terça-feira, 10 de maio de 2011

Privilégio do mar ::Carlos Drumonnd de Andrade

Neste terraço mediocremente confortável,

bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.


O edifício é sólido e o mundo também.


Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vem cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.


O mundo é mesmo de cimento armado.


Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!


Podemos beber honradamente nossa cerveja.

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