domingo, 15 de maio de 2011

Brasília mais cara que Nova York ou Paris

Segundo os empresários locais, a culpa é da carga tributária, mas em tempo de economia aquecida e de alto poder aquisitivo, muitos jogam os preços para cima. Enquanto uma bolsa de luxo, por exemplo, custa R$ 2,3 mil na capital francesa, aqui ela sai por R$ 6 mil.

Brasília a preço de euro, libra, dólar...

Com a economia aquecida, lojistas aproveitam para ampliar as margens de lucro. Aliado aos altos impostos e à valorização do real, o fenômeno eleva preços de roupas e até de refeições a níveis semelhantes aos das cidades mais caras do mundo

Diego Amorim

A escalada dos preços em Brasília assusta e faz da capital do país uma cidade cada vez mais estigmatizada como um lugar caro. Produtos e serviços oferecidos por aqui, quando se faz a conversão da moeda, custam bem mais do que nas cidades mais caras do mundo, como Paris, Londres ou Nova York. A valorização do real ajuda a alargar essa diferença. Para voar de Brasília a São Paulo, por exemplo, é preciso desembolsar mais do que para fazer o trecho Londres-Paris. Um croissant em um famoso bistrô da cidade chega a valer cinco vezes mais do que na capital francesa, berço da iguaria. Brinquedos, perfumes, roupas, calçados: não faltam exemplos que ilustrem o fato de Brasília ter um custo de vida cada vez mais semelhante — e muitas vezes até superior — ao de uma cidade de primeiro mundo (veja mais exemplos no infográfico da página ao lado).

Para justificar as diferenças exorbitantes, empresários locais jogam a culpa principalmente no sistema tributário brasileiro. Especialistas, no entanto, alertam para o fato de que, diante do bom momento da economia e do alto poder aquisitivo dos moradores do Distrito Federal, muitos deles aproveitam para aumentar as margens de lucro com percentuais fora da realidade (leia Palavra de especialista). “Como o topo da pirâmide social é formado por ricos que estão cada vez mais ricos, o preço às vezes não faz muita diferença: quem paga R$ 1 mil paga R$ 2 mil”, define o economista e diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), Júlio Miragaya.

Em média, a produtora de moda Patrícia Vaz, 33 anos, vai ao exterior quatro vezes ao ano. Não são raras as vezes em que mais malas são necessárias para caber roupas, sapatos, perfumes, bolsas, carteiras, óculos... “Dou preferência para comprar lá fora porque a diferença de preços é gritante. Fica difícil acreditar que a culpa seja somente dos impostos”, afirma. Acostumado a viajar o mundo a trabalho, o publicitário Frank Andrew Rézio, 42, decidiu que só gastaria dinheiro em Brasília quando extremamente necessário. “Simplesmente não vale a pena comprar aqui. É uma diferença absurda. Não dá para entender, mesmo sabendo que os impostos são maiores”, afirma. Vestido dos pés à cabeça com artigos importados, ele conta que até remédios faz questão de comprar fora. “Pago 99 centavos de dólar em uma caixa com 100 aspirinas. Aqui, 20 comprimidos custam R$ 10.”

Êxodo

Quem viaja para fora do país volta com boas lembranças, fotos, suvenires para familiares e amigos e uma inquietação: por que os preços chegam a ser assustadoramente menores em relação ao Brasil? Nunca os brasilienses viajaram tanto para o exterior. Muitos têm programado viagens internacionais pelo menos uma vez ao ano. Moradores de Brasília só não vão mais ao exterior do que os paulistas, segundo as operadoras de turismo.

O consumo insano preocupa o governo, o comércio e instiga discussões sobre o sistema tributário brasileiro, os encargos trabalhistas, a qualificação da mão de obra e a margem de lucro aplicada pelos empresários. Este ano, a valorização do real aqueceu ainda mais as compras internacionais. De acordo com o Banco Central, os brasileiros gastaram, somente no primeiro trimestre, US$ 1.491,5 bilhão com turismo no exterior, 43% a mais do que no mesmo período do ano passado, quando o montante foi de US$ 1.037,30. Boa parte desse dinheiro é despejado em shoppings, outlets, bares e restaurantes.

A euforia no exterior começa a afetar os comerciantes locais, que se dizem vítimas da elevada carga tributária. Sem redução de impostos, sustentam, os preços continuarão desiguais. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista-DF), Antônio Augusto de Moraes, tem percebido nítida queda nas vendas de artigos importados na cidade. “Os brasilienses estão preferindo comprar for a”, reforça ele, recém-chegado de Nova Iorque e surpreso com os preços que encontrou por lá. “Realmente a diferença está cada vez maior. Não estamos conseguindo competir”, completa. Essa evasão de recursos tende a aumentar, na opinião do presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio-DF), Adelmir Santana. “As lojas daqui estão perdendo clientes”, comenta.

Vencimentos

No último domingo, o Correio mostrou que, com base em números do Censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Brasília abriga uma população com rendimentos bem acima da média nacional. Em 19% dos domicílios, a renda familiar ultrapassa cinco salários: o percentual é o maior entre as unidades da Federação e supera em quatro vezes a média do país.

Os tributos

Confira a carga tributária de alguns produtos no Brasil:

Aparelho de MP3 - 49,45%
Bolsa - 39,95%
Brinquedos - 39,70%
Jeans - 38,53%
CDs - 37,88%
Cosméticos - 54,88%
Malas - 39,95%
Perfumes - 78,43%
Uísque - 61,22%
Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT)

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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