terça-feira, 28 de junho de 2011

Marina e seu grupo decidem sair do PV

Parte do grupo da candidata derrotada do PV à Presidência, Marina Silva, deixará o partido. A saída será oficializada em 7 de julho. Parte fica e tenta tomar o controle do partido. Marina quer disputar a Presidência - de volta ao PV ou em outro partido

Marina vai deixar o PV

Sem acordo com a direção do partido, ex-senadora anunciará a saída na próxima semana

Marcelo Remígio

Já decidida a sair do PV, a ex-senadora Marina Silva promoverá uma plenária com seu grupo, na quarta-feira da semana que vem, para anunciar que deixará o partido. A saída será oficializada no dia seguinte. Marina e seu grupo já se articulam para definir qual rumo irão tomar visando às eleições de 2014. Em reunião com o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) e o ex-deputado Fernando Gabeira, na noite de domingo, ficou acertada a criação de um movimento em prol da candidatura de Marina à Presidência da República e de defesa de questões ambientais. A previsão é que a ex-senadora só se filie novamente a um partido em 2013, passadas as eleições municipais do ano que vem.

Parte do grupo de Marina deverá continuar no PV - os nomes ainda serão definidos. A estratégia será manter um bom número de descontentes com o atual comando nacional do partido - incluindo parlamentares com mandato - para que tentem derrubar a Executiva Nacional e preparem um possível retorno de Marina em 2013. Caso a estratégia não obtenha sucesso, o grupo recorrerá a um plano B. Eles criarão um partido, tendo como alicerce o movimento lançado em prol de Marina - a ex-senadora é contrária à fundação de uma nova legenda este ano. Nomes importantes do partido, como Sirkis e Gabeira, ainda têm destino indefinido.

Para contornar problemas que poderiam surgir com a criação de um novo partido, como a falta de tempo na TV e no rádio na próxima campanha presidencial, em 2014, os verdes dissidentes recorreriam ao capital eleitoral de Marina. O bom desempenho da ex-senadora nas eleições presidenciais do ano passado ajudaria na formação de alianças com outros partidos, aumentando a participação na propaganda eleitoral gratuita. A ex-senadora somou cerca de 20 milhões de votos no pleito de 2010.

Ainda como uma terceira saída para o grupo, alguns seguidores da ex-senadora defendem o ingresso em um partido pequeno que defenda questões ligadas ao meio ambiente. Mas, para isso, exigiriam o controle da legenda. A opção é a que encontra a maior resistência entre os descontentes.

Grupo reclama de desprestígio

A reunião de domingo durou cerca de quatro horas e aconteceu no apartamento de Gabeira, em Ipanema, Zona Sul do Rio. Além da criação do movimento, ficou decidido que o anúncio da saída de Marina só seria feito após seu retorno da Europa. A ex-senadora embarcará na quinta-feira para a Alemanha, onde participará de um encontro internacional de partidos verdes. O período até o anúncio oficial da saída, no dia 7 de julho, será dado como prazo para uma última tentativa de negociação com a atual Executiva Nacional.

- Estou indo nesta quinta-feira para a Alemanha, onde participarei do encontro internacional de partidos verdes. Ainda tenho outras reuniões marcadas antes de tornar pública qualquer decisão - afirmou a ex-senadora, após a reunião no apartamento de Gabeira.

Marina e seu grupo têm demonstrado descontentamento com a direção nacional do partido e reclamam da falta de espaço nas decisões da legenda. Eles travam uma queda de braço pesada com o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, e pedem sua saída do cargo. Ele ocupa a função há 12 anos. O grupo de Marina cobra mudanças no processo de condução do PV.

De acordo com Sirkis, o PV enfrenta, atualmente, "uma crise séria" . Os descontentes cobram eleições para os diretórios municipais e a fixação de um prazo de mandato para a Executiva Nacional.

- Não estamos pedindo a lua, estamos pedindo eleições nos diretórios municipais. Hoje o que se vê no PV é a escolha dos diretórios municipais pelos estaduais, que por sua vez são indicados pela nacional, que acaba controlando todas as esperas do partido. O PV tem hoje uma situação catastrófica, com alianças políticas contestáveis, como em Mato Grosso e no Amazonas. O partido está sendo penalizado - diz Sirkis, que reclama do "fechamento" da legenda para novos nomes. - Não estão deixando o partido crescer, não permitem que pessoas com mais representatividade entrem no partido - critica o deputado.

Um possível retorno de Marina ao PV em 2013 é defendido por boa parte do grupo, em função de o partido ter uma forte identificação com a imagem da ex-senadora. Sua volta, caso Penna deixe o comando da legenda ou abra espaço para o grupo, seria sem traumas.

A criação de um novo partido também é bem aceita pelos seguidores de Marina, desde que haja a possibilidade de alianças com outras siglas na eleições municipais. A opção de migração em massa para um partido menor não tem a simpatia de todos os descontentes. Mas não é descartada. Hoje, dois partidos pequenos focados em causas ambientais estão em fase de criação: o Partido Ecológico Nacional (PEN), que já tem representação em nove estados, e o Partido do Meio Ambiente (PMA).

O presidente do PV, José Luiz Penna, informou ontem, por meio de sua assessoria, que aguarda o comunicado oficial da saída de Marina para poder avaliar o caso. Quanto às eleições para os diretórios municipais, o PV diz que faz um levantamento dos diretórios estaduais e municipais onde os mandatos das executivas já expiraram, como é o caso do de São Paulo (estado), para definir, nos próximo dias, se autorizará a eleição das executivas ou se o grupo continuará a ser indicado pela Executiva Nacional.

Poderio eleitoral de 20 milhões de votos

Ao anunciar sua saída do Partido Verde, a ex-senadora Marina Silva deixará pela segunda vez uma legenda. Antes de ingressar no PV, Marina permaneceu por quase 30 anos no PT, partido no qual começou sua carreira política, desfiliando-se em agosto de 2009. A ex-senadora disputou sua primeira eleição em 1986, quando concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Acre, seu estado natal, mas sem sucesso. Dois anos depois, foi eleita vereadora, a primeira de um partido de esquerda na Câmara de Rio Branco. Já em 1994, Marina, aos 36 anos, se tornou a mulher mais nova a se eleger senadora.

Com um histórico de lutas sindicais e de defesa da ecologia, Marina conseguiu projeção internacional e chegou ao comando do Ministério do Meio Ambiente no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva. Sua passagem pela pasta se estendeu até o segundo mandato, quando já enfrentava resistências dentro do próprio governo, que a deixaram em uma posição pouco confortável. Marina foi contra decisões como a liberação do plantio de transgênicos, construções de algumas hidrelétricas e a transposição do Rio São Francisco, na Região Nordeste. Sem espaço e com poder reduzido no governo, a ex-senadora deixou o ministério e também o PT.

Poucos dias depois de se desfiliar do partido de Lula, Marina ingressou no PV, partido pelo qual disputou as eleições presidenciais no ano passado e surpreendeu nas urnas. A ex-senadora obteve cerca de 20 milhões de votos. Em locais como o Distrito Federal, chegou a ganhar dos adversários Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), credenciando-a disputar a Presidência da República em 2014. Mas seu bom desempenho eleitoral veio acompanhado de duros embates com a atual Executiva Nacional do PV, que reduziu seu espaço e de seu grupo, deixando-os fora de decisões da legenda.

FONTE: O GLOBO

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