sábado, 2 de abril de 2011

O mesmo espaço:: Merval Pereira

O clima de harmonia aparente em que terminou o casamento do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com o Democratas está lentamente sendo poluído pelas declarações públicas de ambos os lados, em uma luta feroz para suplantar o outro na disputa pelo mesmo nicho eleitoral, um conservadorismo que ainda não ousa dizer seu nome.

A direção do Democratas não tem no horizonte próximo uma ação mais forte de retaliação, como por exemplo pedir à Justiça Eleitoral que considere a criação do novo partido uma fraude para burlar a legislação eleitoral, como chegou a ser aventado.

Mesmo porque a ideia de o futuro PSD se fundir imediatamente com o PSB perdeu a força, pelo risco que correria ou até mesmo pela própria formação partidária, que vem reunindo políticos que nada têm a ver com a história de um partido socialista.

Mas o presidente do Democratas, senador Agripino Maia, aumenta o tom quando fala sobre o futuro novo partido, que, segundo ele, "está sendo repositório de insatisfeitos ou de oportunistas pelo Brasil inteiro, e existem muitos".

Na opinião de Agripino Maia, o novo partido de Kassab "está claramente sendo montado em sintonia com a Dilma, para tentar sufocar o DEM".

Pelo menos o governador do Amazonas, Omar Aziz, e o senador Sérgio Petecão, do Acre, ambos do Partido de Mobilização Nacional, estariam entre os que receberam orientação direto da presidente Dilma para ir para o partido do Kassab, diz o presidente do DEM.

Segundo Maia, Kassab tem procurado criar uma ilusão de que está estruturando um partido-monstro que vai acabar com o Democratas, mas isso não reflete a verdade.

Os governador Colombo, de Santa Catarina, e Rosalba Ciarlini, do Rio Grande do Norte, continuarão governadores do DEM, garante.

A senadora Kátia Abreu, de Tocantins, uma provável dissidência importante do DEM, está conversando com o ex-senador Marco Maciel, atualmente presidente do Conselho do partido.

Agripino Maia, por sinal, coloca sempre à frente, quando discute o futuro, os nomes de Maciel e do ex-senador Jorge Bornhausen como os grandes fiadores do partido.

Na avaliação de Agripino Maia, o prefeito Gilberto Kassab estaria atrás de um cacife político reforçado para disputar um cargo majoritário, que seria o de senador, nunca o de governador, pois ele não teria chances com o PSDB e o PT paulistas, ainda mais com o governador Geraldo Alckmin disputando a reeleição.

Com os gestos dele, diz Maia, está dificultando cada vez mais possível aliança com o DEM, "mas política se faz sem fígado, com sabedoria. Neste momento interesses convergentes são os do DEM com o PSDB e com o PP".

Maia está dividindo sua atuação em duas frentes: ao mesmo tempo em que tenta manter o maior número de políticos no DEM, vai aplainando novos caminhos para o partido.

Ele garante que pode perder não mais do que meia dúzia de deputados: dois na Bahia, dois em São Paulo, um no Rio de Janeiro. Em São Paulo, segundo Maia, a base do Democratas vai ficar toda: dos 14 parlamentares, 11 ficarão, quatro federais e sete estaduais. Apenas dois deputados federais e um estadual seguiriam com Kassab.

No Rio de Janeiro, o deputado Arolde de Oliveira está se compondo com o ex-prefeito Cesar Maia, que deve ser o presidente municipal. O ex-candidato a vice-presidente Indio da Costa, que não tem mandato, e a deputada federal Solange Amaral devem ir para o PSD.

Agripino Maia afirma que a suposta bancada de 43 deputados federais do novo partido, apregoada por seus idealizadores, pode ser formada por trânsfugas de PTB, PMN, PP, PMDB, PSDB, a maioria de partidos da própria base aliada do governo, que estariam sendo estimulados à mudança com o objetivo de criar um clima que induza à percepção de que o Democratas está acabando.

Além do mais, diz Agripino Maia, "estão querendo retirar o viés governista do novo partido alardeando que estão tirando a maioria do DEM, mas isso não é verdade".

O presidente do Democratas tem feito o seguinte raciocínio nas conversas que vem mantendo com os membros do DEM que porventura pensem em sair do partido para seguir o prefeito paulistano: Dentro de um ano e meio Kassab não terá mais mandato, a marca da prefeitura de São Paulo vai sumir. Qual é a capacidade de comando que Kassab tem sem a máquina da prefeitura?

Que tempo de rádio e televisão terá o novo partido? E como será a primeira experiência eleitoral do novo partido com o fim das alianças proporcionais? Qual é a afinidade que essas pessoas que estão se juntando no PSD têm umas com as outras?

Agripino Maia teve uma reunião recentemente com o DEM em Santa Catarina e pretende fazer outras pelo país para construir uma agenda positiva para o partido, massificar suas ideias centrais.

"Nós perdemos a guerra da comunicação", admite, dizendo que as pessoas se esquecem de que o DEM foi o único partido que expulsou um governador, José Roberto Arruda, do Distrito Federal, e ficam com a ideia do mensalão do DEM.

Ele também pretende resgatar a memória do partido, lamentando que "nunca mais se falou sobre a origem do Democratas, que foi o Partido da Frente Liberal, um partido nascido da dissidência do PDS que viabilizou a transição democrática com a eleição de Tancredo Neves".

Ele acha que há muita coisa para recuperar, inclusive recente, e lembra que há quatro anos, quando houve o grande "apagão aéreo" no país, o partido trouxe técnicos do exterior e propôs a adoção das parcerias público-privadas que agora o governo está anunciando para os aeroportos.

"Nós temos o exemplo da derrubada da CPMF para basear nossa campanha contra a carga tributária", lembra.

Essa cruzada que pretende fazer pelos estados pode ser uma boa oportunidade de sintonizar o partido com o eleitor.

Essa será a sua aposta.

FONTE: O GLOBO

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