sexta-feira, 3 de junho de 2011

Opinião – Marco Aurélio Nogueira

O 15M é como o "espírito" de uma nova esquerda, anunciando o que a velha esquerda deixou de valorizar: mais importante que "chegar ao poder" é elaborar novas maneiras de organizar a convivência e compartilhar poderes. Uma esquerda mais "cultural" e participativa, refratária a ordens unilaterais e hierarquias, que deseja uma nova economia, mas dá mais destaque à igualdade, aos direitos, às liberdades, aos indivíduos. Mostra à velha esquerda que a democracia é um valor que precisa ser praticado no Estado e no cotidiano, luta política é mais que controle de votos e recursos de poder. O 15M tenderá a perder força e talvez até desapareça, mas seu exemplo permanecerá.

Movimentos animados por redes não precisam ser prisioneiros do universo virtual. Podem agir no mundo concreto. Debatem, agitam e pressionam, mas vivem sob a constante ameaça de diluição, em decorrência da dificuldade que têm de traçar uma rota planejada ou formar um todo mais articulado. Se cada um pretende mudar as coisas a seu modo, como produzir ação coletiva?

Marco Aurélio Nogueira, Professor titular de Teoria Política da UNESP. Os dominós virtuais e a democracia real. O Estado de S. Paulo, 28/5/2011

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