segunda-feira, 9 de maio de 2011

Marco zero:: Melchiades Filho

A deterioração de expectativas na economia pegou de jeito o governo Dilma. Expôs não apenas divergências internas, mas a falta de inspiração e de projetos.

Basta conferir as mais recentes medidas anunciadas pelo Planalto no esforço de contragolpear e impor uma agenda positiva: não há ali nada de novo, que dirá inovador.

A começar pela estratégia para lidar com a inflação e a sobrevalorização do real. Depois de testar o "macroprudencialismo", o governo capitulou à velha cartilha do mercado. Deixou de lado a questão cambial, confirmou mais altas de juros e candidamente pediu aos brasileiros que adiem as compras.

Prioridade zero de Dilma, o plano contra a miséria nasceu a reboque do Bolsa Família -e tímido, com meta inferior à prometida.

E vem aí o Água para Todos, reembalagem do eficiente programa de cisternas no Nordeste, na tentativa de emular o sucesso marqueteiro do Luz para Todos.

O esperado choque de gestão? Por ora, somente o reagrupamento de 360 programas em 60 escaninhos. Nada comparável ao PAC, que ao menos tornou público o monitoramento de obras e mudou o fluxo de transferência de recursos.

O governo desperdiçou a chance de pactuar demandas históricas de produtores rurais e ambientalistas. Entregou ao Congresso o ônus e o bônus do novo Código Florestal.

Buscou na gaveta a "solução" para modernizar os aeroportos: um modelo de concessões que não havia sido adotado sob Lula apenas por (in)conveniências eleitorais.

E, na área da segurança, em vez de centrar fogo em iniciativas pioneiras (como um cadastro nacional do crime), lançou outra campanha de desarmamento. "Déjà-vu" total.

Ao final dos cem primeiros dias, especulava-se em que Dilma iria investir a aprovação e a popularidade acumuladas. Essas dúvidas persistem -e a comparação com Lula, até aqui favorável à sucessora, deverá começar a incomodar.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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