sexta-feira, 3 de junho de 2011

PMDB exibe Lula e usa programa na TV para rebater Dilma

Cristian Klein

São Paulo - O programa partidário do PMDB que foi ao ar, ontem à noite, entrou na casa de milhões de brasileiros mas teve como alvo principal um único cidadão: a presidente Dilma Rousseff. Eivada de mensagens indiretas, mas com destinatário certo, a propaganda refletiu o mal disfarçado clima de beligerância por que passa a relação entre Dilma e os pemedebistas.

"Na disputa democrática, quem ganha junto, governa junto. É simples assim, ou não é?", disse a apresentadora, ao concluir uma defesa que rebate a imagem disseminada por "adversários" e "boa parte da mídia brasileira" de um PMDB que só se interessa por cargos.

Maior partido da base governista, o PMDB liderou, na semana passada, a primeira e grande derrota da presidente Dilma na Câmara, durante a votação do Código Florestal. A rebeldia veio depois de seguidas recusas da presidente em aceitar indicações dos pemedebistas para o segundo escalão do governo.

"O PMDB não cobra cargos. O PMDB divide trabalho, assume responsabilidades. Tem equipe e resultados para mostrar", afirmou em outro momento o programa.

No auge da crise, a Presidência ameaçou demitir os seis ministros do partido por meio de uma áspera conversa telefônica entre o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e o vice-presidente Michel Temer.

No decorrer dos dez minutos do programa, o ímpeto intimidador - "Num regime democrático tamanho é documento, porque reflete a vontade popular" - aos poucos foi sendo substituído pelo tom mais conciliador.

Michel Temer afirma: "Com moderação, equilíbrio, respeito, atenção às instituições e a proteção de Deus, vamos dar sequência a um projeto que começou com o presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva]".

O ex-presidente não foi apenas citado. Apareceu em depoimento no qual tenta pôr panos quentes na briga. "Estou convencido que a presidenta Dilma e o vice Temer, o PT e o PMDB, construirão uma aliança ainda mais forte, que produzirá muitos frutos para o povo brasileiro", disse Lula.

Antes do depoimento do ex-presidente, a tela foi tomada por uma frase - outra indireta para Dilma: "Ser grande é ser grato".

Em seguida, surgiu Lula, agradecendo ao partido: "As minhas palavras neste programa do PMDB são de agradecimento pelo apoio que o partido deu ao meu governo. Juntos conquistamos muita coisa para o povo brasileiro".

A presença do ex-presidente, associada à ausência de qualquer imagem de Dilma, reforçou o protagonismo que Lula está retomando no cenário político. Durante a crise com o PMDB, quando o governo passou por uma espécie de "apagão", Lula tomou a frente da articulação política e reuniu-se com senadores do PT, à revelia de Dilma - ação que foi interpretada como uma intervenção branca.

Outra vez, Lula exerce um papel de bombeiro ou de mediador da crise. E suscita especulações sobre sua intenção de se candidatar em 2014, ao aparecer ao lado dos pemedebistas e domar, desde já, reações e pretensões de sua sucessora, como a de tentar a reeleição.

Apesar das mensagens cifradas, dos recados à presidente, o PMDB não descuidou do público-alvo de qualquer programa partidário. E também foi ousado ao reivindicar o crédito de várias conquistas do governo liderado pelo PT. O senador alagoano Renan Calheiros é quem melhor rouba as bandeiras normalmente associadas à administração petista.

"Quem diria que, no Brasil de agora, 30 milhões de brasileiros entrariam para a classe média. Quem diria que o nosso país fosse emprestar dinheiro ao FMI. Quem diria que um dia o brasileiro teria o maior programa de distribuição de renda do mundo", proclamou Renan Calheiros.

O senador cearense Eunício Oliveira afirmou que o "PMDB ajudou a revolucionar o campo com o Luz para Todos. Agora vai priorizar o programa Água para Todos" e que "a educação deu um salto com o Prouni".

Estopim da discórdia entre Dilma e PMDB, a questão ambiental foi tratada com mais tato e acenou para um armistício - uma vez que a discussão do Código Florestal continua no Senado. O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, fez uma defesa contundente do agronegócio, mas terminou por contemporizar. "O nosso foco agora é investir na agricultura de baixo carbono e assim levar também para o campo o desenvolvimento sustentável".

O programa foi aberto pelo presidente do Senado, José Sarney, e contou com outros caciques do PMDB, como o senador Valdir Raupp (RO), presidente em exercício do partido, o deputado federal Henrique Eduardo Alves (RN) e quatro dos seis ministros da legenda: além de Rossi, Moreira Franco (Assuntos Estratégicos), Garibaldi Alves (Previdência) e Edison Lobão (Minas e Energia).

Ficaram de fora Nelson Jobim (Defesa) e Pedro Novais (Turismo). Não apareceram nenhum dos cinco governadores. Um ano antes das eleições municipais, o programa destacou o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, em busca da renovação do mandato, e os dois pré-candidatos à disputa em São Paulo: Paulo Skaf, recém-filiado, e Gabriel Chalita, que entra para a sigla no sábado - ambos egressos do PSB.

FONTE : VALOR ECONÔMICO

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