sexta-feira, 1 de julho de 2011

Diniz declara guerra ao Casino

O empresário Abilio Diniz divulgou comunicado em que sugere que o Casino violou a lei brasileira ao adquirir ações do Pão de Açúcar após o anúncio da fusão com o Carrefour. O grupo comprou mais de R$ 1 bi para elevar sua fatia na rede brasileira

Diniz está entre grandes importadores, mas não entre maiores exportadores

BRIGA DE GIGANTES: Com Casino, redes nacionais, como Sendas, foram compradas

Números do Pão de Açúcar não confirmam a tese de desnacionalização

Marta Beck, Fabiana Ribeiro e Henrique Gomes Batista

RIO e BRASÍLIA. O argumento de que o apoio do BNDES à fusão entre Carrefour e Pão de Açúcar seria uma forma de evitar uma desnacionalização da empresa brasileira e do setor supermercadista não convenceu especialistas. Até porque os números de importação e exportação da rede não corroboram a tese do empresário Abilio Diniz e do governo. Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que, em 2009, o Grupo Pão de Açúcar importou US$150 milhões, valor que subiu para US$236 milhões em 2010 - alta de 57,3%. Já na lista dos 250 maiores exportadores - considerando que o último do grupo exportou US$100 milhões no ano passado - não há referência à empresa.

Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o argumento é infundado. Ele destaca que o Grupo Pão de Açúcar está entre os 250 maiores importadores do país, mas não faz parte da lista dos maiores exportadores.

- O Pão de Açúcar importa muito mais do que exporta. E a fusão tende a aumentar essa diferença. O Carrefour não vai aumentar as vendas da nova companhia. É muito mais provável que importe mais para atender à demanda do mercado brasileiro - disse Castro, acrescentando que outro elemento contra a fusão recai sobre o mercado de trabalho. - O BNDES deveria estar dando dinheiro a quem gera emprego e renda no Brasil.

"Uma invasão de produtos do Casino no Pão de Açúcar"

Nas lojas do Pão de Açúcar, o Casino é, sem dúvida, marca de destaque. Em algumas lojas, como a do Flamengo, biscoitos Casino - a R$9,90 - estão expostos logo na entrada. Na loja, havia quatro marcas de lata de milho, sendo uma delas a Casino, vendida, em promoção, por R$4,49. A barra de chocolate da rede francesa está, em oferta, por R$4,99 - mais barata do que uma similar da Lacta, por R$6,59. Já a embalagem com duas caixas de biscoito Palmiers do Casino era vendida por R$7,90. Apenas uma caixinha da argentina Hojalbre estava saindo por R$4,35. Destaques ainda nas geleias, massas de tomate, macarrão, molhos, azeites e vinagres. Já no site da empresa, o prestígio do Casino continua: a marca, numa lista de categorias do delivery, é a primeira, à frente das marcas próprias do Grupo e de seções como mercearia ou carnes.

Na avaliação de Sérgio Lazzarini, professor do Insper, a operação não garante totalmente que as redes de supermercado ficarão sob o controle nacional.

- Isso (o argumento da desnacionalização) é uma desculpa para viabilizar esta operação com dinheiro público. Isso quase não importa. A concentração é muito mais importante que a nacionalidade das redes. Os supermercados podem ser de outros países e contribuírem para a concorrência que beneficia consumidor e fornecedores - afirmou Lazzarini. - O desenho me parece algo como a fusão da Ambev com a Interbrew, onde os belgas não têm o controle total, onde há uma gestão brasileira.

José Ricardo Scaroni, da ESPM-Rio, alerta que, além de antiquada, o argumento de que a operação evita a desnacionalização é falso:

- O Pão de Açúcar está trocando de sócio francês. Mas o fato é que continuarão sócios, com metade do negócio.

Ele afirmou que, Abilio Diniz que agora defende o varejo nacional foi quem se associou com o Casino em 1999. A empresa, quando fez isso não estava mal, mas queria adquirir o conhecimento da rede francesa. Depois, comprou importantes redes 100% nacionais - como Sendas, Sé, ABC, Ponto Frio e Casas Bahia - que ficaram sob a participação do sócio francês.

O professor lembra ainda que os outros argumentos apresentados em favor da fusão também são fracos, como aumento de investimentos e empregos - quando a lógica da sinergia indica o contrário - e aumento da participação de produtos nacionais em lojas europeias.

- O que vemos, isso sim, foi uma invasão de produtos do Casino no Pão de Açúcar.

FONTE: O GLOBO

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