terça-feira, 30 de agosto de 2011

FHC apoia faxina e CPI

Ex-presidente afirma em BH que defender as medidas de Dilma Rousseff contra corrupção não significa um alinhamento com o governo petista e que uma investigação seria bem-vinda

Alessandra Mello, Alice Maciel, Amanda Almeida e Juliana Cipriani

Depois de troca de afagos seguidos com a presidente Dilma Rousseff (PT), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) garantiu ontem que apoiar a faxina no governo não implica um "alinhamento" automático da oposição à gestão petista. Em visita a Belo Horizonte, onde foi homenageado no Fórum Liberdade e Democracia, o ex-presidente defendeu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), proposta que vem sendo defendida pela oposição desde o início das denúncias de irregularidades envolvendo ministros do governo Dilma e que acabaram provocando a queda de três deles.

Para o tucano, que chegou a causar mal-estar dentro do partido e também na oposição ao defender a faxina da presidente, uma CPI seria uma opção para investigar os casos de corrupção no governo, desde que não seja apenas para promover denúncias. "Se não for simplesmente para denunciar, mas para sair uma decisão boa para o Brasil, não há mal nenhum. Acho até que o governo devia apoiar", disse.

O tucano voltou a afirmar que, sendo positivas para o país, as mudanças nos quadros do Executivo – decorrentes de denúncias de corrupção – devem contar com o aval dos parlamentares contrários à presidente. Fernando Henrique não descartou um eventual pacto pela governabilidade entre governistas e oposição, como aliados de Dilma vêm defendendo, mas disse que isso somente será possível se o governo federal der provas de que quer mesmo avançar no combate às irregularidades em todas as pastas. "Depende um pouco da atitude do próprio governo de querer realmente fazer a faxina. Se quiser avançar mais, acho que tem de buscar convergência. Agora, isso não deve ser confundido com adesão."

Criticado durante todo o governo do ex-presidente Lula (PT) pelo que os petistas chamavam de "herança maldita" deixada para o sucessor, Fernando Henrique evitou usar o termo, mas afirmou que os problemas hoje enfrentados por Dilma "vêm do governo anterior" e que herança "bendita não há". Para ele, um dos problemas é o sistema de nomeações feitas para cargos importantes na administração pública em vigor no Brasil. A indicação para os postos mais cobiçados é feita pelos partidos que dão sustentação ao governo no Congresso. Para ele, esse não é um "sistema bom".

O ex-presidente havia tratado desse assunto em artigo postado no site Observatório Político comandado por ele e que tem como objetivo discutir os problemas do Brasil. Para ele, é necessário fechar canais de corrupção. "Pode-se reduzir, por exemplo, o número de pessoas nomeadas para o exercício de funções públicas sem pertencer ao quadro de funcionários da União", receitou.

Durante o discurso de agradecimento pela homenagem, o tucano defendeu a liberdade de expressão e a Justiça para todos, de maneira igualitária. Segundo ele, esses são os pilares para garantir liberdade e democracia. Disse que o país melhorou muito, mas que precisa avançar mais. "O que fiz foi pouco diante de tudo que o Brasil necessita."

CIDADÃO À noite, Fernando Henrique foi homenageado com um jantar no Automóvel Clube, onde recebeu o título de Cidadão Honorário de BH. "Sou paulista nascido no Rio. Agora, sou paulista nascido no Rio e em BH", agradeceu. Autor da homenagem, o vereador Pablo César Pablito (sem partido) destacou o aniversário de 80 anos do ex-presidente, em 18 de junho. "É um grande estadista e uma lenda viva da política brasileira", disse.

O tucano defendeu prévias no partido para escolha de candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais. "Chegamos a um ponto no Brasil em que não dá mais para impor A, B, C. Tem de fazer uma consulta." Mas não quis falar sobre um possível melhor nome do PSDB para presidente. "Como posso saber? Ainda faltam três anos."

FHC voltou a falar sobre Dilma, desta vez comparando-a com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Temos uma relação civilizada. Isso é normal. A relação não era normal com o outro (Lula)", comentou. Ele aproveitou ainda para cutucar o petista, ao ser questionado sobre a atuação de Lula no governo Dilma. "Está fazendo como prometeu. Não está interferindo em nada", ironizou.

FONTE: O ESTADO DE MINAS

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