domingo, 17 de abril de 2011

Passagens aéreas sobem 49% no país

Os preços das passagens aéreas no país aumentaram 49% nos últimos 12 meses. Mesmo com a alta dos preços, o brasileiro está viajando mais de avião, atraído pelo parcelamento na compra dos bilhetes.

Inflação no ar

Passagens sobem até 65% com renda e negócios em alta no país

Danielle Nogueira

Apesar da disparada de preços das passagens aéreas, os brasileiros continuam viajando como nunca, agravando os gargalos nos aeroportos do país. Dados do IBGE revelam que, nos últimos 12 meses, o preço médio dos bilhetes para dez destinos no Brasil subiu quase 50%. Em cidades como Belo Horizonte, o aumento chega a 65,04% no período. O Rio (48,16%) aparece em quinto lugar no ranking. Crescimento da renda, novas facilidades de parcelamento e aquecimento dos negócios explicam o movimento de alta, levando a previsões sombrias. Estudo da consultoria Bain & Company mostra que, no ano da Copa, em 2014, o nível de utilização dos 15 principais aeroportos do país será de 128%. Ou seja, estarão operando acima de sua capacidade. Na prática, o descompasso entre oferta e demanda deve se traduzir em mais filas para os passageiros, atrasos de voos e até novos aumentos das tarifas, dizem especialistas.

Com ganho de R$800 mensais, a empregada doméstica Regina Rocha aproveitou a proximidade da Semana Santa e convenceu a patroa a lhe dar uns dias de folga para visitar as tias em Belém. Foi a primeira vez que a carioca viajou de avião na vida e que pôs os pés na capital paraense:

- Aproveitei uma promoção, peguei minhas economias e paguei R$400 pela passagem, incluindo ida e volta - diz ela, que embarcou do Galeão na última quinta-feira, acompanhada da mãe.

Empresas ampliam vendas a prazo

Regina faz parte de um novo universo de passageiros que eram excluídos das viagens de avião até pouco tempo atrás, os 95 milhões de brasileiros da chamada classe C. O fator decisivo para a inclusão dessa leva de consumidores foi o avanço do rendimento médio mensal, que em fevereiro atingiu R$1.540,30 - alta de 3,7% ante igual mês de 2010, segundo os últimos dados disponíveis do IBGE.

A facilidade das vendas a prazo é outro fator que explica o fato de mais gente estar voando Brasil afora. Nem as recentes restrições ao crédito impostas pelo governo devem mudar a política de venda das empresas. Na TAM, por exemplo, clientes do Banco do Brasil e do Itaú Unibanco podem parcelar o valor dos bilhetes em até 48 vezes. Segundo a companhia, novas parcerias serão anunciadas em breve. Na Webjet e na Gol, as vendas a prazo podem ser feitas em até 36 vezes. E a Azul vai ampliar para 12 - hoje são dez - o limite de parcelas, nas compras com 60 dias de antecedência.

- O aumento da renda e as facilidade de pagamento são, sem dúvida, motores do crescimento da demanda. E isso só tende a agravar o gargalo aeroportuário - diz o especialista em aviação e sócio da Bain & Company André Castellini.

Paralelamente, o mercado corporativo - que responde por 65% a 75% das viagens no país - vem impulsionando a movimentação nos aeroportos e, por tabela, o preço médio das passagens. Como as companhias oferecem preços diferenciados para o mesmo voo, as poltronas mais baratas têm sido rapidamente ocupadas. E quem decide comprar o bilhete em cima da hora, o que ocorre com frequência entre os executivos, só encontra disponíveis as tarifas maiores.

Fundador da Azul prevê novo reajuste

Essa dinâmica é claramente percebida nas estatísticas do IBGE. As três cidades que lideraram o ranking de alta de preços dos bilhetes nos 12 meses encerrados em março não têm tradição turística: Belo Horizonte (65,04%), São Paulo (56,26%) e Curitiba (56,17%). A coleta retrata os voos domésticos e é feita semanalmente nos sites das duas maiores aéreas do país - TAM e Gol, que detêm 80% do mercado interno. O instituto diz que o aumento apurado no período também foi influenciado pelo efeito-calendário. Em 2011, o carnaval foi em março, quando os preços das passagens subiram 29%. No ano passado, a folia foi em fevereiro.

Ellos Nolli, presidente de uma empresa mineira de TV a cabo sentiu no bolso o custo mais alto das tarifas. Perdeu o voo que sairia do Rio para Belo Horizonte e teve de pagar o dobro por um novo bilhete para viajar horas depois pela mesma companhia:

- Nós que viajamos a negócios é que estamos pagando a conta da popularização das viagens de avião.

Na contramão dos voos domésticos, o preço das passagens internacionais tem se mantido praticamente estáveis nos últimos três anos, segundo levantamento feito a pedido do GLOBO pelo site Decolar.com. E, em alguns casos, chegaram a cair, ajudando a inflar o número de passageiros. A desvalorização do dólar no período (6%) é apontada como a principal razão para essa tendência. O preço médio para uma viagem a Paris, por exemplo, teve uma leve alta de 1,6% em dólares entre 2008 e 2010, de US$936 para US$951. Em reais, foi constatada queda de 2,7%, de R$1.712 para R$1.665.

É baseado nesse cenário e num crescimento anual de 9% do setor aéreo até 2014 que a Bain & Company projeta uma demanda de 17 milhões de passageiros em meses de pico no ano da Copa nos 15 principais aeroportos do país. Esses terminais concentraram cerca de 80% dos 13 milhões de passageiros que embarcaram ou desembarcaram por mês nos 67 aeroportos administrados pela Infraero em 2010. Os aeroportos de Vitória e Guarulhos estão entre os que enfrentam a pior situação: estarão usando 145% e 140% de sua capacidade em 2014, respectivamente. Galeão (94%) e Santos Dumont (90%) estarão perto do limite.

- São Paulo é o coração econômico do país. E Vitória tem crescido muito por causa do pré-sal. Isso se reflete no movimento dos aeroportos e, onde há gargalo, a tendência é de aumento de tarifas, filas e atrasos - diz Elton Fernandes, professor do Programa de Engenharia de Produção da UFRJ.

O reajuste acumulado de janeiro a abril de 28% do querosene de aviação (QAV) deve contribuir para a alta, já que o combustível responde por 30% dos custos operacionais das aéreas. Embora empresas como a Gol afirmem que "até o momento não vemos motivos para repasse de preços", o fundador da Azul, David Neeleman, diz que os repasses serão inevitáveis:

- Acredito que haverá um reajuste, mas apenas para as tarifas mais altas - disse.

FONTE: O GLOBO

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