domingo, 28 de agosto de 2011

Pé na estrada::Dora Kramer

O senador Aécio Neves admite que em 2010 nunca foi de fato candidato a presidente. Fez movimentos táticos. “Mas não tinha apoio do partido nem a convicção de que seria a minha hora”, diz, reconhecendo que na época o nome “natural” do PSDB era mesmo o de José Serra.

Agora Aécio sente que o cenário se inverteu e trabalha fortemente com a hipótese de ser o principal candidato de oposição em 2014. “Contra Lula ou Dilma”, embora aposte que ela será candidata à reeleição. “A renúncia à candidatura equivale à aceitação de que o governo não deu certo.”

conversa de Aécio Neves hoje realmente não é a mesma dos meses que antecederam a definição do candidato tucano que disputaria a sucessão de Luiz Inácio da Silva. Ele falava sobre a candidatura de maneira difusa. Enquanto Serra tinha na cabeça todo o esquema de governo, aí incluídos nomes de ministros, Aécio posicionava-se como possível candidato, mas não agia como tal. Um episódio: em setembro de 2010 preferiu viajar com a filha para a Itália a correr o país para organizar as prévias no partido conforme havia anunciado.

Agora é diferente. Mal terminada a eleição tratou de conquistar a hegemonia dentro do partido, estabeleceu um plano de ação para reorganizar o PSDB nos estados, reincorporar ao partido forças da política e da sociedade que se dispersaram durante o governo Lula e se prepara para subir no maior número possível de palanques nas eleições municipais de 2012 a fim de atrair aliados com o seguinte critério: só o PT é adversário.

“No amanhecer de 2013 o partido já deve ter definidas as bandeiras que defenderá, traçado um esboço das alianças que poderá conquistar e principalmente deve estar pronto para defender seu legado e mostrar que é o único capaz de pensar o Brasil do futuro.”

E a enorme decepção com a atuação do PSDB mesmo entre os eleitores tradicionais do partido? “Os que se decepcionaram com o PT são em maior número.”

No capítulo alianças sonha alto e vai pescar nas águas dos dois maiores parceiros do governo: PSB e PMDB. “Nenhum dos dois terá na aliança com o PT o lugar de destaque de que se julgam merecedores.” Por exemplo, o lugar de vice. Aécio acha que tem jogo. Cita Eduardo Cam¬¬¬pos, governador de Pernam¬¬buco e presidente do PSB, e faz referência às afinidades com o governador Sérgio Cabral (RJ) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, ambos do PMDB.

Tudo muito bem pensado, mas há um “pormaior”: José Ser¬¬¬ra já andou confidenciando a amigos que não pretende ser candidato a prefeito de São Paulo porque prefere se preservar para 2014. “Tudo bem. Pode até ser o Serra, mas uma coisa é certa. Desta vez o candidato não será quem quiser ser e sim quem estiver em melhores condições.” O parâmetro Aécio não tem claro qual deve ser, mas está convencido de que as pesquisas é que não podem ser. Por que Serra estaria na frente? “Não, porque não deu certo na última vez.”

De qualquer forma ele acha que os dois devem conversar e se dispõe a “fazer uma aproximação mais sólida” a fim de somar esforços. Candidato a ferro e fogo Aécio pode até não ser, mas fará por onde ser. “Não vou deixar esse jogo solto demais, vou conversar, vou viajar, construir minhas condições.”

Por enquanto, só “administrando o tempo” para não ficar no sereno com muita antecedência. Na opinião dele, a definição do candidato deve ocorrer em 2013. “Mas não pode passar disso. Candidatura em cima da hora não funciona.”

Bem, mas daqui até lá é preciso um discurso e o de Aécio soa oposicionista de menos. “O melhor candidato não é necessariamente o que só se contrapõe, até porque precisa estar preparado para tirar os votos que hoje são do governo.”

Faz a crítica sobre a paralisia do governo, a incapacidade do PT de “pensar o Brasil” e, a respeito da dita faxina ética, não compartilha do entusiasmo geral: “O governo apenas reage a denúncias e torce para que não ocorram novas denúncias”.

E Lula, o que fará já que Aécio considera a candidatura de Dilma à reeleição inevitável? “Será candidato ao governo de São Paulo. Não vai aguentar ficar longe do poder.” Uma aposta com jeito de torcida.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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