastos foi ministro da Justiça de 2003 a 2007, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi consultado em todas as nomeações feitas para o STF. Com a ajuda de Bastos, Lula escolheu oito ministros, dos quais seis continuam na Corte. Quando o mensalão explodiu, Bastos atuou como consultor jurídico de Lula.

Ao GLOBO, por telefone, Bastos declarou que não via problema ético em defender um dos acusados do mensalão, mesmo sendo tão próximo do Planalto:

- Não vejo incompatibilidade.

Ele esclareceu que foi contratado para fazer a defesa de Salgado na reta final do processo. Deve atuar também no julgamento, e não apenas nessa petição.

- Estou defendendo o réu e vou apresentar as alegações finais na quinta-feira, último dia do prazo - contou.

Na petição da semana passada, Bastos sustenta que o STF não pode julgar pessoas sem direito ao foro especial. Dos 38 réus do mensalão, só dois têm foro privilegiado: os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e Valdemar Costa Neto (PR-SP). José Roberto Salgado está no grupo dos sem foro ao lado do ex-ministro José Dirceu, do ex-tesoureiro Delúbio Soares e de Marcos Valério, entre outros.

À época do escândalo, Salgado era da diretoria do Banco Rural - supostamente usado pelo governo para o pagamento de propina a parlamentares em troca de apoio político. Salgado é acusado de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas. O relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, não quis dar entrevista sobre o assunto.

FONTE: O GLOBO

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