sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Bloqueio de mídias sociais proposto por Cameron após distúrbios é criticado por especialistas

LONDRES - Apagões na internet e na telefonia celular já foram usados como forma de tentar desarticular protestos no Egito e na Tunísia, durante manifestações por mudanças. A medida, tachada na ocasião pelo Ocidente como censura, voltou a ser cogitada na quinta-feira. Desta vez, não num país onde sua população é impedida de escolher seus governantes, mas no Reino Unido. A declaração do premier David Cameron de que poderá bloquear temporariamente as mídias sociais e torpedos durante distúrbios como os vistos nos últimos dias dividiu opiniões no país onde foi escrita a primeira Magna Carta garantindo liberdades individuais - acendendo, agora, o debate sobre os limites entre o que é a necessidade de manter a ordem pública e o que é censura.

A eficácia da medida foi logo posta em dúvida, com especialistas lembrando que ações para bloquear a internet em Egito e Tunísia não detiveram as manifestações que acabaram por derrubar ditadores. Na China, internautas tentam driblar o controle do Estado hospedando seus sites em servidores no exterior.

- Sem dúvida que seria um contrassenso com a tradição histórica britânica - diz o professor Williams Gonçalves, do curso de Relações Internacionais da Uerj. - Uma coisa é pôr ordem nas ruas, outra é coibir os meios de comunicação.

Para o acadêmico, a cogitada censura seria uma "violentação do direito das pessoas de se comunicarem livremente".

- Isso só ressalta a dificuldade que os governos estão tendo de lidar com esses instrumentos eletrônicos de comunicação. É uma situação nova.

John Bassett, um ex-funcionário da inteligência e atual membro do Royal United Services Institute, acha que o governo britânico deve evitar agir com mão de ferro:

- Aqueles governos que tentam usar antigos modelos de controle tendem a fracassar, perdendo legitimidade e o respeito - disse.

Conservador vê erro 'político colossal'

Um colega de Cameron no Partido Conservador, e que pediu anonimato, vê a medida como um "colossal erro político".

- Esse pode ser seu (furacão) Katrina ou suas Falklands - disse ele referindo-se à Guerra das Malvinas.

O discurso do premier despertou ainda uma série de criticas no Twitter. O blogueiro egípcio Mahmoud Salem, conhecido como Sandmonkey, escreveu: "Se o Reino Unido limitar as mídias sociais para conter os distúrbios, então estaremos testemunhando um momento revelador para os regimes do Primeiro Mundo."

Salem se referia a uma mudança de postura de Cameron. Em fevereiro, o premier elogiou o papel das mídias sociais na queda de regimes autocráticos, descrevendo-as como "uma poderosa ferramenta nas mãos de gente cansada de corrupção". Cameron ressaltara ainda que a liberdade de expressão e a internet deveriam ser respeitadas "tanto na Praça Tahrir quanto em Trafalgar Square."

"Oh, Cameron, você sabe que bloquear as mídias sociais não deterá os distúrbios. Mas pode temporariamente interromper as críticas ao seu governo", tuitou Kate Crawford, pesquisadora da Universidade de New South Wales em Sydney, Austrália.


FONTE: O GLOBO

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