sexta-feira, 1 de abril de 2011

A fogueira do PAC :: Roberto Freire

O tão decantado PAC, instrumento de uma das mais agressivas campanhas de propaganda do governo Lula, mote que embalou a campanha de sua sucessora, Dilma, a famosa “mãe do PAC”, hoje, depois de inúmeras denúncias de superfaturamento e irregularidades em licitações, mostra sua face mais cruel: a super exploração de trabalhadores, em vários de seus canteiros de obras.

Os fatos ocorridos nas obras das usinas de Jirau e Santo Antônio, ambas no rio Madeira, em Rondônia, que levaram os operários a promover rebeliões inicialmente por causa de maus tratos por parte dos seguranças, revelam uma face desconhecida de um governo presidido pelo partido que se diz dos trabalhadores.

Voltamos ao tempo do cambão, dos senhores de engenho, quando os trabalhadores ficavam reféns de dívidas dos célebres barracões, fora do alcance de qualquer legislação social ou trabalhista. Está entranhado no governo o desrespeito às leis trabalhistas ou ambientais quando lhe interessa, porque é obra do PAC, obra dos empreiteiros a eles (partidos do governo) vinculados, que são os senhores de baraço e cutelo nos acampamento.

Essas semelhanças com trabalho escravo são inaceitáveis, ainda mais em obras do governo. É um escárnio que tal situação ocorra em pleno século XXI, em uma das mais importantes obras do governo federal. Pergunta-se: para que ter Ministério do Trabalho, Delegacia do Trabalho e centrais sindicais, se a espoliação da mão-de-obra da classe operária no Brasil tem episódios como esses como exemplo; a que ponto chegamos!

É um escândalo que obras tão importantes para o país tenham condições de trabalho como as desses acampamentos. É indigno de um país como o Brasil, e só poderia partir de um governo que desrespeita completamente todos os direitos, com a complacência e a omissão das centrais sindicais brasileiras, todas elas mais preocupadas em apoiar governo do que em defender trabalhadores.

Ademais, os operários estão expostos, ainda, a acidentes de trabalho que, muitas vezes, terminam em morte. Em Jirau, já morreram três operários, uma por choque elétrico, outro por esmagamento em um britador e um terceiro por acidente numa grua. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Safady Simão, disse ao jornal O Estado de São Paulo que “o alto número de mortes é verdadeiro. Estamos intensificando os trabalhos e a atenção. As obras estão em um ritmo muito acelerado e as companhias não vêm treinando (pessoal), porque não há tempo para isso".

Como já foi denunciado, a taxa de mortalidade em obras do PAC é de aproximadamente 19,79% por cem mil. Perde somente para o volume observado na construção civil, que é de 23,8% por cem mil trabalhadores. Os números de mortes em acidentes de trabalho fez com que o consultor para segurança e saúde da OIT (Organização Internacional do Trabalho), o médico Zaher Handar considerasse o índice altíssimo. É o dobro da registrada em outros setores da economia, 9,49% por cem mil, como registrou O Estado de São Paulo.

Levadas a toque de caixa, as obras do PAC, além de atrasadas, conhece agora a crítica impiedosa das fogueiras dos operários rebelados em seus canteiros.

É deputado federal e Presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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