sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um debate que virou bate-boca na Câmara

Aldo Rebelo (PC do B-SP) fala ao microfone no plenário da Câmara na madrugada de ontem. Ao fundo (à dir. na foto), Marina Silva (PV-AC) reage: discussão do Código Florestal terminou em bate-boca entre o deputado - e relator do projeto - e a ex-senadora. Marina o criticou sobre mudanças no texto final. Aldo reagiu com ataques verbais ao marido da ex-senadora.

No calor do debate, Aldo acusa marido de Marina de contrabando

Deputado reagiu a uma mensagem de ex-ministra no Twitter e disse que evitou o depoimento de Fábio Vaz de Lima

Leandro Colon e Eugênia Lopes

BRASÍLIA - A atuação da ex-senadora Marina Silva (PV-AC) na discussão sobre o novo Código Florestal desencadeou um bate-boca em plenário e acusações contra o seu marido, Fábio Vaz de Lima. Já era início da madrugada de ontem quando o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), relator do projeto, reagiu a uma crítica feita por Marina no microblog twitter sobre mudanças que ele havia feito no texto final.

"Quem fraudou contrabando de madeira foi o marido de Marina Silva, defendido por mim nesta Casa quando eu era líder do governo", disse Aldo. "Quando líder do governo, evitei o depoimento do marido de Marina", afirmou. As declarações, dadas no microfone do plenário, ocorreram minutos depois de Marina escrever na internet direto do Congresso: "Estou no plenário da Câmara. Aldo Rebelo apresentou um novo texto, com novas pegadinhas, minutos antes da votação. Como pode ser votado?"

Ontem à tarde, Marina convocou uma entrevista coletiva para responder a Aldo. A ex-senadora rotulou de "levianas e infundadas" as acusações feitas pelo deputado. "Não tenho receio dessas acusações. Elas são falsas, levianas", afirmou Marina. "Não vamos permitir que se faça uma cortina de fumaça para sair do debate que interessa, que é o Código Florestal", disse.

Procurado ontem pelo Estado, Aldo minimizou o episódio. "Eu recebi a informação de que Marina dissera que eu havia feito uma fraude, uma coisa que ela não escreveu. Se eu soubesse, não falaria aquilo. Eu exagerei no tom", afirmou. Ele, disse, porém, que não se arrepende do que fez. "Não me arrependo porque não fiz uma coisa leviana."

As declarações de Aldo remetem ao ano de 2004, quando Marina Silva era ministra do Meio e Ambiente do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado do PC do B ocupava o cargo de ministro da Articulação Política. Ao atacar a ex-senadora, ele referiu-se a uma tentativa da oposição de convidar o marido de Marina para depor na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. Um requerimento foi apresentado pelo ex-deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), no dia 27 de abril de 2004, para ouvir Fábio Vaz de Lima e dirigentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No dia 12 de maio, a base do governo conseguiu esvaziar o pedido. Aprovou-se apenas o convite ao então presidente do Ibama, Marcus Luiz Barroso Barros. O requerimento mencionava reportagens sobre superfaturamento em contratações do Ibama com dinheiro do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social. O caso envolveria o Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais, cujo diretor na época, Atanagildo de Deus Matos, havia sido indicado pelo marido de Marina Silva.

O suposto "contrabando" de madeira aparece em outro caso, da mesma época, mas no Tribunal de Contas da União (TCU). O órgão abriu investigação, após denúncia anônima, de favorecimento na doação de 6 mil toras de mogno apreendidas pelo Ibama para a Organização Não Governamental Fase, filiada à entidade Grupo de Trabalho Amazônico (GTA). O marido de Marina Silva é um dos fundadores do GTA. A ONG Fase deveria exportar a madeira, o que foi feito, por meio de uma empresa terceirizada, por R$ 7,9 milhões. Em troca de intermediar a transação, a entidade deveria usar R$ 3,5 milhões num fundo de proteção ambiental. Numa decisão de maio de 2004, o tribunal aponta falta de competitividade para a doação do Ibama à ONG Fase, falhas na avaliação dos valores do mogno, entre outras coisas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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