segunda-feira, 9 de maio de 2011

BIS pede a emergentes freio na inflação para ajudar os países ricos

Assis Moreira

Basileia - O Banco Internacional de Compensações (BIS), espécie de banco dos bancos centrais, cobra dos países emergentes mais alta de juros e corte de gastos públicos para ajudar na contenção à inflação também nas nações desenvolvidas.

Na avaliação do banco, os emergentes estão exportando inflação para os desenvolvidos num momento em que esses países enfrentam recuperação econômica incerta e ainda sem força suficiente para agir no combater às pressões inflacionárias. EUA e Japão estão com juros próximos de zero e desemprego elevado. O Banco Central Europeu adiou na semana passada uma alta dos juros, apesar de temor de inflação.

O Brasil teria situação diferente de outros emergentes. É o único país destacado pelo BIS como a economia emergente onde as taxas de juros reais, o controle de capital e mudança na variação cambial caminham para um aperto monetário, apesar de o crédito continuar crescendo no país, segundo fontes em Basileia.

Documento que o BIS submeteu aos presidentes dos principais bancos centrais, reunidos desde ontem em Basileia para avaliar o estado da economia global, reitera a necessidade de uma sinalização forte dos BCs contra uma inflação que aumenta em nível mundial.

Analistas de bancos internacionais consideram ainda que alguns bancos centrais de emergentes não reagiram o suficiente contra a inflação A inflação nesses paises subiu para 6,1% em março, numa alta de 1,5 ponto desde o final de 2009, mas as taxas de juros subiram menos da metade em média.

Para o Banco Central da Suíça, a demanda sempre forte dos emergentes estimularia, no conjunto, a alta de preços das commodities.

Na avaliação de certos analistas, o fato novo e que pode ser permanente é que o ciclo de inflação não é mais resultado do ciclo economico dos desenvolvidos, e sim do ciclo dos emergente, refletindo também sua crescente participação na economia mundial.

"A inflação pode retornar nos países desenvolvidos quando eles estão no começo de um período de recuperação econômica e o desemprego é elevado, isso porque a alta nos preços das commodities e de outros produtos importados ocorre em razão do ciclo econômico dos países emergentes, cujo peso se tornou tão alto que agora eles conduzem o ciclo de inflação global", afirmou Patrick Artus, do banco Natixis, de Paris.

Isso significa que o aumento das taxas de juros pelos bancos centrais na Europa e nos Estados Unidos seria "provavelmente ineficiente [pois não é o ciclo econômico doméstico que causa inflação] e rejeitado pela opinião publica [porque ocorre numa situação de enorme desemprego]", acrescenta.

Abordando por outro ângulo, Phillip Poole, do HSBC, em Londres, nota que a diferença da "volta da feia inflação" desta vez é que os bancos centrais dos emergentes estão na verdade combatendo o Federal Reserve (Fed), o banco central americano. "Com os recursos do Fed a custos próximos de zero e mais flexibilização monetária, o Fed efetivamente está "deflacionando" o mundo emergente".

Ou seja, o aperto de juros nos emergentes eleva o risco de atrair mais liquidez criada pelo Fed, diz Poole, ilustrando a dimensão do problema.

O desafio é como fazer os bancos centrais aumentarem os esforços para resistir à pressão inflacionária, tomando o cuidado de não fazer isso ao preço de uma aterrissagem forçada (hard landing) da economia mundial.

O BIS destaca incertezas na expansão das economias desenvolvidas. Analistas notam que o aumento nos números de emprego nos EUA não reduziu a taxa de desemprego de 9%, um recorde. O choque no Japão, a terceira maior economia mundial, é destacado pelo banco.

Documentos de discussão não mencionariam o rumo das commodities, segundo uma fonte. Já no mercado, a questão agora é se a forte queda nos preços das matérias-primas na semana passada foi apenas uma correção ou o começo de um "crash", que afetaria sobretudo a Latina América.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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