sexta-feira, 3 de junho de 2011

Histórico de desavenças explica ação do PT para desgastar ministro da Casa Civil

Vera Magalhães
SÃO PAULO - Dois jornais relataram ontem um diálogo entre Antonio Palocci e um líder da base governista. Na conversa, o líder diz para Palocci se "defender" do PT, que o resto os aliados resolveriam. "Não consigo. Me ajudem", teria respondido o outrora plenipotenciário ministro de Dilma Rousseff.

O diálogo, ocorrido na quarta-feira -o dia mais agudo da crise que já dura 20 dias- é revelador tanto da rápida deterioração de seu lastro político quanto do já conhecido atrito entre o ministro e seu partido.

Palocci chegou ao coração de Lula e ao cérebro do governo quase por acaso. Virou coordenador da campanha do petista em 2002 após a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, este sim cotado para ser o titular da Fazenda no governo.

Médico, ganhou a confiança do candidato e dos principais "players" da política e da economia graças ao estilo conciliador. Ajoelhou no altar da ortodoxia e prometeu não fazer mudanças bruscas na economia. E não fez.

Foi aí que o caldo de sua relação com o PT começou a entornar. Palocci incomodava tanto por disputar o protagonismo com José Dirceu -principal artífice da vitória de Lula e que nunca escondeu a disposição de sucedê-lo na Presidência- quanto por adotar um modelo muito próximo ao de FHC, sempre enxovalhado pelo partido.

Acolhido pelo establishment, Palocci nunca cultivou um grupo próprio no PT.

Quando caiu, no escândalo da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, foi "adotado" pela ala ligada a Marta Suplicy, que o ajudou a se eleger deputado em 2006.

Sua volta ao centro da ribalta também se deu à revelia do PT. Foi Lula quem convenceu Dilma -ela própria ex-adversária de Palocci no governo- a dar ao ex-ministro da Fazenda a missão de torná-la mais palatável a empresários e banqueiros.

O sucesso da missão e o tal "jeitinho" de Palocci fizeram com que ele caísse nas graças de Dilma, a ponto de virar seu principal ministro.
Ainda assim, foram grandes os esforços do PT, Dirceu à frente, para deixá-lo fora do "núcleo duro" do Planalto.

Diante desse histórico, a atual ação do PT para desestabilizar Palocci não chega a surpreender.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
 

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