quinta-feira, 16 de junho de 2011

Fermento na tropa

Cigarra. O movimento salarial dos bombeiros é a primeira e mais grave crise do governo Sérgio Cabral Filho, que rendeu a ele problemas sérios junto à população.

Não ajudou ter chamado os bombeiros que invadiram a corporação de "vândalos" e "covardes". Teve de ouvir de um deles o seguinte recado em programa de rádio: "Covarde, governador, não é quem enfrenta o fogo para salvar vidas. Covarde é quem chora pela perda do dinheiro do pré-sal".

Talvez depois disso Cabral passe a viajar menos e a se dedicar mais aos afazeres cotidianos do governo de forma a evitar que reivindicações salariais se transformem em crises. (Dora Kramer, O Estado de S. Paulo, hoje, na sua coluna)

Para atender a demanda na saúde, Cabral contratou bombeiros que hoje atuam em UPAs e Samu

Carla Rocha, Natanael Damasceno e Renata Leite

Apesar de chamar atenção pelo gigantismo, a tropa de bombeiros do Rio - a maior do país, segundo o próprio governo do estado - ainda pode aumentar. Uma lei encaminhada pelo governador Sérgio Cabral e aprovada pela Assembleia Legislativa em 2007 fixa o efetivo do Corpo de Bombeiros em 23.450. Se hoje são 16.550, ainda há margem para contratar 6.900. A proposta passou com a justificativa de que eram necessários oficiais e praças para atuar na área de saúde, em especial em dois projetos importantes do governo, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

O crescimento do quadro dos bombeiros teve também uma contribuição de governos anteriores. A lei 5.175 aprovada por Cabral substituiu outra, de 4 de abril 2002, de Anthony Garotinho, que fixava o efetivo em 18.125 homens. No entanto, este nunca chegou a ser o total dos bombeiros.

2.018 vagas só para oficiais médicos

A demanda da saúde fez com que Cabral realizasse em 2008 um concurso público com 5.009 vagas para bombeiros, que atuariam na área. Foram dois editais, sendo um com 2.018 vagas para oficiais, todos médicos de várias especialidades. O outro tinha 2.991 vagas para praças, incluindo técnicos em enfermagem e em radiologia, motoristas, guarda-vidas e combatentes.

A assessoria do Corpo de Bombeiros informou que apenas 3.855 aprovados no concurso de 2008 (que tinha validade de dois anos, improrrogáveis) foram convocados. Ontem, durante evento em que assinou um convênio na área de assistência social, Cabral disse que havia contratado cerca de dois mil, basicamente para atuar na saúde e em salvamentos na orla.

- É o que vem acontecendo ao longo dos anos. Nós fizemos um concurso público para menos de duas mil vagas. Ou seja (na época), já havia 14 mil homens - afirmou. - Não temos nada contra o efetivo de 16 mil homens, mas esse número demonstra o impacto de aumentos salariais na folha de pagamentos do estado.

Cabral disse ainda que este ano, quando for contabilizada a antecipação de 5,58%, o total de reajuste salarial da categoria terá chegado a 11,58%. No fim do dia de ontem, a assessoria do governo do estado assegurou que, no momento, apesar da lei, não há intenção de aumentar o efetivo dos bombeiros.

Mas a oposição explorou o fato de Cabral ter apontado o tamanho da tropa como empecilho para reajustar os salários. A deputada Clarissa Garotinho (PR) vê contradição no discurso do governador, que, segundo ela, foi o grande responsável pela situação. Ela criticou a desvirtuação da função primordial do bombeiro, ao se transferir um contingente tão grande para funções típicas de saúde:

- Como ele pode querer fazer essa comparação ou insinuar que o Rio tem bombeiros demais? Hoje, um terço do efetivo trabalha na saúde.

O deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) também protestou contra o argumento do governador. Ele afirmou que a lei aprovada em 2007 não só inflou o número de bombeiros, como criou uma distorção salarial.

- Mas esse artifício (a contratação de bombeiros para a saúde) acabou sustentando uma distorção salarial enorme. Como os que estão na saúde trabalham por plantão, há tenente médico ganhando mais que coronel.

Um decreto de Cabral instituiu, em 2008, gratificações por plantões extraordinários de R$2.100 para oficiais médicos dos bombeiros, R$900 para oficiais enfermeiros e R$700 para praças técnicos de emergências médicas e auxiliares de enfermagem.

Governo pagou R$713 mil em viagens para bombeiros

Levantamento revela que custo com diárias internacionais este ano já é 10% maior do que em 2010

Antônio Werneck

O Fundo Especial do Corpo de Bombeiros (Funesbom), formado pela cobrança da taxa de incêndio e que foi criado para financiar o custeio e os investimentos em material da instituição, pagou até maio deste ano R$713 mil em diárias de viagens para oficiais da corporação. Em todo o ano passado, foi autorizado o pagamento de R$643 mil. Embora 2011 ainda não tenha terminado, a comparação de um ano para o outro já revela um aumento de 10% nos gastos. Nos valores não estão incluídas passagens aéreas, também pagas pela corporação.

Um dos beneficiados este ano com diárias para viagem internacional foi o próprio coronel Pedro Marco Cruz Machado, ex-comandante do Corpo de Bombeiros e ex-subsecretário de Defesa Civil, exonerado semana passada pelo governador Sérgio Cabral, em meio à maior crise institucional da história da corporação. O oficial viajou para a Alemanha este ano, acompanhado do coronel reformado Francisco Carlos Pessanha Bragança, também exonerado, que ocupou a Superintendência Administrativa da Subsecretaria de Defesa Civil.

Os coronéis Pedro Machado e Francisco Bragança foram autorizados a receber, cada um, R$4.323,80 em diárias. Os dois viajaram para a cidade de Lapheim, onde participaram de uma visita técnica e da inspeção dos equipamentos de combate a incêndio da empresa Ivaco-Magirus. Segundo informou o Corpo de Bombeiros, as passagens aéreas dos dois, neste caso, foram pagas pela empresa. Em 2010, o coronel Pedro Machado já estivera na Alemanha, na cidade de Leipzig, para visitar uma feira internacional.

Segundo informou a assessoria da Secretaria de Defesa Civil, "a participação em tais eventos sempre são de grande valia para a aquisição de equipamentos de ponta".

Cabral: "É importante não desqualificar a qualificação"

O governador Sérgio Cabral informou ontem que o estado investiu nos últimos anos R$170 milhões em carros, equipamentos e também na qualificação do Corpo de Bombeiros:

- É importante não desqualificar a qualificação. Qualificação e conhecimento são muito importantes. Nós temos um calendário de eventos muito extenso no Rio, envolvendo Jogos Mundiais Militares, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos. Esse intercâmbio é muito importante.

Como O GLOBO revelou no domingo, o Corpo de Bombeiros do Rio autorizou, em maio passado, o pagamento de cerca de R$694 mil em diárias de viagens internacionais para 33 tenentes-coronéis e 42 capitães inscritos no Curso Superior de Bombeiro Militar (CSBM) e no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO). No custo não estão incluídas as passagens aéreas, também a cargo da corporação. O dinheiro para as diárias sairá do Funesbom.

FONTE: O GLOBO

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