quarta-feira, 18 de maio de 2011

Palocci e o poder :: Fernando Rodrigues

Durante 16 anos, o Brasil foi governado com uma fórmula única. FHC e Lula, de 1995 a 2010, foram presidentes fortes. Pairavam acima dos seus ministros. No alto escalão, estimulavam fricções entre dois grupos de assessores com ideologias antagônicas.

Sob FHC, de um lado estavam José Serra, Sérgio Motta e outros desenvolvimentistas. Do outro, Pedro Malan, Gustavo Franco e Armínio Fraga. O presidente arbitrava quando necessário. Nunca houve uma prevalência completa de uns sobre os outros na Esplanada.

Lula começou seu governo em 2003 com uma troika: José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken. Havia divergência entre eles. Palocci logo desgarrou-se. Aliou-se ao pragmatismo do mercado representado por Henrique Meirelles no Banco Central. Sentado em sua cadeira presidencial, Lula fazia como FHC: arbitrava e mantinha o equilíbrio entre seus comandados.

Com Dilma Rousseff, essa configuração operacional do poder deixou de existir. Não há mais dois grupos de ministros igualmente poderosos disputando a implantação de um modelo de governança no país. Abaixo da presidente só há seu ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, quase um Richelieu com poderes plenipotenciários e muito acima dos demais colegas.

Não que tenha sido eliminada a dicotomia entre ministros. Longe disso. Eles continuam a divergir. Mas ninguém em Brasília enxerga um único colaborador de Dilma com o poder para sequer tentar se emparelhar a Palocci.

O ministro da Casa Civil teve um caminho suave até agora sob Dilma. Aí veio o solavanco provocado pela reportagem da Folha relatando seu aumento exuberante de patrimônio. Em política, ensina o ditado brasiliense, tudo o que tem de ser explicado não é bom. Mas explicação de menos também não é sempre a melhor tática. Palocci terá de usar seus poderes como nunca para ultrapassar o atual obstáculo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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