sexta-feira, 13 de maio de 2011

Olho por olho :: Eliane Cantanhêde

Dois pesos, duas medidas. O governo comemora a aprovação do acordo pelo qual o Brasil vai pagar ao Paraguai o triplo do valor pela energia excedente de Itaipu, mas acaba de anunciar que, desde terça-feira, os veículos, autopeças e pneus que entram em solo brasileiro estão obrigados a mais uma burocracia: uma licença prévia para liberação de guias de importação. Antes, era automático.

Adivinha quem é o alvo dessa decisão? A Argentina, também vizinha e também membro do Mercosul, que já está com 70 caminhões parados na fronteira desde a entrada em vigor da medida. O governo nega que o alvo seja a Argentina, mas ninguém acredita, até porque esse tipo de picuinha e de provocação mútua já virou rotina.

Entra governo, sai governo, o Brasil trata o Paraguai com condescendência, inclusive fechando os olhos para contrabando e "outras cositas más", e a Argentina, com valentia. E não se fala aqui de jogo de futebol. Fala-se de comércio.

A Argentina é o terceiro parceiro comercial do Brasil, só atrás de China e EUA, e Lula não apenas manteve boas relações com o casal Kirchner (ex-presidente Néstor, morto em 2010, e sua mulher e sucessora, Cristina) como se transformou num raro sucesso de público e de crítica entre os argentinos.

Apesar disso, a Argentina sempre arranja um jeito de criar empecilhos para os produtos brasileiros, especialmente da linha branca (geladeiras, fogões etc.), alegando a necessidade de industrialização. Dilma agora responde à altura.

Pena que, por causa da pneumonia, os médicos tenham desaconselhado a ida da presidente a Assunção neste final de semana, para o bicentenário da independência do país. Poderia ser um bom momento para sentir a diferença entre Paraguai e Argentina para o Brasil.

Exportadores de lá e de cá vivem atiçando seus governos, mas agora protejam-se! Canelada se paga com canelada. Vem mais por aí.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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