terça-feira, 9 de agosto de 2011

Bolsas assombram mundo


Bovespa tem a maior queda. Vale e Petrobras, juntas, perdem quase R$ 43 bilhões

No primeiro dia útil após o rebaixamento da nota dos EUA pela Standard & Poor"s, os mercados financeiros derreteram. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a cair 9,73% e, por muito pouco, os negócios não foram interrompidos no circuit breaker - acionado quando a queda chega a 10%. Entre as principais bolsas do mundo, a Bovespa foi a que mais caiu: 8,08% no fim do dia. Só perdeu para a da Argentina, bem menor. O desastre arrastou bolsas na Ásia, na Europa e nos EUA. As baixas se acentuaram após o fraco discurso do presidente Obama, que se limitou a desafiar as agências de risco e dizer que o país é e sempre será "AAA". Só Vale e Petrobras perderam juntas o equivalente a R$ 43 bilhões ou duas CSNs. As empresas do império X, de Eike Batista, viram R$ 7,4 bi virarem pó

Mercados arrasados

Bovespa chega a cair 9,73% no primeiro pregão após rebaixamento dos EUA. Bolsas recuam em todo o mundo

Bruno Villas Bôas

Os mercados internacionais foram arrasados ontem por causa do rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência Standard & Poor"s (S&P), na última sexta-feira. No primeiro pregão após o corte, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a cair 9,73% no meio da tarde de ontem, a apenas 139 pontos de um "circuit breaker", sistema que suspende automaticamente as negociações por meia hora em caso de oscilação maior que 10%. Isso não acontece desde 23 de outubro de 2008, auge dos impactos da crise financeira internacional sobre os mercados. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, terminou o dia num tombo de 8,08%, aos 48.668 pontos, maior queda desde outubro de 2008 e de volta ao patamar de 30 de abril de 2009. O mercado agora acumula uma perda de 29,78% no ano.

Os mercados de Wall Street também se afundaram em pânico. O Dow Jones - principal índice da Bolsa de Nova York - fechou ontem em queda de 5,55% e o Nasdaq, de 6,90%. Já o índice S&P 500 teve uma desvalorização de 6,66%, a maior em quase três anos. Mais cedo, os mercados da Europa tinham fechado também com fortes perdas, como Londres (3,72%), Paris (4,68%) e Frankfurt (5,02%). Os mercados asiáticos já começaram o dia hoje em forte queda: a Bolsa de Tóquio caiu na abertura 4,8%, a de Hong Kong, 6,67% e a de Seul, 7,45%. Mais uma vez, o Ibovespa teve a maior perda entre as principais bolsas internacionais. Se considerados os 91 índices acompanhados pela agência Bloomberg News, o índice ficou atrás apenas da Bolsa de Buenos Aires no ranking de maiores perdas do mundo. Em dólares, o Ibovespa recuou 10,26%, enquanto o Índice Merval caiu 10,70%.

Bovespa no topo das perdas, de novo

As quedas da Bolsa brasileira vêm ficando entre as maiores do mundo porque seu principal índice é composto por muitas empresas ligadas a commodities - e, com um mundo em crise, cai o consumo de matérias-primas, ou seja, cai o lucro dessas companhias também. Além disso, é um mercado desenvolvido e líquido, o que facilita a venda em meio ao pânico. Segundo analistas, os investidores estão saindo da Bolsa para comprar ouro, dólares, títulos do Tesouro americano ou até mesmo do governo brasileiro.

Especialistas chegaram a afirmar que o corte da classificação de risco dos EUA de "AAA" para "AA+" não deveria importar tanto assim e chegaram a lembrar que isso já tinha sido motivo de muitos rumores na semana passada. Mas os investidores não concordaram com isso. Por volta das 10h30m, logo na abertura, o Ibovespa recuava 4,95%, aos 50.325 pontos. Em Wall Street, o Dow Jones e o Nasdaq tinham perdas na faixa de 3%.

- O que ninguém imaginava que poderia ficar pior ficou muito pior com o corte do rating. Então todos vendem, e perguntam depois - afirma Hersz Ferman, gestor da Yield Capital. - Quanto mais as bolsas caírem, mais os investidores vão vender ações, seja por ordens automáticas para impedir mais perdas ou porque estão revendo quanto realmente vale uma ação.

O tombo pelo mundo começou a ficar mais intensificado, no entanto, por volta das 15h, quando o presidente dos EUA, Barack Obama, fez um pronunciamento sobre o corte da nota e o crescimento da economia americana. Obama culpou o impasse político em Washington pelo rebaixamento da classificação de risco e que "temos sido e sempre seremos um país "AAA"".

Segundo Álvaro Bandeira, diretor de Varejo da Ágora Corretora, o mercado considerou "vazio" o discurso do presidente americano, por não apontar um caminho para a saída da crise, que pode estar caminhando para uma recessão este ano.

- Os mercados sempre esperam nessas horas uma notícia que possa acalmar os nervos. Mas isso não veio. É preciso uma ação coordenada sobre os problemas da dívida na Europa para acalmar o mercado e de alguma medida do governo americano. Fica a expectativa agora para um discurso de Ben Bernanke, presidente do Fed (o banco central americano), amanhã (hoje) após a reunião para decidir os juros - diz.

Depois do discurso de Obama, o Dow Jones acentuou a queda em 4,69%, e o Nasdaq, em 6,18%. A S&P, por sua vez, rebaixou ontem a nota das agências de refinanciamento hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac (envolvidas na crise das hipotecas subprime, o crédito imobiliário de alto risco em 2008). Também foram reduzidos os ratings de bancos federais de empréstimos e de credores do setor agrícola. Todos foram de "AAA" para "AA+".

Negócios suspensos no mercado futuro

A ansiedade do mercado somou-se ontem aos problemas da dívida europeia. Segundo analistas, a compra de títulos italianos e espanhóis pelo Banco Central Europeu (BCE) não resolvem os problemas. No domingo, o G-7 - formado por EUA, Grã-Bretanha, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão - prometeu tomar "medidas necessárias" para estabilizar os mercados.

- Temos dúvidas sobre a capacidade de reação dos governos frente aos problemas fiscais e de crescimento no mundo. Os governos estão com pouco espaço de manobra, o que alimenta a aversão a risco. Ninguém sabe como os EUA vão incentivar a economia tendo que cortar US$1 trilhão de gastos - disse Newton Rosa, economista da SulAmérica Investimentos.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os contratos negociados no mercado futuro sobre o Ibovespa tiveram duas vezes uma espécie de "circuit breaker", acionados aos 47.740 pontos, quando chegaram a uma queda de 10%. Isso aconteceu às 15h25m e 15h26m. Neste segmento de negociação, o pregão não é interrompido, mas operadores não podem fechar contratos que provoquem uma queda ainda maior no índice futuro, que fechou em baixa de 8,50%, aos 48.534 pontos.

Segundo Guilherme Benchimol, presidente da XP Investimentos, o mercado está em movimento "irracional":

- O reflexo do corte do rating foi um grande rebalanceamento nas carteiras de investimentos pelo mundo, com investidores reduzindo sua participação em mercados emergentes, como o Brasil. Os investidores pessoas físicas também se assustam e saem. Ninguém gosta de ver sua ação cair 20% em apenas um dia - disse Benchimol.

Segundo analistas, o mercado brasileiro segue abatido por suas grandes estrelas, Vale e Petrobras. Os papéis preferenciais (PNA, sem voto) da mineradora recuaram ontem 9,17%, para R$36,54. Sozinha, a mineradora foi responsável por uma perda de 550 pontos no Ibovespa. Outro importante destaque de baixa foi a ação PN da Petrobras, que recuaram 7,58%, a R$18,65. Nenhum dos 69 papéis de 63 empresas do índice teve alta.

FONTE: O GLOBO

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