sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Como é que nós vamos fazer? :: Eliane Cantanhêde

"Doralice, eu bem que te disse/ Olha essa embrulhada em que vou me meter (...)// Alguma coisa bem que andava me avisando/ Até parece que estava adivinhando (...)// Bem que não queria enfrentar esse perigo, Doralice/ Agora você tem que me dizer/ Como é que nós vamos fazer?"

São trechos da canção "Doralice", imortalizada pelo peculiar e genial João Gilberto e agora útil para ilustrar a queda do peculiaríssimo e nada genial ex-ministro do Turismo Pedro Novais, que pendurava as contas da empregada de mesmo nome e do motorista da família, Adão dos Santos Pereira, na Câmara dos Deputados... para que eu, tu, ele e nós pagássemos.

Doralice, a de carne e osso, vai continuar lavando, passando e cozinhando (aliás, muito bem, conforme relatos fidedignos). Já o que Pedro Novais vai fazer, não se sabe. A considerar o precedente de Jaqueline Roriz, que salvou o pescoço apesar das provas contundentes, ele vai voltar à velha vidinha do baixo clero da Câmara, com as mesmas mordomias e mutretas -as sabidas e as não reveladas- e passar incólume pelos foros em desuso, como o Conselho de Ética.

Mas o que mais interessa saber é se Pedro Novais era o único e solitário parlamentar a empurrar para nós os seus gastos com motéis e os salários da empregada e do motorista da mulher dele. Será? Ou será que, por trás dos 513 deputados e 81 senadores, há uma legião de Doralices e Adões pagos com o nosso rico (e suado) dinheirinho?

No Maranhão de Pedro Novais e do seu sucessor Gastão Vieira, o público e o privado se embolam, os senhores têm direito a tudo e a escravatura jamais acabou de fato. Mas o Maranhão não é o Brasil? E o Brasil não é o Maranhão? Então, haja Doralices!

Conclusão: empregadas e motoristas estão ameaçados de demissão em massa no Congresso. Como é mesmo aquela história?

Ah! A culpa é sempre do mordomo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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